domingo, dezembro 23, 2007

SONETOS 118 E 119

Amor que se transforma em poesia
No
canto da morena mais bonita,
Transborda em delicada melodia
Que tanto me encantando já me agita

Em todas as esquinas, tantos bares,
Em todas as calçadas, nas cidades,
Roubando a claridade dos luares,
Bordando neste amor, felicidades...

Amor que é tão sublime que nos cura,
Amor que é nossa força pra viver,
É feito em sintonia com ternura
E dá sem ter cobrança tal prazer

Que sempre fortalece; a vida inteira,
Nos versos desta amada companheira...

X

A madrugada vem me segredar
Um sonho que bem sei ser falsidade
Pois sei que logo vens me procurar
Tão logo noutro amor a dor te invade

Tua alma então ficando a observar.
Percebo no teu caso insanidade
Mas eu preciso enfim continuar
Na caça desta tal felicidade

Vivi de ilusão e fantasia
Além do que pudesse ou bem queria
E vejo como eu fui um idiota-

Achei que em ti teria lealdade
Mas és muito volúvel - que revolta!..
De tudo não restou nem amizade...

X

Mas és muito volúvel – que revolta!
O tempo que perdi já não tem conta
Minha alma acorrentada agora solta
Procura uma emoção ainda tonta.

Quem teve uma ilusão por falsa escolta
Percebe quando a vida, vil, apronta,
O tempo que passou, eu sei, não volta
Nem mesmo uma tristeza se desconta

Das dívidas que tens para comigo,
Mulher que me mostrou que o desengano
Condena quem amou ao desabrigo

Pensando que encontrei felicidade
Eu vejo que no fim, do sonho e plano,
De tudo não restou nem amizade

X


Que a primavera traga em cada flor
Uma esperança bela de viver.
Falando de amizade, um trovador
Relembra quando outrora um bem querer

E um amigo verdadeiro, ou um amor
Enchia um repentista de prazer
Por isso tantas vezes dou valor
Àquilo que consigo perceber

Já ser o bem divino que nos cura,
Mostrando quanta paz, quanta ternura
Acolhem cada passo que se der

Na direção de um sonho mais feliz,
Louvando uma esperança que bem quis
E os braços calorosos da mulher...

X


Não vês o quanto quero tua luz?
Não sentes quanto busco te encontrar?
A vida se pesara feito cruz;
Embalde, tantas vezes, quis buscar

Nas nuvens este sonho de te ter
A cada novo dia, uma esperança
Que se renova em laços do prazer
Refletido em teu véu, em tua dança...

Eu quero te abraçar neste aconchego
Do teu colo macio e tão sereno,
Promessa de alegria e de sossego
De todo um grande amor, imenso e pleno...

Perdido, qual falena busca o lume,
Busco, incessantemente, o teu perfume!

X

E vejo como eu fui um idiota
Ao crer numa amizade que se esvai
Rondando toda noite em minha porta,
Quem é um bom amigo nunca trai,

Quem dera não ouvisse mais um ai
Daquela que me disse que se importa
Com todos que padecem. Mas não vai
Chegar num belo cais, antes aborta

Quem mata uma esperança mais capaz
Secando a bela fonte da amizade,
Deixando tanta coisa para trás.

Com olhar de quem seca a pimenteira
Amiga em minha vida, traiçoeira,
Achei que em ti teria lealdade...

X


Amor que nos envolve e não deixa
Sequer uma esperança de fugir,
Se sou um samurai, tu és a gueixa;
Sem queixas, nosso amor vem me pedir

Que toda eternidade seja pouca
Para esse imenso mar de amor sem fim,
No grito de alegria, a voz mais rouca
Percebe todo amor que existe em mim...

E sou feliz por ter esta aliança
Que envolve um coração insaciável,
Rito fenomenal de uma esperança
Que era antes deste amor, inconsolável.

No peito, uma emoção transborda em festa
Vivendo
em cada dia que me resta...

X

Eu vivi de ilusão e fantasia,
Vagando pelas ruas, falso riso.
O mundo que eu sonhava não trazia
Sequer algum sinal de um paraíso.

A noite se envereda e ganha o dia,
A morte que virá não manda aviso,
Aonde encontrarei uma alegria,
Rondando bar em bar sempre pesquiso

E vejo na sarjeta e na marquise
Abrigo que me sobra em noite fria,
Quem teve nesta vida algum deslize

Já sabe do que falo: solidão.
Mas creio, que inda tenha solução
Além do que pudesse ou bem queria

X

Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios
Nus... toda nua, da cabeça aos pés!

