sábado, dezembro 02, 2006

A noite me trará teu canto numa prece
Que me revelará um profundo amargor;
Pois quem sempre mentiu não me trará amor.
Mas mesmo assim, querida, a vida te agradece.

Nas vezes que busquei no céu, no firmamento,
Teu riso se mostrava um rio venenoso
Por onde destilava um ar tão vaporoso
Que sempre me matara a cada vão tormento...

A noite ouve meu canto, um canto de partida,
Que traz o sentimento esparso e violento
Da vida que caminha um rumo manso e lento
E perecendo um pouco a cada dor sofrida.

Embora não deseje, eu sinto que vou tarde,
O gosto da saudade, o cheiro deste incenso,
O mar sem claridade, o meu amor imenso...
A vida me maltrata e corta fundo, me arde.

Bem sei do meu destino, aqui estão as chaves.
Depois de tanta treva aguardo, enfim, a luz
Que sei que não virá, pois nada mais reluz
E nem nestes meus céus, o revôo das aves...

Nas hordas sou falena em busca do luzeiro
Mas nada mais me resta, os olhos tristes nevam...
Aos céus em pouco tempo os braços já me levam
E não ouvirás jamais, meu canto derradeiro...