sábado, dezembro 22, 2007

SONETOS 069 E 070

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Pablo Neruda


Não preciso do pão, a fome passa,
Não preciso da luz, não temo o escuro.
Nem alegria; circo, rua e praça,
Nem sensação de um ar que seja puro.

Mesmo esperança... tonta e velha farsa,
Eu não temo o chão, frio, pobre e duro.
Trazendo para o sangue esta fumaça
Das fábricas, dos carros... isso; aturo.

Não preciso da boca que me mente,
Não preciso do mar, estrela e lua.
De nada necessito, nem de gente...

Das ruas entupidas, não preciso.
Nem alma quando inútil já flutua.
Mas nunca me retire o teu sorriso...

X

Trouxeste dentro em ti do passado,
Os restos que te pesam tanto, amor.
Resquício do que fora retratado
Em cada gesto teu, seja onde for.

Teu passo a cada dia vai marcado
Tomado muitas vezes sem vigor,
Em cada corte já cicatrizada
Demonstra o teu viver tão sofredor.

Revelas sentimentos contraditos,
Afagas tua cólera insensata
Ocultas pensamentos que, malditos

O teu sorriso quase não disfarça.
A mão que acaricia e não maltrata
Tu mordes, simplesmente e já se esgarça...

X


Não deixes que o rancor te tome inteira
Balança cada frase que eu disse,
E sacudindo assim, toda a poeira
Pensa que isso não passa de crendice

E joga fora pela ribanceira
Os versos que te fiz. Foi criancice
Embora esta palavra sorrateira,
O nosso amor em lágrimas predisse.

Palavras quando feitas em espinhos
Sendo
tempestuosas morrem cedo.
Às vezes se escondendo dos carinhos

Nos armam e nos fazem mais ariscos.
Talvez seja; portanto o meu segredo.
Mas nada que te impeça correr riscos...

X

Palavras, versos, frases, nada falam
Nem sons ou melodias... nada disso;
Mais fortes que o que sinto, nem resvalam.
Nem flores mais sublimes têm tal viço.

Os prados verdejantes... rios, trilhas..
Montanhas, vales, luas, constelares...
Por mais que se demonstrem maravilhas,
Não chegam, meu amor, teus calcanhares...

E como definir tua beleza
Se nada que conheço se equipara.
Estás além de tudo, com certeza,
Numa exclusividade mais que rara...

Falar de perfeição... tenho o direito?
Simplesmente dizer: sim. É perfeito!

X

Que guardas dentro em ti, querida amada?
Um pélago gigante de esperanças?
Noite solitária enluarada?
Mil festas e delírios, bailes, danças?

Uma manhã gelada e orvalhada?
Um poço tão escuro de lembranças?
Uma roseira morta, abandonada?
Um resto da alegria de crianças?

Procuro conhecer-te por inteiro,
Em tal profundidade, já me perco.
Amiga, amada, sonho verdadeiro

Ou quem sabe miragem num deserto.
De todas as opções sempre me cerco.
Difícil conhecer, mesmo de perto....

X

Desculpa se não tenho tal doçura
Nem a brandura sempre requerida
Por quem sonhando sempre com ternura
Encontra tal rudeza em sua vida.

Embora radical com alma pura;
Espero que a palavra proferida
Não trague nos teus olhos amargura.
Perdi minha finesse de saída...

Sou qual um lavrador, mão calejada
Foram tantos espinhos recebidos
Minha alma em sangue e dor foi destilada,

Não tenho a maciez que tu querias.
De tanto que meus pés foram feridos,
Te falo deste amor, sem poesias....

X

Ao acordar percebo-te comigo,
Serpenteando em beijos; minha pele.
Eu tento levantar, mas não consigo,
Num sentimento breve que revele
Desejo que pressinto ser cativo.
Dançando sobre mim, se delicia
Recomeçando tudo. Então, passivo,
Me entrego ao teu querer, que me vicia...
De novo percorremos esta estrada
Que leva-nos ao êxtase do gozo.
A noite continua na alvorada
Num moto,assim, contínuo; prazeroso.
Depois de saciada, me sorris,
Palavras delicadas e gentis...