Raimundo Correia



Desejo esta nudez que sem receios
Adentra no meu quarto em noite mansa.
Com túrgidos mamilos, belos seios,
Nas tramas enlouquece em cada dança.

Aos poucos percorrendo os teus veios
Prazer inigualável já se alcança,
Com força e com ternura os meus anseios
Sobre tua nudez, amor descansa.

Qual Vênus maviosa, que em Carrara
Com
mármores e perlas esculpida.
Em tua beleza alva, fina e rara

Trazendo para a Terra argêntea lua,
A boca te procura, distraída,
E louca, se estremece ao ver-te nua...

X

Amigos; encontrei pelo caminho,
Alguns se foram, outros me acompanham.
Eu agradeço a Deus não ser sozinho,
Unidos, na verdade, todos ganham.

Ao vento os teus cabelos já se assanham
O mar quebra na areia em burburinho.
Saudades do que tive não me arranham
Refaço noutra senda o mesmo ninho.

Sou parte de um conjunto, nada mais.
Não creio fazer falta a muita gente,
A morte na certeza, último cais

Virá sem hora certa de chegada,
Por isso minha amiga, amor urgente.
Não deixe pra amanhã, pode ser nada...

X


A vida se transforma a cada dia
Em ventos, ventanias, temporais,
Depois a mansidão em calmaria
Bonança
se promete em manso cais.

Não temas, pois as duras tempestades
Nem nuvens que enegrecem nosso céu.
Aos poucos se dissipam. Claridades
Virão em toda a alvura deste véu.

Quem sabe destas urzes não as teme
Pois sabem que são sempre passageiras.
O mundo, num segundo, sempre treme,
Quando emoções se mostram verdadeiras.

Não tema prosseguir nos mesmos passos,
As dores só estreitam fortes laços...

X


Pra viver do outro lado desta vida
É preciso com certeza descobrir,
Por mais que a dor mereça ser sentida
O sofrimento engana o que há de vir.

Não vejo labirinto sem saída
Apenas o temor pode impedir,
Mas ela chega às vezes distraída
Não resta sequer tempo pra sorrir.

Por isso a vida deve ser vivida
Com toda honestidade e com paixão.
Aquela que se esconde, está perdida

Merece na verdade, a compaixão,
Mesmo que seja frase repetida
A vida só é plena com tesão!

X


Minha pele é caqui, é verde e rosa
E cedo se amofina quando sabe
Que toda serventia não me cabe
No verso que inventei negando a rosa
Ciência de que tudo vira glosa
Bem antes do que o mundo já se acabe

Morena, vem comigo e vem ligeiro
Depressa antes que a vida chegue ao fim,
Preciso de carinho quero um cheiro
O sol já vai morrendo e mesmo assim
O teu olhar me diz ser verdadeiro
O que restou de tudo eu guardo em mim.

Toda mulher merece ser estrela,
Por isso é que desejo tanto vê-la...

X

A grande borboleta leva na asa
Direita a solução de meus problemas
Na esquerda a solidão que tanto abrasa
No coração meus medos fazem temas.

A borboleta voa e ronda a casa
Pousando em meus temores, velhas gemas.
Meu nome eu encontrei lá no SERASA,
Porém não tenho nada com esquemas

Apenas isquemias passageiras
Que fazem da crisálida o retorno
À larva com defesas afiadas.

Se tento ter amores por bandeiras
A sorte; vou assando noutro forno
Pois sei reconhecer cartas marcadas...

X

Amor, um sentimento tão tirano
Que, déspota, não deixa respirar,
Causando, se traído, desengano,
Recende a fantasia e ao penar.

Converte todo bem em um talvez,
Invade sem pedir calma ou licença,
Nunca sabe esperar a sua vez,
Às vezes punição ou recompensa.

Amor que me injuria quando exalta,
Exala tal perfume que inebria,
Quanto maior se sente mais a falta
Ausente, traz uma alma mais vazia.

Amor que nos derrota na vitória
É rumo que se perde em plena glória!

X


Ilumina o meu peito esta canção
Que é feita com coragem por quem amo.
Tocando bem mais fundo o coração
Nos versos que me fazes eu reclamo

Amor que desvaria e traz paixão
Não deixa ser cativo quem é amo
À noite ponteando um violão
Teu nome; na calçada sempre chamo.

