quinta-feira, março 20, 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 141

1961

Prazer que eternamente revigora

Mistura cheiros, teus nossos desejos.

Bem mais do que talvez simples lampejos

Eu quero novamente a qualquer hora.

Dentro de ti uma esperança explora

Caminhos delicados e sobejos.

Amar não necessita de traquejos

É só fluir que o jeito não demora.

No cerne da questão eu sinto o cais

Repetição do jogo? Quero mais,

Bisando e reprisando não represo

Deixando em corredeira nosso rio,

Amor não é decerto um desafio,

Cativo deste sonho em ti vou preso...

1962

Cativo deste sonho em ti vou preso,

A gente briga tantas vezes... tolos...

Tristeza vem regando nossos solos,

Depois- parece até que estou surpreso,

Chorando pelas ruas, indefeso

Buscando em outras sanhas, outros colos,

Encontro tão somente duros dolos

Jamais escaparei, não vou ileso...

Tentando te esquecer eu volto a ti,

Eu mal consigo acreditar: perdi...

Apenas me rondando uma saudade.

O nosso caso vai chegando ao fim,

Trazendo nosso amor dentro de mim,

Eu não conhecerei mais liberdade...

1963

Eu não conhecerei mais liberdade

Na morte que não quero carregar,

Martírios vão distantes do meu mar

Se a gente renovasse a mocidade...

Mas vendo tão somente o que em verdade

Não posso e nem consigo desfrutar

Eu bebo toda noite este luar

Sabendo em cada raio, falsidade.

Quem dera a vida fosse em paz, harmônica

Porém a solidão se faz atômica

E deixa o coração em sobressalto.

Tomando a minha vida já de assalto,

Interagindo sempre com vazio

Invento um novo dia sem fastio...

1964

Invento um novo dia sem fastio

Portando em minhas mãos verso ou adaga

A vida me cortando enquanto afaga

Velocidade imensa, vento frio.

Sacrílega emoção inverna estio

Lacrimejante sonho então me alaga

Saudade com carinhos quando é paga

Restituindo em nós antigo fio.

Sombria madrugada se aproxima

Neblina vai tomando nossa estima

Calado, resta o peito e nada mais.

Dissabores florescem nos meus olhos,

Recolho a fome e o medo, vários molhos

Imagens distorcidas; perco o cais...

1965

Imagens distorcidas; perco o cais

E sigo em temporal sem ter promessa

Do claro amanhecer noutra remessa,

Somente os teus sorrisos nos bornais.

O quanto eu desejei em rituais

Aonde a solidão não se confessa,

Mas tendo em minha vida sempre pressa

Desprezo que chegou, tu demonstrais...

Paragem necessária? Não conheço

Amor não sabe assim meu endereço

Correspondências vibram ilusões.

As horas se arrastando quais correntes,

Os olhos são vazios e dementes,

Saudade se derrama aos borbotões...

1966

Saudade se derrama aos borbotões

Vontade de ficar... o tempo passa...

O sonho se perdendo na fumaça,

Oculta estrelas, muda as direções...

Tomado por ingênuas ilusões

Somente restará nuvem que embaça

O coração entregue a tanta traça

Não traça nem sequer as soluções.

Não peço mais perdão. Prossigo só,

Pretendo renascer do mesmo pó

Jogado nas estradas, nos caminhos.

O quanto é solitário o bem querer

Estampa na parede o que fiz crer

Amarelada flâmula: carinhos...

1967

Amarelada flâmula: carinhos

Esquecidos no passado mais remoto.

O quanto de desejo vejo roto

Trazendo hibernação aos nossos ninhos.

Sabendo que andaremos mais sozinhos,

A vida se perdendo num esgoto,

Lutando, minhas forças eu esgoto,

Não adiantam tantos burburinhos...

Purpúreas violetas na janela,

Do amor que arrebatou Duran, Florbela

Meu verso se embebeda e me inebria.

