terça-feira, julho 04, 2006

O retorno a casa. longe da pátria que os pariu!

Decepção da Copa, Ronaldinho "festeja" com comida, dança e balada

SÉRGIO RANGEL
Da Folha de S.Paulo, em Barcelona

Um
dia depois da eliminação do Brasil na Copa, o meia Ronaldinho deixou a tristeza de lado. Maior decepção do Mundial, o jogador do Barcelona aproveitou o primeiro dia de férias com muita dança, comida e balada. E só foi dormir após as 5h da madrugada de ontem.

Logo após chegar da Alemanha, Ronaldinho organizou, no final da tarde de domingo, um almoço em sua casa em Castelldefels, cidade vizinha a Barcelona. Ao som de pagode e hip hop, o camisa 10 do Brasil recebeu amigos e parentes nos jardins de sua residência. À noite, seguiu para a boate Sandunguita, onde dançou até amanhecer.

Ronaldinho teve como convidado especial Adriano, da Inter de Milão, que também fracassou na Copa da Alemanha. O atacante acompanhou o meia até o final da balada. "Eles fizeram uma festa grande. Fui dormir depois da meia-noite, e a música ainda estava tocando", disse Carmen Martinez, uma das vizinhas do jogador.

Ela mora em frente à casa do ídolo do Barcelona. Depois da recepção em seu jardim, Ronaldinho foi para a boate com um grupo menor. Além de Adriano, alguns amigos de Porto Alegre.

"Ele mostrou a alegria de sempre. Dançou muita música brasileira, samba, funk, além da salsa", relatou o garçom João Marcelo Filho, um dos brasileiros presentes na boate, especializada em ritmo latinos.


Não se pode crucificar os atletas acima citados, nem qualquer outro que tenha a visão profissional sobre qualquer profissão.

O médico que acaba de ter um insucesso em uma cirurgia, com a morte do paciente não entra, necessariamente em crise.

Muito menos o engenheiro que tenha um prédio assinado por ele que desabe, mesmo que cause centenas de vítimas.

O advogado que perca uma causa, mesmo que o seu defendido seja condenado à pena máxima, não deve, necessariamente entrar em crise de consciência.

O mundo mudou em alguns aspectos, mas no futebol, principalmente no Brasil, ainda temos a visão amadora sobre o esporte. É um jogo, nada mais que um jogo.

Uma Copa do Mundo é um torneio qualquer, com aspectos majoritariamente econômicos. Nada além disso.

Os dois “fenomenais” craques de futebol têm a carreira profissional garantida. Não precisam de mais nada, a não ser de si próprios para a sobrevivência.

Os salários a que fazem jus, são exorbitantes mesmo nos países de primeiro mundo.

A mídia endeusa a cada dia, os feitos fantásticos desses craques do mundo. Não podemos mais ter a idéia de país e nação, a não ser que queiramos falar dos povos “atrasados” como os europeus que, para nossa estranheza, comemoram com glória as vitórias e lamentam, fervorosamente, as derrotas.

Isso se repete, mesmo em selecionados do terceiro mundo, como as comemorações dos países africanos, como Costa do Marfim, mesmo na derrota. Isso ficou exemplar, quando jogadores marfinenses comemoravam a vitória contra Sérvia e Montenegro.

A vontade de vencer estampada nas seleções da Argentina, da Itália, da França, da Alemanha são de orgulhar qualquer amante do desporto e da vida.

Um outro aspecto que percebi foi, ao ver um povo como o inglês e o alemão, sofrendo e a face de desolação de seus atletas. Os sorrisos estampados, a princípio tímidos e depois eufóricos, como vemos acima demonstram que o brasileiro foi enganado.

Terrivelmente enganado por todos, da mídia até os milionários e falsos “fenomenais” que foram passear na Alemanha.

Recordo-me de jogadores afirmando ser extremamente cansativo ficarem num castelo luxuoso, em concentração.

Realmente, deve ser muito cansativo ter que permanecer em um local luxuoso, sendo tratado com o que há de bom e de melhor, sendo bajulados por uma imprensa servil e endeusadora, sob os olhos fascinados de um povo como o nosso, imbecil.

Esse fenômeno foi pura e exclusivamente brasileiro, e isso é o que me irrita.

Não se devem usar desculpas como as de que “são jogadores profissionais e que não estão mais no Brasil”. Isso ocorreu com quase todas as seleções, e não pode ser colocado como fator diferencial.

Outra coisa, tivemos jogadores famosos, ricos, etc e tal, como os ingleses, os espanhóis, os argentinos, lutando fervorosamente e com uma vontade de vencer exemplar.

Nossos “deuses”, acharam melhor o passeio, deslumbrados pelos elogios. Quando, no começo da preparação, o obeso Ronaldo e outros foram vistos “tomando uma dose” nos bares alemães e disseram que o “problema era deles”, imaginava-se que, realmente, o problema era deles.

Agora, ao final de tudo, demonstraram que o “problema foi deles” e , que se danasse quem esperava um pouco de honradez nas atitudes “deles”.

Desculpem-me, mas eu não torço mais para esse time, não merecem.

Sou do tempo em que, Renato Gaúcho, ao ir a uma festa na casa de amigos flamenguistas, numa final de campeonato brasileiro, foi expulso, sob aplausos da torcida, do Botafogo.

Lembro-me do orgulho de Zico de vestir a camisa flamenguista, e de Nilton Santos com o amor eterno ao time botafoguense.

Romário, na última Copa, foi às lágrimas, na tentativa de participar da Copa. Faria mais do que o obeso e o “imperador” fizeram nesta, com quarenta anos!

Portugal, Itália, França e Alemanha. Quatro seleções do mundo civilizado, onde o futebol, com certeza, não é o “ópio do povo”, em nenhum desses lugares, existe uma “pátria de chuteiras”.

Dizer que somos subdesenvolvidos e que o futebol é nossa válvula de escape, é pouco.

A bem da verdade, essa auto-suficiência demonstra a distância entre os nossos “gênios” e a realidade. Filhos de brasileiros pobres, se tornaram profissionais e só, somente isso, profissionais.

Profissionalmente, a partir de agora, a minha indiferença será a mesma com que um sonho de um povo, assim como o sonho do inglês, do argentino, do alemão, foi tratado.

Os jogadores do Barcelona, da Inter de Milão, do Milan, do Real Madrid, entre outros retornarão aos verdadeiros ninhos, onde estarão em casa, bem longe da pátria que os pariu!