quarta-feira, dezembro 26, 2007

SONETOS 131


3788


Vagando por teu corpo, vou errante
A cada novo ponto descoberto
Percebo este calor quase escaldante
E invado o paraíso que entreaberto

Permite que delire a cada instante.
Singrando em umidades, estou certo
Do gozo que virá, doce rompante
Alagando em delícias meu deserto.

Volúpias e desejos se misturam,
Prazeres garantidos no final.
As loucuras e insânias não torturam

Esbaldo-me nas chuvas, temporais,
Bebidos neste templo sensual,
Eu quero, na verdade sempre mais!

3789


Receba neste canto uma esperança
De termos esperança de vencer.
Mas saiba que esperança sempre alcança
O que tanto se espera acontecer.

O canto de esperança que hoje entôo
Faz parte da esperança que carrego,
Um pássaro que espera no seu vôo
O rumo que, em meu peito, já navego...

Quem dera meu destino sem segredos,
Quem dera nos meus medos, um final.
A sorte mudaria meus enredos,
Quem sabe me trazer um carnaval.

A vida se faria verdadeira,
Não tendo mais as cinzas, quarta feira...

3790

Perfumes tão intensos que se exalam
Da deusa que adormece aqui comigo.
Prazeres que em teu corpo já se calam,
Deixando a sensação de um manso abrigo.

De amores e dos sonhos, mensageira,
Extasiante lume que inebria,
Espalhas tua densa cabeleira
Por sobre estes lençóis, santa e vadia.

Teus seios tão sublimes, dois romãs,
Teus lábios carmesins, belas cerejas,
Das pernas se adivinham as maçãs,
Pressinto quanto queres e desejas

Viagens sem limites. Nos quadris
Vorazes, eu me sinto mais feliz...

3791

Meus olhos te procuram pela casa,
Vasculho cada canto, nada vejo.
Apenas o retrato de um desejo
Que em fogo me incendeia e assim me abrasa.

Aos poucos, solidão apaga a brasa,
E a dor que nunca cessa, eu já prevejo
Esta última parceira; não almejo.
Somente uma saudade me extravasa,

Pois nela posso ver o teu retrato
Embora distorcido, na verdade.
Revejo com prazeres cada fato

Vivido nesta casa, em nosso quarto.
Lambido pelos olhos da saudade
Sonhando; ao infinito logo parto.

3792


Chegaste num sorriso, primavera
Trazendo o teu canteiro perfumado.
Depois de tanto sonho, farta espera,
Amor no coração vem batucado,

Fazendo toda a festa que quisera,
Deixando o que não presta ali, do lado.
Amar a vida inteira, assim à vera
É quase ser um ser abençoado...

Entornas teu jardim em flores tantas,
Mostrando que os espinhos são enganos.
E qual a cotovia tu me encantas

Em versos e delícia sensual.
Sentidos se mostrando soberanos,
No aroma do jardim celestial..

3793


Não venha me dizer toda a verdade

De tantos pensamentos que carregas,

Só peço em teu amor, sinceridade,

Nem todos os meus mares tu navegas.



Apenas a verdade é libertária,

Do amor e da esperança, mensageira.

A face deste amor por ser tão vária,

Às vezes não se mostra verdadeira.



É claro que sonhaste com outrem

Durante alguma noite em nossa cama,

Prefiro crer que nunca, por alguém

Teu coração calado, às vezes, chama.



Não quero te odiar, por isso omita

As coisas que tua alma não me grita

3794


Em tua languidez, divina dama,
Meus olhos percorrendo, mansamente
O corpo que se explode em lava e chama,
Chamando para amar. Agora, urgente.

Paixão sem ter limites já me inflama,
Entrego-me ao desejo, totalmente,
Beijando a tua pele incandescente
Atiro-me em teus braços, tua cama.

Morrendo nos teus seios as vontades
Penetro teus caminhos, teus encantos.
Descubro os teus segredos, teus mistérios.

Audaciosos lábios, liberdades,
Os corpos se misturam sem critérios,
Espalhas mil estrelas pelos cantos...

3795


Sentir o teu perfume, minha amada,
Na doce sensação de ser feliz.
Rompendo do teu lado uma alvorada,
Um sonho em que alegria se prediz.

Depois de tanto tempo sem ter nada,
Tristezas no meu peito. Cicatriz.
Percebo a minha vida transformada
Em sopros tão macios e sutis.

Viver em plenitude nosso amor,
Beber de tua boca a cada dia,
Deitando os meus prazeres em torpor,

Desvendo os teus segredos, vou à fonte
Prevejo em raro sol, belo horizonte,
Montanhas de emoção e fantasia...

3796


Amar e viver tudo o que eu puder
Num sonho que se encharca de alegria,
Nos braços carinhosos da mulher
Que tanto desejei, tanto queria.

No gozo da alegria que vier,
Roubando a claridade deste dia.
Amar e ser feliz, raro prazer;
No vento tão suave... Fantasia?

Minha alma na pureza diamantina
Aguarda o teu sorriso sensual,
No fogo da paixão que me alucina

A doce sensação de eternidade.
Estrelas carregando no bornal
Irradiando paz e claridade...

3797


Querida, não mereço o teu desprezo

Nem mesmo essa atitude que tomaste.

Pegaste um coração quase indefeso,

Pendido sem sequer saber de uma haste.



As dores no meu peito se represo,

Talvez pra te poupar deste desgaste

Tentando preservar amor ileso,

Mas sinto que jamais isto notaste.



As aves de rapina vão caladas,

Não cantam, pois assim assustarão,

Atacam quase sempre disfarçadas



Num silêncio tão profundo, e sem perdão,

As garras tão ferinas, afiadas,

Penetram, já rasgando o coração...

3798



Minha alma em trevas dorme e assim pranteia
Não leva mais sequer uma saudade
Da lua que pensara eterna e cheia
Nem mesmo algum resquício – claridade;

A dor que no meu peito serpenteia
Aos poucos se tornando iniqüidade.
Minha alma sem destino, ainda anseia
Amor que seja puro e de verdade.

Do luto de minha alma transparente,
Sorrisos espelhando uma esperança
De um dia renascer bem mais contente

Amor que já se foi sem dar aviso.
Vivendo tão somente da lembrança,
Eu sonho ser feliz. No paraíso?

3799

O viço deste amor em força tanta
Aos poucos meus caminhos percorrendo,
Na glória deste sonho que me encanta,
Passado se tornando quase horrendo.

A solidão terrível inda me espanta
Porém em nova senda percorrendo
Percebo esta beleza em que se imanta
O gozo de viver, puro, estupendo.

Por vezes me encontrara tão sozinho,
Nos ermos da saudade, um ermitão,
Tocado pelos fios da paixão

Mudando de repente o meu caminho,
Nos olhos de quem amo em forte brilho
Criei maravilhado um novo trilho.

3800

Quem dera uma canção que apascentasse
Trouxesse algum sorriso, uma esperança.
Um vento mais macio anunciasse
Trazendo para todos a bonança.

Quem dera uma canção que me mostrasse
O rumo necessário, uma mudança.
Que em doce melodia se entornasse
No sorriso gentil de uma criança.

Cantiga de amizade, paz e amor,
Tocando o coração, mesmo o mais rude,
Que o meu destino, assim, logo transmude

Deixando para trás este amargor
Matéria principal da qual me farto,
Canção que fosse enfim, um novo parto.

3801


Amar é ser; por certo, venturoso,
Embora uma tristeza seja a paga.
A fonte da alegria traz o gozo,
Porém toda uma mágoa nos afaga.

Na mão que mostra um sonho mais formoso,
Se esconde bem guardada dura adaga,
Do rosto que se mostra belicoso
Uma doçura imensa nos alaga.

Amar é padecer em alegria,
Unindo duas vidas tão estranhas.
Na nuvem que por vezes nos cobria,

Visão maravilhosa das montanhas.
Não tema o sentimento, a fantasia,
O jogo, belo amor, tu sempre ganhas!

3802


O quanto desta flor inda pertence
Ao jardineiro tolo que sonhara?
O tempo vai passando e me convence
Do quão inutilmente eu cultivara.

Na luta tão inglória o medo vence
E nada simplesmente inda me ampara.
Amar e ser feliz? Um ledo sonho.
Apenas solidão mora comigo.

Meus olhos no infinito, quando ponho,
Aguardo de uma estrela, um bom abrigo,
O frio desta noite é tão medonho,

Eu tento me livrar, mas não consigo.
Vazio pesa tanto, agora eu sei
Só ericas e abrolhos cultivei...

3803

À noite, em confidências e segredos,
Guardados neste cofre dos desejos.
Refaço nossa sorte, bons enredos,
E vibro tantos beijos, mil festejos...

Cabelos, pernas, olhos, sisos, medos...
No brilho dos olhares, relampejo...
Denunciam vontades. Nossos dedos
Se buscam nesta noite. Assim prevejo

O dia que virá, nossa folia,
Em sonhos clandestinos, fogo intenso.
Somente neste amor, querida, eu penso.

Amor que se tomou pura magia.
Tua nudez querida e desejada,
Na cama que sonhamos, minha amada...

3804

No beijo prometido e delicado
Salivas que se tocam, se procuram,
No abraço que trocamos, bem marcado
Os males desta vida já se curam,

No colo tão gostoso após cansaço
De todas desventuras desta vida,
Atando nosso amor eterno laço
Jornada a cada dia decidida.

Gostoso poder ser o teu amado,
É bom saber que em ti tenho este afago,
E ser pelo teu sol iluminado
Na placidez serena, como um lago...

Morena és meu desejo minha sina...
Promessa de uma luz diamantina.

3805


É me perdendo em ti que mais conheço
Os passos necessários desta vida.
Querer saber se amor, de ti, mereço,
Imagem delicada e mais querida...
Sabendo, o coração; teu endereço,
A sorte que eu queria, decidida...

Revelo; amor, assim, os meus segredos
Desvendo em teus carinhos, meu futuro.
Não quero mais que a vida traga os medos
Nem quero meu caminho mais escuro.
Misturo nossas tramas, meus enredos,
E sonho ter em ti, porto seguro...

Por seres a razão do meu sorriso,
A paz que procurei, meu paraíso....

3806

Amiga, tanto quero esta contigo,
Meus olhos sempre buscam teu afeto.
Verias que, em verdade, se prossigo
Meu mundo sem te ter , mais incompleto.

Depois de tanto tempo, eu não consigo
Andar sem teu carinho, predileto.
Por mais que me imagino teu amigo
Somente em teu amor, eu me repleto...

Viver esta esperança é o que me resta,
De um dia ser teu homem, minha amada.
Meu coração liberto em tanta festa

Vibrando a nova vida em alvorada,
Nesta emoção de ser teu companheiro,
Amiga, meu amor mais verdadeiro...

3807

Lembro de nossos dias mais felizes,
Namoro no portão, os pais na sala...
Nós éramos apenas aprendizes.
Saudade, no meu peito, como fala!

Depois de muito tempo nos achamos
Em todas as quebradas desta vida,
Libertos sonhadores; nos amamos,
Maravilhosa estrada tão comprida;

Cumprida dia a dia tempo afora...
Agora, pensativa, teus temores,
Tu pensas que talvez eu vá me embora
Matando novamente estes amores...

Não percebes o quanto te esperei?
Sempre ao teu lado, amor; eu estarei!

3808

Recebo em minha pele mais febril
O toque tão suave, uma carícia,
Meu peito em esperanças já se abriu
Entregue ao teu desejo. Uma delícia.

Lambendo os teus segredos, te degluto.
Devoro teus mistérios me lambuzo.
Penetro mansamente, calmo, astuto,
Em tantas maravilhas, vou confuso.

Ardências e querências, loucas sendas
Apaixonadamente te concebo.
Prazeres e vontades que desvendas,
Ao mesmo tempo dou e já recebo
Fazendo deste sonho, interação,
Matando, vou morrendo de tesão...

3809

Nesse vento tão frio, a madrugada
Suplica pelo amor que já perdi...
Desculpe se permito minha amada
Os restos de esperança, guardo aqui...

Janelas de minha alma, tão fechadas,
Não deixam mais meu canto solto ao vento,
As noites me torturam, des’peradas,
Deitado do meu lado, o sofrimento...

Quem dera se encontrasse meu caminho,
Por entre tantas sendas mais floridas,
Destino em desatino, estou sozinho...
Buscando as nostalgias vãs, perdidas...

Meu canto em solidão, triste lamento,
Do amor que não me sai do pensamento...

3810

A lua debruçando sobre a fonte
Derrama nos seus raios luz intensa.
Aos poucos se escondendo no horizonte
Em negritude deixa a noite tensa.

Debruçada, distante sobre um monte
A lua que já fora grande, imensa,
Talvez noutro momento já desponte
Desnuda se mostrando em recompensa.

Amores que se banham sob a lua,
Deitando mil prazeres, claridades,
Na diva que se entrega mansa e nua,

Os olhos radiantes, dois cristais,
No gozo de um orgasmo, insanidades,
Reflexos dos desejos imortais...

3811


Às vezes nos perdemos, marinheiros
Depois de uma jornada procelar.
Os olhos da pantera, carniceiros,
Chegando de mansinho a devorar

Os sonhos que tivemos. Prisioneiros
Do amor que não se cansa de sangrar,
A solidão buscando o seu lugar,
Apodrecendo em gozos derradeiros.

Na procissão de abutres e de hienas
Jogados aos leões, tristes arenas,
Sabemos do final de nosso amor.

Porém o pensamento não se doma,
E a fantasia então, voraz se assoma,
Num brado que se faz libertador!

3812


A faca tem dois gumes, disto eu sei,
Meu erro foi somente acreditar.
Agora que em teus braços me enganei
Procuro nova estrela em outro mar.

As mãos que acariciam me torturam,
Os olhos vão vazios; vida afora.
Os erros tantas vezes se procuram
Assumo meus pecados; vou embora

Buscando em outro amor, amanhecer,
Legando ao meu passado o que vivemos.
Quem sabe encontrarei algum prazer,
Depois do imenso nada que tivemos.

Apaixonadamente, fui um tolo,
Não quero mais sequer algum consolo...