Amar é verbo intenso que ilumina
A quem se dedicar sem ter mentiras.
Palavras carinhosas que desfiras

Já formam a riqueza de uma mina.
Eu quero ter o doce, apaixonado,
Nos lábios da morena, um bom bocado.

X


Viemos de Lisboa, marinheiros
Trazendo uma esperança em nosso barco,
O tempo de viver mesmo que parco
Garante para a sorte bons luzeiros.

Amigos, camaradas, companheiros,
No mesmo sonho brilham, quando abarco
Os olhos de quem amo; feiticeiros,
Descrevem sobre mim colorido arco.

Viemos de outras terras, de outro mar
E somos navegantes do infinito,
Amores nós vivemos a buscar

Fazemos da alegria, nosso rito,
Nos barcos tanto vinho, sorte e rum,
Amores? Não achei sequer mais um...

X


Eu quero te beijar tão mansamente,
Aos poucos te fazer, inteira, minha,
Neste carinho manso e tão dolente,
Beijar-te por completo, linha a linha.

Eu quero que tu saibas como é bom
Poder ser encantado por teus toques,
De sinos, aos milhares, ouço o som,
Te peço, minha amada, não provoques...

Mal sabes como estou tão ansioso
De ter o teu prazer bem junto a mim,
Eu quero que te sentir, amor fogoso,
Deitada no meu colo; ser-te, enfim...

Meu beijo que te dou com precisão,
É chama tão imensa de paixão...

X


Não tenha mais receio meu amor...
Qual nuvem esperada num deserto
Promessa de um futuro encantador,
Eu sinto que tu vens, estás bem perto...

Um fruto que se mostra em bela flor,
Um dia que virá divino; é certo;
Estio que trará sol e calor
Acorde inicial, raro concerto...

O mel de teu olhar, alento e paz,
As tréguas esperadas em batalhas.
Pois todo o bem da vida amor me traz

Estou a te esperar, não tenha medo,
Permita que o amor com suas malhas,
Enrede nossas vidas, sem segredo...

X

Nas planícies serenas, tantos montes...
Os olhos desejosos pedem brasa...
Em meio a deslumbrantes, calmas, fontes.
Esfíngica mulher, dolente abrasa...

Desnuda-se esse sol, quer horizontes,
A mansidão demora, tudo arrasa,
Os rios invadindo passam pontes,
Amazônica enchente o leito vaza...

De repente erupções tão indomáveis
Explodem nebulosas, raiam céu...
As almas destruídas, incontáveis...

Depois desta explosão, a calmaria...
Os olhos se reparam lambem mel.
Refaz-se a mansidão, clareia o dia...

X


Paisagem que se mostra soberana
Trazendo uma alegria sempre à mão.
Às vezes nos indica a solução,
Mesmo quando a má sorte desengana.

Fazendo nossa vida mais ufana
Permite que vençamos tentação,
Uma arma contra a negra solidão
Defesa mais profícua e mais humana.

O paraíso em vida prometido
Jamais existirá sem ter a glória
De ter em cada passo percebido

O quanto nos permite esta vanglória
De ter assim, amiga; concebido
Na força da amizade, uma vitória!

X


A noite se promete em bandolins
Em
danças, em chorinho, em festa pura,
A lua se enamora nos jardins
Espalha tanta luz, sua ternura...

Rodando sem parar dançando leves,
A nossa alma nos pés solta, flutua,
Que pena que os momentos sejam breves,
A transparência sob a luz da lua...

Meu pensamento voa e vai ao céu,
Deleita-se contigo e já se deita.
Bebendo desta boca tanto mel,
A lua na janela, quieta, espreita...

E brilha nos seus raios como um sol,
Iluminando o sonho, qual farol...

X

Quem pode livre ser sem ter amigos?
Trazer a vida inteira sossegada.
A sorte muitas vezes é privada
E não vai proteger contra os perigos.

E assim, ao caminhar sem ter abrigos,
A faca que nos corta, demonstrada
Na ponta que virá; bem afiada,
Refazendo os cortes mais antigos.

Jardim que em pleno inverno brota em flores
Cercando
com afeto contra as pragas.
Assim a vida acalma e; leve, passa

Guardada das tempestas, dos horrores.
Amigo verdadeiro; sana a chaga
Futuro com mãos limpas; vem e traça.

