terça-feira, abril 01, 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 179

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Nas asas deste sonho eu me liberto

E bebo a fantasia do querer,

Aguando em esperanças o deserto

Concebo o que desejo e quero crer.

Decifro os teus sinais, caminho certo

Expresso com ternura o meu prazer

Portal do paraíso encontro aberto

A chave dos segredos; passo a ler.

Mistérios do passado, tuas sendas.

Ao mesmo tempo finges serem lendas

E quando me transtornam; sedução

Tu dizes que acertei em cheio o alvo

Porém eu só me encontro, assim, a salvo

Na massa em que se faz gostoso o pão.

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Na massa em que se faz gostoso o pão
Amassos e macias mãos velozes.
Em aço se fazendo tais algozes,
Adentram toda noite de verão

No quarto já fartando de emoção
Gemidos sussurrantes viram vozes,
Das calças lá se arrancam em caos coses
Fazendo um alvoroço em turbilhão.

Amor quando ouriçado faz fumaça
Parece tempestade sem ter freio.
Dançando em madrugada, plena praça

A mão invade a blusa e quer o seio.
Querida é bom viver, a vida passa,
Depois? Recordação virando esteio...

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Depois; recordação virando esteio

Não tendo quase nada do que fomos

O rio navegando em outro veio

Da fruta que tivemos, nem os gomos.

Guardando nos meus olhos teu retrato

Mentiras que somente o tempo diz.

O nó das ilusões quando eu desato

Prefere me dizer que eu fui feliz.

Saudade, na verdade já falseia

Mudando este cenário noutra vida

Enquanto a lua se mostrava sempre cheia

Toda esperança estava desvalida.

O quanto desvaria o coração

Um médico não mede, em precisão...

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Um médico não mede em precisão
Um
sentimento assim que é meio instável.
Remédio que se dá pro coração
Nem sempre na farmácia é encontrável.

Eu só sei te falar deste baião
Que fala de um sintoma demonstrável
Segundo já dizia Gonzagão
Amor é facilmente detectável.

Se enjoas da boneca e não quer chita
E todo o dia quer ser mais bonita
É fácil descobrir por que, menina.

Porém o tratamento, na verdade,
Sendo coisa da própria mocidade,
Não se encontra jamais na medicina...

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Não se encontra jamais na medicina

Sequer algo que possa traduzir

A chama que decerto se extermina

E ainda vai teimando em nos luzir.

Saudade maltratando em alvoroço

Pedaços do que fomos; coletando.

Se nela tantas vezes me remoço

Castelos dos meus sonhos desabando.

Ainda se mostrando como bóia

Não deixa que o naufrágio se perceba.

Depois de certo tempo é paranóia,

Desta água amarga a vida não mais beba,

Imagem do passado, decomposta,

Hormônios exalados, carne exposta.

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Hormônios exalados, carne exposta
Sangrantes os desejos e os carinhos.
Descubro tuas praias costa a costa
Invado tuas salas, escaninhos.

Arranco a carapaça em cada crosta
Sabores agridoces gins e vinhos
A mesa feita em cama sempre posta
Cabelos e destino em desalinhos.

Cativo deste amor que é redundante
Num círculo de fogo, vicioso.
Enredos que se formam num instante

Aonde a plenitude se completa
Repletos de nós mesmos, dor e gozo
Nos arcos onde somos também seta.

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Nos arcos onde somos também seta

Amor fazendo sempre confusão.

Quem dera se eu pudesse ser poeta

Talvez eu vislumbrasse solução.

Porém amor se torna sonho e meta

Deixando para trás a sensação

Da vida se mostrando mais completa

Embora traduzindo turbilhão.

Eu quero ser teu cais e teu saveiro

Vivendo este tormento alvissareiro

Em forças desiguais, somos mutantes.

Ao mesmo tempo enquanto tu não vens

Percebo as maravilhas das miragens

Nas bocas que encontrando; tão distantes.

