terça-feira, março 25, 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 153

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Minha alma no teu cais não mais perdida,

Encontra ancoradouro que buscara

Durante quase toda a minha vida

Nos braços da mulher que agora ampara.

Revendo tantos erros cometidos

Eu sinto ser possível novo dia.

Momentos em penumbra, desvalidos

Adentram noite afora, poesia.

Pesadelos distantes, dentes, fogo.

Velhos ritos satânicos, terror.

Olhar enunciando o mesmo rogo

Procura em outro encanto recompor

O quanto se perdera da ilusão,

Mudando destes ventos, direção...

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Mudando destes ventos, direção,

Entalhes no meu rosto, cicatrizes.

Ao menos recolhendo a solidão,

Os olhos vagam velhas meretrizes.

Durante a madrugada, a negra lua

Vencida pelas nuvens me angustia.

Cadáveres de amores pela rua

A boca escancarada, podre e fria.

Temíveis pesadelos, rota estrada,

Olhares me observando, desapegos.

A fonte feita em sonho ensangüentada

Rondando minha cama, mil morcegos...

Esquálida presença ainda dança

Trazendo em suas mãos, velha esperança...

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Trazendo em suas mãos, velha esperança,

A moça desdentada me sorri.

Enquanto um infinito não se alcança

Percebo, solitário, eu me perdi.

Carcaças de mim mesmo, o vento leva

Antrazes e vergões adentram a alma

A noite se imergindo em densa treva,

Apenas o vazio ainda acalma.

Um ar fantasmagórico tomando

A cena, promovendo o temporal

Que aos poucos, em loucuras dominando

Gargalha sobre todos. Triunfal...

Incrivelmente eu entronizo o medo

Mortalha a recobrir sela o segredo...

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Mortalha a recobrir sela o segredo

Carregando os espectros dos meus sonhos.

O vento balançando um arvoredo

Em ritos, tramas, gritos mais medonhos

Assisto ao funeral da fantasia

Estendo os meus escombros nas calçadas.

A morte em noite negra quer e guia

Imagens de esperanças destroçadas.

Nós somos o que resta, nada mais.

A carne putrefeita em labaredas,

Resquícios estendidos nos varais

Vagando quais zumbis por alamedas

As almas passeando num zoológico,

Resumos de nós mesmos, necrológico.

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Resumos de nós mesmos, necrológico,

Notícias estampadas no jornal,

O vento da ilusão, demais ilógico

Permite esta resenha em ritual.

Perene sensação do nada ter,

Vestígios esquecidos, esgarçados.

Vagando o tempo inteiro a se perder

Momentos infiéis e desgraçados.

A faca que cortando a carne podre

Derrama tanta linfa pelas ruas,

O vinho da esperança avinagra odre

As bocas que se mordem, morrem cruas.

Ao ter em minhas mãos, carnificina,

Luxúria em mil orgasmos me alucina...

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Luxúria em mil orgasmos me alucina,

Os olhos penetrando nas entranhas,

Cavalgo em liberdade, vento e crina

Por entre vales úmidos, montanhas.

Lambendo todo sal de tua pele,

Suores alagando leito e chão,

Sem ter qualquer pudor que nos atrele

Aos deuses do prazer, invocação.

Gemido, gargalhadas, explosões

Correntes, olhos, bocas, gozos sádicos.

Torrentes transtornando turbilhões,

Distante dos desejos esporádicos

Repetidas vontades enlanguescem,

Os ópios de teu corpo me entorpecem...

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Os ópios de teu corpo me entorpecem,

Em lívidos olhares, gozo insano.

Mecânicas diversas obedecem

Prazer além dos sonhos, sobre-humano.

Arranca a minha pele, unhas e garras,

Vergastas feitas dentes cravam fundo

As mãos, pernas e coxas, como amarras

Rocio que profanas, eu me inundo.

Desejo tripudia e nos algema.

Pecados e juízos sonegados,

Enlouquecidos, nada mais se tema

Ribanceiras, barrancos destroçados.