X

Amigo, compartilho do teu riso,
Pois vejo na alegria, mantimento,
Um mundo mais sagaz assim diviso
Palavras vão perdidas pelo vento

Mas vivo com certeza, tendo o siso
Que faz em cada frase, julgamento.
O tempo de viver vai sem aviso,
Por isso ser feliz, eu sempre tento.

E louvo em cada passo, todo segundo
Que é feito em fantasia e que se sente.
Nos passos que persigo, da amizade.

Eu posso caminhar por todo o mundo
Em companhia amiga que é excelente
E porta por si só felicidade...

X

Desejo já pedindo que te veja
Batendo na janela do meu quarto.
Além de todo o bem que se deseja
Se faz assim desejo sempre farto.

Não vejo outro caminho que não seja
Aquele que me leva ao mesmo fato
Não falte esta vontade onde sobeja
Imagem resguardada num retrato.

No afeto que nos toca, não se engana,
É feito de carícias com certeza.
Desejos que se mostram deste jeito,

De forma mais audaz e soberana
Na certa se entregando cama e mesa,
No fundo o que desejo? Satisfeito...

X

Ela tinha um furor dos mais soturnos,
Furor original, impertinente...

Cesário Verde


Amor que não descansa em chama intensa
Não deixa sossegar a quem adora.
Por mais que esta batalha o corpo vença
A moça se reforça e quer toda hora.

Colhendo no seu corpo a recompensa
Assim que mal termina já se aflora
Furor que não existe a quem convença
Termina com ardor e revigora.

Comprei uma farmácia, mas salário
Tu sabes tem limites, meu amor.
Além de tudo, sendo sempre e vário

Não tenho quase tempo pro trabalho.
Tu pensas que ele está ao teu dispor,
Desculpe, por favor, um ato falho...

X

Pero Rodrigues, da vossa mulher,
Não acrediteis no mal que vos digam.
Tenho eu a certeza que muito vos quer.
Quem tal não disser quer fazer intriga.
Sabei que outro dia quando eu a fodia,
Enquanto gozava, pelo que dizia,
Muito me mostrava que era vossa amiga

Soares, Martim
(século XII - ?)
Trovador português


Uma mulher perfeita em minha cama
Fazendo peripécias com a língua.
Da sua gruta nascem tantas chamas
Deixando a solidão morrer à mingua...

Porém a chama nasce da umidade
Num fato que bem sei paradoxal.
Derrama tantos gozos na verdade
Em rito tresloucado e sensual.

Fodendo com vigor, não dá descanso,
Depois de ter demais quer de outro jeito.
Seguro meu orgasmo, até me amanso,

Porém o que fazer se não seguro?
Por mais que o gozo venha assim perfeito,
Quem dera se este pau vivesse duro!

X


Não venha me falar em sofrimento
Não
sou botafoguense por acaso.
Encaro com escárnio tal tormento
No fundo me faz rir. Não faço caso.

Amigo; se eu entôo algum lamento
É dor que – se chegou – fora do prazo.
Porradas desta vida? Eu sei, agüento;
Pois vejo vir chegando o meu ocaso

E o tempo me ensinou que sendo assim,
Resisto bravamente à tempestade.
A morte na verdade, vem pra mim

Depois das gargalhadas e sorrisos.
Amores, tive alguns. Muita amizade,
O resto? Na poeira sem avisos...

X

Amigo verdadeiro não se esconde
Nas horas mais difíceis, tempestade.
Não deixa seu amigo perder bonde
E sabe dos caminhos na cidade.

Às vezes eu procuro e não sei onde,
Parece que esta história é falsidade,
Gritando como um louco. Quem responde?
Aonde encontrarei uma amizade?

Porém ao perceber que a solidão
Chegou mais que depressa em minha vida,
Olhando para o Céu, para a amplidão.

Zilhões de estrelas brilham com beleza
Existe alguém que mostra uma saída
Numa amizade plena de certeza...

X

Menino no banheiro
sola um sonho só de gozo
entre a mão e o chuveiro.


Anibal Beça


-Já vou! Grita o menino que já fomos.
A mãe impaciente não descansa.
A foto da modelo, seios, pomos,
A gruta desejada não se alcança.

As mãos tão ocupadas fazem festa
E a mãe vai insistindo lá de fora.
A coxa da morena é só o que resta
Espera mais um pouco. Vou agora...

