domingo, dezembro 23, 2007

SONETOS 107 E 108

Apraz-me te saber assim tão forte,
Amigo tantas vezes partilhamos
Fazendo com vigor o nosso norte,
Mostrando enfim poder o que sonhamos.

Ao passado tu queres que eu reporte
Lembrando dos caminhos onde andamos.
Guardado na memória qual recorte
De tudo o que vivemos nos lembramos.

Nossa amizade sempre foi completa
E encarniçadas lutas e batalhas
Contaram com teu braço e sem ter falhas

A vida era, decerto, mais dileta.
Depois de tantos anos, eis aqui.
E saiba que jamais eu te esqueci.

X

Sodômica vontade te invadindo
Olhando para mim sofregamente.
Eu sei que nosso amor, eterno e lindo,
Precisa de carinho plenamente.

E tão profundamente interagindo
Mostrando quanto eu quero, simplesmente.
Irei então, te juro, calmamente
Saber o que deveras vais sentindo.

Eu sei que é prazeroso para nós
Viagem por escuras cercanias
Não quero te causar a dor atroz

Apenas te esbaldar em alegrias.
Amor jamais será por certo algoz,
Mas vamos libertar as fantasias...

X

Não quero a falsidade que propagas
Mostrando noutra face quem tu és.
Às vezes encantaste em outras plagas
Mil homens se jogaram a teus pés.

Porém não mais pretendo perseguir
O sonho de te ter aqui, comigo,
Amor jamais igual vou repartir
Pois tenho uma noção deste perigo.

Fingiste uma pureza que não tens,
Ludibriando assim quem tanto amou.
Eu dediquei a ti meus caros bens
E nada, simplesmente me restou.

Fingiste ser mulher deveras séria.
Mas como me explicar esta Neisseria...

X


Querida, eu tenho muito pra dizer
De todo o sentimento que devora
Louvando em sua glória o bom prazer
Querendo tanto amor a qualquer hora.

Vencendo todo o medo, passo a ver
Toda a verdade nua que se aflora
Roubando todo o sonho de poder
Realizar desejos, mas agora

Talvez já renascendo uma esperança
Que traga um novo mundo em que se alcança
Prazer que há tanto tempo eu prometia

Não vou mais te deixar morrendo à mingua
Pois saiba libertei a presa língua
Depois de realizar postectomia...

X

Qual fosse uma divina criatura
A moça que adentrou no escuro quarto
Em laivos de carinho e de ternura
Deixando quem amou, decerto farto.

No toque mais sutil, total brandura
Porém o seu retorno eu já descarto.
Talvez num outro dia pós a cura
Eu possa enfim dizer que não enfarto

Ao ver tanta beleza abandonada,
Deixada sem cuidado pelos cantos.
Matando o principal de seus encantos,

Murchando com desleixo tal florada.
Beleza iluminada, rara tília.
Portando em abundância, uma monília...

X


Sonhando com prepúcio amorenado
Donzela não consegue despertar.
Seu sonho, qual um príncipe encantado
Deitando em sua cama, faz brilhar

O raio em que sentiu seu doce fado
Sem medo de sofrer, basta lutar.
Um fálico calor, no cortinado
Adentra e a penetra devagar...

Mas sabe, esta princesa que dormia
Que amor é feito assim, de uma ilusão
Na porta do seu quarto, com emoção

Desnudo e mais disforme eis que surgia
Batráquio indesejado e pavoroso,
Com riso em ironia, desdenhoso...

X

Falar do sentimento mais profundo
Plantando tantas flores no caminho,
Iluminando a paz de um novo mundo,
Transfunde uma alegria para o ninho,

Mudando humanidade num segundo,
Jamais me deixará cantar sozinho.
Em tal satisfação eu já me inundo
Trazendo para a vida, este carinho

De um mundo mais bonito e mais vibrante,
De versos mais sinceros e felizes,
Tomando nosso canto a cada instante,

Deixando para trás o sofrimento.
Quem sabe assim calamos guerras, crises,
E o mundo se refaça num momento....

X

Tanta sofreguidão, tanta querência,
Vontade de embrenhar em tuas matas..
Furtiva com teu ar, pura inocência
Tu sabes muito bem quanto maltratas.
Tu pedes que eu demonstre paciência
E logo me tocando, me arrebatas...

Rainha juvenil deste meu sonho,
Princesa erotizada que desejo.
Todo o meu querer, que te proponho,
Mostrando tudo o quando, amor, almejo.
O dia se tornando mais risonho,
Sorriso tão maroto, um relampejo...

Nos raios de teu corpo me perdendo,
A noite sem juízo, vem descendo...

X

Que a vida se mostrando soberana
Acalme toda a dor que nos destrói.
Que o tempo enfastiado não engana,
Pois toda uma alegria ele corrói.
Uma vitória plena que se ufana
Nem sempre depois dela se constrói.

O fogo tão feroz de uma paixão,
Às vezes nos derrota; sem defesas,
O gosto desta enorme sedução
Se mostra qual a fera em tensas presas,
Viver sempre contigo é tentação
Que mata enquanto mostra tais belezas...

Mas sei que estou contigo p’ro que for
Um náufrago de um mar de imenso amor...

X


A fada com varinha de condão
Transforma esta menina na princesa
Tornando seu amor uma explosão
De rara e salutar, nobre beleza.

Porém a bruxa má em maldição
Prevê
para esta moça tal tristeza

Que traga pro seu lar destruição
Fazendo da menina simples presa

De um sapo disfarçado em principesco,
Trazendo um pesadelo tão dantesco
E tendo todo o mal como seu dom.

