segunda-feira, março 24, 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 150

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O céu vai renovando o seu matiz

Mudando a direção de velhos ventos,

Agora um velho quer ser aprendiz

E muda sem saber os sentimentos.

Prazeres são momentos, nada mais

Olhares vão vazios pelas ruas.

Meus gozos são moleques canibais

Fotografias e cenários, divas nuas.

As mesmas que se vendem por trocados,

Ou mesmo por milhões, não muda nada.

Internteticamente meus enfados

Decifram esta história mal traçada.

Num léxico diverso, demorou,

O ferro na boneca naufragou...

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O ferro na boneca naufragou,

O beijo na verdade foi à toa.

O quanto meu desejo desejou

Ainda refletindo não ressoa.

Mineiro quando vê de perto o mar

Esquece da lagoa, num segundo.

Vontade de em teus braços mergulhar,

Porém o coração é vagabundo...

Um troço que destroça o tal do amor,

Eu truce uma esperança que trucida.

Vem logo desfrutar desse calor

Que vale, com certeza, toda a vida.

“ Um bolo de fubá, barriga d’água”

Faz tempo que não vejo alguma anágua...

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Faz tempo que não vejo alguma anágua,

Também não reconheço um galocha

A fossa traduzia alguma mágoa

A rosa que eu pensei não desabrocha

Cabrocha? Foi embora e não voltou.

Amores virtuais são um barato.

O beijo numa tela se trocou

Paixão se traduzindo em um retrato.

Canastras, canastrões são iguarias

Epístolas, pistolas dão recado.

Vernáculos diversos, novos dias

O resto vai ficando assim de lado.

O dia não permite mais estrelas,

Tua nudez, em vídeos me revelas...

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Tua nudez, em vídeos me revelas

Deliciando assim deste cenário.

Mergulho em fantasia tantas telas

Sem medo, sem pudores, temerário...

Às vezes sonegando alguma imagem

O pensamento alçando outro momento,

Precede com certeza uma miragem,

O fogo consumindo calmo e lento.

Mas nada do que fomos, realidade,

Apenas um segundo em frágil troca,

Amor que traduzindo liberdade

Em falsas emoções já se reboca.

Tentando ser feliz de qualquer jeito,

Eu durmo em fantasia, insatisfeito...

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Eu durmo em fantasia, insatisfeito

Acordo em solidão, fazer o quê?

Procuro teu fantasma quando deito

Apenas o vazio é que se vê!

Macabras esperanças sem juízo

Espectadoras frágeis da ilusão

Pressentem um fantástico sorriso

Encontram neste nada a solução.

Assíduas sementes que espalhaste

Decerto não terão bom resultado

A foto prenuncia algum desgaste

O tempo sem amor é desprezado.

Bailando a noite inteira em minha cama,

Que faço se não tenho, acesa a chama?

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Que faço se não tenho, acesa a chama?

Não posso desdizer o que sonhei,

Apenas não desvendo a nossa trama,

Nem quero a fantasia como lei.

Metáforas à parte estou cansado

De tanto procurar o que não vem,

O bonde dos meus sonhos, atrasado

Durante muito tempo perco o trem.

Morena que encontrei no Tororó

Menina que dançava esta ciranda

Deixando o coração vazio e só

Saudade do que fomos já desanda.

E nada do que eu cante mais encanta

Silenciando assim minha garganta...

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Silenciando assim minha garganta

Eu tento desvendar algum mistério

Mas nada do que tento se adianta

A vida não permite mais critério.

Se eu sério não seria o que persigo,

Se eu riso não queria teus ouvidos.

O piso na verdade é bem antigo

Os ventos seguem sempre desvalidos.

Oráculos mentiam sobressaltos

As sanhas foram sempre mentirosas.

Não posso superar velhos ressaltos

Espinhos valorando velhas rosas.

Tentáculos fazendo circulares

Sorrisos transformados em esgares.

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Sorrisos transformados em esgares

Desesperança toma esta paisagem

Por onde descaminhos procurares

Talvez ainda veja outras imagens.

Amor em fim? Mentiras deslavadas.

Mas teimo em ser hipócrita, um falsário.

Anjos da guarda, arcanjos, gnomos, fadas

O lucro com certeza é solitário.

Mecanismos diversos comerciam

O que pensara ser doce farnel,

Estrelas alugadas propiciam

Vendetas de melados feitos mel.

Um coração latino americano

Ingênuo, vai entrando pelo cano...

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Ingênuo, vai entrando pelo cano

Aquele que quisera algum augúrio

Nas coxas da morena o desengano

Mostrado num sorriso quase espúrio.

Cartadas, jogatinas, o poder

Transforma qualquer ser em mandatário.

A cafetina passa agora a ter

Toda atenção, tomando este cenário...

Amante desnudada na revista

É como bomba atômica. Decerto

Não há, eis a verdade quem resista

Ao ver o paraíso assim aberto

Vendido por milhares de reais

Em poses tão gentis e sensuais...

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Em poses tão gentis e sensuais

A doce transparência traz aos olhos

Os seios que decerto magistrais

Recebem silicone em flor, aos molhos...

Milagres da informática, eu bem sei,

Transformam qualquer forma em perfeição.

Qualquer pilantra agora vira rei

Safadeza virando o ganha pão.

A boçal que bigbroda em belas pernas

Paparozeada num estúdio

Escondendo sutis suas cavernas

Expressa sem temor e sem repúdio

O que nas falsas cenas se recria

Gerando tão somente a fantasia...

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Gerando tão somente a fantasia

Adendos mais diversos eu percebo,

Do quanto minha voz já se esvazia

Do vago de teus olhos inda bebo.

Melancolia vive em cada verso

Legado com sarcasmo que inda trago

De tudo o que sonhei não tendo um terço

Aceito, mesmo à prazo, algum afago.

Olhar que no passado ainda cravo,

Não vê sequer pegadas, mesmo assim

O mar que se fizera outrora bravo

Secando não diz nada para mim.

Nos seios da montanha, dorme a lua

Teus seios, minha cama, deusa nua...

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Teus seios, minha cama, deusa nua

Apronta maravilhas num olhar.

Enquanto a nossa festa continua

A vida se entregando devagar.

Assíduos sentimentos nos tocando

Melífera expressão de fogo abrasa

Paisagem com delírios retocando

Mudando a velha imagem desta casa.

Beber de teus desejos cada favo

Entoando palavras mais gentis.

Teu corpo em prazeres eu desbravo

Querendo novamente, eterno bis.

O quanto toda noite amor eu vejo

Nas ancas da morena, esse molejo...

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Nas ancas da morena, esse molejo

Clamando para a festa que virá

O quanto desfrutando do desejo

Pretendo sempre mais e quero já.

Na boca da sereia algum sorriso

Cerumens sonegando em audição

Encanto deste canto em paraíso

Juízo, na verdade não sei não.

Voando libertário, o pensamento,

Estanca esta sangria diz amor

Placenta não sustenta esse rebento

Desejo não traduz farto vigor.

E mecanicamente amor se faz.

Mentira deslavada aguarda a paz...

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Mentira deslavada aguarda a paz

Mudando a direção de cada vento.

O tempo na verdade não mais traz

Senão o que sonega o sentimento.

Assim em barco frágil inda persisto

Sem cais ou porto sigo timoneiro.

Apenas no vazio que eu conquisto

Uma expressão correta diz cinzeiro.

Teimoso da esperança, eu não me afasto

E deixo que ela volte toda noite.

Embora o coração se mostre gasto,

Na boca da alegria, um velho açoite.

E mesmo sem viver o bem que quis,

O céu vai renovando o seu matiz.