3813


Meu canto se perdendo sem ninguém
Vazio que se entorna dentro em mim.
Depois de tanto tempo quero alguém
Que trague e que remoce amor sem fim.

O vento da saudade quando vem
Destrói cada ilusão. É sempre assim.
Quem tantas vezes luta por um bem,
Em seca encontrará o seu jardim.

Há tempos que eu desejo te dizer
O quanto é necessário ser feliz,
Roubando da alegria este prazer

Meu verso sem sentidos se perdendo,
Aos poucos já não tendo o que mais quis
Os carinhos da morte me envolvendo...

3814


Nas convulsões eternas de minha alma,
Cismando pela vida, busco a morte.
Encontro no vazio a plena calma,
No nada é que me sinto bem mais forte.

Jogado nas esquinas, nas sarjetas,
Bebendo a solidão, embriagado
Amores se passando quais cometas
Deixando o que restou abandonado.

Não quero o teu carinho, os teus retratos
Rasgados e queimados já faz tempo.
Os beijos que recebo destes ratos
Ao menos servirão de passatempo.

A vida que não tive, assim perdi,
Pensando o tempo todo, só em ti...


3815


A lua resplandece sobre amor
Que vive semelhante em alegria
À tarde que traduz tanto vigor
E sabe ser feliz com harmonia...

Amor que se pensara estar extinto
Renasce com tamanha valentia
Que mesmo que em tristezas vãs me pinto,
O brilho que carrego, em pleno dia...

Eu vivo pelo amor que te roubei
E tanto que pedi nas orações,
Amada tanto amor agora eu sei,
Explode em terremotos, corações...

Amor que sempre vela por quem ama,
Renova-se em amor, é brasa e chama...

3816

O fado que persigo tão escuro
Em muros e murais são meus cantares
Andando com certeza chão tão duro,
Espero me encontrar Sírius, Antares.

Oprime-me esse medo desse enredo
Que cedo não domino esse querer...
Libando liberdade labaredo
E vedo tal degredo de não ver.

Qual lobo que percebe seu uivado
Ceifado destes cortes cicatriz.
Andando por teu mar crucificado
Fincando minha estaca onde bem quis.

Perpétua gentileza que se esquiva
Na viva mansidão densa e cativa...

3817

Desesperação toma toda a casa
Não deixa nem meu peito sossegado.
Vertido numa imensa e lenta brasa
Vivendo sem sentido, magoado...

Sabia que virias mas não quando,
Amor quando no outono desespera;
O tempo simplesmente vai passando,
Deixando bem distante a primavera...

Parece que é o estio que provoca
Tentando não morrer no frio inverno,
Saudade via tomando toda a toca,
Fazendo dessa vida o meu inferno...

Mas sinto que não posso mais sonhar,
Inverno me impedindo de te amar...

3818

Descendo pelas curvas deste rio,
Deixei meu coração em uma delas.
Agora com meu peito tão vazio,
Que faço com o amor dessas estrelas?

Não posso mais subir essa cascata
Nem posso navegar, perdi meu barco.
Talvez se eu penetrasse a densa mata...
Danado do Cupido entesa o arco...

Meus olhos cheios d’água, mais problema,
O rio vai se enchendo em enxurrada...
Que faço então Meu Deus desse dilema
Ou seco minhas lágrimas ou nada...

Querida vem depressa, vem amar...
Somente teu carinho vai salvar!

3819

Vou tão envelhecido pelas dores
Que foram companheira tão diletas
Cadáveres que trago dos amores,
Restolho das torturas mais completas.

Negando minha sorte, desde início,
Os Fados não deixaram outras trilhas...
Buscando ser feliz, num precipício
Abertas no meu peito, tais matilhas.

Que sempre me devoram pouco a pouco,
Rasgando o que se fora um coração,
De tanto sofrimento, quedo louco,
A morte se demonstra a solução...

E o velho que pareço inda se ri,
Nesta triste ironia, morro aqui...

3820


Não quero mais as garras da pantera
Cravadas no meu peito – solidão.
Nas presas afiladas desta fera
A resposta que encontro é sempre o não.

Matando em nascedouro a primavera,
Inverna eternamente o coração.
Crudelíssima aguarda numa espera
Dando o bote destrói minha ilusão.

Algoz que se alimenta da carniça
De um sonho que se foi pra nunca mais.
O fogo da paixão e da cobiça

Às vezes, incandesce e logo trai
Negando ancoradouro neste cais,
E a noite tão vazia e fria, cai...

3821


Amor; efêmero desejo vivo
De uma existência mais tranqüila em dor...
De tanta espera me percebo altivo,
Pensando mesmo que não tenho amor...

Talvez futuro possa dar ao sonho
Novo vigor. Minha esperança insiste,
Muitas das vezes; quando amar, proponho,
Numa ilusão de que eu não seja triste.

Pois neste ledo engano insisto tanto
Que creio ser, quem sabe, mais liberto.
Mas amores que passam deixam pranto
E meu peito indefeso, descoberto...

Mas insisto em tentar sem solução,
um dia, proteger meu coração...

3822

Ventos solares, brilhos, gargalhadas,
Neste redemoinho, imensidade...
As noites em teus braços, consteladas,
Promessa de delírios nos invade

E toma nossos lábios, pernas, sexo.
Num rito repetido e fascinante.
Descendo encontro grotas, perco o nexo
Mergulho neste abismo delirante.

Sorvendo cada gota do rocio
Que espalhas pelos campos, tuas fontes,
Num jogo alucinante eu me vicio
E subo num momento em altos montes,

Donde sem ter mais travas, precipito
Alçando sem limites, o infinito...

3823

Vieste em mansidão plena e serena
Com gosto de saudade e de certeza.
Amando de maneira forte e plena
No canto que te espera uma beleza.

Meus versos são tão simples, nada falam.
Senão das nossas noites de prazer.
Que embora tão distantes inda calam
Nos sonhos mais bonitos de viver.

Que venham as promessas de esperança
Que venham as saudades mais sutis.
Aberto o peito quero a nova dança
Que faça meu amor bem mais feliz...

Não meço nem distância nem vontade
Amor igual ao nosso: claridade!

3824


A liberdade rasga a madrugada
Exposta em cada esquina da cidade.
Rosnando com os cães numa calçada
Desnuda nos bordéis em tempestade.

Nos goles de aguardente, rum e gim.
Gemidos espalhados nos motéis.
Liberdade agoniza dentro em mim
E
verte sem limites, méis e féis.


No corpo da vadia que me roça,
Sarcástica se mostra; insanamente.
Às vezes tão irônica faz troça
Em outras se desnuda totalmente.

A liberdade foge das paixões,
Vertendo em riso e gozo, as podridões...

3825

Amor, quando seguiste teu caminho
Em busca da fatal eternidade;
Deixando este meu mundo tão sozinho,
Distante desta tal felicidade

Que sempre fora nossa companheira,
Pensei que talvez fosse também ir;
Tendo essa vontade derradeira,
Destino que desejo enfim, cumprir...

Aos poucos, fui sentindo uma esperança,
Que agora, me domina totalmente.
Amada, nossa vida, na lembrança;
Seguindo minha estrada, bravamente...

Descobri que a vida é mesmo assim,
Apenas viajaste antes de mim!

3826

Viajo por teus mares, belos cais,
Velejas os meus sonhos, tantos planos,
Na força deste amor, nos temporais,
Procelas, maremotos. Oceanos;

Estrelas me guiando. Belos astros,
Enfrento toda sorte de perigo.
Seguindo a cada passo, encontro os rastros
Do amor que tanto espero e que persigo.

Qual velho timoneiro em tempestade,
Aguardo mansamente um novo dia.
Aonde possa ter tranqüilidade
O teu perfume, amada, assim me guia

Até chegar ao porto, a um remanso,
Aonde eternidade, enfim, alcanço...

3827

Tuas mãos carinhosas e sentidas...
São Mãos que me prometem mil carinhos.
As Mãos que são tão firmes, decididas,
Criando, decididas, nossos ninhos...

Tuas mãos delicadas, noite afora,
Carícias e delícias, me despertam...
Não deixam prá amanhã, sabem, agora.
Nossos rumos, caminhos, já se acertam.

Mãos que em tantos momentos me apoiaram;
Sem medo de enfrentar o dia a dia.
Tantos mares, nas noites, navegaram,
Tuas mãos me trazendo a fantasia...

Tuas mãos, tuas mãos... Doce perfume...
Fazendo deste amor, um bom costume...

3828

Não guardarei jamais menor rancor...
A vida não pertence ao meu sonhar...
Bem certo que preciso deste amor,
Mas as ondas não deixam velho mar...

Mentiras e verdades... Qual valor?
A morte sutilmente irá cobrar
As horas que vivemos sem calor,
As luas que tivemos sem luar...

Ódio? Por quê? Sentindo a leve brisa
Afagando os cabelos, vejo aqui,
O mar em mansidão, do amor avisa.

O beijo desta lua que clareia,
Em toda essa carícia que senti.
Eu te trago incrustada em minha veia...

3829


Apocalíptica visão do fim
Aproximando-se feroz demônio.
Mundo resume-se, navego enfim.
Desde o primeiro virtual mecônio.

Em trevas frias más e desumanas,
Reflexos desta podre solidão
Nas hóstias as vontades mais mundanas,
Revelando total escravidão.

Me lassas, danças resumindo, riso
Me cremas farsas, resplendor e canto...
Partícipe voraz me negas friso,

Destróis todos os lastros, satisfeito
Terremotos marinhos, celacanto,
Minha morte esperando-me no leito..

3830

Nos trajes imbecis de uma esperança
Perdido e sem destino, eu me retiro.
A morte salvará nossa aliança
Vendida nos botecos. Eu prefiro

O gosto mais mordaz da boca imunda
Sagazes ilusões não salvarão
Legado ao quase nada, amor afunda
O resto de alegria; no porão.

Podando o arvoredo em frio corte,
Não deixa nem sequer algum resquício
Do quão foi necessário um novo norte

Jogado do mais alto precipício.
Eu vejo meu espelho no teu rosto
Em lúbrico reflexo, agora exposto...

3831

Necrofágico sonho, amortalhando
Um ser que em liberdade tenta a paz.
No gládio destemores se entornando
Num gozo mais profano e sempre audaz.

A pérfida emoção me transtornando
Carnívora ilusão se faz voraz,
O resto da alegria vai sugando
Anêmica esperança, o sonho traz.

Malditos os teus olhos, dura fera,
Os teus grilhões impedem meus caminhos
Negando a floração da primavera

Escárnio demonstrando num sarcasmo,
Na viperina face entorna em ninhos
A
imensa sensação de um louco orgasmo...

3832


Malditas as palavras que disseste
Tornando assim indócil coração.
Infames sensações, canalha e peste,
Resquício de mortalha em podridão.

Sorriso tão mordaz que assim me deste
Em gosto e paladar, humilhação...
Esta carcaça imunda, enfim reveste
Um ser que testa a força do perdão.

Vampira de esperanças, ser infecto,
Na face carcomida um triste aspecto,
Esdrúxula figura, leda trama,

Ferindo com frieza, tolamente
Aquele que em teus braços foi demente,
E que desesperado, ainda te ama...

3833

Meu coração chagásico, disforme,
Aflorando-se em pétalas anidras...
Em meio a tempestades sempre dorme,
Aguardando as terríveis, venais hidras...

Num suicídio brando, dor enorme,
Como comemorasse, festas, sidras...
Bradicárdico, pulsando filiforme,
Embalde procurando doces, cidras...

Doces amores, plagas impossíveis.
Díspares seus sonhares, realidade...
As dores não recuam, impassíveis.

Jardins já não dispõem variedade.
As flores se tornaram virulentas,
Sístoles e diástoles... Tão lentas...

3834

Nos grãos que semeamos pela vida,
Apenas recolhemos alguns frutos,
A mão que acaricia, está perdida,
Olhares que nos miram, sempre brutos.

Algozes se disfarçam na saída
Herdamos tão somente negros lutos.
A víbora se finge distraída
Em botes venenosos tão astutos.

Na rítmica cadência – vida e morte,
Seguimos para o mesmo ledo fim,
Na fúria que demonstras para mim

Percebo quão profundo, o frio corte
Matando em nascedouro a liberdade,
Rasgando e destruindo uma amizade...

3835

Minha carcaça exposta na calçada
Entregue a tais abutres tão vorazes
Lambida pelos cães, aprisionada,
Em meio a seus carinhos, mais audazes

Percebo a tua imagem destroçada
Refém destes delírios em que trazes
Bocarra sorridente, que esfaimada
Devora em gargalhadas tão falazes,
Não deixando sobrar quase mais nada.

Entregue aos teus desejos, sem defesas,
Prazeres que te trazem saciedade.
Meu sangue se esvaindo em correntezas,

Tu sabes: teus quereres são tão meus,
Querendo te entregar felicidade,
Amor em sacrifício, louva-deus...

3836

Melancolia bate em minha porta,
Solidão disfarçada em poesia.
Apenas um retrato me transporta,
Para a lembrança amada de Maria...

Bem sei que nada disso mais, importa;
Procuro por teu colo em cercania
Mas
cada vez que tento vejo, morta,

Já qualquer esperança d’outro dia...

Melancolia bate e nem respondo,
Mais quieto, adormecido, me reservo.
Amanhã; renascer, me recompondo,

Em várias fantasias, me conservo.
Meu mundo circulando vai se expondo
Sou deste sentimento, simples servo.

3837

Repugnantes carcaças que me entregas
Entre miasmas, gozos e delícias,
Transpiro estas vontades, duras, cegas,
Na exposta lividez, falsas carícias,

Em torpes ilusões, amor renegas,
Expondo o que restou, tantas sevícias,
O riso em ironia que me esfregas
Marcado por sarcasmos e malícias,

Sarcófagos herdando deste amor,
Bastardas emoções seguem vazias.
No corpo delicado a decompor

As mãos que acariciam, seguem frias.
Nos vértices dos sonhos eu me esfumo,
Entregue aos teus desejos, perco o rumo...