A noite solitária não avança

A morte passa ser uma esperança

Tomando a minha vida e a poesia...

1968

Tomando a minha vida e a poesia

Cada palavra mostrará o trilho

Que seguirá estrela farta em brilho

Tramando a glória em que este amor luzia.

Ao prosperar a plena fantasia

Meu coração, outrora um andarilho

Escuta esta canção em estribilho

E um mundo mais amável, cedo cria.

Recuperando esta vontade imensa

Vive alegria com total concórdia,

Deixando para trás qualquer discórdia

Prevê nos teus carinhos, recompensa.

Ao procurar em farta luz vitória

Transformará em redenção a história.

1969

Transformará em redenção a história

O sonho realizado feito amor

A cada novo verso que eu compor

Revivo esta presença na memória

Antigamente eu me pensava escória

Vivendo por viver, sem ter sabor.

Porém ao ver um mundo encantador

Prenunciando assim tanta vitória

Eu pude então dizer do amor que trago,

Além de simplesmente um breve afago,

Imensidão em vida, glória em paz.

Enquanto houver um sonho pra sonhar

Deitando na varanda este luar

Felicidade intensa? Sou capaz...

1970

Felicidade intensa? Sou capaz

De perceber no teu olhar querida

Suprema luz há tempos esquecida

Marcada por um sonho mais audaz.

Beleza que decerto, a noite traz

Em lua maviosa refletida

No corpo da mulher mostrando à vida

O bem da fantasia feita em paz.

Olhares se buscando, dois faróis

Que tramam nesta noite claros sóis

Dourando amanhecer inebriante.

Só quero receber em cada abraço

Encanto que se mostra e não disfarço

Fazendo uma alegria ser constante...

1971

Fazendo uma alegria ser constante

Meu verso te procura vida afora.

Se a chuva vai caindo desde agora

O sol renascerá em novo instante.

Não tendo mais o riso de um farsante

O tempo que virá nos revigora

E mesmo sem a lua amor decora

A nossa madrugada inebriante.

O verso que dedico ao nosso amor,

Tocando com carinho e com vigor

As mãos que se procuram mansamente.

Assim que o dia aqueça nosso quarto

Ao encontrar meu corpo exposto e farto

Decerto irá brilhar mais plenamente.

1972

Decerto irá brilhar mais plenamente

O olhar de quem se deu e não fugiu,

O amor que a gente sente tão sutil

Tomando a nossa vida num repente.

Querendo em mansidão estar contente

Amor, a fantasia permitiu

Carinho prometido descobriu

Caminho para os céus, iridescente.

Não quero uma emoção que seja afoita

Enquanto no teu braço amor pernoita

A vida se promete em luz suprema.

Rompendo estas amarras que trazia

Eu vejo o renascer de um belo dia

Quebrando o que se fez outrora algema...

1973

Quebrando o que se fez outrora algema

Prossigo o meu destino do teu lado,

De um jeito bem gostoso até safado

Desejo vai seguindo a piracema.

Não tendo em pensamento algum problema

Amor que eu tanto quero sem pecado,

A cada nova noite é demonstrado

Fazendo da alegria o seu emblema.

Bandeiras desfraldadas pedem paz

Enquanto em mil loucuras já se faz

O bem de tanto gozo se desfruta.

A glória de viver se mostra astuta

Deixando a solidão sem ter morada,

A vida do teu lado, extasiada...

1974

A vida do teu lado, extasiada

Permite que eu me expresse em cada verso

Vagando com presteza este universo

Nos braços da mulher imaginada.

Não tendo depois disso quase nada,

Não andarei sozinho e nem disperso

Nos braços de quem quero, estou imerso

À espera da fantástica alvorada

A barca dos meus sonhos singra o mar,

Bebendo da emoção vai ancorar

No porto que em belezas se assenhora.

Colhendo em tua boca o que plantei,

Agora com certeza eu já terei

Prazer que eternamente revigora