sexta-feira, dezembro 21, 2007

SONETOS 047

Loucas palpitações são tão febris,
Bebendo gota a gota nossos mares,
No orvalho que poreja sou feliz,
Nas frutas que desfruto em teus pomares.

Os rumos se entrelaçam, se avassalam,
Aos poucos misturamos nossos sumos,
Os sonhos e desejos se acasalam,
E loucos, já perdemos nossos rumos...

Eu quero conhecer-te em cada ponto,
Nas cordilheiras todas, altiplanos,
Nas fossas, nos teus vales, fico tonto,
Não posso cometer mais desenganos...

Derramas avalanches delicadas,
As mãos que acariciam, são de fadas...

X

Eu quero tua seiva, seringueira,
Forjar neste teu mel um novo ser,
Sorver-te inebriado, toda, inteira,
Rejubilar-me sempre em teu prazer.

Irromper as picadas nesta mata
Que me prepara a mina do tesouro,
Deitar-te delicado, uma inexata
Mistura tatuada em nosso couro.

Derramando teu látex com o meu
Em vias de sagrar a redenção,
Que faz nosso destino sem ter breu
E forma a maravilha em tentação...

Alastro minhas ramas, parasito,
Na simbiose eterna do infinito...

X

Na solidão terrível que se abate
Na noite que se passa sem ninguém,
No nó tão complicado, neste engate
Da dor duma saudade, quero alguém.

O telefone ao lado, quando alcanço,
Não traz sequer resposta, ninguém ouve.
Depois deste vazio, já me canso,
Pergunto sem saber, o quê que houve?

Ouvindo a mansa voz do coração
Percebo essa presença tão macia,
Na voz duma amizade, a sensação
Que traz uma certeza de alegria.

Amigo; ao perceber-te, sei que existo,
Tu vives dentro em mim, querido Cristo...

X

Exuberantes formas delicadas
Numa explosão intensa de non sense,
Neste canteiro frágil mãos atadas
Aos poucos me ganhando, me convence...

Num espocar divino de foguetes
Numa ascensão junina de balões,
Os corpos se procuram, são joguetes
Buscando relaxar tantas tensões.

Meu cérebro prevê a apoteose,
Fulgores e fagulhas neste céu.
Prazer que quanto mais se quer que goze,
Mais forte vai cumprindo o seu papel.

Numa excelsa visão, pura beleza,
Eu deixo-me levar na correnteza...

X

Na força redentora da alegria
Botões de rosa expostos na nudez.
Sabendo o quanto amor traz poesia,
Espero ansiosamente a nossa vez.

Minha cabeça errando no seu mundo,
Aguarda uma resposta mais direta.
Eu quero ser feliz e já me inundo
Neste meu sonho, invejo-te poeta...

Quem dera poder ter a tua verve
Cantar assim a quem desejo bem,
Minha alma, na bandeja, amor já serve,
Procuro a noite inteira... Espero... Vem!

Pressinto que ela sabe quanto amor
Existe no meu peito sonhador...

X

Uma sombra exilada do passado
Perambula nos pátios desta casa.
Bravios, os meus medos; ‘stou calado,
O fogo da lembrança inda me abrasa.

O vento na janela me chamando,
Atendo e nada vejo; nada, nada...
Percebo que inda vivo te esperando;
Minha alma permanece ensimesmada.

Mas sinto que, talvez, o vento traga
Perfume desta rosa que murchou,
Do mar de uma esperança sinto a vaga
Que nas falésias frias, já quebrou.

Talvez das penedias, solidão,
Ressurja um novo dia de ilusão...

X

Em nossas tardes febres e rompantes
Nos arvoredos viva primavera,
Da sílfide os desejos transbordantes
Vasculho diamantes. Quem me dera!

Esplendorosamente em cada toque,
Aos poucos vou bebendo desta fonte,
Antes que o céu de lumes já se troque
Teus olhos iluminam horizonte.

Eu quero a formosura tão gentil
Que trazes nos sorrisos envolventes,
Neste roçar divino e tão sutil
Felicidades vivem mais urgentes.

No céu em perolado desta lua,
A sílfide em meu colo bela e nua...

X

Quem sabe, meu amigo, uma atitude
De paz e de carinho e de perdão,
Nos traga a sensação da juventude
Perdida neste imenso turbilhão.

A vida nos devora sem dar chances
Se não nos redimirmos dos pecados,
Talvez adivinhando quais os lances
Possamos percebermos preparados.