X

Desta brilhante estrela matinal
Pressinto nosso amor como um corcel
Que, livre, caminhando pelo céu
Traz-nos esta alvorada divinal!

Quem dera viajar por belo astral
Em busca deste belo carrossel
Que trouxe nosso amor num belo véu
De estrelas com doçura virginal.

Não deixe que a manhã tão ciumenta
Encubra tanto brilho. Violenta
Esta aurora te pede: nunca raia!

Porém em minha vida minha amada
A vida já se mostra irradiada
Nos olhos qual fogueira; sol em praia...

X

Nos campos onde espero ter meu fim
Os perfumes silvestres me dominam.
Minhas noites, nas flores se alucinam
E deixam bem distante meu jardim.

Tem rosa, tem crisântemo, jasmim.
Porém os tais perfumes desatinam
Aquelas que, passando, se destinam
Aos campos que inda guardo dentro em mim..

De
todos os desejos que esqueci
Um deles rememoro sempre aqui.
Dos sonhos que perdi, nada restou...

Os olhos perfumados da lembrança
Flor, que sempre floresce na esperança
Que me perfuma a vida, nosso amor...

X

Lateja meu desejo em tua busca,
Levanto este lençol, te vejo nua...
Tua beleza imensa já me ofusca
Ao ver tua nudez, alma flutua...

E tento te tocar, mas temeroso
Afasto-me ficando assim, distante,
Sentindo que no corpo mavioso
Pressinto uma viagem deslumbrante...

Porém o medo toma-me de assalto
E tudo o que sonhara vai por terra...
Meu passo tremulante, quase incauto.
O teu olhar, percebo, enfim descerra..

Sorrindo, me convidas para a cama..
O medo se dissipa... O quarto inflama...

X

Vem, avassaladora e me domina,
Lambendo o meu pescoço, enfia a língua;
Tua loucura imensa me alucina
Sem teu amor,querida, morro à míngua...
As bocas se passeiam na loucura
Que dá um novo rumo ao nosso caso,
Rainha desejada, esta ternura,
Tortura. Deste jeito até me caso..
Desmonto-me contigo, e tu desmaias,
Não solto tuas mãos, calor intenso,
Deságuo meu prazer em tuas praias,
Num caudaloso rio, sol imenso...
De toda essa alegria bebo a fonte,
A vida se refaz neste horizonte...

X

Percebo na chegada de outro dia
Um sopro de esperança de um futuro
Que traga nossa vida em harmonia,
Amenizando o chão, por vezes duro.

Quem dera se pudesse, a poesia,
Trazer a claridade que procuro,
A vida não seria assim tão fria,
O mundo não seria tão escuro.

Fazer de cada ser o teu irmão,
Além de obrigação, uma esperança
De termos bem mais juntos a união

Que tanto foi sonhada por um Deus
Exemplo de que um sonho em aliança
Transforma
em claridade tantos breus..

X

Ao ver teus seios nus o meu desejo
Aumenta pouco a pouco, mil delírios...
Tal avidez me toma quando vejo
Alabastrinos campos, alvos lírios...

Andando pelo quarto, sigo os passos,
Meus olhos vão sedentos o tempo passa.
Sorrindo tão matreira. Estendo os braços,
Mas perco tua imagem na fumaça...

Afago os teus cabelos, num momento,
Percebo que este sonho, uma utopia.
Que não me larga mais o pensamento,
Povoa minha vida em fantasia.

Sentindo já teu hálito, querida,
Tu tomas totalmente a minha vida...

X

Como eu te quero! Tanto, tanto assim...
Nas horas mais benditas, nosso amor...
Trazendo todo encanto para mim
Vibrando em nossa vida com vigor.

Florando minha vida em teu jardim
Num dia mais feliz e sedutor
Guardando esta esperança até o fim
De ser eternamente um sonhador.

Eu quero e te desejo boa sorte,
Não deixe que a distância nos destrua.
Amor que necessita ser mais forte

Que toda tempestade que vier,
Na placidez imensa de uma lua
Teus braços carinhosos de mulher..

X

O mundo que remete ao triste canto,
Roubando a fantasia em que pintara
O nosso sentimento em puro encanto,
Tornando nossa vida mais amara..