E nisso, sua prima está chegando,
Com fogo de moleca aborrecente.
De novo recomeça imaginando

Aquilo que se vê, mas não se sente.
- Espere mais um pouco, tô saindo.
( Pois a felicidade já vem vindo )

X

De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.

Adélia Prado.


Adoro quando empinas; desejosa
O rabo mais perfeito que conheço.
É dádiva divina e preciosa
Além do que sonhara. Eu não mereço

A grata maravilha que orgulhosa
Escondes nesta saia. Mas te peço
Resistes e me dizes dolorosa
Esta satisfação onde enlouqueço.

Prometo mil carinhos e salivas,
Depois de muito tempo, cedes rindo.
Tu sabes que este cu deveras lindo

É o sonho que alimento todo dia.
Amada, em tua xota uma alegria
Porém só neste cu, as perspectivas...

X

Adentro tuas selvas e teus mares,
Lasciva, regozijas e sorris.
Nas algas que escorrendo em mil lugares
Aquário que enlouquece e faz feliz.

Romãs encontro duas nos pomares
E o néctar delicado que eu bem quis.
Lúbrica, ao se abrir sob os luares,
Emanas teu perfume, flor de lis.

Penetro e com meus barcos sei do cais,
Das trevas e das furnas maviosas
Deixando como herança o querer mais.

E assim, libido a toda, um marinheiro
Perdido nesta selva encontra as rosas
Das quais se lembrará de cada cheiro...

X


Se um pássaro chegar nesta janela
Querida não se assuste. Traz recado
De quem não conseguiu pegar estrela,
Mandou dizer que está enamorado

Da moça mais bonita e mais singela
Que eu conheci. Assim recado dado,
O passarinho volta e me revela
O que disseste; amor. Pobre coitado,

Meu coração te espera todo dia,
Distância maltratando o bem me quer
Que em seca dolorosa já morria

Saudoso de quem sabe maltratar,
Sorriso de ironia, uma mulher
Por quem eu sofro tanto. Em tanto amar...

X


No começo de tudo,sem saber
Do passado ou futuro, imaginamos.
Há coisas que ficamos sem dizer
Nem mesmo para aquela a quem amamos.

Carinhos que prefiro me esquecer
Caminhos que nem mesmo caminhamos,
Histórias de desejos e prazer,
Tristezas e mentiras que enfrentamos.

Os sonhos que tivemos, sem manhã;
As horas que curtimos solidão,
As febres e os temores; noites vãs.

Prazeres solitários, riso falso.
Há fatos que é melhor dizer-se não
Senão namoro vira cadafalso...

X

Menina, sê ardente,
Mas prudente,
Se sentires calores
Sedutores
Embaixo do teu ventre,
Que não entre
Tua flor de donzela
Uma vela,
Pois logo o castiçal
– Por teu mal –
Lhe iria atrás, matreiro,
Quase inteiro.
Em templo tão estreito,
Vá com jeito
Teu dedo em sua gana,
E a membrana
Só rompa, do hímen teu,
O himeneu

Théophile Gautier



Menina que se faz de pura e santa,
Na hora mais gostosa fecha as pernas,
A sede de te ter; querida, é tanta,
As tuas carnes todas, belas, ternas.

As mãos que se passeiam, bocas idem,
Encontro em tua fenda uma porteira.
Aqueles que não sabem; que duvidem,
Pois sei que ela não dá mesmo bandeira...

Mas sorve, engole tudo e quer de novo,
Atrás já me permite um bom carinho.
Esqueça o que disser o tolo povo,
Não vamos só ficar neste sarrinho.

Menina se faz pura donzela,
A fera em nosso caso: claro que é ela.

X


No nosso amor imenso que sacia
A fome, a sede, o sonho, a poesia
Imerso no desejo que queria
Vivendo realidade e fantasia,

Eu quero te cantar em harmonia
Meu
verso com teu verso em sintonia,
Trazendo para a vida a sinfonia
De amar demais assim, a cada dia...

Amor que não permite a noite fria,
Invade transbordando em melodia
É muito mais que penso que seria
E nunca nos permite uma agonia.

Ao ver teus olhos mansos pressentia
Amor que me transborda em alegria...

X


Eu quero em nosso amor tal sentimento
Que não disperse nunca esta emoção,
Levando minha voz solta no vento
Recebo teu carinho na canção.

Vivendo nosso mundo em poesia
Arcando
com a sorte e com desejos.
Vencido pela força da alegria
Prometo-te milhões, zilhões de beijos.