Não deixe que esta dor te turve os olhos
E impeça de raiar o novo dia,
Colhendo as alegrias nestes molhos
Que fazem que muito mais que alegoria.

Perceba: ser feliz é mais que ofício,
Pois Ele já nos deu Seu sacrifício...

X

Teu meigo olhar me banha quando embrenho
Pelos desertos áridos da vida.
Não posso te negar que d’onde venho
A marcha era mais dura e dolorida.

Uma visão florida de futuro
Encontro neste olhar que me sacia.
Beleza deste amor sincero e puro,
Deitado em minha cama tão vadia.

Neste contraste imenso, sol e chuva,
As cores se misturam e se tecem,
Delícias deste vinho sangram uva,
Aos poucos ilusões já se fenecem.

Meus olhos se entorpecem neste encanto
Dos olhos onde seco doce pranto...

X

Deixe que o olhar do mundo sempre veja
O brilho de teus olhos, minha amada.
Que a natureza sempre te proteja
Dos ventos e das curvas desta estrada.

Ouvindo esta saudade que não larga
O medo de perder quem tanto amei.
Não deixe que pressinta quão amarga
A noite em que sozinho me encontrei.

Teu colo sempre sirva dum alento
Que busco em cada dor que conhecer,
Não deixe que eu pressinta o sofrimento
Que traz a noite em cada entardecer.

Deixe que todo mundo saiba, enfim,
Do amor que trago, imenso, sem ter fim...

X

Receba esse carinho que te faço
Em cada verso meu, minha querida.
Talvez na madrugada, este cansaço
Da longa caminhada pela vida

Não deixe que tu vejas como és bela,
Nem permita que saibas como é triste
Seguir sem ver que o espelho já revela
Esta mulher tão linda que resiste.

Amada, como é bom falar-te assim!
Durante muito tempo procurei
Esta felicidade que, sem fim,
Nos olhos de quem amo deslumbrei.

Amada, t’a beleza que é tão rara,
Adoça minha vida, quase amara...

X

Quando encontrei desertos em minha alma
Cansado desta longa caminhada,
Nem mesmo uma alegria já me acalma,
A vida se perdendo em cada estrada.

Nas curvas do caminho percebi,
Como é difícil andar sem ter apoio,
Não tive a precisão nem distingui
O trigo tão falado deste joio.

Agora que a velhice se aproxima,
Agora que meus passos são pesados,
Amor e sentir dor, qual mera rima,
Nos versos que deixei, abandonados.

Amar é verdadeira redenção,
Principalmente quando traz perdão...

X

Vestido de Natal quando te vi,
Amigo, numa infância já distante,
Não tinha nem noção de quem ali
Seria aquele aniversariante.

Neguei tua amizade depois disto,
Negando sem saber, o próprio amor;
Ao qual, sem perceber já não resisto,
E faço desta forma meu louvor.

Não vejo-te na cruz, te quero vivo,
Em cada novo dia, um novo amigo.
Não quero mais ser tolo, ser passivo,
Nem permissivo e frágil, nem altivo.

Te peço mil perdões, com humildade,
Em Ti descubro a força da amizade...

X

Não quero os traiçoeiros beijos falsos
Dos mansos viperinos lábios tétricos.
Não quero mergulhar em cadafalsos
Nem
quero mais prever os botes métricos.

Depois de andar sem senso imenso mar
Imerso no universo mais distante.
Vestido de ilusão pretendo amar,
Mesmo neste pretenso delirante.

Sou cálice do vinho da saudade
Sem parte sem ter corte, estou curtido.
Não meço se te peço ou se inda me arde
Devido a tanta dor vou dividido.

Mas quero teu amor. Quem dera inteiro,
Mesmo que seja falso ou verdadeiro...

X

Amigo eu te encontrei pedindo esmola
Nas ruas, nas favelas e nos portos.
Tu eras a criança com a cola
Mostrando teus caminhos, todos mortos...

Tu eras meretriz, pobre menina,
Vendida por centavos, corpo exposto.
Lavavas a tua alma na latrina
Sentias podridão com fino gosto.

Te vi nos miseráveis combalidos,
Vestidos de fantasmas sem futuro.
Os pés já derrubados, distorcidos,
A morte te esperando atrás do muro.

Amigo eu reconheço pela cruz,
Crucificado sempre, vai Jesus...

X

Quando à noite, sozinho na janela,
Cismando, procurando em minha rua,
As pegadas deixadas por aquela
Que deixou a minha alma inteira, nua.

Será que ela percebe quanto eu amo
Os passos, as saudades, as lembranças
Por vezes se, seu nome, inda reclamo,
Parecem me faltar as esperanças.