Não posso permitir tal desencanto
Enchendo de amarguras a seara
Causando o sofrimento, verte pranto..
Calando uma alegria que sonhara..

Mas sei que te desejo minha amiga,
Renasço em cada sonho que tiveres.
Sem tua mão a sorte já periga

Minha alma se perdendo, quase morta...
Por isso tanta luz quando vieres,
Aberto o coração, a casa, a porta...

X

Percebo a maravilha em mil matizes
Da tarde que adormece no horizonte...
Entrego-me a momentos mais felizes
Da vida, inesgotável e calma fonte.

Esqueço meus temores, cicatrizes,
Aguardo que esta lua já se aponte,
Estrelas roubam cena quais atrizes.
O sol vai desabando trás um monte...

Eu conto as horas todas te esperando,
A noite te trará pós o sol-pôr.
Deste caleidoscópio sinto quando

Tua presença amiga, enfim virá;
Trazendo novo verso a se compor,
E a lua, nos meus braços, dormirá..

X

Amor, este elixir da eternidade
É fonte de uma eterna juventude
Permite que se encontre a mocidade,
Se pleno de amizade e de virtude.
Refaz uma esperança, mata a fera
De garras tão ferozes, afiadas,
Renasce em meu jardim a primavera
Eterna e divinal em mil floradas...
Amor, uma manhã ensolarada,
Nos versos que componho a ti, querida,
Premissa que remoça na alvorada
Que teima se sentir por toda a vida...
Amiga, um sentimento que é tão forte,
Impede quando em vida, que haja morte...

X

Contigo, caminhando pela vida,
Sem medo nem de pedras ou espinhos.
Jamais conceberei a despedida,
Envolto em tuas mãos, em teus carinhos.

Por mais que seja dura a nossa lida,
Por mais que nossos passos tão sozinhos,
Amar é sempre assim, nossa saída,
No canto da amizade nossos ninhos...

Querida não se esqueça que o amor
É mote que nos leva à perfeição.
Expressa com vontade a solução

Vibrando em nossa vida com vigor.
Por isso nosso sonho, liberdade,
Somente será feito na amizade...

X

Amar é com certeza um vício bom,
Que toma nosso corpo em aflição,
Inato, todo amor, por si é dom
Que invade nosso mundo, em sedução.

No gosto desta boca, todo o tom
Perfeito que nos toca o coração,
Dum canto enamorado, chega o som,
Que forma a sinfonia da paixão.

É droga que não tem como escapar,
Num êxtase divino nos comanda.
Do amor eu já nem sei como escapar,

A vida sem amor,perfeito tédio,
O mundo sem querer, todo desanda.
Na doença se encontra o seu remédio....

X

Teus olhos azuis, serenos,
Me lembram de imenso mar,
Neles, conheço os venenos,
Que, tão doces, vão matar...

Eu me afogo no mar dos olhos teus,

Na viva sensação de ser feliz.

Porém todo o temor de um ledo adeus

Turvando lentamente este matiz.

Do azul tão cristalino, negros breus,

Trazendo a minha sorte por um triz.

Teus olhos serão sempre assim tão meus?

E nada nem ninguém vem e prediz.

Doçura dos venenos mais fatais,

A cura e a doença compartilham

As cores dos teus olhos... Nada mais

Traduz o que pressinto mas não quero.

Destinos bem diversos olhos trilham,

O que jamais virá ou o que espero?

X


As nuvens que te viram vão nevadas
Em busca d'outros campos e paragens,
Em meio a tempestades e visagens
Carregam tantas dores nas estradas...

Vago como essas nuvens desgraçadas
Não consigo entender suas viagens
Por ruas e vertentes, tantas margens
E nada me trará mais madrugadas

Que já se foram, nossas companheiras.
As matas e as luas mais brejeiras
Não sabem por que foste embora, amor...

Assim como essas nuvens voltarás
Depois das tempestades estarás
Marcada pelas chuvas, sem calor...

X

Na garganta oprimida pelo medo,
Contida nossa voz por tantos anos,
A força que se esconde no segredo
Que marca todo o povo, em duros danos.

