terça-feira, setembro 12, 2006

Cordel A minha Sina Capítulo 12 Matinta Perêra

Escapando dessas matas,
Nas terras do Boi Tatá,
E precisando encontrar,
Por terras menos ingratas,
Passei por morros, cascatas,
Por luares e sol forte,
Seguindo o rumo do Norte,
Na busca da solução,
Não via outro jeito não,
Tentar escapar da morte...

Seguindo lá pra Bahia,
Tanta coisa por dizer,
Não queria me perder,
Tanta coisa que eu fazia,
Esperava pelo dia,
Da verdade, libertar..
Nem podia descansar,
Chegar de manhã, de tarde,
Sair sem fazer alarde,
Novas matas chafurdar...

Depois de muito caminho,
Precisando d’acalento,
Dormindo só no relento,
Tive que procurar ninho,
Não me importa estar sozinho,
Noite não tinha luar,
A mata pra se embrenhar,
A vida fica de fora,
Escapei do caipora,
É melhor pra descansar...

No meio da noite escura,
Um passarim lá cantando,
Com o bico se espraiando,
Dizia, tal criatura,
Canto que ninguém atura,
Reparei nessa bestêra,
Por detrás da capoêra,
Procurei nem deu pra ver,
Depois pude perceber,
Era o Matinta Perêra...

Procurei donde chegava,
O canto dessa agourenta,
Escutei mais de quarenta,
A peste nunca parava,
A diacha só cantava,
Trazendo uma maldição,
Corri, diantava não,
A danada arrepetia,
A terrível cantoria...

Já cansado de correr,
Vi que não tinha mais jeito,
Não tenho mais nem direito,
Maleita, peste, vou ter...
E depois d’adoecer,
É torcer pra ficar bom,
O danado desse som,
É coisa pior que praga,
Inté valente se caga,
Não canta num outro tom...

Bem mais tarde se lembrou,
Duma coisa que sabia,
Convidar para outro dia,
O passarim que piou,
Com o qual já s’assustou
Para tomar um café,
Gritou com força e com fé,
O Perêra concordou,
Foi pelas mata, avoou,
Fui devagar pé no pé...

Na madrugada alvorada,
Ouvi tremendo barulho,
Parecia que os entulho
Das mardita alma penada,
Tava a fazer revoada,
Perto donde eu lá dormia,
A noite tava bem fria,
A mata tava sem lua,
Vi uma mocinha nua,
Me chamando, essa vadia...

Eu pensei ser o Perêra,
Que chegava pro repasto,
Olhei de banda, de fasto,
Valeu essa noite intêra,
Já pensei nas bandaiera,
A moça era bem bonita,
Tinha jeito de cabrita,
No cio, a bichinha tava,
Então me refastelava,
Eta mocinha catita...

Dei meu braços pra safada,
Agarrei nessa cintura,
Com tamanha formosura,
Viva a vida a madrugada,
Vou lhe dar uma pernada,
Vou fazer festa de monte,
E bem antes que s’aponte,
O sol na barra do dia,
Vou pegar essa vadia,
Já tá feito meu apronte...

Acontece que a demente,
Agarrou com tanta força,
Que nem parecia moça,
Eu até fiquei descrente,
O sol lá no seu nascente,
Apontava sua cara,
A moça ria da tara,
Chegava, então, gargalhar,
Num mexia do lugar,
Todo mordida se sara...

Nesse embrolho de dar dó,
A moça deu um chupão,
Acelera o coração,
Quase que virei foi pó,
Na garganta deu um nó...
Nesse momento, a portera,
Aberta na ribanceira,
Eu vi um redemoinho,
Pensei não tou mais sozinho,
Deve ser a tal Perêra...

Quando vi tal reboliço,
A garganta já mordida,
Minha vida tá perdida,
Já tô no mei desse enguiço,
Espetando como ouriço,
A moça largou as mão,
Assim, mei de supetão,
As mão da moça era garra,
Escapuliu dessa farra,
Me largou, depressa então...

Reparei, nesse momento,
A coisa de se estranhar,
Logo depois de largar,
Bem no meio desse vento,
Arreparei tomei tento,
Eu vou contar pra você,
Pode inté te surprendê,
Um perneta bem risonho,
Como que fosse dum sonho,
O tar saci pererê!

Me contou que já sabia,
Dos caminho meu nas trilha,
E sabendo da armadilha,
Veio depressa, de dia,
Me tirar dessa arrelia,
Me livrar dessa estribeira,
Arrancando de primera,
Das mão desse Satanás,
A sorte é que veio atrás,
Ele, Matinta Perêra!


Virgulino, meu cumpade,
Sabendo dessas encrenca,
Tando com vida da avenca,
Vivendo lá c’a cumade,
Pensou na realidade,
Da vida do seu amigo,
E pediu preu vir contigo,
Prá te sarvá da peleja,
Ah! E que ele te deseja,
Munta sorte nos perigo...

Partindo sem mais dizê,
Sumiu numa ventania,
Me deixou na manhã fria,
Varejou sem perceber,
Nas mata do bem querer,
Foi correndo, foi na fé,
Não dexou nem seu chulé,
Na perna que lhe restava,
Adepois que eu reparava...
Nem tomou o seu café!!!!!