E em lágrimas castelo desabando,
Varinha desta fada demonstrando
Que é sempre necessário um bom Condon...

X


No jardim dos prazeres, gardenella
Fazendo tempestade se alocou.
Abrindo sorrateira esta janela
O paraíso insano ela adentrou.

Agora bem piscosa se revela
E mostra para quem já maltratou
Que nossa sorte andando nas mãos dela
Apenas o vazio ela deixou.

Querida, me permita que te fale
Que tal destino enfim tem solução
E nada disso faz com que me cale

Pois quero o teu amor com devoção
Por certo um bom futuro neste vale
Calando para sempre a podridão...

X


Tricomonas que invade belo altar
Fazendo deste amor pruriginoso.
Por certo sempre irá dificultar
Um sonho que se mostra prazeroso.

Receio que não possa navegar
Um mar que se tornou tão tenebroso.
Meu barco assim talvez vá naufragar
No mangue com certeza mal cheiroso.

Mas veja como amor se mostra frágil
Porém a solução vem no Flagyl
Mas peço meu amor que sejas ágil.

Pois isso tanto afasta quem te quer.
Perceba que quem sabe e assim agiu,
Se fez maravilhosa, uma mulher!

X


Amor; dispareunia
É caso complicado,
No amor que nos unia
Destino bem traçado,

Não quero uma agonia,
Vivendo lado a lado,
Mas tento uma alegria
Num riso disfarçado.

Não quero o sofrimento
Que traz o meu prazer.
Com todo envolvimento

Decerto vai doer.
Prometo ser mais lento.
Quem sabe? Pode ser...

X

A sorte documenta
A vida que tivemos,
Se veio tão sedenta
Se o rumo, assim perdemos.

Paixão mais violenta
Depois? Já esquecemos.
No mar forte tormenta,
No barco poucos remos

Mas vamos, vencedores,
Amigo, companheiro,
Passando pelas dores,

Vagando o mundo inteiro
Colhemos tantas flores,
Aguando este canteiro...

X


Amigo chegue cedo
Que a morte vai chegar
Mudando todo enredo
Invade sem pensar

Conhece o teu segredo
E gosta de mostrar
Poder que traz degredo,
E nada faz mudar.

Por isso venha, amigo
Que a festa determina
Não tema mais perigo

No solo em cada mina,
O sonho que persigo
Por si nos ilumina

X


Um anjo feito fálico desejo
Invade cada sonho da donzela
Deitada, esvoaçante pede um beijo
Carinhos que imagina serem dela.

Depois deitando nua com traquejo
Recebe a tempestade em esparrela
Respiro
se transforma em puro arquejo,

No olhar extasiado se revela

O sonho que tivera, mas me calo
E nada posso ver senão sorriso
De quem já passeou por paraíso

Em pura tentação, amando falo.
E assim donzela fica mais desnuda,
Pedindo sequiosa por ajuda...

X


Vestindo uma ilusão que não mais cabe
Trafego nos teus braços tão amigos.
A sorte só protege quem já sabe
Das curvas que denotam tais perigos.

Percursos tão difíceis que traçamos
Num Eldorado esparso e mais distante.
Percalços nos caminhos; encontramos,
Mas mesmo assim seguimos sempre avante.

Nos laços da amizade, a garantia,
No traço em que desenho o meu futuro
O bem que desejava, e mais queria.
Saltando sobre o medo, vago, escuro.

Assim sem intempéries ou tempestas
Um coração amigo vive em festas...

X


Amor que em flatulência recebeste
Quem tanto desejou ter teu carinho.
Se desta forma, assim tu devolveste
Refaço num instante o meu caminho.

Parece que tu queres fazer teste
Se for assim, prefiro andar sozinho...
Em trágico perfume me envolveste
Matando meu amor, devagarinho...

Eu sei quanto preciso ser feliz
Eu sei e não me canso de dizer
Porém isso, querida, eu não agüento.

Embora um bom futuro se prediz
Imerso em alegria e bom prazer.
Eu não suporto amor tão flatulento...

X

Amor que não permite que te peça
Apenas uma noite a mais comigo.
Retiro tua roupa em cada peça
Buscando no teu corpo o meu abrigo.

Na sorte deste sonho se confessa
O templo, raro altar, que assim persigo.
Embora tão sedento, em louca pressa
Eu sei que amor não pode ter perigo.

Não posso mais, querida, me perdoa.
Amor que sei nos toma, sem fronteiras,
Porém já percebeu o seu limite.

Não quero que o prazer enfim te doa,
Nem quero tuas lágrimas certeiras.
Espero enfim curar bartolinite...

X

Amor que é desta vida, a redenção
Bordando em nossa cama uma alegria
Mortalha que se fez em servidão
Resgata
num momento a fantasia


Queimando em alta chama, uma emoção
Ardendo em nossos olhos, tal magia
Ventila para nós a solução
Que aquece cada noite, mesmo a fria.

Porém ao ver chegar o teu marido,
Um grito que se solta invade o ar.
Convulsionando finjo-me maluco

Achando-me decerto já perdido.
Em tempo ouço esta voz a me salvar:
- Não tem o que temer: que ele é eunuco...

X

Amigo, é muito bom saber que existes,
Durante muito tempo imaginara
Não ter mais solução, os mundos tristes
Que sempre, em minha vida freqüentara.