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Nas bocas que encontrando, tão distantes,
salivas são trocadas, sem amor.
Quem dera se pudesse, por instantes
nelas perceber real calor.

Nos corpos misturados, cama e sexo,
apenas o prazer pelo prazer,
acordo, procurando qualquer nexo,
mas nada que permita-me entender.

Apenas tua face em cada rosto
espelhos onde busco mesmo a mim.
Quando em lençóis desejo cede, exposto,
mergulho sem limites, vou ao fim.

Depois da farsa inútil revelada,
desnuda, outra mulher... Não restou nada...

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Desnuda, outra mulher... Não restou nada

Daquela que se foi e quis voltar

Imagem nos meus olhos transtornada

Mentindo à fantasia nega o mar.

O quanto se demonstra disfarçada

Trazendo num momento um novo olhar

A boca que queria ser beijada

Mudando este cenário, faz chorar.

Depois de tanta festa, tempestades

Inundam com certeza o velho rio

Do quanto se mostrou em desvario

O rosto feito em mágoas não conquista

Saudade num momento ainda avista

Diademas estrelares, liberdades...

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Diademas estrelares, liberdades,
Orquestrando meus sonhos, passam breves,
Compotas de emoções, felicidades
Em cânticos noturnos, belos, leves...

Dos olhos de quem amo; claridades,
Palavras de carinho- eu peço- leves
Contigo para sempre – eternidades.
Que as dores nos maltratam como as neves.

Eu te amo, simplesmente e nada mais.
Sou teu parceiro, tenha esta certeza,
A vida se apresenta em tal leveza,

Que mesmo sendo um barco de papel,
Que enfrenta a correnteza até o cais
Iremos, libertários. Asas. Céu...

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Iremos, libertários. Asas. Céu,

Vagando constelares esperanças.

Por mais que a noite venha tão cruel

O quanto se percebem novas danças

Fazendo desse sonho um carrossel

Trazendo nos meus olhos as lembranças

De um tempo mais gostoso, estende em véu

As rotas colidindo em alianças;

O tempo de viver felicidade

Entende ser possível claridade.

E ao fogo deste jogo nos compele.

Assim seguindo a roto da alegria

Seguimos mesmo em simples poesia

Atados: braços, olhos, corpo e pele.

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Atados: braços, olhos, corpo e pele.
Sem limites, vivemos sem fronteiras.
Ao ato de te ter amor compele
Em magas sintonias, feiticeiras.

Querer o teu querer e nisso ver
Um dia mais alegre e mais contente.
Um jeito de se dar e ter prazer,
Domina o sentimento. Já se sente

A brisa da manhã beijando mansa
A boca tão gostosa de quem amo.
Amor ao perceber nos dá fiança.

No rastro de teus passos; sigo, amor.
E à noite toda vez quando eu te chamo
Invade-me, querida, o teu sabor...

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Invade-me, querida, o teu sabor

Rondando a minha boca, inebriante

Vertendo sobre nós perfeito amor

Estende tal tesouro, diamante.

A vida não permite descalabros

Tampouco as ilusões; se são ferozes,

Os dias solitários e macabros

Impedem dos caminhos mansas fozes.

Pecado é não poder seguir em frente

Vivendo sem ter nexo em falso rumo.

O vento da paixão quando envolvente

Expressa o que eu desejo e sempre assumo

Um mundo onde viver traduza calma,

Tocando em emoção penetrando alma...

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Tocando em emoção penetrando alma

Um vento benfazejo, ora promete

A plena calmaria que me acalma

Enquanto esta alegria se repete.

Eu vejo nos teus olhos, meu farol,

E sigo cada passo que tu dás,

Amanhecendo assim um raro sol

Permite que se entenda amor em paz.

Vencendo as intempéries, nada temo,

Nem mesmo se vier tal solidão.

Da barca dos meus dias, forte remo

Toando com firmeza e sedução

Sabendo deste rumo claro e certo,

Nas asas deste sonho eu me liberto.