domingo, agosto 13, 2006

Sina




Tanto medo sem motivo,
Eu garanto pro senhor,
Que, por mais que esteja vivo,
Nunca mais incomodou,
A gente tem, com certeza,
Um pé atras, posso crer.
Mas, em toda a natureza,
Outro igual nunca vai ter.
Nascido de mãe nervosa,
E de pai desconhecido,
Vivendo a vida tão prosa ,
Tendo esse olhar mais perdido.
De menino, ele assombrava
Quem passasse no caminho,
Nunca que ele descansava,
Mesmo que andasse sozinho.
Criado por tia tonta,
Sem ter noção do pecado,
Qualquer coisa que se apronta,
Nem adivinha o recado.
Sendo feito de garrucha,
A caneta que escrevia,
Se esfregando, usando bucha,
Pele dura, nem ardia.

Sem medo de bala ou faca,
Sem temer Deus nem diabo,
Fincando o chão com estaca,
De vivente, dando cabo.
Foi moleque temerário,
Dono de todo o sertão,
Não precisava honorário,
Nem tampouco gratidão.
A morte feito lazer,
Não precisava pagar,
Não queria nem saber,
Tinha prazer no matar...
Pouca gente duvidava
De toda essa valentia,
Sua fama já se dava,
Pelo sertão, percorria…
Mas, na semana passada,
Um fato então lá se deu,
Nas matas das Embolada,
Onde o capeta nasceu.
Tocaiaram Chico Bento,
Deram três tiros de sobra,
Fora esse envenenamento,
Da mordida duma cobra,
Cascavel que deu o bote,
Mas um cabra sertanejo,
Resistindo até a morte,
Na desgraça dando beijo,
Mas, para azar do destino,
Dessa ele não escapou,
Foi-se embora tal menino,
Que a desgraça carregou;
Por cima das tempestades,
Que a vida madrasta armou,
Esquecendo as crueldades,
Que falam que praticou.
Na verdade era um garoto,
Morte sempre bafejou,
Da sorte só teve arroto,
Inté que um dia, voou…