Pensando que jamais encontraria
Alguém em quem podia confiar,
Uma amizade pura? Fantasia...
Ao ver-te comecei a imaginar

Que isto fosse possível, companheiro.
Um coração tão puro quanto o teu,
Difícil de se achar no mundo inteiro.

De tudo o que sonhei, célula máter,
Amor que se inspirou em Prometeu,
Um símbolo perfeito: bom caráter...

X

Quem dera ser além do duro cais
Da noite que não veio e nem virá.
No porto mais vazio em nunca mais
No sol que se escondeu, não brilhará.

Quem dera ser aquém da dura paz
Vergada sobre o peso que trará
O gosto do quem dera ser demais
A mão que nunca trouxe, foice e pá.

Quem dera gota esparsa chuva mansa
Na idade da ilusão que já passou...
O resto do quem fora não me alcança

Mas deixa esta impressão do nada sou.
Quem dera se essa espera me trouxesse
Amor que renovasse a vida, a prece...

X

São tantos os meus medos
De ter e me perder
Tecendo meus enredos
Buscando o teu prazer

Ascendo aos arvoredos
E passo logo a ler
Nos cofres os segredos
Na vida o bem querer.

A noite vem ainda
Trazer estrela e lua
Esta mulher deslinda

Uma beleza nua.
Porém minha alma finda
Sozinha em plena rua...

X

Saudades do que fui... Ah! Quem me dera
Poder não me lembrar deste rosal
Que morto já levou a primavera
Deixando este vazio sem igual.

Agora a solidão terrível fera
Tomando toda a casa, este quintal
As roupas não mais quaram no varal,
Lembrança me ferindo, uma quimera...

A sombra passeando pela casa
Daquela que se foi pra nunca mais.
Relógio devagar, também se atrasa

E a morte já não vem... sofrer demais,
Ardendo o coração em fria brasa
Eu sei não voltarás – amor – jamais!

X

Amiga não permita que esta dor
Invada um coração deveras puro.
O mundo em que trafega um sonhador
Não pode ser cruel, tampouco escuro.

Eu quero que tu saibas do valor
Do sentimento imenso em que procuro
Rever a nossa vida e recompor,
Amaciado um chão deveras duro.

É preciso paciência pra lutar
E também esquecer o sofrimento.
Às vezes nem o brilho do luar

Clareia nossa vida num momento.
Mas saiba que é preciso sempre amar
Calando com vigor cada lamento...

X

As pedras se derretem sob o fogo
Rolando incandescentes pela praça.
Nos olhos ardentias, sinto o jogo
Que passa simplesmente, qual fumaça.
De toda essa amizade sobre o rogo
Que finge que não vai e se esfumaça.

Paragens tão distantes, mar e lua,
Se encontram e depois o sol renasce.
Desfilo meu cadáver pela rua
Permito que outro olhar, de esgueiro, cace
Antes que a noite surja falsa e nua
Antes que tudo morra e que se embace.

Senhora dos segredos, minha amiga,
Vá logo por que a sorte aqui, periga...

X


Tu tens a raridade destas flores
Que a vida semeou no meu jardim.
Teu céu entorna luzes multicores
Resplandecentemente sobre mim.
Revelam-se em t’a pele mil albores
Na boca mais formosa, carmesim...

Tu és a minha estrela solitária,
Forrando esta almofada com ternura.
Quem teve um coração deveras pária
Encontra a plenitude rara e pura,
Da sorte tão mutante, sendo vária
No colo que me mostras, formosura...

Ostentas tal recato em calmo gozo,
Num sonho a explodir, libidinoso...

X

Eu sei quanto valor
Uma amizade tem.
Revigorando a flor
Trazendo imenso bem,

Envolve em puro amor
Quando a tristeza vem
Aquece em bom calor
E nunca fica aquém

Do que já se queria
De quem a gente sabe
Que mostra uma alegria

Tão grande que não cabe.
Eu rezo todo dia
Pra que ela nunca acabe...

X

Vontade de viver
Uma amizade traz.
Não posso me esquecer
Do bem que ela me faz

Trazendo com prazer
Louvando sempre a paz
Amiga eu posso ver
Do quanto se é capaz

Quem tem uma amizade
Que seja mais leal
Transforma a realidade,

Num sonho sem igual,
Transborda na verdade,
E afasta todo o mal

X


Mal sabes quanto amor em tanta fé
Encanta quem deseja ser feliz.
O nosso casamento vai dar pé
Pois nele encontro assim o que eu mais quis.
Deitando junto a ti, bom cafuné
Vontade de ficar e pedir bis.

Amor que se mostrou tão indulgente
Não sabe de ciúmes nem de brigas.
Eu gosto de viver intensamente
E sei que também queres, das antigas
Loucuras que fizemos plenamente
Erguendo com ternura nossas vigas.

Perdoe se eu te louvo qual idólatra,
Trafego em teu prazer, amor podólatra...

X


Querida eu bem sei que este tenesmo
Que tens, já te incomoda por demais.
Amada, continuo sendo o mesmo
E quero o teu amor pra sempre e mais.

Não sabes, mas por certo eu já te entendo
E sei quanto dorido amor se faz.
Quem dera se sensível, teu pudendo
De amar em plenitude e ser capaz.

Mas tenho a paciência necessária
Embora desejasse ser completo,
A relação que assim é temerária
Teria um bom sabor, o predileto.

Relaxe que talvez assim consiga.
Neste hóstio desejado, invade a viga...

X

Eu sei querida amiga o quanto dói
A solidão em noite sem estrelas.
As rotas do desejo, sem podê-las
A vida num segundo se corrói.

