CANTOS DO MEU SERTÃO
Cumpade, peço procê
Fazer um grande favô
Presse grande amigo seu
Que dende que ele nasceu
Tem proce grande amizade
Te peço pru caridade
Ouça bem que vô contá
Um segredo que carrego
Dende os tempo de moleque
Se outro falar , arrenego
Nem que para isso eu peque
Num posso nem confirmá
É coisa muito medonha
Que nem pena nem mais sonha
Quem me conheceu menino
Correndo num desatino
Pras banda desse sertão
Pro meio daquelas roça
Deitando nessas palhoça
Batendo, levando coça
Cumo menino levado,
Que um dia, destrambeiado
A vida tão maltratô
Que proibiu os amô
Presse meu peito coitado
Que bate ressabiado
Precisa ser consolado
Mas num tem quem o console
Bebendo de gole em gole
A vida desperançada
Nessa forma mais marcada
Que muito me maltratou
Que tanto me machucou
É por isso que eu te peço
Te imploro mais, por favor
Ajude esse pobre coitado
Nesse mundo abandonado
Criado sem ter paradô.
Se lembra nos tempo antigo
Todo mês que eu já sumia
Pra bem longe que eu partia
Sem pensar nesse perigo
Que hoje, confesso te digo
Vancê vivia assuntando
Toda veiz me preguntando
Por onde que tava andando
Por essas mata bravia
Que que de novo que eu via
E que podia contar.
Mas se lembra bem, cumpade
Que sem ter força ou maldade
Cismava de me mostrar
Cuberto cum a casaca
No calor ou na friage
Trazendo na mão estaca
Falando tanta bobage.
Os braço tava arranhado
Os peito tão machucado
Que num podia na arage
Aparecer pois talvez
Cumo ia exprica proceis
Toda aquela machucagem?
Se lembra, meu caro amigo
Que desde que estou contigo
Nunca dei de namorar
Memo as moça das mais feia
Dessas moça que vadeia
Que nem bicho nas candeia
Pra mode podê posá
Numa casa das de teia
Pegando bem nessas teia
Um inseto pra casá!
Nunca tive esse desejo
De puder dar só um beijo
Nem tampoco pude amá!
Mas nesses dia passado
Um caso desesperado
Desses bem mais trapaiado
Que novéra de contá
Se num fosse o assucedido
Coisa de me arrepiá!
Apois bem, que eu conheci
Nas mata de Mirai
Uma moça bem bonita
Com dois laço dos de fita
Com os óio que tanto agita
Sartando que nem cabrita
Pulo meu peito sofrente
Trazendo nas mão, na frente
As rosa que mais perfuma
Das cô das mais melindrosa
Na mão dereita ia uma
Nesquerda um buquê de rosa...
Apois então meu cumpade,
De tudo que mais percizo
Um restinho de juízo
Ainda tinha bem comigo
Eu sabia do perigo
A pobre moça é que não,
Onte foi lua das cheia
Daquelas que alumeia
Todo esse nosso sertão;
Pois então caro cumpade
A moça cismou de ir tarde
No barraco adonde durmo
Cum seu chero me perfumo
Dizia pra mim ovir
Antes num tivesse tido
De desejo possuído,
Do grito sempe contido
Na garganta já calado
Dispois de ter satisfeito
O que achava de dereito,
Cum munta gana e amor
Drumi, sonho cansativo
Acordei mais morto vivo
Do lado o corpo estendido
Sangrando todo partido
Meio de banda de lado
Já meio que devorado,
Olhei bem pras minha mão
O sangue já mei talhado
Espaiado pelo chão.
Então saí de carrera
Abrindo já essa portera
Pedindo por inclemenca
Isso é caso das doença
Percizo, peço o favor
Por caridade e amor
Olhe bem pra esse home
Que sempre foi companhero
Mas na vida, desgraçado
Dende os premero janero,
Já curri o mundo entero
Essa coisa me consome
Me devora e mais me come
Cumpade meu grande amigo
Vê que sina que comigo
Trago esse grande perigo.
Me mata bem mais ligero
Num quero mais essa vida
Perfiro essa despedida
Do lado de quem conheço
De há munto já que eu padeço
Por favo, compade eu peço
Num tenha arrependimento.
Me mata que eu já num guento
Nem suporto mais a sina
Essa que é sina assassina
A sina que me consome
Sina de ser lobisome!
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