Amor que se envereda pelos sonhos
Em formas mais divinas e gostosas,
Matando os pesadelos mais medonhos
Trazendo esse jardim que é pleno em rosas...

Minha alma te procura e já flutua
No encontro deste sol com alva lua...

X

Amor que é sempre mola propulsora
Daquele que quiser viver contente,
Uma força motriz e geradora
De um ente toda essência, simplesmente.

É mais que sentimento, é vida em si,
Amor não se permite despotismo
De toda esta certeza que aprendi
Somente amor destrói tanto egoísmo.

Semente que germina em bela flor,
Perfume que enobrece quem recebe
Mas muito mais o próprio doador,
Embeleza também quem o concebe.

Por isso neste canto enamorado
A força deste amor por nós cantado...

X

Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras.

Natália Correia



Mergulho o membro duro entre estas pernas
Sedentas e molhadas, desejosas.
As carícias diuturnas sempre ternas
Abrindo do jardim as rubras rosas.

Meu vício é penetrar-te com esmero,
E depois quando sôfrego invadir
Misturas de vontade com tempero
Gostoso de provar e repetir...

Arfando como um louco garanhão
Sentindo os pelos ralos sobre mim,
Aos poucos no calor deste vulcão
Não quero que este sonho tenha fim.

Se o dia se faz macho, noite é fêmea
Viver sem ter prazer? Pura blasfêmia

X

Um frêmito me abala ao perceber
Teus lábios percorrendo minha pele,
Chegando à bela fonte do prazer
Ao fogo deslumbrante me compele

A língua provocante toca a glande
E quem dormia agora, se levanta.
Sorvendo com perícia, fome tanta,
Numa ternura insana, arisca, grande....

E sinto quando aumentas a freqüência
As mãos auxiliando com mais força,
Se a vida já me trouxe penitência

Um lenitivo encontro nesta moça
Que chupa com divina perfeição
Até que a sede mate, em explosão...

X


Meu canto vai chegando para o sul
Buscando uma menina tão bonita.
Correndo todo o mar e o céu azul
Às vezes neste sonho já acredita

Mas teme uma resposta assim contrária
E venha a ser tristonho e sofredor.
Bem sabe como a vida é temerária
Pra quem vive sonhando com amor.

Talvez um dia a sorte benfazeja
Trazendo uma alegria para mim
Mostrando quanto a vida só deseja
O gosto desta boca carmesim

Da prenda mais bonita que conheço.
É sonho. Simples sonho... Eu não mereço!

X

Querida; neste jogo de emoção,
Não quero ser vencido ou vencedor,
Desculpe se tu tens a sensação
De que distante estou, do nosso amor...

Às vezes egoísta, às vezes não
O certo é que te tenho sem temor,
Numa explosão divina da paixão
Eu quero ser de ti, merecedor...

Muitas vezes, sozinho, a noite fria,
Olhando enamorado para ti,
Qual tolo, meu amor, não percebia

Que, aos poucos te afastava sem saber...
Em todos os meus erros, me perdi.
Me dê de novo a chance de viver!

X


Quando a cigana leu o meu destino
Nos búzios, minhas mãos, bola cristal,
Previa que eu teria o desatino
De ser botafoguense e no final,

Um sonho mavioso descortino
De ter juntado algum bom capital
Para poder deixar de ser menino
Quarando uma saudade no quintal.

Porém ela não viu na astrologia
Que um ariano tendo uma ascendência
Em Gêmeos decerto sofreria

Por ter um coração mais descuidado,
Amar demais passou à penitência
Desde que ela deixou-me aqui, de lado...

X


Num ato solidário em confiança
Compartilhamos
sempre em devoção
Mesmo
que houver diversa opinião
Uma harmonia enfim, sempre se alcança.

A vida que é tão pródiga em mudança
Às vezes contamina o coração
Apenas na amizade a salvação
Que molda com fervor, tanta esperança

De um dia sermos presa deste sonho
Em que se espalha um gesto mais gentil.
Libertando uma alma antes cativa.

Um caminho em conjunto eu te proponho
Na luta contra o mal, cruel e vil
Mantendo esta amizade sempre viva...

X

Galgando essas estrelas, pensamentos...
Vestindo uma quimera: ser feliz.
Cortejo constelar que por momentos,
Etéreos relampejos, teu matiz.