Somente uma amizade em si constrói
Estradas deslumbrantes e mais belas.
Entendo cada sonho em que revelas
Vontades sem limites. A vida mói

Sem ter nenhuma pena quem não luta,
Mas tantas vezes vamos solitários
Batalhas que se fazem, tantos páreos

Nos quais a dor se mostra em força bruta.
Porém ao lapidar o sentimento,
A força da amizade ganha tento...

X


Amiga, eu bem sei do sofrimento
Que atinge, de maneira violenta
Aflorando em qualquer duro momento
E sempre no teu peito assim se assenta.

O tempo vai passando calmo e lento.
Eu sei que a realidade te atormenta
Trazendo em tua vida um sentimento
De dor e de prazer. Mas, falo: agüenta!

A tua liberdade, não se olvide,
É feita dia a dia, imensa luta.
Permita-se viver a fantasia

Que queres, e te peço: Quem decide
Jamais se vergará com força bruta.
Pratique se quiser, a urofilia!

X

Amigo não se esqueça que esta vida
Prepara em meu caminho as armadilhas
Às vezes interdita nossas trilhas
Fechando uma porteira. Então decida

E lute até chegar uma saída
Que leve ao renascer em maravilhas.
Se as dores, muitas vezes em matilhas
Sagazes
, são terríveis, nessa vida,

Do dia a dia veja, companheiro,
Que tantas vezes somos enganados
Na busca incontrolável – pés ligeiros,

Que tramem novos sonhos outros fados.
Porém ao perceber a realidade
Encontro farta luz nesta amizade...

X


A vida preparando uma tocaia
Às vezes não permite que sonhemos;
Nos dias doloridos que tivemos
A sorte se escondendo noutra praia.

Por isso, meu amor, daqui não saia
Amar é com certeza o que podemos
Fazer. Nesse belo mar, pois naveguemos,
Que a lua, enamorada, já se espraia.

Roçando um sentimento mais profundo,
Nem sempre nós seremos mais felizes.
Porém, isto valida num segundo

Distantes desta dor – tocaia grande-
Que o tempo já prepara outros matizes
Mas eu te imploro; amor: tocai a glande!

X

Amiga quem me dera um nadador
Nadasse pelos rios da saudade
Mostrando que este mar revelador
Não guarda nem a sombra da verdade,
Fazendo o que quiser de um velho amor
Morrendo por demais salinidade.

A língua que passeia nesse seio
Mordendo o céu da boca da alegria.
O fogo que não sei se mais ateio
Marejo nesta mesma melodia
Que fala deste amor onde incendeio
E morro sem saber, dia após dia.

Vem logo, não disfarça minha amiga,
Que o amor que já se foi nunca me abriga...

X

Sou nada, vim do nada e nada espero;
Quem sabe se sobrou algum pedaço?
No quase consegui, eu me tempero
E vivo sem saber se cabe espaço.
Por pagamento tenho o que não quero
Da boca que sonhei, restou cansaço.

Oferto-me por módica quantia,
Àquela que quiser sofrer comigo.
A noite que prometo virá fria,
Apenas o meu riso como abrigo.
Distante do que sou, do que queria,
Querida vem comigo que eu não ligo...

Esparramado estou na tua cama.
O teu frio apagou a minha chama...

X

Amizade verdadeira

Enfrentando com coragem

Se mostrando companheira

Encarando uma viagem

Que se faz a vida inteira

Não dando nenhuma margem

À dúvida traiçoeira

Não se perde por bobagem

Respondendo mais ligeira

Traz amor como bagagem.

Minha amiga, a nossa lei

É feita dessa amizade

Muito bom que eu te encontrei,

Isso traz felicidade

Tanto tempo eu procurei

Minha amiga de verdade...

X

Às expensas da verdade
Eu cantei com voz mais forte
O poder desta amizade
Que só trouxe muita sorte

E também felicidade
Cicatriza um fundo corte
E na solidariedade
Transformando todo o norte

De quem fora assim sozinho,
Meu querido e bom amigo,
Não permita que o caminho

Leve ao triste desabrigo.
Saiba, neste canto alinho
E o meu passo vai contigo...

X


Querida esta cruel orquidalgia
Impede que sejamos mais felizes.
Por mais nos entranhe a fantasia
Algozes dorimentos, cicatrizes
De trauma que enfrentei num outro dia
Ao ver estrelas, tantos os matizes,

Eu percebi que estava em prejuízo.
Agora não podendo disfarçar
Distante do divino paraíso
Não tenho mais vontades. Devagar
Meus passos são terríveis, imprecisos
Não posso, embora queira hoje te amar.

Quem sabe com calor e um bom remédio
Amanhã não teremos tanto tédio...

X


Amar-te noite afora
Sem tréguas, sem parar,
Meio jogados fora
Na rua, sob luar

Vestidos da nudez
Do sonho que virá
Amor que a gente fez
Do novo brilhará

Mas saiba que os mistérios
Entornam sensações
Quebrantos, ministérios,

Fogueiras, turbilhões.
Que se danem critérios
Viva às inundações...

X

Eu agradeço a ti amigo Bento
Saber da falsidade em que foi feito
O Reino que deixaram num momento
De amor e de pureza. Contrafeito

Percebo que não tenho mais direito
De estar neste covil. Isso eu lamento,
Trazendo na verdade sofrimento
A quem sabe da serpe e do seu jeito.

Eu te agradeço amigo, pois me ensinaste
Que a porta escancarada é para os pios.
Para os doentes sempre está fechada.

