sábado, novembro 25, 2006

Num sonho espectral tive intensa sensação
Da morte em eminente aspecto mais cruel.
Nem bem adormecido, em plena convulsão,
Senti a mão macia e um negro e triste véu
Qual fosse ave agourenta em sobrevôo manso.
Pensei que fosse embora, o sentido, não alcanço...

Perfume adocicado em plena fantasia.
Um olhar sorridente estende seu carinho.
A noite que era quente, em um segundo; fria.
Cruel ave agourenta, espero, volta ao ninho...
Mas nada, estava ali, sorridente e mordaz.
Há muito tempo vivo esquecido da paz.

Nada falava, quieta. A noite se passava
Naquele ritual, macabro ritual...
A morte que eu sonhara eu nunca imaginava
Que fosse assim, tortura... Achara tão banal
Que explicações sem nexo eu procurava dar.
Delírio, fantasia... Ao sabor do luar..

Pois bem sabes a lua em momentos assim
Muitas vezes traz culpa em situações vãs.
Lunático, isso mesmo, essa ave vive em mim!
Acordando comigo em todas as manhãs,
Me acompanhando sempre, existe no meu ego
É manto que me cobre e sombra que carrego.

Dormirei mais tranqüilo e depois isso passa.
Qual nada! Inda está lá, sorridente e sutil.
Por um momento ou outro eu sinto que me abraça.
Meu peito ardendo em brasa, a noite não se abriu
E deixou essa quimera em forma de mortalha.
Não me deixará nunca. A noite vem, não falha...

Se cada vez que tento, embalde, descansar
A sombra não deixar de vir, o que farei?
Onde eu acharei força e paz para tentar
Viver? A cada dia enlouqueço...Cansei,
Mas no dia seguinte, a vida continua.
O trabalho não pára e não posso fugir.
Ao voltar para a casa eu não posso dormir.

Já tentei sair, dormir num outro quarto,
Dormir em outra casa, inútil, não me deixa...
Marcada cicatriz, dela não mais me aparto.
Pontual é dormir ela vem, não desleixa.
Namoro, casamento...Esqueci, estou só.
E rezo, toda noite, em prece peço dó

Mas nada me responde, a quimera não larga!
Eu peço minha morte, assim talvez, quem sabe...
Esta rapineira ave estúpida e vil praga
Se vá para não mais e tudo isso acabe...
Te peço Meu Senhor, desesperadamente!
Escute meu pedido, o lamento de um demente!

Há quase um mês não durmo, e sempre esse fantasma;
O sorriso calado, a mão fria, o vazio...
É sombra, espectro, Fado, ou será simples plasma,
Um pesadelo, cisma? O fato é que é sombrio.
Cansado, estou cansado... Eu não suporto mais...
Milagres? Já não creio. Eu só imploro Paz!

Decerto que acostumo, eu quase já não ligo.
A sombra me domina em todos os momentos...
Nem ansiada cura, embalde, não persigo.
A cada dia sinto o fim dos meus tormentos.
Essa presença fria, um câncer terminal,
É minha companhia, o meu amor fatal!