Condena nossa vida ao vil degredo
Erigida com base nos enganos
Matando uma esperança desde cedo,
Roubando dos que sonham tantos planos...

O mártir que no Gólgota morreu
Apenas é lembrado em punição
O
canto que embalava se esqueceu

Temendo dos pastores a vingança.
Calaram se olvidando do perdão
A voz que traduzia-se esperança..
.

X

Qual rocio que molha um duro chão
A luta que se faz no dia a dia,
Vencendo já nos traz fecundação
Do sonho que se fez em poesia.

Plantamos com soberba devoção
Em versos todos plenos de alegria,
Colheita prometida em cada grão,
Sementes que vieram da harmonia...

Molhadas com as lágrimas doridas
Em carnes torturadas no passado,
Sonhando transformar as nossas vidas,

Nos olhos confiantes, lavrador
Que usou sua esperança como arado
Colhendo na aridez o puro amor....

X

Encantam-me teus olhos sedutores
Com jeito de farol por sobre o mar.
Nas pedras, nos atóis, nos estertores
Das ondas que se quebram, preamar...

Meus dias são dos teus adoradores,
Certeza tão gostosa de sonhar.
Nos beijos, nos olhares sedutores
Mergulho e sempre quero naufragar.

Olhar em azulejo rouba o céu,
Em prismas multiplica tons, matizes.
Um arco íris formando um raro anel,

Roubado de teus olhos moça bela,
Curando tanta dor em cicatrizes,
Futuro em girassol, já se revela..

X

Uma estrela caída sem defesa
Esmoler coração exposto e nu.
Nesta imunda expressão, quase princesa,
O mundo se adivinha duro e cru.

A vida anunciada em podres dentes,
Nas roupas velhas, rotas, cariadas...
Um sorriso infantil, as mãos prementes
Das justas emoções, abandonadas.

Uma escultura viva e miserável,
Retrata como a cruz não disse nada.
Mas mesmo nesta foto insuportável,
Justiça há tanto tempo abandonada,

A placidez da estrela e m meigo rosto,
Mostrando ali um Cristo amigo, exposto...

X

Estiveste ao meu lado nesta noite
Sentindo o teu respiro, adormeci,
A proteção divina nos acoite
Na luta que expressamos, por aqui.

Meus veros sentimentos, liberdade,
A voz não se cansou de repetir.
O que esta vida em gestos de amizade
A cada novo tempo vai pedir.

Nos olhos marginais, nossa bandeira,
Nos campos, nas estradas, nas vielas.
Na luta que se faz mais verdadeira,
Em todos os cortiços e favelas.

A luz de um novo tempo vai brilhar
Somente quando a fome se aplacar...

X

Não me peças que eu mude meu pensar
Nem que assim eu cambie cada passo,
Amiga no futuro a te encontrar
Em cada novo dia, novo espaço

Do princípio ao fim sempre irei lutar
Sem medo e sem sequer saber cansaço.
De tudo é necessário despojar
Na breve sensação de cada abraço.

A luta deve ser sim, voluntária
Sem culpas ou prisões que nos detenham,
Por mais que a noite seja temerária,

O sol que brilhará nesta alvorada,
Permita que os desejos sempre venham,
Trazendo uma outra luz já renovada...

X

Falar quanto desejo o teu carinho,
Deitado do teu lado, meu prazer.
Podendo totalmente te fazer
Gozar assim que esteja enfim sozinho

Contigo num recanto, nosso ninho,
Tocando esta nudez que quero ter,
Lambendo, te beijando, até verter
O mel que tanto quero, com jeitinho...

Sentir teus seios belos, minha boca,
Roçar teus pelos junto com meus lábios.
Deitar-te nos meus braços, voz tão rouca,

Gemidos e sussurros, noite inteira,
Nos dedos, olhos, mãos, que são mais sábios
Poder satisfazer-te, companheira...

X

Estamos todos num mesmo barco, em mar tempestuoso, e devemos uns aos outros uma terrível lealdade.
(G.K.Chesterton)

Amiga, nesta luta que travamos
Contra as injustiças desta vida.
Nos elos que felizes, nós criamos,
A solução se mostra na guarida

Que em conjunto sabemos que nos damos,
A voz que não se mostra dividida,
Não se submeterá aos torpes amos
Sabendo que unidade é a saída.