3838

Amada amiga, peço; não te vás...
Saudades sentirei a cada dia.
Meu mundo sem te ter, perdendo a paz,
Aos poucos me tomando esta agonia.
De tudo que pensei, não fui capaz
De ter tua amizade e alegria.

A dor que sinto agora , minha amiga,
Por certo multiplica-se distante.
A benfazeja sorte se periga
O meu futuro negro e degradante
Espero que contigo, já prossiga
A vida concebida num instante...

Mas saiba que jamais te esquecerei.
No canto da amizade, nossa lei...

3839

Então vamos; querida, em carrossel,
Girando neste parque da emoção.
Tiaras são estrelas deste céu
A flor do meu desejo em sedução
Roubando
desta flor, fazendo o mel

Que emana em nosso sonho de paixão...

No doce do algodão da paz imensa,
No lúdico prazer de estar contigo.
Que a força deste amor, pra sempre vença
Que encontre em nossos braços seu abrigo.
Tu és, em minha vida, a recompensa
A paz que há tanto tempo, enfim, persigo...

A roda da fortuna me mostrou
A glória deste amor que nos tomou...

3840

Na carne decomposta, em podridão
Os
vermes que passeiam mal concebem

O quanto todo o sonho foi em vão,
Eflúvios mais mordazes já recebem

De quem dilacerou, rendida ao não,
Venenos que os entranham, não percebem.
Estrela que se fez em negação,
Das carnes putrefatas, comem, bebem...

Entregue a tal banquete, a bela diva,
Seus olhos devorados, em carniça
Aquela
que já fora tão altiva


Motivo de rancores e cobiça
A carne resguardada é dividida
Ao menos refará então, a vida.

3841

Majestade espalhando a cada passo,
Mexendo os teus quadris, doce pantera.
Desejos no teu corpo sempre traço
Gerando a fantasia que se espera.

Na espreita dos teus rastros, vou e caço
Estrelas que derramas, primavera.
Na fonte dos desejos embaraço
Cabelos, coxas, pernas, louca fera...

Espelhas diamantes nos teus olhos,
Muito embora tão frívola bacante
Semeie fantasias entre abrolhos

Promessas de colheitas em fartura.
Prendendo minhas pernas num instante
Galopa eternidades com ternura...

3842

Galopes entre estrelas e cometas,
Oásis de abundância, vinhos, gozos...
Os olhos desferindo frias setas
Deixando os dias sempre nebulosos.

Quais velhos procurando por ninfetas
Delírios decadentes, caprichosos,
Amores transformando suas metas,
Vestindo tais mortalhas, rancorosos...

Eu bebo da saudade que não tenho,
Risíveis meus caminhos, sem ninguém.
Aguardo numa esquina, perco o trem.

Embora persistente, meu empenho
De nada adiantou, vou sem corcel,
Vagando sem estrelas, morro céu...

3843

040 - EU E VOCÊ



Esféricas imagens, lua e sol,
Ardências e loucuras, gozo pleno.
Miragens tão somente, num farol
Deixando esta impressão de um longo aceno.

Essências e perfumes, mechas, pêlos...
Olhares se entremeiam, tempestades,
Meus lábios, teus abraços e cabelos
Novelos de paixões, insanidades.

Almíscares, jasmins, lavanda e rosas,
Colheitas em jardins imaginários.
As bocas se procuram desejosas,

Os corpos se confundem. Garatujas,
Prazeres que imagino; incendiários,
Nas camas e nas coxas, belas, sujas...

3844


Genesíaco amor, trazendo essas trapaças...
Na fome da loucura a morte vem ligeira...
Protejo o coração, produzo carapaças,
Em vão... Nesta mortalha, a dor é companheira...

A vida se perdeu buscando novas caças.
Amor nunca permite exige verdadeira
Dedicação. Derrota emoldurada em taças...
A lua, em nosso caso, espera ser inteira...

Desprezei teu desejo, aguardo meu castigo...
Mergulho no infinito, embalde te procuro.
Levaste todo sonho embora, foi contigo...

O pouco que restou, triste oceano escuro,
Decerto representa um enorme perigo,
A morte me espreitando ali, detrás do muro...

3845


Desejo o teu sorriso, o teu prazer,
Com toda sutileza necessária.
Salivas e suores vou beber
Na fonte delicada e temerária

Embalsamando os sonhos de alegria,
Vertendo em gozo pleno, com preguiça.
Vivendo esta fantástica euforia
Rasgando a tua roupa, o fogo atiça.

Balanço destas ondas, teus quadris,
Encaixes tão perfeitos, prazerosos,
Repito e novamente peço bis
Usufruindo assim de loucos gozos.

Desejo tão somente eternidade
Nas tramas deste amor/felicidade...

3846


Não sei se me permites ser sensível,
Espero essa resposta por e-mail.
Amor que não demora , tão incrível,
Se encontra desvairado em pleno anseio.

Paixão que sempre estranha, inacessível,
Demora nas delícias do teu seio.
Eu quero teu amor, pois infalível,
Nas ondas deste amor, enfim vagueio...

Meus braços estarão sempre esperando,
A moça que não quer se complicar.
Não quero essas mentiras, não sou brando.

Eu quero me fartar desta ambrosia,
Nos lumes dos teus olhos, vasto mar...
A noite que vivi, anseia o dia!

3847


Não temo nem sequer a própria morte,
Lutando contra o medo, dura fera,
A solidão que tantas vezes dá meu norte
Garanto, não resiste à primavera.

Vergando em alegria, muda a sorte,
Do canto em amizade que se espera
Na paz que nos redima e nos conforte,
A vida em plena paz já se tempera.

O peito em cata-vento sente a brisa
Que mansa, em placidez sempre me avisa
Que o sonho na verdade é bem possível.

Do quanto uma amizade é necessária
Vencendo esta quimera temerária
Num elo que se faz incorruptível...

3848


Das flores que não vi amanhecidas
Apenas um resquício feito em corte,
Seguindo o teu caminho, rumo e norte
As dores talvez sejam esquecidas.

As marcas da amizade percebidas
Trazendo um bom carinho que conforte,
Resiste na verdade à própria morte,
Eternidade intensa em várias vidas.

A mão que maltratara, em desencanto,
Semeia tempestades perde o cais.
Porém numa amizade, a calmaria,

Mostrando em alegria um novo canto,
Vibrando em harmonia sem jamais
Negar uma possível fantasia...

3849

Percebo tua doce timidez
Quando olho pro teu corpo, meu amor.
Procuras ocultar tua nudez,
Procuras levemente recompor,

Depois de tanto amor que a gente fez,
Enrubesces mudando tua cor.
Sorrio desta vaga insensatez
Amar de novo, volto a te propor.

E passo minhas mãos por sobre as tuas,
Leve arrepio mostra uma vontade,
Num segundo, tu finges que recuas

Mas logo se aproxima, delicada,
Matamos novamente uma saudade,
E a noite recomeça, apaixonada...

3850

Eu tanto te desejo... Ah! Como quero

Poder te dar um beijo, acarinhar...

Faz tempo, tanto tempo que te espero,

Eu quero o teu carinho desfrutar...



Sentindo um arrepio e me fartando

De toda essa delícia que é te ter.

Deitados num tapete ir flutuando

Nas mais divinas formas de prazer...



Não sinta mais tristeza, eu já te imploro,

Façamos nossas noites maviosas.

Teu corpo no meu corpo... Em ti decoro

As curvas, os caminhos, ninhos... Rosas...



Tocando tua boca, perna e seio

As tuas margens, louco, eu assoreio...

3851


Queria ser teu par, o mais constante,
Estando dia a dia do teu lado,
Não ser somente assim, o teu amante,
Além de companheiro, apaixonado.

Estando no teu mundo, um debutante,
Nos sonhos que te invadem, ser teu fado,
Vivendo uma alegria a cada instante,
De um mundo que se fez mais encantado...

Eu quero renascer em cada beijo,
Em todo amanhecer que sei, virá.
Forrando o nosso céu deste azulejo,

Neste caleidoscópio sensual
Aonde nosso mundo brilhará,
Numa beleza intensa e sem igual...

3852

Distâncias que encurtamos num segundo,
Sentindo cada toque em pensamento.
Embora nos pareça mais profundo,
O mar já não contém o forte vento.

De teus perfumes, lábios eu me inundo,
E sinto-te vibrar em um momento,
Por mais que seja vasto o grande mundo,
Maior é com certeza, o sentimento.

Tocar a tua pele, te beijar,
Roçando o teu cabelo entre meus dedos,
Depois em teu destino mergulhar

Falando em teus ouvidos meus segredos.
Deitar depois, envolto nos teus braços,
Mais fortes que as distâncias, nossos laços...

3853



Nas águas, corredeiras, rio e mar,
Vontade de te ter aqui comigo,
A tarde inteira, à noite namorar
Além desta esperança, assim prossigo

Querendo te sentir, poder tocar
Fazendo de teu corpo o meu abrigo,
Na teia de teus braços me afogar,
Vivendo o que sonhei- amor- contigo...

Suor, salinidade, mar e pele.
Sou presa dos desejos e loucuras.
A ti, minha vontade assim compele

Queremos desfrutar cada momento,
De todas as maneiras. Branduras
Dos beijos delicados como o vento...

3854

Quem dera cavalgasse em meu corcel
No encontro da rainha em seu castelo.
Vagando qual cometa no teu céu,
No sonho mais bonito que revelo.

Por certo encontraria em seu dossel
Aquela por quem sofro e tanto velo.
A sorte descortina um belo véu,
Contigo meu destino, amor, eu selo.

E vejo teu sorriso cristalino,
Rainha de meus sonhos, soberana..
Retorno aos meus bons tempos de menino

E vivo novamente uma esperança.
Da vida que nos toma e tanto engana,
Quem sabe me darás última dança?

3855

Na terra dos meus sonhos, castanheiras
Derramam sobre o solo, grandes frutos.
Os dias vão passando; ledos, brutos,
Palavras que maltratam, costumeiras.

Estrelas vão morrendo, derradeiras,
Olhares que nos miram, bem astutos,
Nas mãos de quem amou, terríveis lutos,
As almas se tornando carpideiras.

Amores que guiaram os meus dias,
Jogados pelos cantos, abandonos...
Apenas enaltecem a saudade,

Outrora bons momentos, alegrias,
Agora tão somente frios sonos,
Mortalhas que cerceiam liberdade..

3856

A vida em seus engenhos tanta vez
Impede que tenhamos esperanças.
Erguendo a fronte em total altivez
Não restará sequer boas lembranças.

O mundo em que amizade então se fez
Rememorando em glória as temperanças
Dos tempos onde a vida em lucidez
Seguia
com olhares de crianças.

Depois da mocidade, mais sisudo,
O coração do adulto não perdoa,
Tornando quem sonhara quase mudo,

Um taciturno canto ainda ecoa,
No peito de quem pensa saber tudo,
O barco naufragando, perde a proa.

3857

Vencendo no caminho tantos reis,
Amor não se permite ser atado,
Na liberdade cria suas leis,
No peito que se mostra desarmado,

Amor vai penetrando em fina seta,
Lacera o coração que seja duro,
Amor que em puro amor já se completa
Certeza de clareza em céu escuro.

Não teme nem as curvas do caminho,
Espalha tantas flores e perfumes,
Nas armadilhas feitas em espinhos
Ao
revolucionar velhos costumes,

Amor não deixa pedra sobre pedra,
Defronte ao grande amor, qualquer um medra...

3858


Nos símbolos eternos de ternura
A mãe que acalentando sua cria,
Que mesmo quando imersa em amargura
Exprime
tanto amor, farta alegria.


Na dor que nos redime, e assim nos cura,
Nas ânsias divinais, santa magia,
No medo que protege e já tortura,
Nas tramas mais sutis da fantasia.

No quanto uma amizade nos acalma,
Trazendo a mansidão, adentrando a alma
Fortalecendo a vida outrora fraca,

Na claridade imensa, liberdade,
Vibrando na total felicidade,
Iluminando a senda mais opaca.

3859


Amor que em fundas chagas tu fizestes,
Cravando tuas garras no meu peito,
Quem dera se este amor fosse desfeito
Porém sem soluções enfrento as pestes

Nas dores, os caminhos que me destes,
Decerto maltratando deste jeito
Entranham toda noite no meu leito
Da forma que, eu bem sei, tanto quisestes.

Quem sabe ao perceber que me lesastes
Meus cantos mudarão- novo estribilho,
Rasgando as ilusões, negando o brilho,

Rompendo com as duras, finas hastes,
E, legado ao total esquecimento,
O amor não resistiu ao forte vento...

3860


Nas armas que se empenham, esplendores,
Regando com meu sangue este canteiro,
Dos olhos perfurados dos amores,
O risco de viver é verdadeiro.

Trazendo em versos frios seus pendores,
Resgates do meu sonho derradeiro,
Jazendo sem promessas velhas flores
Jogadas de um fatal desfiladeiro.

Atando nos meus pés frios grilhões,
Espalham-se nas sendas duros cardos,
Leões e tigres, onças e guepardos.

Espreitam em tocaia, armam botes,
Dos méis que me negaste, quer que brotes
No peito quase humano, as ilusões...

3861

Jogado numa tumba malcheirosa
Arcando com meus erros e defeitos,
A carne apodrecida e pegajosa
Entranha em frenesi, invade os leitos,

Carcaça carcomida tenebrosa,
Persiste em desejar fartos direitos,
Vislumbra a noite fria e tão chuvosa,
Enaltecendo em trevas os seus feitos.

Sidéreas ilusões me destroçando
Deixando em carne viva uma esperança,
Do nada que me trazes, me inundando,

Restando tão somente este lamento.
Amor rompendo os elos da aliança
Apodrecendo enfim, o sentimento...

3862

Teu corpo em languidez tão sensual,
Expondo esta nudez que me inebria,
Estende com volúpia sem igual
Vontade que domina e que sacia.

A cortesã insana qual chacal
Prepara este banquete louca orgia,
Depois ensangüentando, triunfal
Sobre a carcaça em fúnebre alegria.

