Do Gran Circo de Lourdes
No início da década de 90, lá na Santa Martha de João Polino, aconteceu um fato surpreendente.
Para quem morou nas cidades pequenas deste Brasil, sabe o quanto que o circo representava para as crianças, e mesmo para os adultos.
A vinda de um circo movimentava todo mundo, principalmente as crianças, ansiosas para irem ao espetáculo.
E esse que chegaria no final da semana era, sobremaneira, espetacular.
Pois, além de ter os palhaços de sempre e os malabaristas já conhecidos, apresentaria um Leão. Um leão de verdade, para medo dos mais antigos e delírio da meninada.
Ritinha, nos seus dez anos de sonhadora, era uma das mais animadas, mal contando as horas de poder ir assistir ao fabuloso Circo de Lourdes; que era como se chamava o pequeno circo.
Na verdade, um cirquinho de terceira categoria, meio mambembe mesmo, mas para Santa Martha seria o mais formidável show da história do distrito.
Pois bem, todo mundo em polvorosa, indo às ruas para assistir ao desfile dos carros do circo, culminando com a jaula do leão, devidamente coberta por uma lona, mal permitindo se antever a visão da fera domada.
Entre os habitantes do povoado havia um, em especial, que estava muito animado.
Nas pequenas aldeias, há o costume de se apelidar as pessoas relacionado-as às suas profissões, assim como Tatão Bombeiro, Zeca Engraxate, Pedro Bode...
Pedro Bode, esse era um famoso criador de caprinos que vivia da venda de leite e de carne de seus famosos bichinhos, criados soltos na beira do rio Norte, comendo o capim gratuito e atrapalhando a pescaria de muita gente.
Pedro, um dos poucos que dissera ter visto um leão vivo, estava o tempo todo cercado pelos meninos que queriam, a todo custo que esse descrevesse o famoso felino.
No embalo dessa efêmera fama, Pedro desandou a mentir; “que o leão tinha mais de cinco metros de comprimento; que comia mais de um boi inteiro por dia, que o rugido do bicho quebrava as vidraças das casas, etc”.
Mas, a bem da verdade, o pobre bichano que o circo trazia, realmente um dia, se é que se pode dizer assim, deve ter sido um leão; mas, na atual conjuntura, velho e quase banguela, magérrimo, a juba caindo e se transformando em um tufo de pelos, não tinha muita cara de assustador não.
Mas, como quem foi rei, não perde a majestade, o felino ainda tinha uma arma secreta: o rugido.
Quando rugia, mesmo ao espreguiçar, sua voz de tenor assustava meio mundo, menos aqueles que conheciam o jeito moleirão e preguiçoso do velho animal.
Não era à toa que, dentre os números que participava, um dos mais famosos era quando o domador, Luis Pudim, colocava a cabeça dentro da boca do animal.
O Leão, obviamente com medo de quebrar um dos seus últimos dentes, ou vitimado pela cárie teimosa que não deixava de incomodar, temendo a dor que experimentava a cada refeição, não fazia nada.
Outras vezes, Luis, meio que embriagado, motivo do apelido “Pudim de Cachaça”, mais audacioso, chegava a pular em cima do rosto do bichano que, sem nenhuma reação, como que se ria da situação.
Ritinha, dona da sua ingenuidade, ao ver o animal quase desmaiou; tendo que ser socorrida por João Polino, se tranqüilizando somente quando o velho João contou que, pior que aquele leão eram as onças pintadas que costumava caçar, nos seus tempos de moleque.
Caçada com garrucha, de preferência.
O show fora um sucesso, todo mundo comentando sobre o espetáculo, inclusive sob a inédita presença do gigantesco leão.
Como imaginação de criança é fértil e guarda as coisas do tamanho que imagina, até hoje, para Ritinha aquele foi o maior leão que apareceu no país; mesmo tendo outros em circos maiores, e até no zoológico.
Aquele velho desdentado era o maior de todos e não se discuta!
Todo circo que faz sucesso, a tendência é prolongar a “curta temporada”; foi o que ocorreu com o “Fabuloso Circo de Lourdes”.
Acontece que, com o passar dos dias, Pedro Bode começou a sentir falta de alguns cabritos de seu pequeno rebanho; logo os cabritos mais parrudinhos, futuras cabras e bodes “ispiciais”.
Resolveu montar tocaia, desconfiado de alguma sucuri ou de alguma jibóia ou, quem sabe, até de uma onça!
Mas, ao descobrir a causa do sumiço de seus animais, Pedro ficou uma fera, uma verdadeira onça ou melhor, um verdadeiro leão!
Na madrugada, um dos empregados do circo, aquele que fazia o palhaço Pirueta, agarrou um dos seus cabritos e estava levando-o em direção ao circo.
Pedro não perdeu tempo. Ao ver o safado entrar no acampamento da Companhia Circense, gritou para o sujeito, acordando a todos.
Ao tomar satisfação com o dono do circo, Pedro, sem pestanejar, sacou de sua garrucha e ameaçou matar todo mundo.
Luis Pudim, bêbado como um gambá nem pensou, ao ver o ameaçador dono do cabrito com a garrucha na mão, mais que depressa, abriu a jaula, onde se encontrava o leão.
Esse, ao ver o mafuá saiu, mansamente e, para susto de todos, parou perto do petrificado Pedro Bode. Mas, surpreendentemente, começou a lamber, carinhosamente as mãos de Pedro, como a agradecê-lo as refeições recebidas na última semana...
