domingo, maio 21, 2006

MEU SERTÃO - DE OLHOS VERDES E DE ASA BRANCA

Tanta tristreza na terra

Sem chuva no meu sertão

Os bichos solto na serra

Morrendo de insolação

Os home me aprometero

Traze pro nosso rincão

Um cadinho de esperança

Um dias nóis já se cansa

Dessas tanta enganação

De falar pru móde a gente

Votar nus home safado

Que pur engano, serpente

Dexano o povo doente

Sem oiá dispois pru lado

Dispois de nóis ter votado,

A mando dos coroné,

Prometeno prus roçado

Ajuda mode brotar

As semente semeada

Do mío e desse feijão

Nossa gente tá cansada

Já num qué sê inganada;

Já pensei inté parti

Lá pros lado de Sum Paulo

Tenta vê e consegui

Um trabaio mais decente

Que possa faze da gente

Mais que a gente é aqui,

Aqui nóis tudo é sufrido

Nosso povo ta perdido,

Num tem quem ajuda nóis

Meus fío passano fome

No calor a chuva some,

Nem restando a asa branca

Que bateu asa e voou

Lá pra riba da barranca

Nem água o rio restô

Seca matou tudo aqui

Eu já tenho que parti

Pra mode sobrevivê

Vo dexa meu bem querer

Dexá minha pobrezinha

Adeus amor, a Rosinha

Dos óio verde bonito

Esse canto mais aflito

Foi composto pra você

Mas hoje esse sertanejo,

Homem que com muito pejo

Nunca manteve o desejo

De sair do próprio chão

Pois bem sabe e é verdade

Que mesmo na mocidade

“Quem sai da terra natal

Em outros canto não pára”

Fazendo do seu varal

“No último pau de arara”.

Esse homem tão brioso

Vindo do mundo horroroso

De miséria e exploração

Sabe bem que esse seu chão

É a maior das bandeiras

Tem significação

Contra todas bandalheiras

Feitas nesse seu sertão

Com a morte das meninas

Com as vidas severinas

Dessa grande multidão

De brasileiros famintos,

De esperança mais extintos

No sangue pouca tintura

No pele já tão escura

Pelo sol tão ressecado

Quanto mais desesperado

Lutando qual bicho solto

Não adianta o revolto

A luta é pra não morrer

De fome quando criança,

Velhice antes dos trinta,

Miséria no pouco a pouco,

Tentando não ficar louco,

Pedindo a Deus o perdão,

Pelo seu grande pecado

Que foi ser depositado,

No meio desse sertão

Do amor despreparado

Que gera sempre um bocado

A mais do que permitido

Perdão pedindo ao Senhor

Só pru mode ter nascido!

Mas eis que uma coisa vem

Notícias da capital,

Parece que tem alguém

Filho das mesmas paragem

Pernambucano da terra

Severino como a gente

Como Luiz batizado,

Um nordestino arretado,

Cabra de muito valor.

Foi eleito presidente

O maior representante

Do nosso povo carente

Que sonhou com esse instante

E ele não decepcionou

Agora, mesmo na seca,

Essa fome não assusta

Como antes ela assustou

As coisas tão melhorando

Já ta, no povo deixando

Essa nova sensação.

De já não ter tanta fome

Dando pro povo o que come,

Os homens e não os bichos,

Viver já dá, sem caprichos

Mas isso é o começo eu sei

Por isso nele votei

E quero ter já de novo

Para o bem do nosso povo

Esse cabra presidente

Pois bem sei que ele já sente

O quanto a gente quer bem

A quem nos trata por gente

Pra quem nós somos alguém;

Pro nosso povo sofrido

Que julgava ter nascido

Por castigo ou por vingança

Esse nosso povo dança

Nos olhos traz esperança

Nem é preciso asa branca

Aparecer na barranca

Nem carregar na sua anca

Nem procurar por partida

No pau de arara, sofrida

Sua lida vai mudando

Conforme Deus espalhando

Pelo sertão mais inteiro

Um belo e doce janeiro

Invernando o coração.

Olhos de sua Rosinha

Espelhando o meu sertão

Do verde dessa esperança

A espalhar na plantação!