Roendo o meu cadáver, gargalhando
Escarras em meu rosto, gozo e riso.
Aos poucos chega e vem me devorando

Lambendo os lábios trôpega cadela,
Depois de mergulhar no paraíso,
A pútrida canalha se revela...

3863

Mal sabes quanto quero o teu desejo
Na dança que nos tome, corpo inteiro,
Roubando novamente cada beijo
Fazendo deste amor um companheiro

Que feito de ternura e de festejo
Nos leve em nosso sonho, um gondoleiro,
Além de toda a dança que prevejo,
Na noite do prazer, qual bandoleiro

Que invadindo teu quarto, te acarinha,
Em fados, tangos, salsas e boleros,
Serás, assim, somente toda minha,

Nos toques mais sutis e mais sinceros,
Guitarras, bandolins, acordeons,
Em nossa bela noite, nos néons...

3864


Do quase e do talvez, a vida farta,
Na espera de um sinal de boa sorte.
Antes que o sonho livre já se parta,
Surgiste no horizonte, mansa e forte.

No paraíso feito em tanta benção,
Transcorrem nossos dias riso e paz.
Carinhos dedicados e atenção,
Caminhos onde o amor se faz capaz

De dar ao sonhador um novo dia,
Refeito do vazio de outras eras.
Amar além de tudo, merecia
Quem tanto teve nas esperas.

Por isso meu amor, eu não me canso,
De agradecer as bênçãos que eu alcanço...

3865

Se quando meu olhar, parado, vidra
Na busca de teus olhos que me cegam...
Embriagado, tonto, desta cidra,
Meus pensamentos soltos, te navegam...

Procuro nos quintais, faminto, féculas,
Embalde não deixaste nem sinal...
Amando-te com todas as moléculas,
Espero por teu beijo, canibal...

Desejos me tornaram demoníaco,
Expresso essas vontades e delitos...
À beira do prazer, afrodisíaco

Encontro em teu carinho, em tua pele...
À margem do que sofro, meus conflitos,
A boca em que deliro, me repele...

3866


Num canto de amizade, um trovador
Recebe das manhãs a doce brisa.
Aquele que se fez um sonhador,
Ao perceber carinho logo avisa

Gritando bem mais forte o bom calor
Que sabe em esperança já divisa
O céu outrora negro se matiza
Mudando em um momento a sua cor.

Depois de tanto ter só decepção
Um simples cantador já se imagina
Nos braços da alegria; extasiado,

Apascentando um duro coração,
Uma amizade imensa determina
Um rumo bem distinto do passado..

3867

Sim, nada mais sincero que teu não,
Aprendi que viver sem ter promessa,
É como conviver sem dor ou pressa,
Na falta de sentido e de razão...

Deixei as minhas sílabas em vão,
Passei por essa via tão expressa,
Desconhecendo ritmo que se meça
Na dança que começa no salão...

No sal da festa, fresta dessa porta,
A moça mostra a teta, nem me importa,
Queria ter a boca dessa noite;

Deixando minha marca num pernoite;
Mas corta lábio sábio, faz açoite;
De quem nunca queria ver tão morta...

3868

Quando a minha montanha de desejos,
Num momento infeliz, desmoronou;
Nada, a não ser entulho, me sobrou.
Como fora gentil saber teus beijos!

Mas dessa sinfonia sem arpejos,
Perdendo ritmo e tom, tudo acabou!
Depois que tudo acaba; quem eu sou?
Do amor eu já nem sei sequer traquejos.

Morenos, os teus olhos, vão sem rastro;
Pergunto por teu colo d’alabastro,
A resposta, nem vento, sabe dar...

Quem dera Deus, pudesse te encontrar,
Mas nem o pó da estrada, nem o ar,
Meu mundo vai perdido, sem seu astro...

3869

Nesse mundo fugaz, tu és meu vício.
As minhas mãos descem marginais,
Buscando-te na veia, quero mais...
És o meu sonho, duro precipício.

Amor que não se entrega, sei fictício,,
Morrendo na promessa do jamais,
Aquele que enfim, tanto fez ou faz...
Não deixa nem sobrar sequer indício.

Viciado, portanto, sem ter cura,
Na busca interminável por ternura
Matando essa criança dentro em mim...

Dos lábios que sonhei, distante assim,
A tua ausência, amada, me tortura
Secando cada flor deste jardim...

3870

Tua lembrança foge entre meus dedos,
Mergulho no passado e nada vejo.
Os anos se passando e o que prevejo,
Depois de tantos sonhos, os degredos.

Expondo há muito tempo os meus segredos
Agora, em solidão, somente almejo
Ainda algum resquício de desejo
Mudando ao fim do túnel, os enredos.

As ilusões se foram, nada resta
O quase fui feliz, maltrata tanto.
O lobo que se perde na floresta

Sem dentes, desprezado em desencanto,
Um alvo que se expõe ao caçador,
Assim eu imagino o nosso amor...

3871

Nunca mais poderei dizer ao vento,
Deste sonho deixado num verão;
Minha velha quimera, solidão,
Nunca me permitiu esquecimento...

Tantas vezes deixei meu sentimento
Coberto pelas luas do sertão;
Descobrindo o sentido do perdão,
Acaricio feras, sofrimento...

Meus dentes que sangravam; já caídos,
Meu tempo que julguei ser aliado,
Deixaram os meus nervos contraídos.

Percebi, no final dessa jornada,
Que nunca medi cada passo dado.
Minha vida; no fundo, não foi nada!

3872

Vieste e, vigorosa me acalmaste.
Levando o que restara de sombrio
Jogado em qualquer canto, audaz e frio
Rasgado em velho corte, quase um traste.

Na aguda sensação em que tocaste
Os fardos que carrego e fantasio,
Refaço do que tive em tal desgaste
Numa nevasca intensa, o meu estio.

Amiga, a redenção que propuseste
Marcando a ferro e a fogo cada olhar,
Deixando que a saudade inda me infeste.

Os insetos voltando decididos...
Se os olhos dos canalhas, perfurar,
Terei os paraísos prometidos.

3873

Barquinhos de papel pela enxurrada,
Numa festa sutil, criança pobre.
O medo dos fantasmas, vida cobre
O que foi quase tudo, resta nada...

A não ser os barquinhos... Em cada
Novo
almoço, torcer para que sobre

Uma rapa de angu; nisso descobre
Que a tal felicidade vai cansada...

Nas janelas, bolinhas de sabão,
Pelos ares, fugiu tanto balão;
Nos papagaios, cerol não havia...

Brincadeiras; queimada, corda, pique.
Amarelinha do tempo, no repique
Dos sonhos, vai reinando a fantasia..

3874

Medonhas confidências fiz à lua,
A velha prostituta dos amantes,
Bebendo do meu copo, exposta e nua,
Permite-se ao desfrute das bacantes.

Orgástica e tão plena já flutua
Sangrando as ilusões mais delirantes.
Reflexos desta dama sobre a rua
Enganos falsificam diamantes.

Meus espermatozóides sem proveito,
Jogados nas latrinas da esperança.
Rolando, vou sozinho em velho leito

Arcando com meus erros. Grito amor,
Apenas o vazio inda me alcança
Lançando meus prazeres ao terror...

3875

As mãos que procuraram por carinho
Esquecidas na prece que sonega
O desejo premente de outro ninho,
Não sabem quando o medo se encarrega

Dos passos na maldita procissão,
Amortalhando um sonho- ser feliz.
Devoram o que resta da emoção
Olhares vão vidrados. São zumbis...

Pelos amores; jogadas nos esgotos
Expostas aos prazeres roedores,
Distantes, cada vez bem mais remotos
Desfilam com soberba, os seus amores.

E as mãos tão calejadas e vazias,
Afagam as miragens mortas, frias...

3876

Um anjo vagabundo que carrego
Deixando expostas chagas e feridas.
Nos bares e motéis, quando me entrego,
Percebo estas escaras consentidas

Celebro o que me faz ficar tão cego,
Cavalgo sobre estrelas distraídas
E o quanto que não tenho sempre emprego
Nas horas mais nefastas e queridas.

Meu anjo embriagado perde a guarda
Na espreita um bom demônio já me aguarda
Lembrando persistente, que inda existo.

Nas farpas que me entranham; podres risos,
Trazendo finalmente os paraísos
Prometidos há tempos por Mefisto...

3877

Essa dor que penetra sem sentido,
Nesse momento austero da saudade;
É luz negra, transforma em claridade,
O que nunca pensei ter conseguido...

Quando procuro braços, vou vencido,
Mas persisto, cegando essa verdade,
Não consigo nem quero a liberdade;
Sou pássaro e, de morte, vou ferido...

Não pretendo saber de teus pecados,
Nem quero suplicar por teus recados;
Tanta miséria, fere, marca, insulta...

Tens a discórdia inata, nem percebes...
Meu amor, enfim, nunca mais concebes,
Devorando-me, lenta, a dor oculta...

3878

Meu pobre coração, sofre calado;
Os medos e tristezas seu enredo...
Quantas vezes, sofrendo tal degredo,
Procurou prosseguir sem ser alado...

Percebendo o bater descompassado,
Não posso conhecer o seu segredo;
Tantas vezes constrito sela o medo,
Outras tantas bateu desesperado...

Meus olhos vão cansados de chorar,
Vagueio e não consigo te encontrar.
Não posso sufocar mais o meu pranto...

Nem quero nem desejo te esquecer,
Mil vezes, estou certo, então, morrer.
Do que colecionar mais desencanto...

3879


Recordo-me, querida. O nosso amor

Por tantas vezes fora a redenção

Das dores e dos medos... Mas, então

Trocaste simplesmente, sem temor



Toda a sensação deste esplendor

Pelo vago, vazio, simples não,

Em busca de, talvez, uma emoção

Que agora tu percebes, sem valor.



Depois de tanto tempo, tu regressas,

Tua alma maltrapilha, solitária...

Teus erros. Eu bem sei que tu confessas,



Mas nada vai mudar meu pensamento,

Restando neste amor, a dor tão vária

E a sombra do que fomos num momento...

3880


Sentado do teu lado, ouvindo o mar...

A lua prateando o teu sorriso,

O vento nos tocando devagar

Nesta expressão divina.. Paraíso...



Nas espumas, o mar a nos tocar...

Desejos nos tomando... Sem juízo

Vontade de em meus braços te tomar

Neste momento exato e mais preciso,



Entregues aos anseios sensuais

Do vento, deste mar, da branca lua...

Nos beijos que trocamos, sempre mais...



Deitamos nosso amor por sobre areia

Minha alma na tua alma continua...

Por testemunha só a lua cheia..

3881

Amor cevando amor traz alegria
Esquece toda a dor de uma saudade.
Recebe mais amor a cada dia,
Refaz em nossa vida, a mocidade.

Eu tenho em teu amor mais que sabia,
Além do que sonhara de verdade.
É tudo que; bem sabes, eu queria,
Amor que é feito em paz, felicidade...

Por isso não se esqueça, amada minha,
Que a vida nos atou em laço forte.
Minha alma junto à tua se encaminha

À plena eternidade, sem temores,
Te quero bem além da própria morte.
Pra sempre vou viver nossos fulgores...

3882

Sonhando ser do amor, a preferida,
Fingindo recolher uma esperança.
Deixada pelos cantos, vou perdida,
O frio vem chegando, uma lembrança.

A noite que caiu em nossa vida,
Sabendo do que fomos, da aliança
Há tempos desprezada e já partida,
Apenas a tristeza inda me alcança.

Sonhando ainda ter uma alegria
Depois de tanto tempo- ter alguém,
A noite vai caindo e nada vem.

Somente na janela, a ventania
E um nome repetido bate à porta,
Minha alma desprezada e quase morta...

3883

Feitiço deste amor que me tomou

Tornando-me teu laço e teu anzol,

Não sei mais se talvez seja o que sou,

Reflexo neste mar, roubado ao sol.



No cativeiro sinto que sou teu,

E adoro escravidão que propuseste,

No rumo onde te vejo, o meu perdeu

Não sei se vou ao norte ou para o leste.



Só sei que nada sei nem vou saber

Apenas me transmudo em tuas cores.

Mergulhos tão insanos ganham ser,

Girando em nossas mentes, os amores...



No teu regaço, meu cansaço curo,

Toda noite em mim mesmo, te procuro...

3884

A lua é companheira há tanto tempo
Não temas, minha amada, a traição.
Não vejo nesta vida contratempo
Que possa nos negar tanta paixão.

Se estás bem dentro da alma tatuada,
Tu és minha metade mais querida.
Nas mãos tão delicadas desta fada
A sorte foi lançada, e assim cumprida.

Nós somos espelhares, nada temas.
Tu és a minha glória, e sou feliz.
Amores e desejos, nossos lemas,
Tu és tudo o que quero e sempre quis...

Minha alma se encharcou em teu perfume
Não necessita, amada, ter ciúme....

3885

Nas patas do cavalo bebo o chão,
Poeira e tempestades, seca e sonho.
Nas asas do corcel ainda ponho
O resto que carrego, meu sertão.

A lua se escondendo na amplidão
Viola em seu ponteio mais tristonho
Do quanto que te amei eu me envergonho,
Restando tão somente o coração.

Rastilhos de esperança nada valem.
São ermos e vazios meus tormentos.
Estrelas que meus olhos não escalem

Distantes do meu riso em farta glória.
Não quero carregar mais sofrimentos,
Galopa o pensamento e muda a história..

3886


Os olhos que mirara em noite fria,
De tanto que diziam nada foram,
O corte nunca veio, foi vazio
Apenas os fantasmas inda agouram.

Olhares que trouxeram mil martírios,
Matando os que pensaram ser felizes.
Rasgando em podridão velhos colírios
Dos dias que vieram; só deslizes.

Enfáticos venenos nas retinas,
Mordazes espelhando esta carcaça
Exposta aos poderosos e rapinas

Olhares se mostraram qual trapaça.
Matando um grande amor em nascedouro,
Presságios tão cruéis em mau agouro.

3887

Amada que se foi há tantos anos,
Deixando tão somente um grande amor.
Mudando minha sorte, velhos planos
Apodrecendo, ledos, sem valor.

