sábado, maio 20, 2006

CONFISSÃO


Seu delegado, desculpa
Preciso me confessar
É somente minha a culpa,
Isso não posso negar.
Foi coisa de valentia
Ou bobage das graúda
Só sei que naquele dia
Falando em conta miúda,
Apercebi minha amada
De um jeito mais diferente
Ness’ hora desesperada
Em que tudo, de repente
Se transforma, denda gente
Nesse coração doente
Amante sem ter consolo
Nu meio desses embolo
O gosto amargo do bolo
Servido no meu casório
Estragando todo espólio
Cortando feito sapólio
O triste sabor desse óleo
Que no meio desse embrólio
Faz a gente nem pensar
Nos beijo de amor trocado
Nos sonho mais delirante
Desses dia apaixonado
Que passemo na invernada
Da vida desconsolada
Trazendo sorte e recado
Do tempo mais serenado
Nos óio, nesses semblante
Dessa muié cativante
Que a vida num belo instante
Aportou nesse meu barco
Transformando todo o arco
Desse mundo tão mais parco
Mas, criando novo sonho
Peito deveras tristonho,
Nesse momento feliz
Escapando por um triz
Escreve na vida o giz
Me dá a certa medida
De quanto vale essa vida
Mesmo que seja sofrida,
Mesmo que seja do nada
No cabo da minha enxada
Meus fio sempre criei
Nas noite que transformei
Em momento de fartura
Rolando na cama escura
Brincando com a loucura
Dessa minha fermozura
Que era essa minha muié
Bela da cabeça aos pé
Cheia de tanta doçura
Num beijo que mais atura
Na caçada da percura
Viveno cumo Deus qué.
Apois bem seu delegado
Esse home paxonado
Pelo amor mais disgramado
Pelo desejo safado
Desse corpo delicado
Dessa minha companhera
Por quem essa vida intera
Procurei desde premera
Dende as hora que a partera
Anunciou minha vinda.
Dende bem menino ainda
Sonhava com essa linda
Moça, com quem casei.
A quem munto já amei
A quem tudo dediquei
Nessa sina desmedida
Que cumpro por ser a vida
Minha maior esperança.
Renovada nas criança
Que por a vista alcança
São as gota de orváio
Que num dia de trabáio
Do suó de Deus brotô
Acendendo o fogarero
Que trago no meu bestero
Coração mais sonhadô
Me descurpa seu dotô
Eu assuntar tudo ansim
Eu vou conta pro sinhô
O que que onte passou
Vortava da minha lida
Dura lida nesta roça,
Discurpe, meu peito impoça
Nas lágrima mais doída
Nas marca tão dolorida
Que varejaro a ferida
Aberta no peito meu.
Antes tivesse num vindo
Antes hovera ficado
Bem que já tava sentindo
Um gosto bem amargado
Por isso vortei mais cedo
Antes das hora devida
Mas Deus me deu o segredo
Dessa vida mais bandida
Numa tristeza sem par
Num divia, seu dotô
Pru mode pode encontrá ,
O que num imaginava
Nunca podia sonhá
Cum o que vi na hora
Mais dorida que vivi
Na cama desembestada
Nas coberta revirada
Um corpo deitado, nu
Abraçando minha amada
As marca já derramada
Das lágrima da jornada
Sangrando o peito doente
Sangrei tudo de repente
De repente tudo foi-se
No corte da minha foice
Dos taio já bem taiado
Nos gorpe desesperado
Desferido, por pecado
Por um cabra paxonado
Que agora aqui delegado
Perfere ser degolado
Do que bem ser perdoado
Pelo que pude fazê
Duas morte já carrego
Minha vida já arrenego
Meus óio já tão mais cego
Pruque preferi não vê

O qui num teve mais jeito

Que me sangra nu peito

O qui num posso escondê

Im quarquer dia ou horaro

Im quarquer tempo diverso

Essa dor num assucaro

Rasga meu mundo diverso

Pois eu num pude entender

Que bem que eu preferia

Nunca mais eu ver o dia

Nem saber dessa arrelia

Que matô a fantasia

Que meu deu o disamparo

Pois cum todo meu preparo

Pros troço mais cumplicado

Me dexa desamparado

Eu queria ter cegado

Do que tê visto seu moço

Nu mei de tanto alvoroço

Os braço da minha amada

Tava de riba trocado

Cum dois braço, meu pecado

Desses da vida sangrado

Num tem jeito nem amparo

Tô na vida, disgraçado

Preste atenção, delegado

Me diga se eu to errado

Eta mundo mais avaro

Ao ter visto, arreparado

Percebi que to ferrado

Os braço mais abraçado

Com esses braço entrelaçado

Eram os braço do vigáro!