Mas sei que voltará a ser comigo
O que sempre jamais pude esquecer.
Não tento, nunca quero e nem consigo
Viver sem receber o seu viver.

Procuro essas pegadas todo dia,
Quem sabe me informar? A fantasia?

X

Teus seios palpitando de prazer
Minha alma se embebeda de tua alma.
Cabelos soltos, negros... Posso ter
A sensação divina que me acalma.

Beijando cada curva deste oásis,
Qual fora um beduíno mais sedento;
Embargo minha voz, gaguejo frases;
E sinto em teu carinho, sentimento.

Que noite! Que luar! Que maravilha!
No mar de sofrimento que vivia,
Encontro nessa noite uma santa ilha
Que veio me inundar de poesia...

Perfumes do desejo em tanto ardor,
Nesta sofreguidão, meu grande amor!

X

Um anjo de asas belas me avisou
Que o tempo, sem demora, chegará.
Sabendo do que fora e do que sou,
As asas deste arcanjo vêm de lá.

Na forma feminina e tão gentil,
Beleza sensual, anjo divino.
Sorriso tão suave e pueril,
Nesse anjo meu futuro descortino.

Na menina morena, asas abertas,
O jeito tão sereno de viver.
Amiga; nas tormentas, traz alertas;
Amante, em minha cama, dá prazer.

Velando seu dormir a noite inteira,
Menina angelical, minha parceira!

X

O vento vai batendo no teu rosto,
A brisa balançando teus cabelos,
Sorriso tão bonito, assim exposto,
Eu quero me envolver nestes novelos...

O sol vai bronzeando tua pele,
A praia se inundando de desejo.
O meu olhar no teu... Vai... Se compele...
Maravilhosamente; a deusa, vejo...

Não corras mais de mim, te peço tanto...
Não deixe a solidão voltar pra mim.
Tu sabes o que quero, tanto e quanto,
A boca doce, bela, carmesim...

O vento vai soprando em teus ouvidos,
Invade, calmamente, teus sentidos...

X

Empalideço, tremo quando escuto
Falar nessa mulher que eu amo tanto.
O medo se formando tão astuto
Nunca impede que eu veja seu encanto.

As folhas sussurrando sempre chamam
Por ela que se encontra tão distante.
Meus sonhos, nas lembranças, já se inflamam
E quer seu amor mesmo inconstante.

Nesse beijo partido que carrego,
O gosto inda se encontra em minha boca,
Eu amo, sempre digo e nunca nego,
Pra tanto amor, decerto, a vida é pouca.

Num oceano imenso sou a ilha
Gaivota, se voltar... Que maravilha!

X

Vasculho dentro em mim cada pedaço,
Buscando conhecer os meus defeitos.
Num gráfico instintivo nego o traço
Que mostra meus pecados sempre feitos.

Não digo que me dei sem ter juízo,
Imprecisos, meus dias foram cegos.
Distantes ilusões do paraíso,
Fincaram-me na cruz, meus próprios pregos.

Quem sabe, uma amizade redentora
Mostrada noutra cruz estilizada,
Num peito tão sofrido sempre aflora
A luz que se reverte em alvorada.

Vasculho dentro em mim, enfim prossigo,
E vejo que inda tenho um grande amigo...

X

Rolávamos na noite em frenesi,
Dançávamos felizes nosso jogo.
Tua nudez tão bela distingui
Trazendo tal delírio em tanto fogo...

Trocávamos carinhos mais audazes,
Te percebia inteira, do meu lado.
As bocas canibais sempre vorazes
Dois ases, nestas asas, doce fado.

Desejávamos sonhos tão incríveis;
De tantas emoções, sobreviventes.
Voávamos com asas impossíveis
As bocas se pediam, lábios, dentes...

E víamos o sol perto da lua,
No eclipse deslumbrante, alma flutua...

X

Teu peito no meu peito se tocando,
Teus seios vão roçando, devagar...
Aos poucos num delírio me entregando,
Vontade de te ter e de sonhar...

Encantos que porejam por teus poros,
Num palpitar intenso, o coração.
Amores como plantas, seus esporos,
Invadem tuas matas, teu sertão.

Voando sobre ti, qual andorinhas,
As mãos que já farejam os ninhos,
Percebem cada canto em tantas linhas
E bebem gota a gota, passarinhos...

Lambuzam-se, crianças com sorvete,
E querem sensuais, enfim, sorve-te...

