quinta-feira, novembro 23, 2006

I


Nas horas da manhã, a brisa calma e fresca,
Buscando neste afã, um sonho mavioso.
Não posso me esquecer da cena pitoresca,
Nos teus olhos posso ver futuro tenebroso...

Por certo já te amei, na vida vão momento,
Julgava fosse rei, sobrou saudade imensa...
O vento que me deste, agora é um tormento.
Meu peito se reveste, espera a recompensa...

A lua que morreu, nasceu lá no estrangeiro
O vento se esqueceu buscando este luar
As ondas que conheço, espero por inteiro,
Amor que não mereço, aguarda um novo mar...

Quem dera ser feliz, meu sonho de criança
Felicidade quis, distante está de mim...
Não tenho outra saída, aguardo esta esperança,
O bem maior da vida, a luz antes do fim...

Manhã que me tortura a lua me deixou,
A vida que era pura, espera um novo trilho...
No lume deste dia, meu coração vagou,
Em plena poesia, amor, meu estribilho...

Em vão, persigo agora, a mansidão da vida...
Quem foi feliz outrora, aguarda novo tempo;
Um peito tão errante vivendo a despedida,
Da noite fui amante, agora contratempo!

Mulher, bela visão! Teu brilho se faz cálido.
Em plena solidão, vislumbro meu futuro...
Entretanto, o meu rosto em um segundo, pálido!
Saudade tomou posto, o templo faz-se escuro!

Essa dor que me assombra esconde meu desejo,
Do que já fui, nem sombra, um mendigo andrajoso...
Aguardo minha morte... Inútil, mas versejo.
Quem já perdeu seu norte, a vida não traz gozo...


II



Dos mares que lutei, nada mais resta...
Nem ondas nem falésias, morro só!
Quem sempre imaginara louca festa
Não deixa nem sequer marcas, é pó!
A dor que enfim carrego não contesta
As lágrimas que escondo, negam dó.
Resumo meus poemas em delírios.
Amar não pode ter tantos martírios!

Tragado por quimera, já não luto...
Vestido deste lodo que legaste,
No peito que cravaste, negro luto..
Quem dera fosse colmo, simples haste,
O vento não seria assim tão bruto...
A força do meu peito, já arrancaste!
À noite, nos meus sonhos, solidão!
Embalde bate um louco coração...

Não consigo, jamais, te perdoar,
Sou triste mariposa sem ter lume.
Por vezes imagino onde encontrar
As forças para ter novo perfume.
Minha esperança morre com luar,
Ninguém pode escutar o meu queixume...
Meus versos se perderam, pedem rumo...
Na voz da solidão, perco meu prumo!

No dia que nasci, sorte maldita!
As conjunções astrais, mau veredicto...
Meu mundo se transforma na desdita
Meu grito vai embalde, mais aflito!
A morte dolorosa já me fita
Meu sonho morre em astros, no infinito!
Amor se desenhando qual navalha,
A dor inevitável, nunca falha!

Meu rumo necessita do astrolábio
Perdido em minha luta contra o mal.
A boca que me beija, um frio lábio
Que morde com delírio canibal.
Na vida sempre tento ser mais sábio,
Mas resto parcamente, morte e sal...
Procuro novos braços nova fonte.
O céu já se nublou, sem horizonte...




III








Quem me dera ser feliz!
O meu sonho te esperava,
Deste vulcão foste lava
Na vida, tu foste atriz...
Meu amor, tanto te quis
Mas nunca tiveste pena,
Saudade de longe acena
Tanta alegria de outrora
Há muito já foi embora
Minha morte faz-se plena!

Procurei por novo dia
O tempo foi se escorrendo,
Minha esperança morrendo,
A noite que veio, fria,
Me restou a poesia,
Companheira predileta,
Minha vida está repleta
De tanta desesperança,
Somente em minha lembrança
Minha vida se completa...

Tempo que já se passou
Das águas puras da fonte,
Dessa estrada, dessa ponte
Que depressa despencou
Nada mais me restou.
Da verdura desta mata
Do véu daquela cascata,
Enegreceram essa água
Todo o meu canto de mágoa
Encanto que me maltrata!

Tinha bem perto meu pai,
A minha mãe companheira...
Uma paz tão verdadeira...
Da lembrança não me sai...
Saudade distante vai
Me restando a solidão!
Me arrasta como tufão,
Minha noite faz escura,
Procuro pela ternura
Não encontro solução!

