Trovas a oito mãos
I
Bebi água na torneira,
No riacho me afoguei,
Se já fiz tanta besteira,
É que, menino, fui rei...
Bebi a fresca da fonte
no remanso m'afoguei
para encontrar o amor...
mas como se não conheço?
Bebi tanta água salgada
das lágrimas que chorei
toda a imensidão é nada
deste mar em que afoguei!
Lágima que virou mar
onda que invade ponte
dor que sai a te buscar
esquina sem horizonte.
II
Sei do seio da saudade,
Da saudade, tão profunda,
A lua, por caridade,
De claridade, me inunda...
Na saudade fiz meu ninho
nas suas penas deitei
afundei em seus espinhos
da lua me distanciei.
A saudade é uma noite
Com luar, clarão e dor
Mas é dona do açoite...
Açoite chamado amor.
A saudade é sempre ontem
no alvorecer de hoje
porta afora sonhos partem
lembrança de ti não foge.
III
Beija flor, beijando a boca,
Essa boca que beijei,
Beija flor deixando louca
Tanta boca que amei
Beija-flor não me beijou
na boca que ofertei
acabei ficando louca
por bocas que não beijei!
Beija-flor é traiçoreiro
Trai cantando na alvorada
E prendeu no cativeiro
A boca tão mais beijada!
Beija-flor , pro vagalume:
_"Beijo a rosa , quebro o azul!"
Este, morto de ciúmes
perde o norte, a rosa do sul!
IV
Beijando a boca da noite,
Cavalgando no cometa,
Constelações como açoite,
Montado nessa lambreta...
Beijou-me a boca da noite,
taciturna e sombria
bafejou-me mil açoites
no dorso de longos dias!
Da noite, fugi da boca
O seu beijo eu não quis
Ainda não estou louca...
O que eu quero é ser feliz!
Cai no frio do braço
do rio que canta em seixos
levou pra longe o abraço
do beijo, hoje me queixo.
V
Rosalinda, minha rosa.
Linda rosa, na roseira.
Moça linda, mas tão prosa,
No rosal, és a primeira...
Cravo cheirando a vigor
beija a rosa linda e rosa
viceja as suas cores
mas de amor a rosa morre!
Cravo macho perfumado
meu morango do agreste
Por tanto te ter amado
Vou contigo pro nordeste!
Bem mais nobre a margarida
vestida de camponesa
corola cheia de vida
por todo o lado viceja.
VI
Sou mineiro, de verdade;
Demorei a ver o mar,
Quando vi, me deu saudade,
De quem aprendi a amar...
Sou gaúcha verdadeira
nasci olhando o mar
cá destas serras fagueiras...
de beleza sem igual!
Sulmatogrossense eu sou
nasci bem longe do mar
na planície que moldou
este vasto meu amar!
Fiz de conta não amar
mares de "não me contes"
minas pus-me a chorar
na serra virei pedra e fonte.
VII
Lancei toda minha sorte,
Nas ondas do rio mar,
Mariazinha, por sorte,
Tá aprendendo a nadar...
Lancei as cartas na mesa
pra ver a vida girar.
Girou com tal rapidez
que não consegui jogar!
Sete ondas eu pulei
Para ver se dava sorte
E quase eu encontrei
No azul a minha morte!
Meu barco, casca de noz
na imensidão se perdeu
também me perdi de nós
no norte que Deus me deu
VIII
Alameda d'esperança,
Criança corre, a brincar,
Vivendo em minha lembrança,
Vai brincando, sem parar...
Cheiro do pão e cafe
emanam das emoções
das sangas molhando os pés,
daquelas saias crianças!
Tamarindo tão formoso
emoções da minha infância
guardo seu gosto cheiroso
nos armários da lembrança!
O licor de tamarindo
evaporou-se no céu
da boca tua, pedindo
o torpor de um beijo meu.
IX
Bebo a vida sem ter medo,
Posso `té me embriagar,
Quem quiser saber segredo,
Procure conchas no mar...
Dei a volta no meu rancho
campeando a esperança...
penduraram-na num gancho
que ficou cá na lembrança!
Devorando a Vida eu vou
antes me dovore ela;
Sou melhor do que eu sou
se pintada em aquarela!
A vida eu saboreio
pelas beiras, devagar
não vou direto ao recheio
onde vou te degustar.
X
Poetando poesia,
Vivo sempre a poetar,
Quem poeta todo dia,
Conhece manhas de amar...
Penso que faço poema,
mas acho que é engano
o poema é semente,
a poesia é seu chão!
Já não sei mais escrever
escrever eu nunca soube;
A poesia, pode crer
Em meu peito nunca coube!
Se consumo poesia
bem mais ela me consome
se me atropela de dia
comigo, à noite não dorme.
XI
Vindo de triste partida,
Não pude recomeçar.
Minha sina, nessa vida,
É viver sem te amar.
Por aqui fiz a morada
não me interessa partir,
tão pouco quero voltar,
quero seguir e vou indo...
O que mais amo no mundo
é do amor a sensaçao:
Em bem menos de um segundo
eu encontro outra paixão!
Ente partir e ir embora
coube-be igual partilha
meu abrigo porta afora
fez-me igual, estrada e ilha.
XII
Trevo entre a vida e a morte,
Na curva desta promessa,
Onde a vida teve a sorte,
Onde minha sorte começa.
Entre a vida e morte,
qual a sorte da primeira,
se a outra deita e rola
durante a vida inteira?
Morte e Vida Severina
o poeta não sabia,
Vida é sorte que termina
ou se a morte ali cabia!
Bem me quer o mal da sorte
na pedra onde gravou
aqui jaz minha morte
que minha vida enfeitou
XIII
Foste forte fui tão fraco,
Fracassei sem ter perdão,
Pus, na corrente, meu barco,
Embarquei meu coração!
Entre o forte e o fraco
alojei o equilíbrio
quando abri meus curtos braços
só abracei o vazio!
Forte como o vento eu sou
Em noites de vendaval
Varro tudo que encalhou...
tudo o que me fez mal!
Fui buscar no realejo
um pranto em novo canto
forte fiz-me em teu beijo
morri em teu olhar de quebranto.
Marcos Loures
OlgaMatos
Fátima Cunha
Elane Tomich
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