sábado, agosto 12, 2006

Trovas e contra trovas Marcos Loures e Olga Matos

I

Bebi água na torneira,
No riacho me afoguei,
Se já fiz tanta besteira,
É que, menino, fui rei...


Bebi a fresca da fonte
no remanso m'afoguei
para encontrar o amor...
mas como se não conheço?


II

Sei do seio da saudade,
Da saudade, tão profunda,
A lua, por caridade,
De claridade, me inunda...

Na saudade fiz meu ninho
nas suas penas deitei
afundei em seus espinhos
da lua me distanciei.



III

Beija flor, beijando a boca,
Essa boca que beijei,
Beija flor deixando louca
Tanta boca que amei


Beija-flor não me beijou
na boca que ofertei
acabei ficando louca
por bocas que não beijei!


IV

Beijando a boca da noite,
Cavalgando no cometa,
Constelações como açoite,
Montado nessa lambreta...

Beijou-me a boca da noite,
taciturna e sombria
bafejou-me mil açoites
no dorso de longos dias!



V

Rosalinda, minha rosa.
Linda rosa, na roseira.
Moça linda, mas tão prosa,
No rosal, és a primeira...


Cravo cheirando a vigor
beija a rosa linda e rosa
viceja as suas cores
mas de amor a rosa morre!



VI

Sou mineiro, de verdade;
Demorei a ver o mar,
Quando vi, me deu saudade,
De quem aprendi a amar...


Sou gaúcha verdadeira
nasci olhando o mar
cá destas serras fagueiras...
de beleza sem igual!



VII

Lancei toda minha sorte,
Nas ondas do rio mar,
Mariazinha, por sorte,
Tá aprendendo a nadar...


Lancei as cartas na mesa
pra ver a vida girar.
Girou com tal rapidez
que não consegui jogar!



VIII

Alameda d'esperança,
Criança corre, a brincar,
Vivendo em minha lembrança,
Vai brincando, sem parar...


Cheiro do pão e cafe
emanam das emoções
das sangas molhando os pés,
daquelas saias crianças!



IX

Bebo a vida sem ter medo,
Posso `té me embriagar,
Quem quiser saber segredo,
Procure conchas no mar...


Dei a volta no meu rancho
campeando a esperança...
penduraram-na num gancho
que ficou cá na lembrança!



X

Poetando poesia,
Vivo sempre a poetar,
Quem poeta todo dia,
Conhece manhas de amar...


Penso que faço poema,
mas acho que é engano
o poema é semente,
a poesia é seu chão!



XI

Vindo de triste partida,
Não pude recomeçar.
Minha sina, nessa vida,
É viver sem te amar.


Por aqui fiz a morada
não me interessa partir,
tão pouco quero voltar,
quero seguir e vou indo...



XII

Trevo entre a vida e a morte,
Na curva desta promessa,
Onde a vida teve a sorte,
Onde minha sorte começa.


Entre a vida e morte,
qual a sorte da primeira,
se a outra deita e rola
durante a vida inteira?



XIII

Foste forte fui tão fraco,
Fracassei sem ter perdão,
Pus, na corrente, meu barco,
Embarquei meu coração!


Entre o forte e o fraco
alojei o equilíbrio
quando abri meus curtos braços
só abracei o vazio!


Marcos Loures

Olga Matos