O gosto de uma morte feita em vida,
Quem dera amor morresse de uma vez!
A sorte então de novo revivida,
Matando esta cruel insensatez.

No inferno em que padeço, busco o céu,
Vivendo tão somente por viver.
Mortalha se fazendo triste véu,
Apenas a lembrança traz prazer.

Que vá diretamente para o inferno
Aquele que disser: AMOR ETERNO!

3888

Em meio a peripécias dessa sorte,
Que muitas vezes nega meu futuro,
Sem ter nem mais espreita que me aporte;
As velhas condições: saltar o muro.

Nas minhas sentinelas, sei o corte,
Profundo, cáustico, feroz, perjuro.
Adaga remoendo traz a morte,
Meu mote serpenteia e cai maduro.

Não quero mais a dama de vermelho,
Nem quero mais a luta sem descanso,
Em prol daquilo tudo me assemelho,

Ao penetrar do bico, tenaz ganso...
Não quero perguntar ao meu espelho,
Se fui, quem fui, serei, terei remanso?

3889


Tanto sorriso exposto sem ter senso,
Em tal sentido inverso aos meus desejos.
Se quis, não fora simples, nem imenso,
Teve essa dimensão, são benfazejos.

Nos ínfimos detalhes, sempre penso,
No que não poderia falsos beijos,
Por onde andaria? Fico tenso
Imaginando luzes, teus lampejos...

Se nesse gargalhar, me trazes luto,
É que, embora vagão, conheço o trem.
Não venhas me dizer que sou tão bruto,

Bem sei que depois, sabes o que vem,
Minhas melancolias; sei, amputo...
Não restando mais nada nem ninguém...

3890

O menino correndo pela sala,
Sem perceber as dores dessa vida,
A minha solidão, então se cala,
Prepara sua triste despedida...

Vendo-te tão liberto; tanta fala,
A vida me traduz: valeu a lida,
No meu peito apertado, já se entala
Essa palavra mágica; sentida,

Por todos os meus nervos, mais sensíveis,
Trazendo à tona toda essa verdade,
Florindo esse deserto, com incríveis

Flores azuis, vermelhas, liberdade...
Essa palavra viva em tantos níveis;
Poder dizer, enfim, felicidade...

3891

No trapézio caído, machucado,
O coração saltou sem perceber;
Foi, pesando assim, meio para o lado...
Deveria, por certo, já saber,

Que coração, batendo apaixonado,
Não conhece da vida o seu por quê;
Quisera conhecer meu triste fado,
Bateu descontrolado por você...

O salto, enfim, direto no vazio;
Sem ter, ao menos, rede pra amparar,
Meu coração, distante velho e frio

Errou, assim, de tempo e de lugar.
Agora no meu peito, vai vadio.
buscando um coração que saiba amar..

3892

Claridade dos olhos, na lembrança;
Desses olhos que foram os meus guias.
Quem me dera, pudesse ser criança,
Mergulhando em teus olhos, fantasias…

Pelas ruas distantes d’esperança,
Bem sei que, de viés, também me vias;
De mãos dadas, unidos nesta dança,
Sem temer as penumbras mais sombrias…

Tinha, em teus olhos, lume e farol, brilho.
Seguia sem temer pelas tempestas.
Eu jamais me perderia nesse trilho;

Vertendo em claridade; tantas festas,
Sem temer nem a morte nem exílio,
Teus olhos, velas, trilhas nas florestas…

3893

Deitada em solidão no apartamento
Espera quem se fora há tanto tempo,
Depois de tão cruel apartamento
O dia vai passando em contratempo.

Não tendo mais palavras pra dizer,
Esquecida num canto desta casa,
Apenas encontrando algum prazer
No jogo de esconder a dura brasa.

A moça se permite em mil delírios
Pensando no que fora e não voltou,
Amores na verdade são martírios
Há dias que, percebo, ela notou.

Em nome da amizade, eu te garanto,
Ajudo a dirimir teu triste pranto...

3894

Colocas querosene na aguardente
E queres que eu deseje gole a gole.
Cravando em minhas costas cada dente
Depois de certo tempo a noite engole

E faz do nosso amor, tonto e doente
Um sonho em que se bise e se decole?
Tu pensas que encontraste um penitente
Roçando até que a gente já se esfole?

Bebi de teus prazeres e estou farto.
Não quero mais teu gosto meio insosso
Tá certo que sobrou apenas osso

O resto na verdade, eu já descarto.
Não quero meu amor, ser educado,
Desejo um gozo audaz e mais safado....

3895

Na roça na palhoça uma cachaça
Faz risos e promessas, guizos, sonhos,
Na cama da morena uma trapaça
Na farsa destes frios tão medonhos.

O tempo na verdade nunca passa,
Se os dias se repetem tão tristonhos.
Saudade sem juízo quando abraça
Permite pesadelos mais bisonhos.

Vem logo que a vontade faz a festa
O foguetório ao menos, eu garanto.
A lua bisbilhota pela fresta

Besouros vão zumbindo na janela
Não quero e jamais pensei ser santo,
O gosto desta vida: uma esparrela!

3896

Meu corpo vai seguindo cada rastro
Deixado por teu corpo delicado,
Morena tu já negas alabastro
Teu corpo tem a cor do meu pecado.

No acordo que fazemos, vale e mastro,
O beijo na maçã é mais safado.
Jamais foi ilibado, é bem babado,
E brilha todo dia sem ser astro.

Plantando meu desejo em teu roçado
Fazendo de meu verso, o meu rastelo,
Que se danem princesas sem castelo.

Chegando de mansinho pro meu lado,
Abrindo este sorriso mais sacana,
Vem logo temperar minha cabana...

3897

Meus olhos na despedida
Do que tão pouco queria
O amor rasgando essa vida
Num tempo que não viria...

Tempo de tanta partida
Que nunca mais saberia
Poder encontrar saída
Vida que não viveria

Amores sempre são nada
Para quem, na madrugada,
Espera pela manhã.

De tanta vida malsã
Já traz velha alma cansada
Sem conhecer amanhã!

3898

Nunca mais sentirei tanta saudade,
Nem de ti, nem das dores que me trazes,
Caminhando, sozinho, na cidade,
Vou mutante, permito tantas fases.

Qual inseto, crisálida da tarde,
Voarei no futuro. São audazes
Os meus sonhos, buscar felicidade...
De todas migrações, o novo invade...

Eu serei novamente o que perdi,
A larva rastejante que morreu.
Tanto tive, calado estou aqui...

Ressuscito meu âmago no breu.
Trevas, pregas, praguejo; vou a ti.
Pensamento persegue: sigo ateu...

3899


Meu corpo de coçar-se anda perdido,
Às vezes quero crer mais não consigo
O quanto que essa pulga faz comigo,
Pegando-me, deveras distraído.

Ô bicho dos demônios! Convencido
De que pensa que eu sirva como abrigo,
Na verdade parece ser castigo.
Procuro nisto tudo algum sentido.

A vida que passei; vida cachorra,
Ladrando pelas noites nas calçadas,
Esta explicação; penso que socorra.

Quem sabe andei uivando nas estradas?
Agora que coçaram minhas patas:
Eu descobri por que: sou vira-latas...

3900

A podridão do corpo começara,
Sentira o gosto azedo, fecalóide,
As mãos se decompunham, já notara.
Do cérebro porções dum alcalóide

Esparramavam pelo chão... U’a vara,
Logo atravessaria seu mastóide,
Deixando à mostra tudo que almoçara.
Sentia-se zumbi, talvez andróide.

Mas nada de chegar a morte santa,
Redentora de tanto sofrimento.
A cabeça rodando, se levanta;

Cai em seguida. Pútrido, seu mento
Abrira tantas fendas... Ele canta
Incrivelmente, goza co’o tormento!

3901

Memória, crudelíssimo carrasco,
Termômetro de quantos vendavais...
História, vai girando seu fiasco,
Num tom sobre tom, marca, contrafaz...

Colibri, pirilampo tento e masco,
Sonoridades sépias, nunca mais...
No paralelepípedo, meu casco.
E, vergonhosamente, tudo trais...

Beija-me muito! Quero contra-sensos,
Ascender aos celestes magazines...
Meus sábados, domingos são imensos...

Na praça, atenção: meus velhos cines
Passarão mesmo filme, meus incensos.
Não há tino, nem cetro: Desatines!

3902

Quando meu nascimento aconteceu,
Houve silêncios, vagos murmurinhos;
Jogado ao canto, lerdos passarinhos,
Fingiam nem cantar, entristeceu...

Em tal momento obscuro, tanto breu,
Coloriu minhas ruas, meus caminhos;
E negra solidão, somos vizinhos...
Nascido esse moleque, mundo ateu...

A morte preparou a despedida,
Enfim não resistiu e foi vencida...
Ludibriei a sorte mais safada.

De tudo me restou, bem pouco ou nada.
A voz desafinou, descompassada...
Como a profetizar: gauche na vida!

3903


Teus seios, doces seios, tão macios...
Quem dera poder neles me perder;
Eu saberia então o que é viver!
Quisera conhecer teus vários rios...

Nas coxas os meus olhos vão vadios.
Orgasmos são procuras, quero ter;
Delicioso campo do prazer.
Quem dera misturar os nossos cios!

Penetrando com calma, devagar,
Essa estrada tão bela lembra o mar;
Na umidade gentil; teu belo sexo.

Venceria, feliz, o meu complexo,
Viveria contigo: como anexo...
Explodindo os dois juntos num gozar!

3904

Confusão decidida num segundo.
E vamos recordar o que foi fado.
Não deixes, na parede, esse recado.
Senão eu não prossigo nesse mundo...

Profusão do que tanto sei profundo,
Na maresia quero ser salgado.
Valentia e maré trazem pescado,
Mundo redondo, mundo tão rotundo...

Marionete sim, e sou movido;
Na sensação, dever quase cumprido...
Mesma impressão do amor sendo problema

E se fosse sertão, seria emblema;
Mas nada mais será, a vida rema.
Amor que foi de araque, vai perdido...

3905

Por mais que a vida siga tão confusa,
Os passos da amizade são meus guias,
Mudando num segundo as noites frias
Trazendo ao coração um manto e blusa.

Não posso conceber qualquer recusa
Daquele que persiste em fantasias,
Nos braços da amizade, novos dias,
Deixando no passado a dor obtusa.

Efeito mavioso produzido
Nos lumes da esperança, rumo certo,
Um sonho que se faz mais atrevido

Ao lado de uma amiga se faz crível,
Pois dando em nossos dias um sentido
Permite todo sonho ser possível.

3906


Viemos das entranhas das Gerais
No sangue violeiro uma esperança
Que adentrando profundo não sai mais,
No rosto que se queima força e dança,
Na busca da igualdade em santa paz,
Na broa com café, sapê, lembrança.

Viemos dos católicos batismos,
Dos dízimos, folias, reis, congadas.
Dos ricos e dos pobres, seus abismos,
Das cores matinais nas alvoradas,

Viemos deste sonho em liberdade
Do
mesmo inconfidente do passado,

Do amor que resplandece em amizade,
Do sonho que merece ser sonhado.

3907


Paraíso em teu canto, ave bela e mais rara...
Ergueste teu castelo em meio a tempestade.
Feito de etéreo fumo, asas da liberdade.
A mão que me maltrata; a mesma que te ampara.

Persegues nova vida em sonhos, mansa e cara.
Onde tenhas amor, sincera amizade
E a paz d’um paraíso: a tal felicidade!
Teu canto encantador, a vida tão amara!

No teu castelo em dor, a flor perde perfume,
O sonho se esvaindo, o que sobra? Queixume...
Amor que sempre fora o retrato da glória,

Adormecido... Quieto... Espreita atocaiado,
Que outro castelo surja em outro, manso, prado.
Nas asas da ave AMOR, a força da vitória!

3908

Toda a minha emoção, é verso sem sentido.
É canto que maltrata um coração sem lume.
É flor que não encanta, a falta do perfume.
É mar que não navego o leme dividido.

Morto, no esquecimento, a sensação do olvido
Invade minha cama, escuta meu queixume.
Sou boca que te morde, a falta de costume,
Retrato na gaveta, há tempos esquecido.

Sou fumo que evapora esparso em triste vento.
Poeira dessa estrada, o céu sem firmamento.
O pouco do que fui, está guardado em ti.

Pois foste um relampejo, um pouco de esperança.
Confesso, nunca mais, saíste da lembrança.
Meu único momento feliz, contigo, aqui.

3909

Depois de andar por negras, tristes brumas,
Em busca de esperança, flor tão rara.
Perdido sem ter rumo em tal seara,
Ouvindo imenso mar pleno de espumas.

Nas horas em que sonho, já te esfumas
E vais por outra senda, menos clara.
Estrelas de ilusões, dura tiara
Restando no meu peito só algumas...

Cortejos de falácias, desenganos,
Causando uma cruel, má perspectiva.
Disformes sensações. Apenas viva

A vaga sensação de claridade
Que doura a fantasia em novos planos
Na força de seus braços, amizade...

3910

Quem neste triste mundo se perdeu
Nunca teve os caprichos bons da sorte,
A paz nunca chegou. Viveu sem norte,
O sonho que foi claro escureceu.

Quem sempre mais tentou e se esqueceu
Sabe a profundidade e dor do corte.
Em plena vida aguarda a fera morte.
Esquece de viver, assim como eu.

Sou trama que não teve mais emenda,
Um velho beduíno sem a tenda.
Sou noite solitária e dolorida...

Amor é com certeza o santo cais.
Depois um outro porto, nunca mais.
A última esperança em minha vida!

3911


Amor é sentimento em vias de extinção.
A boca que me beija assim tão à vontade,
Decerto já beijou metade da cidade!
É retrato instantâneo, invade em profusão.

Um segundo que passa inventa outra paixão.
Por que vou ter ciúme em pouca lealdade.
Eu sei, não é mentira, amor é de verdade.
Isso tudo é hormônio...Amar? a solução!

Beija aqui, beija acolá... Não pára de beijar.
O neon brilha tanto, apagou o luar!
Estou ficando velho, agora eu percebi!

