Candelária, 13 anos
Neste domingo, dia 22 de julho, completam-se treze anos de um dos mais vergonhosos e injustificáveis atos executados pelos órgãos de repressão na História recente deste país.
Em frente a uma das mais belas e representativas Igrejas deste país, a da Candelária, no Rio de Janeiro, duas Kombis, lotadas com policiais militares, executaram, sem justificativa cabal, oito menores que dormiam naquele local.
A execução destas crianças e adolescentes, abandonadas à própria sorte por uma sociedade cruel e dispare, por criminosos pagos com o dinheiro público com a função de proteger o cidadão, demonstra a que ponto o servilismo desta gente e o despreparo para a vida chega.
Servilismo a uma sociedade que não reconhece a sua culpa perante a miséria e a fome, perante a agonia em que vive uma boa parte das pessoas famintas e desvalidas das cidades grandes e suas periferias, perante a sua ineficiência em conter as disparidades sociais.
Despreparo tanto moral quanto profissional pois, tendo a sua origem, na maioria das vezes, em camadas sociais próximas às das vítimas, reage contra os mais indefesos e frágeis, incapazes que são, de entenderem onde estão, o que são e o que representam.
No bojo desta absurda e indefensável atitude, está a visão de grande parte da classe dominante, inclusive e principalmente a classe média, de que a pobreza e a miséria são sinônimo de banditismo.
Ao vermos, diariamente, centenas e centenas de políticos, autoridades policiais, como delegados, inclusive da Polícia Federal, autoridades do judiciário, como juízes, envolvidos em desvio de bilhões de reais, temos a noção de quanto errônea é essa visão.
As vítimas, inclusive meninos de quatro anos de idade, barbaramente atacadas por criminosos de farda, indesculpáveis numa atitude canalha e torpe, são o retrato da terra brasilis.
Onde a vítima é colocada como o algoz e os carrascos ainda posam de heróis.
Tudo isso me enoja ao extremo, e não consigo conceber outra atitude contra esse tipo de ação, a não ser uma exclusão social por tempo extremamente longo, com a aplicação de pena máxima para quem ataca o indefeso e o mais fraco.
A sensação das “cordilheiras” desabando sobre as flores inocentes e rasteiras, muito bem colocada por Paulo César Pinheiro, se aplica totalmente nesses casos.
Alguns hipócritas me dirão: Os meninos eram criminosos.
Isso, na tentativa de justificar o injustificável. Se analisarmos profundamente, criminosos somos, então, todos nós, direta ou indiretamente responsáveis pela produção em série de crianças e adolescentes sem lar, sem família, sem nome, sem escola, sem amor, sem futuro.
E o maior roubo que se pode fazer contra uma criança ou contra um adolescente, é roubar-lhe a esperança.
Assassinar a quem não resta nada, nem a esperança, é um ato de extrema covardia, injustificável e irreparável.
Quando vejo uma criança, de quatro anos de idade, largada ao próprio destino, lutando pela sua própria sobrevivência, me pergunto até onde vale a pena a vida?
Até onde iremos, com nossas atitudes egoístas e hipócritas?
Não estou sendo piegas, embora não possa escapar de certos lugares comuns.
O furto da esperança, o roubo do amanhã, e o assassinato dos sem defesa, pelos agentes remunerados para a defesa da sociedade, me levam a entender os PCCs e os CVs, como uma reação até certo ponto esperada, uma reação a atos que não permitem diferenciar os policiais dos bandidos, bandidos da pior espécie, assassinos de crianças e adolescentes...
A contra reação se torna urgente e inadiável, uma contra reação apostando na Educação, na Saúde, na oportunidade de se devolver a esperança a nossos meninos e meninas, batizados de “menores” pela sórdida imprensa policialesca.
Temos, enquanto país e povo, a obrigação de darmos dignidade a essa gigantesca camada excluída da população brasileira.
Sob o risco de, amanhã ou depois de amanhã, vermos os PCCs da vida, transformarem, não somente o desgovernado São Paulo, mas todo o país em um gigantesco Canudos.
Basta de Antonio Conselheiros na nossa História.
Basta de Vigário Geral, de Candelárias, de PCCs, BASTA!
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