quinta-feira, julho 20, 2006

Ditadura congressual

Por onde correu a grana dos sanguessugas
A CPI dos Sanguessugas fez hoje um levantamento em cima do depoimento do empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin à Justiça Federal do Mato Grosso para descobrir como o dinheiro do esquema de compra de ambulâncias superfaturadas chegou aos parlamentares, informa Leandro Colon, repórter do blog.

Segundo Vedoin, dos 105 parlamentares envolvidos, 40 receberam em dinheiro vivo, 10 na conta corrente particular, cinco em contas de parentes (três são de esposas), 34 em contas de assessores e cinco em automóveis (uma BMW, por exemplo), além de flats e outros benefícios.

Vedoin, um dos donos da empresa Planan - que comandou esquema - não disse em seu depoimento como os outros 11 receberam o dinheiro.

As informações foram divulgadas pelo vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

- Isso aponta para a negligência, o escárnio e o desrespeito - disse o deputado.

Desses 105, 57 já estão sendo investigados pela Procuradoria-Geral da República (
clique aqui para ver a lista).

O desafio da CPI é encontrar provas contra os 40 que ganharam em dinheiro vivo. A estratégia é tentar descobrir outras formas de recebimento desta grana.



Cento e cinco envolvidos!
Isso já ultrapassa todos os limites possíveis e imaginários.
A vergonha se apossa de todo o Congresso Nacional; demonstrando a que ponto chegou a escandalosa atuação dos nossos legisladores.
Legisladores sem nenhum princípio básico de ética e moral.
As negociatas, diariamente feitas, com o dinheiro público são a herança que recebemos dos desgovernos anteriores e que, infelizmente, estamos deixando para nossos filhos.
A minha geração recebeu um país onde a liberdade de expressão era proibida, onde o fato de pensar, simplesmente pensar era motivo para que se fosse investigado e fichado pelos órgãos de repressão oficiais de um modelo de governo vergonhoso, tempos negros de nuvens negras e sanguinárias.
Tínhamos a esperança, o verde da esperança a colorir o céu negro e vermelho, do sangue de tantos que morreram ou foram exilados, expulsos da pátria, pelo simples motivo de pensarem diferente do que era a ordem estabelecida por um grupo de torturadores, tanto físico quanto mentalmente falando.
No movimento das diretas-já, para a aprovação da lei do recém falecido Dante de Oliveira, milhões e milhões de brasileiros, de todas as matizes sociais e políticas, se uniram para que tivéssemos um novo país.
O NOSSO país.
A união entre todas as vertentes políticas nos palanques da luta pela liberdade de expressão e de dignificação do nosso povo, nos trazia a esperança de um Brasil mais digno, mais íntegro, uma verdadeira pátria, nossa, com o futuro na frente e as injustiças guardadas em algum lugar, num passado distante e abandonado.
Tínhamos, nós todos, a bandeira das flores vencendo os canhões, na igualdade entre campo e cidade, com os estudantes, que éramos nós, erguendo a bandeira da JUSTIÇA e da Esperança!
Ao ver essa realidade que vivemos, é com imensa tristeza que reparo que a herança que estamos deixando para nossos filhos é tão ruim quanto a que recebemos.
A esses crápulas que povoam os locais por onde a transformação para um mundo melhor é possível e plausível, somente uma coisa pode ser dita: VERGONHA!
O que esses pilantras estão fazendo é muito mais grave do que a simples corrupção, pois o que eles estão roubando, muito mais do que os milhões e milhões de reais, estão roubando a esperança!
E isso, não tem preço, não tem como avaliarmos o quanto que isso irá custar ao nosso povo, aos nossos filhos, às novas gerações.
Quase todos estão envolvidos em algum tipo de corrupção ou de safadeza, tanto diretamente, quanto indiretamente, por ação e por omissão.
A simples mudança de partido político, paralela ao discurso de “ética” e “fidelidade partidária” já é um ato de pilantragem. Quando se é eleito por um partido, com votos de legenda ou proporcionais, o mandato, por pressuposto, pertence ao Partido e não ao homem; devendo quem muda de partido, PERDER O MANDATO.
Enquanto isso não for feito, a ética na política será uma simples figura de linguagem. Portanto, não me venham falar de “ética” quem mudou de partido e não renunciou ao mandato – são traidores de seus eleitores e de quem financiou as suas campanhas!
Os que se vendem por qualquer tipo de corrupção sob qualquer motivação são traidores e pilantras, criminosos comuns que deveriam ter seus mandatos cassados e irem diretamente para as prisões, sem privilégios, já que, ao desviarem e roubarem dinheiro público, estão roubando da criança faminta, do adolescente sem escola, do adulto sem emprego, dos miseráveis e dos desvalidos, enfim.
Esses criminosos deveriam ter punição exemplar e não somente quando serram gente viva, mesmo assim, somente depois de terem sido “cassados” pelos seus pares, na maioria das vezes, reflexos do mesmo espelho.
Os que, por omissão, agem condescendentemente, não poderiam ter outro destino senão a punição por seus crimes, já que, exemplarmente, Pilatos foi tão maléfico quanto Caifás.
Quanto aos outros criminosos, inclusive os que cometeram caixa dois, deveriam ser expulsos e presos, assim como os que fazem caixa-dois nas empresas, com finalidade de subverterem o fisco, lesando os mesmos famintos a quem me referi.
Quando vi um Senador da “estatura moral” de um Pedro Simon admitir o caixa-dois, sinto que tudo está perdido.
E ninguém nem cogitou a sua cassação, nem a imprensa nem o Congresso.
Virou lugar comum a safadeza e a pilantragem, em todos os partidos e em todas as consciências “éticas”.
O começo disso tudo se deu quando o fantoche Fernando Collor teve que compor a maioria no Congresso, no que foi imitado por todos os que o sucederam...
A herança que minha geração está deixando para os que virão é podre.
Podre e canalha. Herança maldita!
As ideologias todas, digo e repito, todas, foram arquivadas e abandonadas. Ser ou não ser marxista no mundo de hoje é uma piada, ser ou não ser liberal, outra. Restaram os mais ou menos humanistas e os mais ou menos nacionalistas, os mais ou menos, os muito mais menos que mais...
Sou socialista, mas o que quer dizer isso hoje?
Nem mais sei e nem sei se será possível um dia, sabermos o que seja, o socialismo, principalmente no nosso país, prostituído tanto quanto a Itália, os Estados Unidos, ou qualquer país onde as vergonhas se reproduzem a cada dia...
A corrupção generalizada não é privilegio do Brasil nem da América do Sul, e isso é uma verdade irrefutável.
Mas no nosso país, se tornou tão corriqueira que nada mais importa, a não ser sabermos aonde isso vai parar.
O que será feito dos nosso filhos, a quem, mais uma vez, teremos que pedir perdão, assim como nossos pais fizeram conosco.
Há quase quarenta anos, se falava em paz e amor, e em “é proibido proibir”, se matou, se destruía um sonho de mudança com o AI-5, e hoje percebemos que foi em vão que morreram tantos, e que tantos se expuseram a uma luta desigual.
O que temos que exigir é o poder para o povo, do povo e pelo povo.
Com liberdade, fraternidade e igualdade, de fato e de direito.
Arroz, feijão, saúde e educação, mas muito mais do que isso, DIGNIDADE!
A única certeza que tenho, e a única que alimenta a minha esperança é a de que a LIBERDADE ainda é o único caminho, capaz de reverter essa asquerosa realidade.
Mesmo que seja uma “liberdade Severina”, é muito melhor e mais forte e ampla do que qualquer ditadura, militar ou congressual.