João Polino e o Lobisomem
A lua em Santa Martha tem uma beleza ímpar. À época dessa historia, então, era de uma claridade ofuscante, ainda mais se fosse cheia.
Lua cheia inspira todos os poetas, ainda mais quando não há além dela, senão as bruxuleantes luminosidades que vêm dos candeeiros a querosene.
Isso era o que acontecia na década de quarenta, quando a iluminação tanto pública quanto nas residências era somente uma utopia.
João Polino, nesse tempo um jovem de pouco mais de vinte anos, dono de uma invejável valentia e de uma força inigualável, um verdadeiro sertanejo, acompanhado de uma indefectível garrucha, para o caso de ter que usar contra cães do mato, onças pintadas ou jagunços, reis da emboscada.
João era de boa paz, mas nada impedia de que houvesse alguma tocaia, por quaisquer motivos, ou mesmo sem.
A terra era sem lei, não tinha ninguém para coibir a violência que campeava, ainda mais por que a sede do município, Alegre, distava mais de cinqüenta quilômetros de terra batida e, muitas vezes, intransitável.
Noite de lua cheia, numa sexta feira, não tinha erro: lobisomem na certa.
E, em Santa Martha não era diferente. O lobisomem local era um jovem estranho: calado, ensimesmado, não se dando com nenhum morador do vilarejo, exceto João Polino, pois esse não tinha medo de nada e de ninguém.
Nos últimos meses, começaram a aparecer sinais da presença do Lobisomem. Durante a madrugada, várias vezes se ouvia um uivo longínquo, acompanhado do grito desesperado das galinhas e do gado.
No dia seguinte, a constatação: algumas cabeças de gado desaparecidas e muitas penas de galinha com o sangue espalhado sobre o chão, sinal da passagem do bicho.
Todos os habitantes começaram a olhar desconfiados para o pobre Joaquim, o nosso suspeito de lobisomagem.
Este, acuado e tímido, não respondia a nenhuma insinuação que fizessem, conversando somente com João Polino, a quem negava qualquer participação nos acontecidos.
João, entre preocupado com o gado que mantinha numa pequena propriedade próxima ao distrito e com o pobre Lobisomem, resolveu tentar tirar a limpo a história.
Corajosamente, resolveu amarrar seu amigo Joaquim numa pilastra, dentro de sua casa, e esperar pelo que aconteceria.
Naquela noite, ao ver que seu amigo mantinha-se acorrentado e ouvindo, distante os sons costumeiros, chegou a uma conclusão. Realmente, seu amigo não era lobisomem.
Mas, se não fosse ele, quem seria e como descobriria?
Astuto como ele só, João resolveu armar uma arapuca para descobrir o malfeitor e o malfeito.
Durante um mês, espalhou que tinha comprado umas vacas holandesas para leite, que eram campeoníssimas, tendo vencido exposições de gado até na longínqua São José do Calçado.
O assunto em Santa Martha não era outro, quando é que vinham as vaquinhas, quanto custou, etc.
João, perspicaz, ao ver na folhinha que a próxima lua cheia seria em cinco de agosto, deu a data do dia cinco, como a da chegada do gado.
Na data marcada, em conluio com o seu amigo Joaquim Lobisomem , ficou de tocaia à espera do maldito lobisomem.
Para sua surpresa, o que viu o deixou de queixo caído.
Um dos mais importantes coronéis de Santa Martha, seu Leôncio, estava chegando, disfarçadamente, com mais dois jagunços, na sua propriedade. Traziam algumas facas e, ao começarem a uivar alto, um deles foi até o galinheiro e matou algumas das mais gordas galinhas de João Polino.
Com o alvoroço formado, correram até ao curral, onde principiaram a laçar as vacas, pobre vaquinhas...
Nesse ínterim, João Polino, abismado com o que vira, partiu em direção ao curral e, garrucha em punho, começou a xingar e desafiar o coronel trambiqueiro.
Sem perceber, João foi agarrado e amarrado pelos jagunços do Coronel, que se preparava para esfaquear nosso herói.
Mas, subitamente, se ouviu um gemido assustador. Quando olharam para trás, puderam perceber, um lobo gigantesco, de pé, uivando e babando.
Em pânico, largaram João e saíram correndo, em desabalada carreira.
Quando João ficou a sós com o lobisomem, sem apresentar nenhum sinal de medo, chamou-o, carinhosamente, pelo nome.
Surpreendentemente, Joaquim se abaixou e começou a lamber, carinhosamente, as mãos de seu amigo.