Um imbecil pensando que houve uma Haste
Que veio para os pobres, pros vadios,
Percebe que não vale mesmo nada...

X


Eu sei que não mereço
Porém peço perdão
Rezando o mesmo terço
Escondo-me em porão

Moldando
o meu tropeço
Em nova escravidão
Fornalha onde me aqueço
Não tem mais direção.

Sou vago, ermo e vadio
Remédios nem teria
Porém se tanto esfrio

Versando em ironia
Amigo
, em vão, vazio
Termino mais um dia...

X


Com costas lanhadas
Por sol e vergasta
As bocas salgadas
Mentira tão casta

Palavra açoitada
No fundo já gasta
No peito a porrada
A sorte se afasta

Porém nesta luta
Sincero alvoroço
Vencer força bruta

Amor, um colosso,
O grito se escuta
Restando destroço...

X


Amar com toda urgência necessária
Salgando nossos corpos, maresia...
Toda procela sempre temerária
Há muito em dissonância mostraria

O quanto uma paixão tão visionária
Transforma nosso canto em agonia
Mas
vale a pena mesmo com sangria

Esta emoção do caos embrionária...

Lutando muitas vezes contra nós
Sentindo em avidez a resistência
Nas gargalhadas soltas, paciência

A fúria de inimigo mais atroz
Porém se o rio desce para o mar
Inexoravelmente irei te amar...

X

Andando pelos bares outra vez
Dormindo em plena praça, embriagado.
Sorrindo da total insensatez
Apenas o vazio andando ao lado.

Às vezes me acordando em bofetões
Quem
sabe solavancos impropérios,
Que danem-se, liberto e sem patrões
Não faço sequer parte dos impérios

Daqueles que me olhando de viés
Ou nojo, viram logo os limpos rostos.
As marcas dos grilhões presos aos pés,
Os medos se mostrando mais expostos.

Mal sabem estes donos da cidade
Que assim eu conheci felicidade...

X


Já preguntei responda meu amô,
Vivê sem tê vancê é disgramado,
Já prantei no cantêro dessa frô,
Meu coração ficô apaxonado!

Iscute, meu amô, um cantadô
Que dessa triste vida num vê lado
Sem tê vancê vai me fartá calô,
Como é que vô vivê, desesperado!!!

Pru favô num me dêxe mais sozinho,
Ansim vancê me faiz um sofredô,
A vida sem vancê num faiz sentido...

Sem te tê vô ficá ansim perdido,
Pois arretorne, entonce meu amô,
Um bêjo te mandei, num passarinho

X

Beijos de amor! Delícias e prazer!
Caladas, nossas bocas já se entendem
E sem palavras, sempre compreendem
O que se quer falar sem se dizer.

Não há nesse universo, quero crer,
Quem fogueiras do amor, melhor acendem
Que lábios desejosos que se estendem
E fazem, da saliva, fogo arder.

Se mansos, nos permitem calmaria,
Paz e tranqüilidade, um belo dia.
Nos trazem os perfumes, tantas flores...

Porém já nos devoram, quando ardentes,
Invadem, se misturam línguas dentes,
Vorazes, Como um circo dos horrores!

X

Pelo deserto; um triste caminheiro,
Encontra nas areias seu tesouro.
Quem sonhava um amor mais verdadeiro,
Esmeraldas, opalas, ou mesmo ouro

Nada encontrando, o sol doura-lhe o couro...
Num oásis palmeiras num outeiro,
Uma bela odalisca, bom agouro...
Um sonho, com certeza, alvissareiro.

A riqueza que traz não mais importa,
A beleza feroz, já o domina.
A lua no horizonte predomina;

A natureza abrindo sua porta...
Uma odalisca, bela como o sol...
Na fria noite o cobre, qual lençol...

X


Saudade faz a festa em meu querer,
Nas madrugadas, preso em tais senzalas
Buscando a fantasia pelas salas,
Perfume se perdeu. O que fazer?

A lembrança de um tempo onde viver
Trazia toda noite pompa e gala;
Agora a solidão no peito cala
Procuro sempre em vão. Nada irei ter...

Quem aprendeu amor; felicidade,
Não pode perceber que esta saudade
Refaz apenas sombra já perdida.

O duro é perceber que despedida
Palavra tão cruel de ser sentida
Em pleno amanhecer, na mocidade...

X

Bêbado de saudade- quem diria –
Vou fechando boteco após boteco.
Noite raia, clareia um novo dia,
Passos trocando, paro tonto e breco.

Lembrarei do conhaque, de uma orgia?
Meus suores e lágrimas não seco.
Confundindo verdade e fantasia.
Percebo que inda estou com meu jaleco.

O meu nome estampado num crachá,
Lembrei de que hoje estou de sobreaviso.
Dane-se! Pois quem ama entenderá;

Rolando nas escadas, eu deslizo,
Saudade maltratando desde já.
Morrer agora é tudo o que eu preciso!

X

Saudade faz batuque no meu peito,
Disfarça e logo traz a ansiedade
Depois de me negar a claridade
Meu mundo se perdeu, não tem mais jeito.

Amor parece não dizer respeito
A quem perdeu o sonho e a liberdade.
Sobrando para mim contrariedade,
Pra amar, eu realmente não fui feito.

Menina levantando a sua saia
Usando este tomara sempre caia.
Nas coxas adivinho o meu tormento.

A carne em juventude já me chama,
Porém de que adianta tanta chama
Se o coração batuca em ritmo lento?

