sábado, julho 15, 2006

Tucanolândia capítulo 9 - de como não transferir verbas e transferir a culpa


No reinado da Tucanolândia, o sistema de saúde passava por um momento ímpar: com o plano real, um plano econômico muito bem feito pelo Rei Topete primeiro, a inflação estava quase que totalmente zerada.
Mas, o real que estava equivalendo-se, no início, ao dólar, teve uma desvalorização de mais de cinqüenta por cento, sendo que o salário mínimo tinha tido um crescimento parecido. Tudo em Tucanolândia aumentava de preço, menos a tabela do SUS.
Esta estava congelada desde o início do plano real, embora a inflação e os custos de manutenção dos hospitais aumentavam a cada dia.
Joseph Mountain, em uma brilhante jogada de mídia, ao invés de aumentar a remuneração, tanto de médicos quanto dos prestadores de serviço, teve uma brilhante idéia.
Esquivando-se da responsabilidade sobre a piora da situação da saúde pública, imaginou uma jogada genial:
Passou a ranquear os hospitais, conforme pesquisa feita com os pacientes.
Estes, longe da realidade que afligia os hospitais, passaram a ter a percepção de que, quem era responsável pela má qualidade não era o Ministério da Saúde que, na verdade, estrangulava economicamente os prestadores de serviço, mas sim estes, os estrangulados...
Com essa fantástica jogada de Marketing, vimos os profissionais de saúde expostos a uma cruel “realidade”.
Eram eles, e somente eles, os culpados pelos maus serviços prestados.
Em última análise, tivemos uma situação extremamente “confortável” para quem atuava, inclusive este que vos fala, na saúde pública ou credenciada.
A remuneração de uma consulta médica, passou de dois reais e quarenta centavo, num salário mínimo de sessenta e oito reais, para dois reais e quarenta centavos num salário de mais de cem.
Desta forma, extremamente inteligente, Joseph Mountain passou para a população que os médicos e hospitais eram os verdadeiros culpados de faltarem medicamentos, e condições de atendimento.
Essa foi mais uma genial jogada de marketing político de Joseph, idéia que nem os marqueteiros mais geniais poderiam sacar.
Em tempo, os hospitais mais ricos, aqueles que não dependiam do SUS, passaram a ter propaganda gratuita do Ministério da Saúde; já os mais pobres, cuja renda era quase estritamente oriunda do SUS, foram os verdadeiros vilões da má gerência da saúde pública.