DE ARAÚJOS - em homenagem a Hélio Valentim
Francisco, já apresentado aqui anteriormente, perpetuava-se no poder na pequena cidade mineira e ainda não tinha tido o prazer de voar de avião. E essa era uma das suas maiores frustrações.
Sabendo desse desejo, um de seus filhos resolveu presenteá-lo com uma viagem para São Paulo, num avião que sairia do Aeroporto Pio Canedo, fretado por alguns empresários locais, entre eles o filho de Francisco.
Toninho, esse era o nome do rebento amado, era dono de uma empresa de locação de automóveis em Muriaé para onde, segundo as más línguas, teria ido boa parte do dinheiro da saúde do pequeno município.
O Aeroporto de Muriaé, ainda se chamava Pio Canedo, sendo depois modificado para outro nome, segundo dizem, por causa de “favores” de um deputado federal a um conhecido Governador mineiro, por emprestar uns aviões, coisas assim.
Mas isso não interessa, pelo menos nessa história.
Voltemos a ela.
O Comandante Araújo, aposentado pela aviação comercial onde fora um dos mais brilhantes pilotos da CRUZEIRO DO SUL, já morta a essa época, estava em um dia muito especial.
Sua esposa tinha-o abandonado na véspera e, como a dor era muita, aquele vôo daria a ele uma espécie de consolo.
Velho comandante do ar, Araújo tinha por hábito, tentar conhecer seus passageiros.
Ao ver aquele senhor sexagenário sentado com outro amigo, no bar do Aeroporto, resolveu entabular conversa com o estranho.
Ao vê-lo, teve uma surpresa enorme quando foi chamado pelo nome.
-Araújo, como está você?
Ao que respondeu que tudo bem, etc e tal.
-O vôo vai ser tranqüilo né?
Claro que sim, e o papo evoluía.
Regado a uma garrafa de cachaça que se esvaziava rapidamente, consumida pelo senhor distinto que reconhecera Araújo.
Como a gente, nessa vida, muitas vezes conhece pessoas e a memória nos trai, nada mais natural que o cidadão ter reconhecido o velho aeronauta.
O tempo passava e a conversa extremamente agradável com aquele caipira bom de papo já se alongara muito quando Araújo a encerrou, avisando que iria decolar em pouco e que, o velho conhecido deveria parar de beber.
Fora muito boa a conversa e isso aliviara um pouco o peito sofrido do nosso amigo.
Voltemos a Francisco.
Assim que chegou, acompanhado de seu testa de ferro de sempre, Francisco estava extremamente tenso.
Ao perguntar o porquê, o seu acompanhante foi informado que aquela seria a primeira viagem de avião do político experiente.
Resolveram sentar no bar e tomar umas caninhas para “aliviar” a tensão.
Ao perceber que aquele senhor estava indo em direção ao bar e que esse portava uniforme sugestivo de que seria um Comandante; Francisco, prontamente, convidou-o para sentar.
Daí em diante se deu o diálogo que captamos no bar do aeroporto.
Ao ver tamanha “intimidade” entre Francisco e o Comandante, seu amigo o interrogou:
- “Seu” Francisco, mas o senhor é muito gozador mesmo hein!? Como o senhor me fala que nunca voou e tem tamanha intimidade com o Comandante?
-Que intimidade o quê! Nunca vi mais gordo!
- Como o senhor sabia do nome dele?
- Não sabia não, e esse não é o nome dele não seu burro!
-Como assim?
- O imbecil, se o homem que trabalha no mar é marujo, quem trabalha no ar é araújo, entendeu?
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