Sem pinho, serenata? A lua dança axé.
Amor sem carro novo? Amigo, não dá pé.
Ainda bem que achei meu grande amor em ti.

3912


Andando sem destino mar e lua.
Bebendo em cada fonte de ilusão
Salgando uma esperança bem mais crua
Envolto em loucas asas da paixão,

Minha alma te procura e assim flutua,
Batendo sem juízo, o coração,
Querendo tua pele, exposta e nua
Amando em nossa cama, rede ou chão.

Portos que encontrei; felicidade.
Nos meus sonhos vermelhos de prazer
A busca manifesta em claridade

Vestido
de luar, amor e mar.

Do corpo emoldurado quero ter
O sorriso e a alegria: te encontrar...

3913

Do banco da pracinha, do jardim,
Memórias de outros tempos. No quintal
As roupas balançando no varal
Da vida que passou dentro de mim.

O tempo foi tornado em temporal
O
mundo se nublou demais assim

Calando toda a força do festim
Até que amor, chegaste, no final.

E a ventania dura virou brisa,
A paz veio tão mansa e companheira.
Tua palavra amada sempre avisa

Que tudo renasceu em nossa vida.
A flecha de Cupido tão certeira
Refaz esta alegria, já perdida...

3914


Nos sonhos , devaneios e viagens
Por mares, por montanhas, vales, rios...
As chuvas, os outonos, estiagens,
Calores, tempestades, ventos, frios...

Nos sonhos que, contigo sempre tenho,
Aragens e ternuras são constantes.
Dos mares mais distantes de onde venho
Os olhos no futuro por instantes

Acordo e ao te sentir bem junto a mim,
Sentindo o teu respiro e teu sorriso.
Pressinto que sonhaste tanto assim
De um jeito delicado e mais preciso.

Atamos nossos sonhos em forte corda
E o amor já se refaz logo que acorda...

3915


Desperto nos teus braços, doce amante,
Abençoaste a vida em riso manso.
Decoras meu olhar com deslumbrante
Beleza que em ternuras busco e alcanço.

Refém da formosura, num instante
Percebo ser possível um remanso.
Que acolha meus delírios e me encante
Trazendo em paz imensa, o meu descanso.

Viajo por teu corpo, sei teu mar,
Vislumbro quanto é belo o bem amar.
Singrando cada ponto de partida,

Avanço sobre margens, praia, areia,
E de repente o mar já se incendeia
Numa procela insana e tão querida...

3916

Encaixado em teu cálice perfeito,
Percorro eternidade em cada toque.
Amor que se entregando é satisfeito
Trazendo para a vida um novo enfoque.

Amores cultivados, sem estoque
Permitem a loucura no meu peito,
Estrelas carregando de reboque
Deitadas, reluzindo no meu leito.

Amores que se foram já faz tempo,
Quem dera se somente passatempo,
Feridas mais profundas me causaram.

Os dias tão sangrantes sem ninguém,
Apenas a lembrança amarga vem
Nos olhos que em teus sonhos mergulharam...

3917

Estrelas que esparramas pelas ruas,
Deixando nos teus rastros, deidade
Nos sonhos mais bonitos continuas
A transformar amor em realidade.

Percebo: não caminhas; já flutuas
Aladas emoções, felicidade.
Embora na inconstância quais as luas,
Transmites a total sinceridade.

Na fuga de andorinhas migratórias
As horas vão passando em fluidez
Distante
de teus braços, merencórias


Legando a quem te adora, insensatez.
As sendas em que passas, belas, flóreas
Dourando minha vida em tua tez...

3918


Vagando pelo espaço sideral
Qual nave imaginária, sem destino.
Rompendo constelares, abissal,
O grito não contenho, sol a pino,

Mergulho nas entranhas, abismal,
Retorno aos meus momentos de menino
E encontro o teu desejo, bom sinal.
E nisso, simplesmente me alucino...

Recebo o teu carinho, em tom maior,
E vibro de energia, estrelas, mares...
O mundo me parece bem melhor

E assim nesta surpresa e neste encanto,
Refaço, qual garoto em mil pomares,
A vida que buscara, novo canto...

3919

Alçar a liberdade em cada verso,
Riscando com meu brado os infinitos,
Liberto, vasculhando os universos,
Mais fortes ecoando nossos gritos.

Matando os cães vadios e perversos,
Fazendo da amizade novos ritos,
Apascentando mesmo os mais dispersos,
Amenizando as dores dos aflitos.

O verso que se mostre com pujança
Vencendo com vigor toda trapaça,
Moldado nos buris de uma esperança.

Ganhando as mais sublimes cordilheiras,
Um novo amanhecer não se disfarça
Nas faces das manhãs alvissareiras...

3920

Um coração que bate sem juízo
Não sabe quanto amor a vida traz
Na busca pelo bem do paraíso
Acaba se perdendo sem ter paz.

Assim, um coração perdendo o siso,
Precisa cada vez bater bem mais,
Senão amor lhe cobra o prejuízo
E na desdita, a dor é mais audaz.

Por isso, minha amada, estou contigo,
Tu és a mansidão que sempre acalma,
Distante de teus olhos não consigo

Viver a necessária paz e calma,
Não deixa que a tristeza traiçoeira
Domine a nossa vida, companheira....

3921

Passando pelo céu, vai viajante louca.
Correndo sem parar, cometa sem destino,
Quando for misturar, minha na tua boca,
Regressarei, vou ser, novamente um menino.

Minha voz, noutro mar, noutro tempo, mais rouca;
Já poderá cantar, no dobrar desse sino,
Em cujo badalar, minha dor se fez pouca
E a alegria, verão, foi grande desatino...

Passageira a temer, tantas as desventuras
Que na vida irá ter, quem nunca pode amar.
Para quem, caminhar nas noites mais escuras.

Buscando do luar, farol para guiar,
Os passos a fugir de tantas amarguras.
A viajante vai, nem sabe onde parar...

3922

Há tempos os escravos e as senzalas
Eternizados pelos tantos mundos.
Enquanto os burguesinhos ganham salas
Chutando estes medonhos vagabundos.

Nas mortes azaradas, frias balas,
Resposta tão terrível dos imundos.
Riquezas vão passando pelas malas,
E os cortes dilaceram, mais profundos.

A liberdade custa muita morte,
A podridão se exala na raiz.
Porém é necessário cada corte

Que exponha todo o mal à saciedade,
Um povo que inda irá cantar feliz,
Necessita da dor da liberdade...

3923

A súcia dos ladrões associados
Fizeram da bandalha uma bandeira.
A multidão de pobres esfaimados
Jogados numa eterna quarta feira

Das cinzas os seus olhos arrancados,
Rasgando com vontade a bandalheira
Matando estes canalhas perfilados,
Num gozo de alegria verdadeira.

No parto de uma nova consciência
As lágrimas trarão felicidade,
Os elos mais profundos da amizade

Trazendo a tão querida penitência
Aos velhos vagabundos e seus ternos,
Ardendo eternamente nos infernos...

3924

As trevas continuam sobre nós,
Propinas são as armas da canalha
Enquanto o povo pobre só trabalha
A corja vai se unindo em firmes nós.

A merda que virá depois, após
Não servirá de adubo, pois de gralha
Matando uma esperança que se espalha
Num crocitar temível, duro, atroz

Fazendo deste povo, refeição,
Proliferando em série a multidão
Um dia ao se cansar dos trapaceiros,

Unindo em amizade os seus quereres
Devorará os tais “podres poderes”
E os sonhos poderão ser verdadeiros...

3925

A primavera vestida em podridão
Regando
cada flor com sangue e pus.

Jogado sem destino na amplidão
O barco da esperança aonde eu pus

O sonho que se foi pura ilusão
Pesando em minhas costas feito cruz,
Nadando em tanta merda em profusão
Cruzando
por favelas, bala e obus.


A casa vai caindo em tanta orgia,
Política virando putaria
O povo se ferrando sem parar

Amizade amargando qual jiló
A gente sem ninguém caminha só
Enquanto elite come caviar...

3926


Vai chovendo confetes sobre mim.
Na festa, pela fresta da janela,
Tento ser pierrô , ser arlequim,
Saudades são tão minhas quanto dela...

Não quero carnaval, nem mesmo assim,
Tampouco vou saber ser sentinela,
Dessa rosa que morre em meu jardim
Nas manhãs ela finge ser donzela

Rompe dia, sem tento nem sustento,
Teu grito, colombina; ledo engano...
Se matasse, viria cortar lento,

O que me dera, solto, simples plano,
No que tive conforto, me arrebento.
Meus amores estragam e eu me abano...

3927

Festa vai começar nesse terreiro,
Com o canto feliz da mocidade,
Orgulho batuqueiro brasileiro,
Disparando no peito, na verdade...

A cachaça que eu bebo com vontade,
Nosso churrasco assando no braseiro,
Tanta porrada traga essa saudade,
O sorriso cai falso, e verdadeiro...

Nossa vida tá dura, que me importa?
Patrão me despediu, quero beber...
Tristeza vai ficar, lado de fora...

Eu quero rosetar, nem sei por que...
Quero festa, senão eu vou embora...
É tudo que preciso pra viver...

3928


Tateio na noite vaga
Procurando por você
Eu me lembro vida amarga,
Quanto doeu lhe perder.

Minha voz, então se embarga,
Fico a perguntar por quê
Cravando no peito a adaga
A vontade de morrer...

Amanhã, pouco me importa.
Se virá e o que me traz,
Destino fechando a porta

Tudo ficando pra trás
Minha vida segue torta
Anda morta a minha paz...

3929



Incrivelmente atados noite afora,
A noite vai girando em carrossel,
Lambuzo-me de ti, chegando ao céu,
A lua qual balão já nos decora,

Partilha de prazeres, quero agora,
Fartura de explosões, nudez é véu.
Abelha em raro gozo explode em mel,
A fome recomeça e revigora

Em águas de lavanda sei que és minha,
Sinais que tu espalhas nesta cama;
Num arco íris gigante a noite inflama

Estrelas fazem ronda, já se avizinha
Caleidoscópio/sol na madrugada,
Ejaculando luz numa golfada...

3930

Logo que chegas, vindo de onde vens,
Procuras ao entrar, a fechadura...
A chave introduzindo... Parabéns!
Acertaste sim, mesmo noite escura

Não impediu tal glória! Sei que tens
A mansidão divina da brandura...
Mas, irado, ferido nos teus bens
Ou no brio feroz, tal armadura

Demonstra tua raiva sem sentido!
O que fora brandura se transforma,
A mansidão, deixaste pelo olvido...

Com tanta estupidez, de bruta forma,
Tu tentas penetrar, estás perdido,
Pois logo, sem porque, tudo deforma...

Aquele “bravo” sujeito,
Mais calmo, fica besteiro...
Diz, lá no fundo do peito:
Meu reino por um chaveiro!

3931


Quisera ter, da sólida braúna,
A eternidade, força em que me apego;
Na raridade bela da graúna,
A grandeza marinha que navego...

Poder lutar, jogando nessa iúna,
Com toda força; o medo eu arrenego,
Sair ao mar, das dunas, minha escuna;
Vadio o peito, vago sendo cego...

Nas minhas mãos sedentas por batalhas,
Meus pés na dança-luta, capoeira,
Não quero nem carrego essas mortalhas,

Minha senzala, nunca a verdadeira,
É meu caminho pleno, tantas falhas
Trago, meu coração sem eira e beira...

3932

A glória de viver sempre se faz
Nos olhos de quem traz felicidade,
Palavra benfazeja satisfaz
Moldando em esperança uma amizade.

Deixando as diferenças para trás
Permite-se prever a claridade.
Ao semear amor, carinho e paz,
A vida se promete em liberdade.

No teu aniversário, minha amiga,
Que toda a glória imensa já prossiga,
Pois tens este poder de ser assim.

Uma pessoa alegre e triunfante,
Sorriso acolhedor e deslumbrante,
Parabenizar-te, então eu vim...

3933

Recebendo o carinho desta brisa,
Lembro-me de teus beijos, minha amada.
Nos afagos senti; pele tão lisa,
Minhas mãos penetrando cada estrada...

Todas minhas quimeras, amortiza
O suave calor dessa empreitada,
Todos os meus demônios, exorciza.
Pois se te quero sempre, diga nada...

Na delícia voraz de teu carinho,
Nessa carícia atroz, tanta saudade,
Procuro vorazmente pelo ninho,

Pois bem sei que jamais será tão tarde
E nunca mais serei, enfim, sozinho,
Encontrei, afinal, felicidade...

3934

Atravessamos vales, cordilheiras
Unindo nossos sonhos, força e gozo,
Noturnas travessias, costumeiras
Trazendo um novo canto mavioso.

Esperanças desfraldam as bandeiras
Embora tantas vezes belicoso
O passo deve ser silencioso
Senão pode acordar as feiticeiras.

Vestidas de canhão e de fuzil,
Numa tocaia algoz, nada gentil,
Ou quem sabe atiçando estas hienas

Que atacam sempre em bando e nunca sós,
Disfarçadas em ricos paletós,
Fazendo nos Congressos tristes cenas...

3935

Unidos corações vencendo as trevas
Deixando o peito meio em contrabando
O
quanto que caminhos eu desando

Enquanto tu distante sempre nevas.

Amiga, necessárias nossas cevas
De tudo o que vivermos onde e quando,
O manto da verdade nos tocando,
Tristezas vão embora, frias levas.

Nas asas deste pássaro/amizade
Alçamos infinitos sem ter asas,
Nas lutas tão difíceis, sempre em brasas,

Vencer as duras rochas, ninguém há de,
Assim em união vamos à luta
Tombando em mansidão a força bruta...

3936

No gosto verdadeiro desta lua,
A marca da pantera traz o mote,
Ato vai repetido, sei atua,
No verão mais sedento sem o pote...

Sou de terras mineiras, em Papua,
Encontrei cavalgando, fui a trote,
No calor do deserto tanto sua,
Que tirei paletó, calça e culote...

Envernizei meus lumes e solfejos,
Vagando o trem, na curva sem vacilo.
A morte tem, trancados, seus desejos...

De corte, bala, câncer ou bacilo,
No pé da Minas, quero novos queijos,
Para poder viver bem mais tranqüilo...