Vencido pela quimera,
Não conheço mais carícia
Da vida a mansa delícia
Já se foi! Ah! Quem me dera!
Morando nesta tapera
Saudade me traz calafrio,
Não tenho manto pro frio,
Não tenho mais esperança.
Eu já matei a criança,
Agora sigo vazio!

Meus bons tempos, quando infante,
Correndo pelo quintal,
A lua, sensacional,
O meu sonho delirante,
Agora nada adiante
Vou seguindo qual funâmbulo
Pelos bares um noctâmbulo,
Embriagado de vinho
Um caminheiro sozinho,
A morte como preâmbulo!

Meu peito que foi sinfônico
Orquestra novas desgraças,
Dormindo no chão, em praças,
O meu canto sai afônico,
Todo o meu amor mecônico
Sou aborto que viveu
No meu coração ateu;
Me elevo como miasma,
Vivendo pobre fantasma,
Não sabe que já morreu!

Minha vida não tem cura,
A morte é minha aliada,
Trazendo na mão, a fada
Se aproveita da loucura
E mata toda a ternura
Se deita na minha rede,
A morte me mata a sede
Companheira dos enganos.
Desfazendo todos os planos,
Me lança contra a parede!

Ah! Meus versos como dói!
O meu barco naufragado,
O meu mundo desmanchado
O tempo negro corrói
Tanta saudade destrói
Quem procurou ser feliz,
A lua por meretriz,
O sol por triste verdugo,
Na vida virei refugo,
Minha sorte não me quis!

Meu canto, minha agonia...
Vai torpe desconsolado.
Um grito desesperado.
É pura melancolia.
É noite má e bravia.
Um canto sem esperança;
Da morte, firme aliança,
Felicidade? Resquício.
Vivendo no precipício
Minha morte já me alcança!


IV



Felicidade some, embalde procurei...
Fogo que me consome em minha vida é lei!
Por vezes, vou calado, esperando o final!
Meu sonho sideral, morre no triste fado.
Procuro pelo prado, encontro podre astral.
Vida que é canibal, meu sonho amortalhado!

O grito da procela, estupenda visão!
O meu barco sem vela, esqueceu direção...
Minha vida, sem ninho, espedaça-se nua.
Minha alma não flutua, explode, vou sozinho..
Qual pobre passarinho, a luta continua...
Minha casa é na rua, o meu remédio, o vinho!

Sou esboço mal feito o resto que se perdeu.
Meu mundo não tem jeito, o que sobrou fui eu...
O meu canto distante embalde nunca ecoa...
Perdi minha canoa, a luta foi constante
Quem se sonhou amante, em gaiolas não voa
Vida? Quem dera boa! A morte é meu brilhante!

Temida podridão devorando-me vivo
Resto de coração finge-se mais altivo...
Minha noite incendeia, a madrugada some...
Já não há luz que assome, enredo-me na teia...
Lume que não clareia, amor sempre consome...
Noite fria de fome, amor morto na veia!

No cigarro que fumo, esperança dilui
Vida, perdido sumo, em fumo leve flui...
Dor, minha camarada, amo-te mais que tudo!
Tantas vezes vou mudo, aguardando esta fada!
Na mão da minha amada o tapa onde me iludo,
Outras vezes, contudo, a dor não me diz nada!

Quantas vezes te quero e nunca estás aqui!
O teu beijo mais fero, o melhor que sofri!
Te canto no meu verso, em onda tão profusa
Minha lua cafuza espalha no universo...
Dor que tanto converso, abre meu peito e blusa...
A vida tão confusa... O meu mundo disperso!




V



A minha dor companheira
Abraça-me docemente,
Girando na minha mente.
Deita na minha esteira
Amante tão verdadeira
Traz a vida de repente!

No brilho da cortesã,
O gosto da minha morte,
Procuro num doce afã
Outro destino, outra sorte...
Quem sonha com amanhã
Não escuta o brado forte
Da dor que sempre domina,
Meu desejo e minha sina!

Vasculho nesta amplidão
A lua que não quis vir.
Eu venho embalde pedir,
Onde está a solidão?
Pergunta meu coração.
Neste breu em vão luzir!

Nunca mais vai me deixar,
Me observa assim, calada
Minha dor é meu luar,
Está quieta ali, sentada...
Em seus raios morro mar
Muda, não me fala nada...
No canto da boca, um riso,
Promessa de paraíso!