Não deixemos que o vento em tempestade
Nos
cale ou intimide nosso canto,
Devemos entre nós a lealdade

Material que nos une em liberdade,
Tentando transformar em puro encanto
O brado que ecoamos, amizade...

X

E se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam.

Evangelho segundo Lucas
Capítulo 6
Versículo 36.

Ao ver tantas desgraças que acontecem
Percebo quanto o amor foi esquecido.
Bocas que se maldizem sempre tecem
Desculpas para ofensas. Esquecido
O povo que será dono do céu,
Tão maltratado morre em cada esquina.
Usando de artimanhas como um véu,
A mão que é tão voraz, já discrimina.
O triste, meu querido carpinteiro,
É vermos em Teu nome tanta farsa,
Quem tinha que ensinar ao mundo inteiro,
Odiando, simplesmente se disfarça
E grita contra irmãos, discriminando,
No desamor imenso, vão matando...

X


No bimbalhar dos sinos me chamavas
À praça aonde em beijos desfrutávamos
De todo uma emoção sem medo ou travas
E assim, sem perceber quanto sonhávamos

O fogo adolescente, imensas lavas
Nos carinhos intensos que trocávamos
Dizias simplesmente o quanto amavas
E um mundo tão feliz já desfrutávamos...

Não sabia que os anjos, como os sinos,
Sorriam ao voarem sobre a praça.
Ao verem bem nos olhos dos meninos

Um brilho de ilusão e de esperança,
Que quando o tempo corre e a vida passa
Só restará nos cofres da lembrança.

X

Te falo deste amor como um abrigo
Em meio às intempéries desta estrada.
Pois saiba que estarei sempre contigo
Não precisas, amor; temer mais nada.

Um porto de partida e de chegada,
Presságios de um futuro mais amigo,
Da sorte que por nós fez-se aguardada
É tudo o que desejo e que te digo.

Vencendo nossos traumas e degredos,
Amor que nos enfeita e fortalece;
Distante do passado e de seus medos

Na novidade rara da amizade,
Unindo nosso canto em mesma prece,
Louvando o nosso amor em liberdade...

X

Sentir tua presença do meu lado
Em cada novo dia, amanhecer.
O vento que se foi de tão gelado
Contrasta com o sol que vai nascer.

Quem veio do silêncio do passado
Ouvindo o teu sussurro passa a crer
Na vida como um bem iluminado,
E sonha a eternidade sem temer.

As mãos tão delicadas, olhos mansos,
Sorriso que transcende e sempre acalma.
Na placidez serena dos remansos...

Sentir o teu afago, minha amiga,
É como libertar, apurar a alma,
E permitir que um sonho, enfim, prossiga...

X

No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.

RABINDRANATH TAGORE

Quando chegaste, amada, sorrateira,
Mal percebi amor que me trazias.
Uma palavra amiga e tão certeira
Iluminava assim, todos os dias.

Uma esperança amarga e derradeira
Dormitava em meus olhos, fantasia.
Não notei que a palavra verdadeira
Se escondia em sorrisos de alegria.

Perdido, sem olhar por certo em volta,
Deixei de te sentir por tanto tempo...
Agora, tua mão de novo volta

E me acariciando tu sorris.
Após a tempestade em contratempo,
Ao ver brotar tal flor, fico feliz...

X

Amor não cabe em si, nem quer resposta,
Se expandindo noutra alma, se completa.
Amor é divindade pura, exposta,
Que nele se fartando se repleta.
Amor não obedece regra ou lei,
Liberto não conhece escravidão,
Invadindo um plebeu o faz ser rei,
Cativo, já nos dá libertação.
Amar é conceber felicidade.
É dar sem esperar contrapartida.
É conhecer enfim toda a verdade,
É dar sentido pleno à nossa vida.
Fazendo deste amor uma bandeira,
A paz se faz eterna companheira...

X

Quando o amor te acenar, segue-o,
ainda que por caminhos ásperos e íngremes.