3937

Mesmo distante sinto esta presença
Do bem que se fez tanto a cada dia.
Uma amizade feita em alegria
Encontra
na amizade a recompensa.


A vida nos imputa tal descrença
Que aos poucos vai matando a fantasia,
Criança que nós fomos não sabia
Da ausência de esperança; dor imensa.

Por mais que estejas longe, minha amiga,
Existes e persistes dentro em mim.
Sabendo desta luta até o fim

Por uma vida amável que prossiga
Trazendo para nós tranqüilidade,
Encontro munição nesta amizade...

3938


Tenho as marcas sangrentas do passado,
Cicatrizes no peito sofredor,
Quisera ter vivido do teu lado,
As horas mais difíceis, meu amor...

Estás tão diferente, tenho andado
Em busca do que fomos, onde for.
Nada além me restando, nem bocado
Do sonhos que sonhei, fui sonhador!

Sentindo o bafejar da morte vindo,
Pretendo adeus num último soneto,
Que seja a solidão da dor se abrindo,

Derradeira loucura que cometo,
Quero morrer nos braços, sonho lindo,
Dessa mulher que amei, isso eu prometo!

3939

Unidos desde sempre ao infinito
Da ponta da cabeça até os pés.
Visceralmente juntos, alma e fés
Errando noite afora, sigo aflito

Na busca de um diverso e novo rito
Que deixe o meu passado de viés,
E nos liberte assim destas galés
Pesando em nossos corpos qual granito.

Do quando nós iremos liberdade
Pergunto e sem respostas, sigo tendo
Apenas as notícias me envolvendo

Dizendo desta tal fraternidade.
Não quero uma alma gêmea, eis a verdade,
Os elos da corrente apodrecendo...

3940

Meus sentimentos seguem como as chuvas
Nas tempestades várias de minha alma.
Com a voracidade das saúvas
Devoram, mas depois tudo se acalma.

Embora tantas vezes, um piegas,
Em outras mimetizo rebeldias.
Vagando sem destino, quase às cegas,
Roubando a claridade dos meus dias.

Amores sensuais, até fraternos
Explodem em momentos tão diversos,
Eterno purgatório onde os infernos
Avizinham-se sempre dos meus versos.

Na doce sensação dorida e plena
De um parto que abençoa e que envenena.

3941


Meus néscios versos vagam sem destino
Morrendo assim dispersos; como espuma
Que se perde na praia. Eu imagino
Um sonho que mal chega já se esfuma

E vaga simplesmente sem paragem.
Atravessando um mar teme o naufrágio
Embora inda pressinta a nova aragem
Que o torne bem mais forte, ou menos frágil...

Meus versos são boçais, às vezes ermos,
Palavras escolhidas ao revés
Mudando de sentido, noutros termos,
Às vezes vão raspando, de viés...

Escravo de meus versos, me liberto
Atando o sentimento em rumo incerto...

3942

Um passageiro alado deste sonho
Que envolve a cada dia em forte enredo.
Meus barcos nos teus braços; cedo ponho,
No mundo que desejo e me enveredo.

Amor que se faz festa em aliança,
Atesta uma alegria sem igual.
Segredos; deposito em confiança;
Viajo em teus carinhos, porto e nau.

Sobrevivendo assim, além do cais,
Formando uma esperança sem ter par.
Te quero sim, e cada vez bem mais.
Não canso de dizer e de te amar.

Seguindo cada passo que tu dás,
Bebendo esta alegria que amor traz...

3943

Guardado por aqueles que não amam;
Aquele cuja vida foi sem ser,
Quem nunca mais cantou não pode ler,
Mentiras verdadeiras já reclamam...

Em plena madrugada vozes chamam,
Amores que não pude conhecer,
Os sonhos que eu não soube conceber.
Meus pensamentos voam, tudo tramam...

Não quero mais saber de antigas dores,
Bem querer transgredido nega cores
No semblante, reflexos semelhantes

Aos que bem tarde foram tão constantes,
No mais resplandecente dos instantes,
Guardado num cruel vaso de flores...

3944

Poder estar contigo sem demora,
Alçar a minha mão até a ti.
Distância num segundo se evapora
No laço onde mais forte me prendi.

Eu vejo nosso amor assim, sem hora,
Vibrando nos teus braços, estás aqui;
Tu presença sempre revigora
Uma evidência clara que vivi...

Estar sempre contigo, uma fortuna
Da qual não abro mão; amor, jamais.
Amada, nos teus mares, rara duna

Mostrando uma beleza que incendeia.
Da luz que nos clareia, quero mais,
O brilho de uma lua, sempre cheia...

3945

Tu sabes, meu desejo é teu desejo,
Entregues nossos corpos saciados.
Vibrando nossos êxtases no ensejo
Da vida que promete novos prados,
Amada te tocar em cada beijo,
Depois nos descobrirmos deslumbrados...

A lua que recobre um corpo belo,
Em tua morenice, teus encantos,
Meu barco no teu cais; decerto atrelo
Viajo sem temor, rumos e cantos...
Amor que no teu corpo, cedo selo,
Singrando saciado; mil recantos...

No diadema feito por estrelas,
Em sonhos mais perfeitos... convertê-las....

3946

Vindo lá, do sertão, da minha terra;
Onde cantam segredos, passarinhos...
Lá, onde sol e lua fazem ninhos,
Onde o cio brotando, vem e berra.

Nos gemidos sutis, a noite cerra
Os olhos e permite mil carinhos,
Dos grilos e corujas nos alinhos
Noturnos, nova vida em velha serra...

Trazendo minha rústica esperança,
Lavada a cada sonho de criança.
Renovando segredos de minha alma...

Talvez seja por isso, tanta calma;
Natureza conheço, como a palma
Da mão que acaricia e mais avança!

3947


No verde desses olhos, trazes mata,
Na lembrança feliz da juventude,
Quisera ter a mesma, magnitude,
Do amor que vai correndo qual cascata...

Verde cor d’esperança que maltrata,
Que traz de novo o brilho e atitude,
Verde que me dá vida e mais saúde
Os teus olhos tão verdes, vida e nata...

Não precisava amar, quase mais nada,
A não ser tua lua esverdeada,
No teu canto feliz, os verdes campos...

Brilhando nessa noite, pirilampos,
Não quero me prender nego meus grampos,
Minha alma se esverdeia, apaixonada.

3948


Amiga te encontrar em meus caminhos,
Teu braço benfazejo e companheiro.
Dois corações buscando pelos ninhos
Num dia mais feliz, alvissareiro.

Nos dedos salpicados de carinhos,
Teu colo, tão macio travesseiro.
Bebendo essa alegria em raros vinhos
Do bem que se tornou mais verdadeiro.

Atravessar as pontes da esperança
Unidos para sempre em doce encanto.
Nos olhos que se fixam a aliança.

Palavras de consolo e de alegria
Secando para sempre o triste pranto,
Nascendo neste amor do dia a dia...

3949


Quanta alegria, amada, me trouxeste
Na volta que ansiava todo dia.
De todos os meus sonhos, tu vieste
Trazendo toda a paz e fantasia.

Contigo novamente sou feliz,
Meu peito sofredor já vive em paz.
Tu és o que na vida, sempre eu quis,
Somente teu amor me satisfaz...

A casa sem te ter, é quase morta
As flores esquecidas no jardim,
Ao ver tua chegada, aberta a porta,
A vida renasceu dentro de mim.

Tanta felicidade, meu amor,
E nunca mais te vás, faça o favor...

3950


Tua sina, querido companheiro,
Com certeza, jamais foi invejada.
Começou, desde início, malfadada...
Teus irmãos dominaram mund’inteiro.

Te restando as profundas; foste herdeiro
Do que nunca, ninguém, quis como estrada...
Dos mortos, o teu reino era entrada,
Da grande Proserpina, amor primeiro.

O teu destino triste, desgraçado,
Achavas que seria teu legado.
De Júpiter, Netuno, foste irmão.

Dos mortos, teu reinado, e possessão.
Isso não bastaria a ti, Plutão;
Depois de tanta glória, rebaixado...

3951


Sentimento mordaz que me metralha,
Não me deixa sequer nem respirar;
Na vadia tortura procurar
Por alguém quefeliz, tanto atrapalha...

Teu sorriso transforma-se em mortalha,
Machucando feroz quem quis um par;
Vagabundo serei; não vou parar
Me contento em fugir dessa navalha...

Sentimento safado vive tonto;
Aumentando cruel ponto por ponto,
Vazia sensação de ser abjeto...

Não sou nem a metade, simples feto
Que procura crescer; tolo, incorreto,
E que nunca estará, pra vida, pronto...

3952

Tu tens este poder de plenitude
Espalhas pelas ruas, tanto charme,
O coração desanda e num alarme
Espera de seu dono uma atitude.

Quem dera se pudesse desse açude
Beber e além de tudo inda banhar-me
Sentindo o teu desejo que ao tocar-me
Demonstra toda a força da saúde...

Do jeito que se pede e que se quer
Tanto queria ser teu namorado,
Andando o tempo inteiro lado a lado,

No gozo do prazer extasiado,
Da forma e da maneira que quiser
A glória de ser teu, minha mulher.

3953

O sal da terra trago em minhas mãos,
Vasculho, procurando em todo ser,
Quem dera poderia conhecer,
Aquele que transforma seus irmãos...

A mansidão traduz amores vãos,
Num único tormento por viver;
Instante tão feliz, novo saber.
A vida fecundando tantos grãos...

No teu martírio louvo a liberdade,
Procuro-te sem nada, sei que tarde;
Mas nunca poderei, de ti, fugir.

Castiçal de lanternas a luzir,
Um brilho sem igual, jamais vivi.
O teu nome traduz felicidade...

3954

Olhando o que passei, eu já percebo
Os erros cometidos, meus acertos,
O vento da saudade que recebo
Não deixa meus caminhos mais desertos.

Na vida procurei a liberdade,
Às vezes sofrimentos, como paga,
Quem dera se existisse eternidade!
A morte; sinto agora, já me afaga.

Mas peço numa prece ao Meu Bom Deus
Que me permita ao menos um olhar
Que possa iluminar os dias meus
Num derradeiro lume a me banhar.

E vejo nesta escada, minha vida,
O quanto é duro estar já de partida...

3955

Há quanto tempo busco o teu olhar
Em meio a multidões, luzes distintas
São carros e faróis a trafegar
Anúncios em néons, diversas tintas.

Reflexos apagando este luar;
O vento deste amor; quero que sintas
Perceba esta alegria a me tomar,
As ilusões não podem ser extintas.

Meu sonho nos teus braços já se aninha,
Meu canto te procura sem descanso,
A noite se acabando e não te alcanço

Um dia tu virás, num vento manso,
E assim uma esperança se avizinha,
Poder dizer a todos: JÁ ÉS MINHA!

3956

Meu verso procurando uma alegria
Encontra nos teus olhos, raro brilho
Seguindo uma ilusão que assim me guia
Percorro em pensamento um belo trilho.

Quem dera se pudesse, a cada dia,
Mostrar o quanto já me maravilho
Sentindo o teu perfume que me extasia,
Num sonho que se faz sem empecilho.

Nas malas que carrego do passado,
Tristezas, sofrimentos, dor atroz,
Ouvindo em emoção tal bela voz

Permite que eu te fale extasiado,
Que o peito emocionado já se cala
No sonho de poder somente amá-la...

3957

Estúpido canalha que me corta,
Aprofundando a adaga vai impune.
A sorte que quisera; jaze morta
Ao mesmo tempo em que um amor desune.

Felicidade em ti foge e se aborta,
Ao mesmo tempo ri depois me pune.
Arromba sem pedir, adentra a porta
E pensa que inda sou à dor imune.

Mendigas por carinhos, ironias...
Esbalda-se nos sonhos que tu crias,
Depois em gargalhada escapa, farto.

Entrega-se ao menor sinal de amor,
Para escapar algoz, vil traidor.
Deixando como herança, amargo infarto...

3958


Nas remessas que trazes; uma carta,
Uma mensagem triste de partida;
Avisa que terei por despedida,
As últimas notícias tuas, Marta...

Tantas vezes; Atenas, tu: Esparta.
A porta dessa entrada é de saída,
Pois quem amaldiçoa, traz ungida;
A mão que acaricia, já maltrata...

No beijo; da saliva fez-se escarro,
Da lágrima sentida, tanto escárnio.
Recolho meus bagaços, meus farrapos...

Quem fora fantasia, simples trapos.
Aguardando calado quem descarne-o
Coração apodrece em sonhos parcos.

3959

Seguindo cada passo que tu dás,
Eu adivinho um mundo mais perfeito,
Na vida que se mostra sempre em paz,
Aliviando a dor de um velho peito.

Deixando estas incúrias para trás,
Permite-se sonhar de um novo jeito
Trazendo o coração bem satisfeito
No brilho que este olhar firme me traz.

Tua presença amiga é tão bem vinda,
Pois nela já se espelham esperanças,
Amiga, eu tenho em ti, belas lembranças,

Do amor que em maravilhas se deslinda,
Na glória da amizade tão querida
Tu és a clara luz de minha vida.

3960

Mergulho no teu corpo, o meu saveiro,
Adentro tuas furnas, teus atóis,
Debaixo do calor destes lençóis
Vislumbro este tesouro, vou inteiro.

Inebriadamente, eu sinto o cheiro
E bebo do prazer dos belos sóis
Orgásticos caminhos, teus faróis
Levando ao infinito derradeiro.

Singrando noite afora em gozo intenso,
Salivas e suores se trocando,
Intensas sensações a cada instante,

Nos mares, descobertas e tesouros,
Nos infinitos céus, ancoradouros,
Do paraíso em vida, um navegante...

3961



Ao ver os olhos claros da inocência,
Feridos pela imensa covardia.
Daqueles que esmagando um novo dia,
Demonstram a terrível inclemência,

Em frágeis mãos a dor da penitência
Clamando por alguma fantasia,
Enquanto a corja imunda se associa
Levando aos inocentes a demência.

Abutre que devora um embrião,
Vendendo pouco a pouco esta nação,
Roubando do infeliz quase faminto.