X

Eu ouço alguém batendo em minha porta,
Mas quem será que nessa madrugada;
Bate assim, procurando pelo nada...
Minha esperança há muito está tão morta...

Batendo, fortemente, quem se importa,
Uma vida vazia, abandonada...
Esquecida num canto, assim jogada...
Quem irá se importar? O frio corta,

E na porta sinais duma existência,
Lutando mais feroz, a persistência
Com que bate, trará um novo alento...

A quem ,abandonado, não tem paz;
Quem será? Ao abrir, sofrer não mais...
Porém, ninguém batia, só o vento...

X


Bastam-me mais uns poucos sentimentos,
Não quero transformar tristeza em ouro.
A
dor preconizada nos tormentos
Qual faca penetrando no meu couro

Esquartejando tudo. Sofrimentos,
Meus cruéis guias, sabem desse agouro.
E sempre recebendo os duros ventos
Deixando bem distante ancoradouro.

Amor não quer saber de tais partilhas
Da minha sina, apenas traz veneno.
Quem dera se pudesse um sonho ameno

Aonde desfrutasse maravilhas.
Mas nada me sobrou senão saudade.
Daquilo que jurei : felicidade...

X

Noite num bar, no mesmo bar diário.
Noturnos nossos beijos nunca dados,
Da sedução barata, um honorário
Uma mentira a mais... Rolam os dados...

As curvas generosas, batom, rouge...
Nos seus olhos dengosos, nos cabelos...
Leão adormecido vem e ruge,
Seios deliciosos, é bom vê-los...

Músicas nessa noite e em meu ouvido...
A vida serpenteia em minhas mãos...
Quem dera não tecessem triste olvido.

Os lábios que me fingem, prenunciam,
Corações de serenos lagos vãos...
Tempestades de corpos se anunciam...

X


Eu tenho tanta coisa por fazer
Além de mal passada a carne esfria
Rasgando o que sobrava da alegria
Deixando muita coisa sem dizer

Mas tenha a mocidade como guia
Talvez seja mais fácil perceber
Que tudo foi somente fantasia
Que se escondeu em forma de prazer....

Assim perceberá que a mocidade
Passando sem ter nada, quase a esmo,
Embora este meu verso seja o mesmo,

No fundo mostrará que a liberdade
É feita com amor e claridade,
Sem tédio, sem temor, em amizade...

X

Amanhecer ao lado da mulher

Que tanto desejei a vida inteira,

Em todo o sentimento que vier

Minha alma se entregando verdadeira.

Esse momento, amor; não é qualquer;

Na vida que se mostra passageira

Eu trago esta certeza que se quer

De ter bem perto, enfim; a companheira...

Meu peito descortina o teu abraço,

Deitado do teu lado; sou feliz.

Não sinto mais sequer nenhum cansaço

X

Na noite que deixaste tanta dor
Meu peito procurando liberdade
Tantas ruas, esquinas da cidade
Em cada madrugada, em cada flor...

O medo se transforma num pavor
E toda minha força na saudade...
Quem me dera ter toda a claridade
Que perdi, numa noite de terror.

Estou tão solitário, o vento frio..
Quem me dera voltasse meu estio.
No meu jardim nascesse outra esperança.

Mas a vida, cruel, não mais afaga.
Meu caminho distante, noutra plaga,
Guardada na recôndita lembrança...

X

Tomara um banho quente, perfumado,
Vestira uma excitante lingerie
Seu corpo tão esguio, delicado,
Um poço de desejo estava ali,
Depois de relembrar de seu passado,
Sorriso mais maroto, eu nunca vi...

Aromas naturais, florais, mais raros,
Vestiu-se de vermelho transparente.
Seus olhos de um azul sereno e claro
Cabelos sobre os ombros... envolvente...

A cinta liga há tanto desprezada
Deixava um horizonte desmedido.
Depois de meia noite, madrugada,
As lágrimas corriam, sem sentido...

X


A par do que passei
Difíceis caminhadas...
Carinho em encontrei
Em
mãos abençoadas.
Bem mais do que pensei
Nestas duras jornadas

Amiga, eu pude ver
O quanto és importante.
Na força do querer
Tornando-me um gigante
Já posso até prever
Futuro radiante

Sabendo, na verdade,
Valor desta amizade

X

- Ouvindo a tua voz quando me chamas,
Qual fosse um chamamento angelical,
Neste calor imenso, imerso em chamas,
No fogo tão profano e sensual.
Deitando meu amor em tuas tramas,
Teu canto demoníaco, irreal....

Incoercíveis sonhos constelares,
Trazendo uma emoção em fanatismo,
No quanto desejei os teus luares
Mergulho sem temores teu abismo,
E bebo tanto sal em fundos mares
Do amor que traz carinho em traumatismo.

Teu corpo, um horizonte raro e vasto
Do amor que pretendia, impuro e casto...

X

Meu sonho de esperança, manso e brando
Em busca de outro senso mais sutil,
Aos poucos calmamente, dominando,
Mostrando ser mais forte e mais gentil,
Remonta todo o tempo que, esperando,
Nublava este meu céu que fora anil.

Ferido pela dor de uma saudade,
Marcado por um golpe do passado.
Qual tronco que perdeu-se da verdade
Cortado pelo corte do machado,
Não acho, nesse mundo, paridade;
Morrendo sem ter sombras ao meu lado.

De tudo o que temia, esteja certa,
A vida se mostrou tão incompleta...

X

Nas águas tão serenas deste rio,
Banhando sob a lua, nua em pelo..
Meu
coração se toma por estio,
Passando a mão por sobre teu cabelo
Quem fora sempre assim, tão vago e frio,
Já sente o pleno amor fortalecê-lo.

