quinta-feira, dezembro 07, 2006

Tu foste meu primeiro amor, querida.
Quem foi a primavera, em pleno outono
Ao meu lado, nem sombra de abandono.
Do começo ao final de toda a vida.

De todas as mulheres, seus mistérios,
Se encontram nos desejos de uma só.
O medo, o destempero, amor e dó,
O gozo da tormenta e seus critérios

A luz na madrugada, a força, o vento
Depois a calmaria e recompensa,
A dor que nunca deixa, tão imensa
E a vontade de morrer, o fingimento...

Perfumes delicados de tais flores,
Vergonha de saber-se sedutora
Vontade de chorar e de ir-se embora,
Saber que toda vida traz horrores.

Saudade de dançar de madrugada
Estranhas convulsões fortes delírios
O mundo se revela em tais martírios
E depois bem depois, o quase nada...

E sorrir e chorar sem ter por que
Viver cada manhã como se fosse
A última. Saber que a vida trouxe
E depois não deixou, onde e cadê!

Querer o gosto amargo sem ter pressa
Depois se derramar em chocolate,
Fugir e desejar todo o combate
Sair e não voltar, correr depressa.

Castelos e soldados e guerreiros,
Mentiras que acalenta a cada sonho.
Em volta todo mundo mais tristonho
E gargalhar depois, do mundo inteiro.

Pedir a Deus perdão pelo que quer
Depois mentir ao próprio coração.
Saber que nunca achamos solução
Olhar indecifrável de mulher...

Querer conter o mundo em seu regaço,
Depois amar, sofrer querer a briga
E iluminar o mundo na barriga
Estrias e varizes, peso e traço.

Amamentar sorrindo mas pensando
Nas horas que passaram e perdeu.
No mundo que esperava e que morreu
Depois de todo sonho, delirando...

Querer cortar os pulsos e se rir,
Vestígios de prazeres pela noite
A solidão que teme, velho açoite
Não sabe se conter e quer fugir..

Morder essa maçã, temer serpente,
Unhas e dentes bocas e batom,
Cabelos se transformam cada tom
E tudo se revela de repente.

Na lua procurar a luz do sol,
Em pleno sol querer a luz da lua,
Andar de madrugada, toda nua
E ter a solidão triste do atol.

Vencer os seus complexos sem medo
Guardar cada caminho como seu
Andar sem medo em pleno e negro breu
E não conseguir guardar segredo.

De todas as mulheres que conheço
Todas cabem naquela que escolhi
E todo grande amor que não perdi
Encontro em minha amada e o mereço!