Para quem morou nas cidades pequenas deste Brasil, sabe o quanto que o circo representava para as crianças, e mesmo para os adultos.
A vinda de um circo movimentava todo mundo, principalmente as crianças, ansiosas para irem ao espetáculo.
E esse que chegaria no final da semana era, sobremaneira, espetacular.
Pois, além de ter os palhaços de sempre e os malabaristas já conhecidos, apresentaria um Leão. Um leão de verdade, para medo dos mais antigos e delírio da meninada.
Ritinha, nos seus dez anos de sonhadora, era uma das mais animadas, mal contando as horas de poder ir assistir ao fabuloso Circo de Lourdes; que era como se chamava o pequeno circo.
Na verdade, um cirquinho de terceira categoria, meio mambembe mesmo, mas para Santa Martha seria o mais formidável show da história do distrito.
Pois bem, todo mundo em polvorosa, indo às ruas para assistir ao desfile dos carros do circo, culminando com a jaula do leão, devidamente coberta por uma lona, mal permitindo se antever a visão da fera domada.
Entre os habitantes do povoado havia um, em especial, que estava muito animado.
Nas pequenas aldeias, há o costume de se apelidar as pessoas relacionado-as às suas profissões, assim como Tatão Bombeiro, Zeca Engraxate, Pedro Bode...
Pedro Bode, esse era um famoso criador de caprinos que vivia da venda de leite e de carne de seus famosos bichinhos, criados soltos na beira do rio Norte, comendo o capim gratuito e atrapalhando a pescaria de muita gente.
Pedro, um dos poucos que dissera ter visto um leão vivo, estava o tempo todo cercado pelos meninos que queriam, a todo custo que esse descrevesse o famoso felino.
No embalo dessa efêmera fama, Pedro desandou a mentir; “que o leão tinha mais de cinco metros de comprimento; que comia mais de um boi inteiro por dia, que o rugido do bicho quebrava as vidraças das casas, etc”.
Mas, a bem da verdade, o pobre bichano que o circo trazia, realmente um dia, se é que se pode dizer assim, deve ter sido um leão; mas, na atual conjuntura, velho e quase banguela, magérrimo, a juba caindo e se transformando em um tufo de pelos, não tinha muita cara de assustador não.
Mas, como quem foi rei, não perde a majestade, o felino ainda tinha uma arma secreta: o rugido.
Quando rugia, mesmo ao espreguiçar, sua voz de tenor assustava meio mundo, menos aqueles que conheciam o jeito moleirão e preguiçoso do velho animal.
Não era à toa que, dentre os números que participava, um dos mais famosos era quando o domador, Luis Pudim, colocava a cabeça dentro da boca do animal.
O Leão, obviamente com medo de quebrar um dos seus últimos dentes, ou vitimado pela cárie teimosa que não deixava de incomodar, temendo a dor que experimentava a cada refeição, não fazia nada.
Outras vezes, Luis, meio que embriagado, motivo do apelido “Pudim de Cachaça”, mais audacioso, chegava a pular em cima do rosto do bichano que, sem nenhuma reação, como que se ria da situação.
Ritinha, dona da sua ingenuidade, ao ver o animal quase desmaiou; tendo que ser socorrida por João Polino, se tranqüilizando somente quando o velho João contou que, pior que aquele leão eram as onças pintadas que costumava caçar, nos seus tempos de moleque.
Caçada com garrucha, de preferência.
O show fora um sucesso, todo mundo comentando sobre o espetáculo, inclusive sob a inédita presença do gigantesco leão.
Como imaginação de criança é fértil e guarda as coisas do tamanho que imagina, até hoje, para Ritinha aquele foi o maior leão que apareceu no país; mesmo tendo outros em circos maiores, e até no zoológico.
Aquele velho desdentado era o maior de todos e não se discuta!
Todo circo que faz sucesso, a tendência é prolongar a “curta temporada”; foi o que ocorreu com o “Fabuloso Circo de Lourdes”.
Acontece que, com o passar dos dias, Pedro Bode começou a sentir falta de alguns cabritos de seu pequeno rebanho; logo os cabritos mais parrudinhos, futuras cabras e bodes “ispiciais”.
Resolveu montar tocaia, desconfiado de alguma sucuri ou de alguma jibóia ou, quem sabe, até de uma onça!
Mas, ao descobrir a causa do sumiço de seus animais, Pedro ficou uma fera, uma verdadeira onça ou melhor, um verdadeiro leão!
Na madrugada, um dos empregados do circo, aquele que fazia o palhaço Pirueta, agarrou um dos seus cabritos e estava levando-o em direção ao circo.
Pedro não perdeu tempo. Ao ver o safado entrar no acampamento da Companhia Circense, gritou para o sujeito, acordando a todos.
Ao tomar satisfação com o dono do circo, Pedro, sem pestanejar, sacou de sua garrucha e ameaçou matar todo mundo.
Luis Pudim, bêbado como um gambá nem pensou, ao ver o ameaçador dono do cabrito com a garrucha na mão, mais que depressa, abriu a jaula, onde se encontrava o leão.
Esse, ao ver o mafuá saiu, mansamente e, para susto de todos, parou perto do petrificado Pedro Bode. Mas, surpreendentemente, começou a lamber, carinhosamente as mãos de Pedro, como a agradecê-lo as refeições recebidas na última semana...
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