Depois ir repousar em teu castelo,
Princesa angelical que tanto quis.
Num sonho divinal, tão raro e belo,
Contigo irei pra sempre. Sou feliz...
Meu canto neste amor; cedo revelo,
Beleza de rainha em flor de lis...

Minha alma em terra nova já se assenta,
A vida, quem me dera, fosse lenta...

X

Quem sabe com amor enfim em transformismo
O
mundo possa ter um pouco de esperança.
A força com que luto, às vezes nada alcança
Porém espero a vida em lógico exorcismo

Ao afastar pecado, através do batismo
Aonde possa haver amor e temperança
Invés de tanto obus, invés de tanta lança
Amizade será – quem sabe – um cataclismo

Que venha permitir sorriso de um infante
E o tempo não trará mais noites sem afagos
Àqueles que sem nada, apenas fome e frio.

Podendo adivinhar em lua deslumbrante
Um dia alvissareiro, em carinhos tais, magos,
Que a vida possa andar sem ser só pelo fio...

X

SIM, MEU AMOR...

Muitas vezes um sonho ao se mostrar disforme
Arranca em pesadelo os gritos mais medonhos.
A mão que me tortura imensa e tão enorme
Tomando o inconsciente em formatos bisonhos

Avança sobre mim enquanto a rua dorme
E toca com vigor meus olhos tão tristonhos.
Não há, pois, na verdade alguém que se conforme
Ao ver tal heresia invadindo seus sonhos.

Percebo em cada dedo a seta inquiridora
Qual fora o meu pecado o que não se perdoa.
Um grito aterrador pelo meu quarto ecoa

Acordo em sobressalto e vejo a redentora
Presença deste amor. Solidão vai embora
A sudorese cessa... E a noite enfim se escoa...

X


Putrefação em vida o que talvez espere
Aquele que negando a carne agonizante
A mata destruída, um fato que tempere
A mesa em ironia abate neste instante

Os ideais do amor que em dor se degenere
Matando sem defesa, o pobre viandante
Que passe pela cerca. O desamor que fere
Também destruirá a luz tão deslumbrante

Da criação divina em rápida estocada.
Também foram dizer que a terra nos pertence...
Às vezes imagino o que será sem nada.

Ao débil que acredita e disso se convence
Que Deus nos deu poder de magnitude tal.
Poder dizer: - Boçal, tu és um animal!

X


Imerso num problema enfrentando ancestrais
Vontades de saber do longínquo futuro
Invento outra palavra em letras garrafais
Que possam traduzir meu gesto mais obscuro

Sou quase um ser vazio em busca de imortais
Desejos onde engano ultrapassando o duro
Chão inda me traduza um ar que fosse puro
Envolvendo o meu sonho e salvando animais.

Terrível predador, o ser humano mata
Inconsequentemente assim tudo desmata
E deixa no vazio; heranças sem valor.

Um povo que se faz letal e mercenário
Terá a morte em vida, o fim como honorário
Ao abortar a vida esquece o que é amor...

X

Por mais que te imagino em passos mais audazes
Eu sei que não virás enquanto uma peçonha
Ainda faça efeito aos olhos de quem sonha
Com mundo mais perfeito em braços mais capazes.

A vida tanta vez nos traz os capatazes
Algozes da esperança em noite tão medonha
Que faço se não quero a vida tão bisonha
Distante desta boca em lábios mais vorazes.

Amar é ser feliz e não temer mais nada
Eu sinto o teu perfume; embora morta a flor,
Caminho em teu destino, a roseira marcada

Por noite imaginada em pleno e louco amor.
A sorte está lançada e vejo que indomada
Estrela iluminada em outros céus, raiada...

X


Acordo uma esperança adormecida em mim,
Depois de tanto tempo a vida prosseguindo
O medo dominando, o dia se esvaindo
Restando simplesmente amor que sei sem fim,

O gosto de teu beijo, a boca carmesim,
O dia anoitecendo, o medo perseguindo
O quase que chegando, o nunca perseguindo
Meu verso te procura e nada encontra enfim.

Mas sei que longe vens em passo galopante
E logo chegarás, mulher que tanto eu quis.
Entrando em minha casa, em riso triunfante

Mostrando que bem sabe o quanto necessito
Do braço que distante, ao me deixar aflito
Retorna neste instante, e me faz tão feliz...

X


Meu verso sertanejo, um repentista canta.
Mostrando o meu desejo, um moço caipira
Que sempre quer um beijo, um gosto que me encanta
Da moça em que prevejo a sorte que não fira.

Um coração sozinho em busca de uma manta
Que venha aquecer ninho em forma de mulher
Trazendo de mansinho o bem que ela quiser
E a lua no caminho à noite se levanta

Chamando pro ponteio através da viola
Ao pratear a terra iluminando a mata
Refaço minha sorte em plena serenata

Mostrando que o recheio, amada, da sacola
Trazendo pr’esta serra o cheiro do alecrim,
Meu canto traz a morte escondida de mim...

X

Tantas vezes, querida; inquieto eu me recolho
E deixo em liberdade asas do pensamento
Chegando tão distante em um simples momento
Ao encharcar o medo em impávido molho

Percebo que a tristeza estendendo o seu olho
Invade esta janela e traz duro tormento
Mas antes que ela venha e mostre o sofrimento
Eu vou correndo à porta e tranco com ferrolho.