E quando suas asas te envolverem,
rende-te a ele,
ainda que a lâmina escondida sob suas asas possa ferir-te.

Khalil Gibran

Por mais que sejam duros os caminhos
Nas íngremes montanhas, no deserto.
Por mais que as rosas tramem seus espinhos
Se o amor chamar, esteja sempre perto.

Nos passos que darás; os fundos cortes
Não sejam empecilhos para a luta.
Os brados de um amor são sempre fortes,
Resistem à tortura e à força bruta.

Se entregue totalmente ao bom do amor,
Pois mesmo que te traga uma ferida,
É nele que se encontra o grão valor
Que torna bem mais útil nossa vida.

Perceba que estas urzes que virão
Se calam com a força do perdão...

X


Em tudo está tua lembrança,
Na chuva e no sol,
Nos passos nas escadas...
Como uma noiva eu cheguei, há muito tempo,
Os seixos nas trilhas,
E as ruas de muitas cidades,
O caminhar em teus belos jardins,
Cada flor e rosa e árvore...

RÚHIYYIH RABBANI


Tua lembrança existe em cada passo
Que dou nesta procura insaciável,
Nas horas mais difíceis, no cansaço;
Em toda plenitude, insuperável

Resides no meu rosto, em cada traço.
Na lua, chuva e sol, quase tocável.
Nas ruas, campos, trilhas, praça e paço.
Em cada sentimento imaginável...

Eu sinto o teu perfume em cada flor.
Nas árvores, seus galhos, na floresta.
Por onde meu caminho simples for.

Na página esquecida que me resta,
Na voz que uma emoção sempre se empresta,
Tua lembrança vive. Eterno amor...

X

Eu perdi o meu coração no empoeirado caminho deste mundo;
Mas tu o tomaste em tuas mãos.

RABINDRANATH TAGORE


Vieste em salvação para estas dores
Que tanto maltrataram meu caminho;
Perfumes se perdendo, deixam flores,
Sobrando tão somente cada espinho.

Meu rumo empoeirado, sem ter cores,
Vagando bar em bar, sempre sozinho.
Na busca de outros portos redentores.
Vazio o coração, perdendo o ninho...

Depois de esfacelado pela vida,
Marcado em tão profundas cicatrizes,
Sem ter nem solução, sem ver saída

Chegaste calmamente e com cuidado;
Mostrando-me outros dias, mais felizes,
Nas mãos, um coração empoeirado...

X

E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo não condiz com a velha.

Evangelho de Lucas
Cap 5 vers 36

Amigo, tantos erros cometidos
Impedem se pensar que a solução
De todos os problemas envolvidos
Seja dada por velha explicação.

Os tempos que se passam, corrompidos
Em bases tão cruéis; escravidão,
Impedem que outros dias construídos
Demonstrem o caminho e direção.

Recomeçar em bases mais saudáveis
Caminhos que nos tragam igualdade.
Criando assim pessoas mais amáveis,

Desigualdades são insuportáveis,
Um novo mundo pleno em liberdade
Na
fonte insuperável da amizade!

X


A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda...

Pablo Neruda

Voltando para casa, tão cansado,
Desta labuta imensa, dia a dia;
O sonho tão distante, inalcançado,
Porém minha alma nunca se esvazia..

No sangue e no suor, sempre banhado,
Uma esperança teima. É fantasia...
Do amor que é tão sublime derramado
Nas lágrimas vibrantes, na alegria...

Embora mal disfarce a decepção
Persisto nesta luta. Se é inglória
Nem por isso dispensa esta paixão

Dos olhos que apascentam, mas não calam.
Minha amiga, nas mãos a nova história
De que estas Escrituras tanto falam...

X

Que fazer deste sonho que não passa,
Persegue cada passo e não se espanta.
A sombra de teu corpo não disfarça,
E na soma diuturna se agiganta.
Parece que minha alma sempre caça
Na fúria desejada, sempre tanta...

Infernos que se fazem paraíso,
Em lendas se ministram meus temores.
O verso mais rotundo e mais preciso,
Se embala nestes círculos de horrores.
Restando tão somente meu sorriso
Que sente, entre os demônios, meus amores...