Nos céus buracos negros e quasares,

No quarto latejares e pulsares...

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No quarto latejares e pulsares

Restando sobre nós águas e flores.

Levitas sobre a cama, sem esgares

Alçando cordilheiras onde fores.

Extremos concebidos num minuto,

O gosto da mortalha não se esvai,

O tempo tantas vezes mais astuto

Enquanto a fantasia nos atrai

Estende em fanatismo o meu querer,

Encontro nos teus braços, o meu fim...

Vontade inevitável de morrer

Adubando com força o teu jardim.

Alucinógenos momentos nossos,

Juntando num orgasmo tais destroços...

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Juntando num orgasmo tais destroços,

Cadáveres que somos; renascidos.

Os olhos comem bocas, rangem ossos

O quanto prosseguimos desvalidos.

Esquálida esperança não diz nada

Apenas restitui um velho gozo

A fantasia; há muito abandonada

Persiste neste sonho sequioso.

Bebendo teus prazeres, um absinto

Vermutes entre coxas entreabertas

No sangue derramado, ora me tinto

As horas preferidas, as incertas.

Assumo cada gota de teu sumo,

Bebendo em teu prazer, caminho e rumo...

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Bebendo em teu prazer, caminho e rumo

Esqueço um pesadelo feito em vida;

O quanto necessito e sempre assumo

Expressa toda a sorte já perdida.

Além do que não posso, não mais temo

Vencido pelos erros e besteiras.

O barco soçobrando vai sem remo

Encontra em tuas pernas as bandeiras.

O nada representa o que me resta,

Mergulho em desespero no teu sexo,

À angústia interminável já se empresta

A vida sem razão, juízo ou nexo.

Desesperadamente eu te procuro,

Rasgando cada céu em treva, escuro...

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Rasgando cada céu em treva, escuro,

Miasmas coletando no caminho,

Da morte que desejo, não depuro

O tempo de viver se esvai sozinho.

A boca em desespero quer bem mais,

Mas nada além do corte e da mordida.,

Revivo a cada sonho um Satanás

Que sempre comandou a nossa vida.

Na lívida figura um vão sorriso,

Os olhos que me lambem são vergastas

Da podre sensação de um paraíso

As mãos de uma esperança outrora castas

Calejadas algemas, riscos tolos,

A seca se derrama nos meus solos....

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A seca se derrama nos meus solos,

Ausência de motivos pra viver.

Cativas ilusões, negando colos,

Misturam agonia com prazer.

Agônica manhã se prenuncia

Fazendo deste sonho, um pesadelo,

A boca que destrói decerto ungia

Rasgando minha pele; frio gelo.

Atrocidade inerte e sem limite

A marca da pantera se entranhando,

Amor no qual nem mesmo se acredite

Aos poucos meus caminhos sonegando.

A par da estupidez de cada verso,

Não vejo outra saída, vou disperso...

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Não vejo outra saída, vou disperso

Românticas palavras? Nunca mais.

Apenas estampado em cada verso

Sorriso destes sonhos marginais.

Irônicas senzalas que eu carrego

Não tendem nem permitem liberdade,

O vento que me leva, sempre cego,

Não alça no final tranqüilidade.

As pernas amputadas, meus segredos,

Olhares entre nuvens, risco farto,

Na queda de esperanças, arvoredos

Adentram quais fantasmas, o meu quarto,

A mansidão que um dia eu concebi,

Há tempos nos teus braços, já perdi...

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Há tempos nos teus braços, já perdi

O rumo. Eu necessito te falar

Do sol que nos teus olhos conheci,

Tomando a paisagem, devagar.

Desejo a cada dia sempre mais,

Sorrisos e palavras benfazejas,

Resumos de promessas magistrais

Trazendo todo o sonho que desejas.

Não vejo mais porque temer a sorte

Se eu tenho; junto a ti, o que eu queria,

Amor quando em amor tem seu suporte

Incide sobre nós tanta alegria.

Sabendo que encontrou clara saída,

Minha alma no teu cais não mais perdida.