Muitas vezes previ a morte em solidão...
Não quero que isso seja a verdade absoluta.
Por isso todo dia, eu travo dura luta

Às vezes derrotado em outras tantas não
Esboço num sorriso um único desejo
Do amor que distraído em teus olhos eu vejo...

X


Ao oscular a face empresto à traição
O gosto verdadeiro em consciente fato
No gládio em que me encontro um último retrato
Em busca desperada- eu sei – de punição.

Eu sei que muita vez é grande a sedução
Que se mostra em covarde e desnecessário ato
Secando toda a fonte e matando o regato
Trazendo para a vida, a própria negação.

Assim é que funciona a harmonia do jogo
Aonde um traidor é quase sempre um santo.
Mas vejo em ti querida, uma exceção à regra.

Na força da amizade o verdadeiro fogo
Que emana de minha alma e mostra puro encanto
Iluminando assim a noite outrora negra...

X

A vida nos trazendo – em lágrima- o mistério
Num erro cometido em um lugar comum,
Embriaguez que cura, em farto gole – rum,
Seja, amigo, talvez amor sem ter critério

Invade nossa casa e sob seu ministério
Não deixa quase nada e vestígio nenhum
Subindo nossa escada este algoz, número um
Tirando quem sonhava em rumo calmo e sério

De todo o prumo exato, em passo decidido,
Mostrando em outro fato, às vezes derradeiro
Negando a sorte plena e mesmo a recompensa

Por ter tanto lutado e condena ao olvido
Com risos de ironia, um mal alvissareiro,
O amor faz seu estrago e torna a dor imensa...

X


Não quero mais a luz que torne a vida pálida
Sudário do meu sonho, em lagrimas composto.
Ao ver em frio espelho as rugas no meu rosto
Entendo que morreu de véspera a crisálida.

O gosto do vazio, a vida quase inválida
O medo do não ser em cada verso exposto
Sobrando do que tive apenas o desgosto
E a vida vaga e vã, imagem dura, esquálida...

Vogando pelos céus a lua recomeça
A cada novo mês renasce em plenilúnio.
E quanto a mim, sozinho, ao ver meu infortúnio

Aguardo novamente a dor em nova peça
Minha alma sendo eterna em mágoas já flutua
Quem dera se tivesse o destino da lua...

X


Percebo em catedral as ilusões imensas
Desde que eu encontrei antigas casamatas
Dentro do coração, reverberando datas
Vestígios do que fui, perfídias matam crenças.

Palavras que deixei, cintilações suspensas,
Se nada mais fizer serão decerto ingratas
Mas vejo que perdi meu rumo nestas matas
E tenho uma certeza em luzes tão intensas

De que jamais verei o que pensei ser meu,
Amores; já não tenho. Amizades? Talvez...
O brado em que me moldo, encontra insensatez

E mostra em meu futuro o muito que morreu.
Por vezes o meu sonho esbarra na verdade
Imagem refletida espera a claridade...

X

Se vago vagas ruas tão vazias
Em busca do que somos, nada vejo.
Amamentados pelas fantasias
No gosto mais audaz deste desejo
Voraz que nos remota aos velhos dias
Mostrados numa esquina, um realejo.

Sobrei do que sonhara, agora estou
Envolto nestas brumas, noite imersa.
Se o aço dos teus olhos me tocou
Talvez por isso esteja tão dispersa
A nuvem que depressa acompanhou
Vontade de querer sem mais conversa.

Causando febre, horror e descompasso,
Amada; nestas ruas, eu disfarço...

X

O vazio; eu conquisto em palavras tão vãs
Tentando alexandrino o canto que esbocei
Não quero ver se o gosto expresso nas maçãs
Transborde e serpenteie ao transtornar a lei.

Não passam de loucura as febres cortesãs
Nas quais em teu dossel às vezes me encontrei.
Quem sabe sem disfarce as luzes espiãs
Deletem o que sou ou o que não serei.

Vazio pode ser o copo quase cheio
Depende de quem olha ou mesmo de quem bebe
Quem veio de ouro fino ao ver a dura plebe

Não sabe quanto custa a vida sem recheio.
Mas mesmo assim insisto, ou nada mais seria
Que uma esperança agüenta a vida sem poesia...

X

Atarei cada canto em tua lábia
Que mostra quanto é válida a palavra
Quem leva a vida em versos se faz sábia
Moldando este universo em sua lavra.

Não sei se posso caminhar tranqüilo
Nem se preciso refazer meus sonhos.
Meu verso não tem ritmo nem estilo
Trazendo resultados mais bisonhos.

Mas cabem esperanças de mudança
Na versatilidade em que tu fazes
Amantissimamente em cada dança
Do torpe sentimento noutras fases

Amiga eu te agradeço mesmo assim
Sabendo, caçoaste até o fim...

X


Com força de vontade
Encarando pedreiras
Somente esta amizade
Nos mostra as verdadeiras

Saídas que podemos
Usar tranquilamente
Se enfim já nos perdemos,
Encontro de repente

Nos braços desta amiga
A mão que tanto apóia
Fazendo que prossiga.

Tesouro em bela jóia
Num átimo rebrilha
Guiando em dura trilha...

X

Amiga não se esqueça
Que o verso que te faço
Passando na cabeça
Estende-se em meu braço

E faz com que se aqueça
O corte feito em traço
Navega
cada peça
Causando este embaraço

Aonde amor tropeça
E rompe cada laço.
Não há nada que impeça

Nem mesmo o meu cansaço
Que o tempo enfim se meça
Moldando cada passo...