Em ondas, ânsias, medos, sentimentos,
De toda esta amplidão, amor que quis,
Vagueiam tempestades e tormentos.
Minha esperança baila, encena, atriz...

Na neve de teus olhos, ilusão...
No tempo que me resta, brevidade.
Amar talvez; resuma-se em visão,

Desejo já perdido, sem memória.
Querer-te bem além, felicidade,
Um último retrato, minha glória...

X

A tarde se desnuda em tons de rosa
E vai se despedindo, aguarda a lua.
Que ao chegar divina, esplendorosa
Encontrará, na cama exposta e nua

Mulher que se tornou maravilhosa
E que em beijos sedentos já flutua.
Após a tarde bela e radiosa
O meu prazer intenso continua...

Na rua confusão: buzinas, carros,
Na cama, tentação de minas, sarros.
Os pensamentos unem os desejos.

A tarde se desnuda no horizonte,
Delírio vai minando em bela fonte
Mantida sem cessar por doces beijos..

X

Vontade de saber, eu manifesto;
Por onde perceber dias mais belos.
Às vezes não consigo mesmo vê-los.
Eu falo com franqueza, sou honesto.

Tua firmeza molda cada gesto
E nele sinto a força dos novelos.
Que unidos demarcando grumos, pelos,
Não deixam que se perca nem o resto.

Assim quando amizade já nos trança,
Tudo o que me pertence sei que é nosso,
Proveito deste fato; amiga, levo.

Se juntos reforçamos a esperança
Eu passo a crer que enfim, agora eu posso,
E não somente sonho como devo.

X

Meu verso te procura no universo
Em tantas avenidas e planetas,
No sonho mais diverso vou imerso
Retorno ao teu carinho qual cometas

Que sempre voltarão por mais distantes
Que sejam suas órbitas no céu,
Não deixam de viver a cada instante
Saudade do destino, mesmo ao léu.

Seu néctar soberano, meu maná,
Eu vivo desejoso da ambrosia
Que sempre o paladar dominará;
Na tua boca quente em noite fria.

No plenilúnio imenso deste amor,
Em ti vou naufragar, navegador...

X

A vida que por vezes mal nos trata
Quem dera se encontrasse lenitivo
Nos braços de uma amiga tão sensata
Mantendo este caminho sempre vivo.

Uma amizade sempre desbarata
Perigos que se encontram, faz altivo
Um coração do qual; jamais me privo
Pois sei que nele encontro rara prata.

Ao ver com que carinho tu me falas
Das noites que tivemos em conjunto.
Andando do teu lado, passo junto

Os dias mais felizes desta vida.
A solidão fazendo suas malas
Percebe qual a porta de saída...

X


Poder inesgotável da amizade
Ajudando a transpor qualquer obstáculo
Trazendo para a treva a claridade,
Fazendo desta vida um espetáculo
Difícil de esquecer, pois de verdade,
Previsto em fantasia por oráculo

A liberdade assim já se prevê
Com todo forte apoio que me dás.
Um mundo mais bonito em que se vê
Uma esperança toda feita em paz.
Nos olhos de um amigo a sorte
O
canto que se mostra e satisfaz

O sonho de quem sabe que será
Mais forte e que ninguém o calará...

X

Eu não carrego a sombra que já fui
Nem lembro de esperanças lá deixadas.
Os olhos renasceram, vida flui
Nem deixa nos caminhos; mais pegadas.

A noite agora é quente e tão febril
Em beijos e carinhos que se trocam,
Amor que é delicado e assim sutil
Humores e desejos que se tocam.

Versejo sobre chamas que incendeio
E faço tantos versos benfazejos
A lua que reflete no teu seio
Espelha nos meus olhos, os desejos.

Sugando nas aréolas meus prazeres
Fulgores que terás quando quiseres...

X

A solidão é fera e me devora
Não permitindo um passo em destemor.
Trazendo estas angústias que de outrora
Acompanharam sempre imensa dor.

O tempo é vagaroso e se demora
Fazendo o coração ser receptor
Das lágrimas vertidas quando chora
O peito em desalinho, sofredor.

A solidão; tempero de meu karma
Encontra na esperança um maremoto.
Que sabe onde ela oculta medonha arma

E traz por lenitivo uma morena
Que trama em alegria um bem remoto,
Mas que ao fim da tarde já se acena...

X


Com mesma devoção com que cuidais
Daqueles que sofreram atentados
Da sorte que se fez cruel demais
Vivendo nesta vida tristes fados.