X

Sentindo-te distante de meus braços,
Esbarro na fatal preocupação:
Será que já queres nossos laços
Será que não mereço o teu perdão?

As noites que passamos não importam,
A quem se dedicou como nós dois?
Nos mares que tivemos não aportam
Os barcos que naufragam no depois.

Eu quero te mostrar nestes meus versos
O quanto que podemos ser felizes,
Nos astros que vagamos, universos,
Os erros sei que deixam cicatrizes.

Mas quero-te por certo em cada noite,
Preciso que em teus braços eu me acoite...

X

Não sei se fomos mar ou clara lua,
Não sei se fomos luz só reflexo,
Minha alma na tua alma continua
Neste desenho mágico e complexo.

Fantasmas de nós mesmos, meras sombras?
Se posso em ti me ver, especular,
Se tudo que te faço não te assombras
Não posso nem desejo te mostrar

Além do que em mim vejo, somos um,
Os passos caminhados são distintos,
Caminho p’ro futuro, eu sei, comum,
Passados que tivemos, ‘stão extintos...

E quero-te não mais do que me queres,
Unidos nestes mesmos caracteres...

X

Não deixe que a miséria nos destrua,
A podre sensação de sermos maus,
A verdade se mostra sempre crua
Nesta proximidade com o caos.

Perceba no sorriso da criança
A fonte que trará um novo dia,
Permita com amor uma aliança
Que posso proteger tanta alegria.

Nos una a armadura da amizade,
Poderemos, quem sabe, imaginar
Um mundo que nos traga a claridade,
Na possibilidade de sonhar.

Louvemos nosso Pai mais verdadeiro,
Que vive em cada ser, assim, inteiro.

X

Amo-te como nunca amei na vida,
Da forma mais sensata e mais voraz.
Meus versos se encantaram mais querida
Com tua silhueta bela e audaz.

Sem medo nem da angústia ou solidão,
Agora já caminho bem mais leve.
Felicidade rege o coração
Provoca uma emoção que já se atreve.

Presságios tão benignos me abençoam,
A sorte está lançada e sou feliz.
Os pensamentos tão libertos voam,
Já posso te dizer: tenho o que quis!

Leva contigo essa alma apaixonada,
Sem teus carinhos morro, não sou nada!

X

Eu tecerei meus sonhos nestas tramas
Desta cegueira imensa da paixão.
Qual fora um sentimento em tantas ramas,
Brotando no meu vago coração.

As asas da saudade e do martírio
Batendo em minha porta; mal distingo,
Deitando em tua cama, num delírio,
Das asas doloridas eu me vingo.

E rio, gargalhando de alegria,
Do frio sentimento, nem lembranças...
O dia se promete em fantasia,
Em tantos festivais, em puras danças.

Nas ramas perfumadas pela flor
Percebo, na morena, o meu amor!

X

Quando percebi este contraste
Entre teu sol e minha lua clara,
Eu percebi que sempre me tomaste
Em grandes goles qual bebida rara.

Embriagando qual uma aguardente
Aguardo teus remédios, os carinhos.
O beijo preferido e mais ardente
Aquece nossa cama em novos ninhos.

No mel que transbordaste a cada dia,
O meu desejo intenso se guiou.
O canto mais divino em fantasia
No
bloco da alegria se entregou,

Na alegoria imensa da paixão,
Decoras com coragem, coração...

X

Quanto alvoroço causa nosso amor,
Palavras escolhidas não refletem
Toda a potência enorme deste ardor
Que raras vezes, saiba, se repetem...

Na noite tão imensa desta vida,
Com tal fervor parece-se uma prece,
Oferecendo uma feliz saída,
A quem solenemente já padece...

Meu coração rasgando essa mortalha
Que enegrecia sonhos e desejos.
Trazendo este cavalo de batalha
Na luta por teus mansos, doces beijos...

Que Deus já nos permita a claridade
Que posso traduzir: felicidade!

X

Meu doido coração já se desata
E bate sem sentido nem por que,
Adentra a sensação de densa mata
Que forma todo anseio em que se crê.

Vivendo enternecido pelo brilho
Da lua que invadiu esta alvorada,
Num mar de tanto amor me maravilho
E sigo teu caminho, nossa estrada...

Em alforjes que carrego dentro da alma,
Os víveres mais doces são teus lábios.
Não quero nem sequer o que me acalma,
Não quero nem prudência, nego os sábios.

Um sabiá sabia quanto amar
Valia muito mais do que voar...