Arcanjos e diabos sem perdão
Revezam nos domínios da paixão...

X

A flor que um dia renasceu feliz
No peito de quem teve todo o amor
Num átimo se adere em cicatriz
Tomando
todo o corpo, sedutor.
Fazendo deste corpo o que bem quis,
Escravo sem juízo desta flor...

Bebendo cada gole desta história,
Revendo o que passou, passo por passo,
Amar é reviver, guardar memória
Do que já se perdeu em rumo, espaço,
E reverter a dor em fina glória
Na devoção sincera de um abraço...

Assim comigo foi, flor do cerrado,
Meu verso se mostrando extasiado...

X

Não basta-me falar em versos tantos
Do amor que procurei e não me deste.
Diversos nossos mundos, desencantos
Servindo como mantos, minhas vestes.
Soltando meu cantar por outros cantos
Os gritos que soltamos, mais agrestes...

Não quero o que pareça ser verdade
Ou mesmo no que tenho como farsa,
Se temos sentimento em lealdade
A
velha roupa gasta não disfarça
O medo do futuro em liberdade,
Talvez já seja o rumo que se esgarça.

Amar é conviver, disto estou certo,
Matarei minha sede em teu deserto?

X

Quando vou para o pampa levo o sol
Das minas que ficaram para trás,
Olhando para frente, um arrebol
Distante do caminho que perfaz
O sonho de quem fora girassol
Agora noutro mundo busca a paz...

Vencido pelas léguas, no cansaço,
Abertas estas trilhas em torturas,
Caminho mais liberto em cada passo,
Deixando para trás as amarguras.
Fazendo da amizade, novo laço
Banhado no raro ouro das ternuras.

Refino desta forma, canto e brio,
Na esperança de ter eterno estio...

X

No tabaco que fumo; tua imagem
Erguendo-se em fumaça. Sensação
De
ter na solidão, uma miragem
Formando uma fantástica emoção.
Tomar em tuas mãos esta mensagem
Que traça em nosso sonho, a direção...

Percebo que em teus olhos, timidez
Impede que sejamos mais felizes...
Não quero te entornar a sensatez
Nem quero que tu mudes teus matizes,
Nem perca por segundos, lucidez.
E creio, meu amor nisso que dizes:

Que amar é se entregar sem ter defesas.
Seguir, nunca temendo as correntezas...

X

Tenho tantos amigos neste mundo,
Que fazem a delícia do viver,
De tantas amizade já me inundo,
E faço forte o brado, percorrer.
Um canto tão igual, denso e profundo
Que forma a maravilha em bel prazer...

Amigos solitários que nem eu,
Dos sonhos e do sangue derramados,
Do coração ferrenho que ascendeu
Depois de ter os pés acorrentados,
Na luta em quem ganha se perdeu,
Nos olhos mais feridos, lagrimados...

Eu tenho meus irmãos em cada verso
Sementes que plantamos no universo...

X

Eu quero libertar-te em meu amor,
Sem ter sequer amarras que te prendam.
Um sentimento assim, libertador
Permite que t’as luzes já se acendam.

Amar-te com desejo e com vigor,
Sem guerras nem guerreiros que se rendam,
Não sou teu guia e nunca teu mentor,
Apenas dois caminhos que pretendam

Andar em paralelo; vida afora,
Unindo nossas forças se preciso,
Numa emoção tão forte que se aflora

Em cada novo dia, uma esperança
Marcada por carinho e por sorriso,
Libertos em conjunto, a mesma dança..

X

O tempo passa rápido demais,
Nas ruas da cidade, me perdendo....
Na solução diversa em cada cais,
As dívidas e as dores remoendo.
Se vou ou se resisto, tanto faz.
O certo é que sem ti irei morrendo...

A flor que não nasceu, morreu no asfalto,
O gesto empoeirado e sem sentido.
Escapo do ladrão em novo assalto
Se morro, não percebo, distraído...
Recordo o que paguei por ser incauto
Do fim do nosso amor, sempre duvido...

Mas vejo que esta curva recomeça.
Agora não. Amada. Tenho pressa...