Além do que vos digo, costumais
Agir em prol de tais desesperados
Que sentem seus destinos desgraçados
Mas vejo que carinho; sempre dais.

Atando meu caminho em pertinência
Com
atos de vanglória nesta vida,
Agindo mais fiel ao pensamento

Eu sei que embora encontre resistência
Que vós não permitais a recaída
Daquele que também sei sofrimento.

X

Lascívias e loucuras neste ninho
Em penas e cetim, os travesseiros
Na noite sem medida; alvissareiros
Alívio que se faz pleno carinho.

Na mágica alquimia, com cadinho
Misturas em prazeres verdadeiros
Os corpos se compondo em tantos cheiros
Conjuntos que me apontam o caminho

Mais próximo por onde imaginava
Destino que pensara já traçado,
Porém após por Eros ser ferido

Um rumo diferente se apontava
Vivendo com quem quis aqui do lado,
O medo de viver vive escondido...

X


Passando pelos campos, arvoredos
Em alamedas raras de cristal
Na fonte deslumbrante e natural
Encontro uma aridez nestes penedos.

A vida se mostrando em mil segredos
Às vezes inconstante e desigual.
Fazendo da alegria; vir o mal
Na virulência imensa tantos medos...

Os dias se tornando frios, tristes,
Lembranças de outras eras maviosas.
Porém somente o medo, faz refém.

Amiga como é bom saber que existes
E trazes nestas mãos, perfeitas rosas.
Durante a tempestade traz o bem...

X


Sugar e ser
sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar e ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.

Carlos Drummond de Andrade


Ao mesmo tempo sorvo e sou servido
Sorvetes de nós mesmos, vulva e falo.
Num ato em que se mostra resolvido
Na boca que se ocupa mais eu falo.

Prazer de se sentir e ser sentido
Depois com fúria imensa, não me calo.
No espasmo violento eu não duvido
Balança esta roseira treme o talo.

Num jogo onde jamais há vencedor
Apenas um empate mavioso.
Um rio que se esvai mais devagar

Levando a cachoeira a se compor
De um liquido profano e fabuloso.
É recebendo amor que irás me dar...

X


Feliz aniversário é o que eu desejo
A quem sempre se mostra tão amiga.
O melhor dos melhores já prevejo
Pra quem a cada dia nos abriga

Que tudo o que tu queres se consiga
Sem medo de tempesta e relampejo
Que a vida em santa paz sempre prossiga
São estes os meus votos. Neles vejo

Um dia mavioso que virá
Na festa tão gostosa que faremos
Para homenagear quem adoramos.

Eternamente sei que brilhará
Estrela que em ti sempre percebemos
Por isso, então felizes nós estamos.

X

Não sofra, minha amada; eu não parti,
Apenas esperava pela noite
Se sei que tenho amor demais aqui,
Não me permitirei o duro açoite.

Escuto este teu canto agonizante
Trazendo uma ternura tão intensa,
Prometo; meu amor, d'ora em diante
Jamais
te deixarei. És recompensa

Que tive no final deste jornada
Passando por incríveis tempestades,
A vida no teu colo, mais amada,
Nas lágrimas que correm, as verdades

Parecem estampadas no teu rosto,
Perdoe, meu amor, pelo desgosto...

X

Há vezes em que falsos se prometem
Vertentes onde houvesse claridade.
Moldando com suor felicidade
Em outros sentimentos se intrometem.

Quem vive na total obscuridade
Não pode falar sobre os que remetem
Os sonhos em vertentes onde metem
Os dedos os que vivem falsidade.

Falíveis meus caminhos sem acerto
Em áspero desprezo, não me olhais.
Eu tenho inda respaldo que consiga

Verter em um oásis o deserto
Que em troca das verdades sempre dais.
A salvaguarda; encontro em uma amiga...

X

Luz do sol incendeia minha vida
Trazendo uma sereia de além mar.
Minha alma então clareia, decidida
Já sente a lua cheia a me tocar.

Deitando numa areia, convencida
Morena entra na veia e faz brilhar
A mão que assim passeia tem cumprida
A sina que vadeia até sonhar.

Domingo em plenilúnio, cheia a praça
Casais com infortúnio ou riso aberto.
Nas mãos uma petúnia, o corpo enlaça

E a gente se ilumina quando pensa
Da fonte em rara mina há recompensa
Aguando-me elimina este deserto...

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