E partiu, para nunca mais voltar, nas noites de sexta feira de lua cheia em Santa Martha...
Lua cheia inspira todos os poetas, ainda mais quando não há além dela, senão as bruxuleantes luminosidades que vêm dos candeeiros a querosene.
Isso era o que acontecia na década de quarenta, quando a iluminação tanto pública quanto nas residências era somente uma utopia.
João Polino, nesse tempo um jovem de pouco mais de vinte anos, dono de uma invejável valentia e de uma força inigualável, um verdadeiro sertanejo, acompanhado de uma indefectível garrucha, para o caso de ter que usar contra cães do mato, onças pintadas ou jagunços, reis da emboscada.
João era de boa paz, mas nada impedia de que houvesse alguma tocaia, por quaisquer motivos, ou mesmo sem.
A terra era sem lei, não tinha ninguém para coibir a violência que campeava, ainda mais por que a sede do município, Alegre, distava mais de cinqüenta quilômetros de terra batida e, muitas vezes, intransitável.
Noite de lua cheia, numa sexta feira, não tinha erro: lobisomem na certa.
E, em Santa Martha não era diferente. O lobisomem local era um jovem estranho: calado, ensimesmado, não se dando com nenhum morador do vilarejo, exceto João Polino, pois esse não tinha medo de nada e de ninguém.
Nos últimos meses, começaram a aparecer sinais da presença do Lobisomem. Durante a madrugada, várias vezes se ouvia um uivo longínquo, acompanhado do grito desesperado das galinhas e do gado.
No dia seguinte, a constatação: algumas cabeças de gado desaparecidas e muitas penas de galinha com o sangue espalhado sobre o chão, sinal da passagem do bicho.
Todos os habitantes começaram a olhar desconfiados para o pobre Joaquim, o nosso suspeito de lobisomagem.
Este, acuado e tímido, não respondia a nenhuma insinuação que fizessem, conversando somente com João Polino, a quem negava qualquer participação nos acontecidos.
João, entre preocupado com o gado que mantinha numa pequena propriedade próxima ao distrito e com o pobre Lobisomem, resolveu tentar tirar a limpo a história.
Corajosamente, resolveu amarrar seu amigo Joaquim numa pilastra, dentro de sua casa, e esperar pelo que aconteceria.
Naquela noite, ao ver que seu amigo mantinha-se acorrentado e ouvindo, distante os sons costumeiros, chegou a uma conclusão. Realmente, seu amigo não era lobisomem.
Mas, se não fosse ele, quem seria e como descobriria?
Astuto como ele só, João resolveu armar uma arapuca para descobrir o malfeitor e o malfeito.
Durante um mês, espalhou que tinha comprado umas vacas holandesas para leite, que eram campeoníssimas, tendo vencido exposições de gado até na longínqua São José do Calçado.
O assunto em Santa Martha não era outro, quando é que vinham as vaquinhas, quanto custou, etc.
João, perspicaz, ao ver na folhinha que a próxima lua cheia seria em cinco de agosto, deu a data do dia cinco, como a da chegada do gado.
Na data marcada, em conluio com o seu amigo Joaquim Lobisomem , ficou de tocaia à espera do maldito lobisomem.
Para sua surpresa, o que viu o deixou de queixo caído.
Um dos mais importantes coronéis de Santa Martha, seu Leôncio, estava chegando, disfarçadamente, com mais dois jagunços, na sua propriedade. Traziam algumas facas e, ao começarem a uivar alto, um deles foi até o galinheiro e matou algumas das mais gordas galinhas de João Polino.
Com o alvoroço formado, correram até ao curral, onde principiaram a laçar as vacas, pobre vaquinhas...
Nesse ínterim, João Polino, abismado com o que vira, partiu em direção ao curral e, garrucha em punho, começou a xingar e desafiar o coronel trambiqueiro.
Sem perceber, João foi agarrado e amarrado pelos jagunços do Coronel, que se preparava para esfaquear nosso herói.
Mas, subitamente, se ouviu um gemido assustador. Quando olharam para trás, puderam perceber, um lobo gigantesco, de pé, uivando e babando.
Em pânico, largaram João e saíram correndo, em desabalada carreira.
Quando João ficou a sós com o lobisomem, sem apresentar nenhum sinal de medo, chamou-o, carinhosamente, pelo nome.
Surpreendentemente, Joaquim se abaixou e começou a lamber, carinhosamente, as mãos de seu amigo.
E partiu, para nunca mais voltar, nas noites de sexta feira de lua cheia em Santa Martha...
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