Quem dera se um Bom Deus em amizade
Salvasse
da fatal iniqüidade,
Tornando este animal/ladrão extinto.

3962


Quem dera se eu pudesse te falar
Do quanto a nossa vida é tão ingrata.
O medo de viver tanto maltrata
Que impede muitas vezes de sonhar.

A dor que se avizinha vem mostrar
Na lágrima que escorre pela mata,
Descendo em podres águas na cascata,
Sujando as esperanças deste mar,

São marcas indeléveis da presença
De uma civilizada e má doença
Sangrando em nascedouro um amanhã.

Percebo que a cobiça e o desamor,
Ganância e covardia em destemor
sejam dos paraísos, a maçã...

3963


Entardecer... Risonho e delicado brilho.
O sol se esmaecendo encontra a bela lua.
Esta, envaidecida, abre-se toda nua.
Eu, quieto voyeurista, olho e me maravilho!

E depois, satisfeito, o sol segue seu trilho...
A lua se levanta... Orgástica, flutua.
Natura, enamorada... A noite continua...
Quem sabe, dessa lua, amor é belo filho...

Por vezes; encantado. Em outras, tão vazio...
Ao sol vai abrasado, à lua quieto e frio...
Termina num outono, o que nasceu n’estio...

Nas normas desta vida, o nosso amor nasceu...
Tu foste o forte sol, a triste lua: eu...
Sem norma o nosso amor; Apenas breve cio...

3964

Deus protege quem ama e não maltrata,
Essa verdade trago sempre em mim.
Quem faz do amor princípio meio e fim,
Conhece a maravilha da cascata,

Já teve seu prazer na serenata,
Sente a delicadeza do jasmim
E sabe cultivar belo jardim.
Das flores, com carinho, sempre trata...

Pois tive essa certeza, minha amada,
Quando a vi me trazendo essa alvorada
Co’o brilho matinal de forte sol.

Minha vida, de novo em primavera,
A morte sem perdão desta quimera.
Encontrei linda luz neste farol!

3965

Falar do nosso amor é repetir
Os versos que procuro pela vida.
A noite sem te ter cai dolorida
Estrela sem te ver não quer mais vir...

Então eu venho em preces te pedir
Que nunca mais me fale em despedida.
A morte sempre atenta e desmedida
Quem sabe, de repente, vai surgir?

Deixa-me em cada noite, vais aos céus
Levando em tuas mãos os alvos véus.
Em prantos minha noite continua...

Amada, minha deusa por que esfumas?
As noites tão distantes perdem plumas
Mas ganham no teu brilho, minha lua!

3966

195- PENSANDO EM TI

A
cada instante penso mais em ti
Distante
de teus olhos, que saudade!

O mundo mais perfeito eu conheci
Nos braços deste amor/felicidade.

O gosto desta boca que senti
Me dando a dimensão desta verdade.
Vontade, meu amor de estar aí.
Contigo eu concebi sinceridade.

Beber de cada gota do sorriso
Que trazes como festa que não pára.
Nos braços deste amor eu me harmonizo

E sinto minha sorte bem mais perto.
Amada minha perla, jóia rara.
Meu peito ao nosso amor, pra sempre aberto...

3967


Amigo, uma esperança traiçoeira
Por vezes nos maltrata mais que tudo.
Buscando esta ilusão a vida inteira
Sentindo o coração assim, miúdo,

Quem sabe se esta sorte costumeira
Derrame todo o sonho em que me iludo,
Nos mostre uma outra luz mais verdadeira
Que nunca nos pergunte: se, contudo...

Apenas a certeza salvará
Um coração que esvai-se, amor incerto.
Mas veja que outro dia chegará

E a chuva da promessa então nos traga
A solução perene pro deserto
Na mão que nos sacia enquanto afaga...

3968


Teus claros olhos, bela enamorada
Que parte sem talvez dizer adeus.
São rumos que se perdem leda estrada,
Se perdem espelhando os olhos meus...

Não trago na memória como ou quando
Perdi os meus caminhos de alegria.
Agora sem teus olhos fulgurando,
Pergunto ao meu amor onde andaria?

As horas esquecidas, vãos momentos,
Perdidas sem saber onde encontrar.
Espero te encontrar, rosa dos ventos,
Olhares que me guiam pelo mar...

Nos mares dos teus braços e carinhos,
Teus olhos que me levam, meus caminhos...

3969

Da dor que amor me trouxe, sobremesa,
Criei uma esperança mais matreira.
Nadando sem parar, na correnteza
Deixei de ver espinhos na roseira.

A sorte de quem ama, com certeza
Se entrega na emoção se for inteira.
Não quero mais caçar nem ser a presa.
Sobrevivência, agora; uma bandeira.

Mas vejo em tuas mãos a bela rosa
A quem eu dediquei o meu jardim.
Tu falas da ferida dolorosa

Te falo da alegria que é sem fim
Ao ver a tua boca tão gostosa,
Ao te sentir colada junto a mim...

3970



Viajo nos teus beijos, fina flor.
Vou indo sem destino, solto as velas
E embarco neste mundo sedutor
Que em meio a tais delícias me revelas.

Num corcel/fantasia, em puro amor,
Em pelo, sem arreios e sem selas
Do céu iluminado, encantador,
Nós pintamos a giz raras telas...

E vamos asas soltas, vento e luz...
Traçando cada passo, força e gozo.
Teu rosto nos meus olhos reproduz

Sorriso delicado, franco e terno.
Viajo no teu corpo tão formoso...
No toque mais macio, enfim, eterno...

3971

Amo tão sorrateiro, amineirado,
Que chega sem pedir, sem falar nada.
Aos poucos dominando, está do lado
E quase não sentimos a alvorada

Do amor que se faz sempre delicado.
Minha alma se percebe assim tocada
Por este sentimento desejado.
As tuas mãos, menina... Mãos de fada...

O teu sorriso belo e tão sereno...
Dominas o meu mundo, pouco a pouco.
Na mansidão gostosa do veneno

Que provo a cada dia e me vicia...
No amor que já me invade, doce e louco,
Encantos e delícias... a magia...

3972

Paixão que decorando em rubro sonho,
Trazendo um tinto sangue apaixonado.
Vibrando no teu corpo, sempre ponho
Segredo mais voraz, extasiado.

Voar além dos mares te proponho,
Deitara-te em tanta fúria aqui do lado.
Deixando esse passado tão medonho
Distante, bem distante, abandonado...

As cores que pintamos, mil matizes,
Amores que nos roubam o juízo.
Fazendo-nos, por certo mais felizes

Mostrando no caminho sempre alerta,
A porta do divino paraíso
Pra sempre, eternamente tão aberta...

3973

Paixão que decorando em rubro sonho,
Trazendo um tinto sangue apaixonado.
Vibrando no teu corpo, sempre ponho
Segredo mais voraz, extasiado.

Voar além dos mares te proponho,
Deitara-te em tanta fúria aqui do lado.
Deixando esse passado tão medonho
Distante, bem distante, abandonado...

As cores que pintamos, mil matizes,
Amores que nos roubam o juízo.
Fazendo-nos, por certo mais felizes

Mostrando no caminho sempre alerta,
A porta do divino paraíso
Pra sempre, eternamente tão aberta...

3974

Amor que é nossa luta e nosso tema,
Nos glorifica em luz e nos redime,
Por isso minha amada nunca tema
Além de toda dor, amor estime.

Façamos deste amor qual piracema
Lutando contra o rio, guerra e crime,
Vibrando mais felizes, nosso lema,
Fortalecendo sempre nosso time.

Venceremos as cismas e batalhas,
E tantas maldições quanto vier.
Os cortes tão profundos as navalhas

Não têm sequer poder de nos conter
Um homem, um amor, uma mulher,
E a vida companheira pra viver...

3975

Sonhado com estrelas, ruas, vento.
Andando nas calçadas sem destino.
Te vejo atravessar; neste momento,
A rodovia longa e mal domino

Vontade de seguir. Paro, ando, tento;
Tomado por magia e desatino
Dou asas ao mais fundo sentimento.
Amar virou bem mais que um simples hino...

O teu nome escrever em sangue, pano.
Moldando eternidade em ato puro.
Apagando depressa um outro engano,

Revelo o meu amor atemporal.
Rasgando esta camisa, assim me curo,
Bebendo esta paixão, um temporal!

3976


Amiga como é bom poder ouvir
Teu canto carinhoso e tão gentil.
Por mais que seja triste meu porvir
Eu conto com abraço mais febril.

Que nada nos impeça de seguir
Com passo bem mais forte e mais gentil.
Eu venho nestes versos te pedir
Um sonho, nosso sonho em céu anil

Que espalhe esta alegria sobre a Terra
Criando um mundo novo para nós.
Na sensação divina que se encerra

No peito de quem ama a humanidade.
Unindo nosso canto e nossa voz
Com toda a plenitude da amizade...

3977

Nos teus palácios ácidos devoras...
As formas que comportas, tão disformes.
Nos jornais, nos anais, nossos informes,
Noticias seus cios, nada imploras...

Vértice recrudesces, tolas horas,
Teus peixes a pescar, salmoniformes,
Jamais eu poderia, seus conformes,
Rolando teus espaços, parcas toras,

Não quero o fero gozo de teu sexo,
Nem tento teu invento, tonto nexo...
Minha mina minada nada cria...

Meus olhos, óleos, aços, são pedaços,
Abrindo loucos braços, teus abraços
Convidam para a noite numa orgia...

3978

Chegando em casa, fúnebre rotina,
A mesma casa, triste e tão vazia...
A mesma imagem queima-lhe a retina,
Das esperanças mortas, onde via

O rosto angelical , sua Marina...
A vida cruel segue novo dia,
E nada mais senão doce menina,
Que o tempo já levou... na ventania.

O quarto aonde noites eram lúbricas,
Fazem dos sonhos cenas tão mais lúdicas,
Mas tudo vai perdido, na lembrança...

Quem dera não tivesse que sonhar,
Quem dera se esquecesse de matar,
A quem amara, estúpida vingança...

3979

Me bastaria estar contigo, amor
Mais uma noite. Na canção que sonho,
Ouvindo vozes tão suaves, ponho
Meu mundo, trago essas saudades... Flor

Que sempre trouxe seus espinhos, dor...
Mas quando vejo esse luar, tristonho;
Brusco me calo, esse lugar medonho,
Não poderá mais prosseguir. Condor

Atravessando cordilheiras, Andes...
Bem que tentei, não consegui nada antes...
Espero pelo melhor, vivo só...

Me deixas luto, mas, perder não sei...
Quem sabe tenho o que jamais sonhei;
Quem sabe então, eu voltarei ao pó...

3980

A vida maltratando causa estrago,
Quem tentou ser audaz não deu em nada...
As intempéries formam paliçada,
Não me restou ao menos um afago...

Nas sutilezas bebo, me embriago,
Meus lamentos conduzem essa estrada,
Que numa luz opacas é apagada...
Não queria saber tal gosto, amargo.

Quero vencer tais lutas, não consigo;
Conhecer contra as dores, novo abrigo,
Quem sabe então viver essa certeza

Que transforma delírio em pensamento,
Que suporta, feroz mais um tormento,
Quem me dera criar tal fortaleza...

3981

Lua azul, clareando meu inverno,
Não quero ter sentido nem senão,
Quebrando essa cadeia, beijo o chão...
Nem sei mais qual o corte do meu terno.

Sabia que tentava desse inferno,
Buscar a melodia num grotão,
Mas quebrando uma corrente, digo não
Nem me importa ser velho ou ser moderno...

A tua gravidez é, na verdade,
Um resto de sincera lealdade.
Mas quem sabe de tudo bem se cala.

As vozes que transtornam, paranóicas,
A vida tem antenas parabólicas,
Permitindo teu retrato em minha sala...

3982


Nessas horas vagantes, sou procela,
Num sentido senil que tanto arvora...
Nessa fila de banco, uma demora
No final dessa rua, Rua Bela.

Quando fiz papagaio, da janela
Lateral do meu quarto, quis a flora...
Mas nessas tentativas, perco a hora
Da consulta marcada por Gisela.

Fingi que não queria beber cloro,
Tomar um formicida, dar risada.
Nesses vários papéis que mal decoro,

Existe verdadeiro compromisso:
O de nunca ser tudo ao menos nada...
O que tenho, pergunto então, com isso?

3983

Nas guimbas dos cigarros que fumei,
A marca do batom que lá deixaste,
É parte do que temo, no contraste
Do que sou e pensava, mas errei...

Teus lábios são incêndios que eu provei
E nesta fantasia me queimaste,
Deixando tão somente, um simples traste.
No lugar de quem ousa ser teu rei...

Vieste, no calor dessa batalha,
Mas nada que fomos inda existe
A boca transportando essa navalha

Decepa o que já tive de ilusão.
Teimoso, meu amor sempre resiste
Enquanto me restar um coração!

3984

Quando pensas fingir, sei do teu jogo...
Disfarças; não enganas quem conhece
Teus beijos, alegria rouba a prece.
Quando finjo temer; peço num rogo

Que perdoes meu erro feito em fogo;
Ardendo meus sentidos, o ator cresce
Nos engodos, mentiras, como houvesse,
Realmente tristezas. Não me afogo.

Cultivo tais mentiras que me dizes.
Nos meus portos procuro por veleiros,
Mas insana, por vezes, contradizes

O que sempre parece o meu naufrágio,
Mas, no fundo, jamais são verdadeiros
Os versos que me fazem ser tão frágil...

3985

Nos meus antros sentido vai confuso,
Não sei das diferenças nem dos fatos,
Eu quero converter os meus recatos,
Na sensação d’amor farto e profuso...

Quem sabe poderei viver incluso,
Meu mundo tão recluso rompa o trato,
Nessas covas cavadas, sou um rato,
Não conheço sequer, nem roca e fuso...

As minhas soluções são mais problemas,
Não consigo sentir quais os dilemas
Que podem vir, sanar as velhas lendas...

Coberto de deserto, fujo tendas,
Minha vida se perde sem agendas
Apenas não suporto mais algemas