Meus tempos de criança - de um filé de peixe inesquecível.
Uma vez, quando estávamos em Muriaé, num desses dias de verão insuportáveis, o corpo suando em bicas e ventiladores ligados pela casa afora, num janeiro interminável e intenso, chegou à minha casa, o “seu” Valter, amigo do meu pai.
Trazia uma porção de cascudo, deliciosamente perfumada e com um aspecto agradabilíssimo.
Junto com o peixe, trazia a recomendação do meu pai para que ninguém comesse antes dele chegar, fato que se daria lá pelas cinco ou seis horas da tarde.
Para quem não conhece cascudo é um dos mais saborosos peixes de água doce, quase sem espinhos, tendo um paladar único e macio.
O filé de cascudo é uma das iguarias que mais apreciei e aprecio, sendo de um paladar melhor do que o das trutas e salmões que conheci bem mais tarde.
Estávamos sentados a mesa do almoço, eu, minha mãe, minha irmã e minha prima, Patrícia, hoje renomada odontóloga de Muriaé.
Aquele cheirinho, aquele filezinho olhando para a cara da gente, quem iria resistir? Nem você nem nós.
Com arroz branco, começamos a devorar aquele peixe levemente apimentado com sua carne macia e apetitosa.
Recordo-me de minha irmã, Andréa Cristina, palitando os dentes com aquele espinho diferente, não tão achatado quanto o do cascudo, meio que afilado, detalhe imperceptível diante da maravilha que degustávamos.
Meu pai, ao chegar, percebera que sobraram somente dois pedaços, dos vários que “seu” Valter trouxera.
Para nosso deleite, ao ver o que restara, afirmou que estava meio sem apetite e que comêssemos o restante, sem problema.
Minha irmã ficou com um pedaço e eu com o outro.
Fomos dormir, depois disso, satisfeitos como dois paxás.
Mal amanhecera o dia, o pau quebrou entre meu pai e minha mãe.
Essa, com a voz elevada, reclamava e praguejava a torto e a direito.
Ao se esclarecer a situação, soubemos o motivo de tal ira.
Seu Valter, como bom espírita, não comia carne vermelha e havia dito ao meu pai das delícias da carne de cobra, avisando-o que, assim que matasse uma jararaca, iria pedir para sua esposa para fazer uma porção.
Meu pai, temeroso de que minha mãe jogasse prato com cobra e tudo fora, avisou ao amigo que levasse, mas não se esquecesse de dizer que era cascudo e que solicitasse para que não comêssemos antes de sua chegada, a fim de esclarecer e impedir que a gente degustasse tal iguaria.
Ao chegar em casa e ver que não sobrara quase mais nada da refeição, alegara mal estar e deixou para quem quisesse os últimos nacos do “cascudo”.
Esperara o dia amanhecer para explicar à Dona Osília o que acontecera.
O pior de tudo foi que, algumas semanas depois, “Seu” Valter, sabedor do sucesso feito pela jararaca, resolveu trazer uma posta de sucuri, devidamente rechaçada por minha mãe e pela sua secretária, sob a ameaça da mesma de “pedir demissão e nunca mais trabalhar naquela casa de loucos”.
Trazia uma porção de cascudo, deliciosamente perfumada e com um aspecto agradabilíssimo.
Junto com o peixe, trazia a recomendação do meu pai para que ninguém comesse antes dele chegar, fato que se daria lá pelas cinco ou seis horas da tarde.
Para quem não conhece cascudo é um dos mais saborosos peixes de água doce, quase sem espinhos, tendo um paladar único e macio.
O filé de cascudo é uma das iguarias que mais apreciei e aprecio, sendo de um paladar melhor do que o das trutas e salmões que conheci bem mais tarde.
Estávamos sentados a mesa do almoço, eu, minha mãe, minha irmã e minha prima, Patrícia, hoje renomada odontóloga de Muriaé.
Aquele cheirinho, aquele filezinho olhando para a cara da gente, quem iria resistir? Nem você nem nós.
Com arroz branco, começamos a devorar aquele peixe levemente apimentado com sua carne macia e apetitosa.
Recordo-me de minha irmã, Andréa Cristina, palitando os dentes com aquele espinho diferente, não tão achatado quanto o do cascudo, meio que afilado, detalhe imperceptível diante da maravilha que degustávamos.
Meu pai, ao chegar, percebera que sobraram somente dois pedaços, dos vários que “seu” Valter trouxera.
Para nosso deleite, ao ver o que restara, afirmou que estava meio sem apetite e que comêssemos o restante, sem problema.
Minha irmã ficou com um pedaço e eu com o outro.
Fomos dormir, depois disso, satisfeitos como dois paxás.
Mal amanhecera o dia, o pau quebrou entre meu pai e minha mãe.
Essa, com a voz elevada, reclamava e praguejava a torto e a direito.
Ao se esclarecer a situação, soubemos o motivo de tal ira.
Seu Valter, como bom espírita, não comia carne vermelha e havia dito ao meu pai das delícias da carne de cobra, avisando-o que, assim que matasse uma jararaca, iria pedir para sua esposa para fazer uma porção.
Meu pai, temeroso de que minha mãe jogasse prato com cobra e tudo fora, avisou ao amigo que levasse, mas não se esquecesse de dizer que era cascudo e que solicitasse para que não comêssemos antes de sua chegada, a fim de esclarecer e impedir que a gente degustasse tal iguaria.
Ao chegar em casa e ver que não sobrara quase mais nada da refeição, alegara mal estar e deixou para quem quisesse os últimos nacos do “cascudo”.
Esperara o dia amanhecer para explicar à Dona Osília o que acontecera.
O pior de tudo foi que, algumas semanas depois, “Seu” Valter, sabedor do sucesso feito pela jararaca, resolveu trazer uma posta de sucuri, devidamente rechaçada por minha mãe e pela sua secretária, sob a ameaça da mesma de “pedir demissão e nunca mais trabalhar naquela casa de loucos”.
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