X

Ah! Quem contigo vive é mais feliz,
Tu trazes esperança em cada verso,
Ensina que, de amor, um aprendiz,
Recebe tantas bênçãos do universo!

Tu és este meu guia pela vida...
Não deixo me enganar se tenho a ti,
Aprendo que se tenho dividida
A sorte; ganho mais do que perdi.

Aprendo a consolar quem me consola,
Aprendo tanto amar a quem não ama,
Amor não se prepara numa escola,
É fogo que nos queima em viva chama.

Tu és de minha vida, toda a verdade,
Por isso é que me encanto na amizade...

X

Cabelos desmanchados pelo vento,
Sorrisos estampados nesta face,
Vontade de sentir cada momento,
A vida sem sequer qualquer disfarce.

Eu sinto cada toque desejoso
Qual fosse uma explosão imensurável
Depois de tudo vem o gozo
Imensidão de estrelas incontável.

A mão tão delicada vira garra,
Entranha no meu peito, dilacera,
O coração exposto vem, agarra,
Os dentes da princesa são de fera...

Vontade de sentir cada detalhe
Da força que penetra em cada entalhe...

X

Na fantasia intensa do prazer
Que imersa nossa imensa sensação
Nos insensatos sons sabemos ser
Sortidas inserções, intercessão,

Sessões quase diárias, convulsões,
Se temos concessões a nos ceder
Cedemos aos sentidos sem senões,
Sabemos insensato proceder.

Se sim ou sem senso sou servil
E sinto como é vil se assim não fosse,
Não quero me sentir um ser tão vil,
No incenso que acendemos, solto e doce.

Na fantasia acesa deste sonho,
Pressinto procissões de amor risonho...

X

Acendo essa fogueira adormecida
Nas brasas que me queimam sensuais...
Eu quero derreter-me em tua vida
No fogo onde vertemos rituais.

Teu beijo me incendeia totalmente,
Qual fosse uma queimada na floresta,
E vejo nosso amor, tão forte e quente,
Saindo até fumaça pela fresta

Da janela deixada quase aberta,
Na sala, vizinhança até na rua,
Os gritos e o calor servem de alerta,
Deitando-me por sobre a carne nua,

E rimos tão felizes, nesse incêndio,
Selamos outro tomo do compêndio...

X

Beijando-te tão mansa e levemente
Qual brisa te roçando pouco a pouco,
Vontade de sentir tão plenamente,
A mente vai rodando, fico louco...

Eu sinto a suavidade deste vento
Que excita e que anuncia novo jogo.
Em plena fantasia, o sentimento,
Ardente já me abrasa e vira fogo...

Percebo tuas mãos me percorrendo,
Numa velocidade lenta e provocante,
Aos poucos me entregando vou cedendo,
E deixo-me levar no mesmo instante...

Rolamos as cascatas, mesmo rio,
O vento no pescoço... Cadê frio?

X

Na fome que se espalha pela terra
Na violência estúpida, sem nexo.
Em cada uma esperança que se encerra,
Num torpe emaranhado tão complexo.

Na mão dos poderosos que desaba
Esmagando os famintos, flagelados,
Na vida que mal nasce e já se acaba,
Nos sonhos que se morrem, desgraçados.

No parque da miséria exposto a todos,
Nas trevas que insistimos em não ver,
Nos mangues, nas charnecas, podres lodos,
Na fonte tão injusta do poder.

Amor tão verdadeiro é claridade,
Na qualidade imensa da amizade...

X

Segredos dum passado tão distante
Numa acolhida imensa em nossa cama,
Vivendo do que fomos, cada instante
Renova a imensidão de intensa chama.

Nos sacramentos todos deste amor,
As hordas se invadindo sem juízo;
Rasgando esses limites do pudor,
Adentro sem saber teu paraíso.

Neste templo que erguemos a deus Baco,
Com tal sofreguidão nos dedicamos,
Em cada novo toque, o mesmo taco,
Neste tapete verde em que jogamos

Os jogos mais gostosos, dedicados,
Sorrisos enigmáticos decifrados...

X

Eu quero te tocar tão plenamente
Que invada nosso mar de tempestades,
Vibrando como fora tão somente
Um raio sem controle, sem piedades.

Riscando o céu em luzes, energia,
Nos eletrocutando de prazer,
Qual chuva de granizo, em alegria,
Em pleno furacão já me perder.

Na ventania forte que não deixa
Pedra sobre pedra, na loucura,
Fazer-te, delicada, minha gueixa
Banhar teu oceano de ternura.

Sentir uma tontura inominável
Relâmpago de amor, interminável...