X

Tocar o teu cabelo, desnudar-te...
Numa mansa viagem me entregar,
Singrar teu corpo inteiro... qualquer parte...
Estâncias tão gostosas de encontrar,
Nesta certeza sábia de adorar-te
Te conhecendo aos poucos, devagar...

Ir penetrando manso, sem defesas,
Em tuas termas lindas, naturais...
Encharcando-me em tuas correntezas,
Nestas viagens, loucas, sensuais,
Depois de tanta paz, delicadezas,
Veloz, não perder tempo... Quero mais!

Fazer amor contigo a vida inteira,
Perder-me e desfrutar da corredeira...

X


Quando me olhas, querida, sinto assim,
O toque dessas mãos tão carinhosas...
Vertendo todo o amor que tenho em mim,
Perfumas com teus olhos, belas rosas...
Roubando esta beleza de um jardim
De nossas ilusões, maravilhosas...

As tuas mãos tocando cada parte
Do corpo que se entrega sem segredos...
Forjando em nosso amor com total arte
Eu sinto-te roçar tocar meus dedos...
É bom saber que aprendo sempre a amar-te.
Acalma minhas dores e meus medos.

Corpos unidos, ondas, mar areia,
A lua deste amor, p’ra sempre cheia...

X

Montado no meu Pégaso, esperança
Sonhando com teu corpo. Vê se encosta
Que a vida se promete em nova dança.
Amar a quem da gente se desgosta
É sofrimento imenso. A noite avança
E a cabeça no meu peito... vem, recosta...

Assim posso chegar até sonhar
Com céu deveras claro, meu amor.
Bem sei que tanto quis o teu luar,
E há tempos que eu espero, sem calor.
Mas veja como é bom poder amar,
Compartilhar perfume em cada flor.

Quem sabe assim tu saibas como é bom,
Voltarmos a vibrar, tom sobre tom...

X

Derrame teu suor em nossa cama,
Numa ardorosa noite de prazer.
Acende-se por certo nossa chama
Vibrando em cada cena. Passo a crer
No mundo que se mostra em cada trama,
Deliciosamente em ti, viver...

Na renda que cobria esta nudez,
Na seda que se espalha em nosso leito.
Amor que tantas vezes amor fez,
Do jeito mais divino, enfim, perfeito,
Roubando o que restou de lucidez,
Amor para ninguém botar defeito....

Mas feche meu amor, esta cortina,
Que a lua ciumenta, se alucina...

X

O sol que na manhã acende o céu
Ascende meu desejo mais fecundo
De ter toda esperança em alvo véu
Mudar a rota insana deste mundo.

Montando na esperança, bel corcel
Que voa em pensamento, num segundo,
Sabendo que a certeza é feita em fel,
Mas qual abelha em mel cedo me inundo.

Não há razão nem medos e mortalhas
Que façam minha voz, ser abrandada,
Nos olhos carregados de batalhas,

Nas mãos; o puro amor como defesa,
Uma amizade imensa, ensolarada,
Usando da palavra com pureza...

X

Eu nada te ofereço senão isto:
A sensação profana de um prazer
Que existe no meu corpo e não desisto
Enquanto não puder te conhecer

Inteira já desnuda em minha cama,
Fluindo no teu corpo meus anseios,
Acesas as loucuras nossas chamas,
As mãos deliciadas nos teus seios.

O gosto de teus lábios sobre mim,
Até que nossos mares inundados,
Bebendo cada gota até no fim.
Depois quando estivermos mais cansados,

Sorrindo neste arfar delicioso,
Adormecer meu mundo em cada gozo

X

Não quero mais lutar contra o silêncio
Daqueles que se omitem. Mãos lavadas,
Permitem cada cruz que sempre vence-o,
Palavras mal sentidas e deixadas...

Amigo como é dura esta missão
De ser exemplo vivo até na morte
Quem mata por vontade ou omissão,
Entrega o teu destino à própria sorte.

Vieste qual cordeiro em sacrifício,
Mas nada adiantou este teu gesto,
Na base do terrível edifício
Usaram este concreto que era o resto

Do sangue repartido, mundo algoz
Calando ou deturpando a tua voz...

X

Retiro uma esperança do caminho
E sigo sem ter rumo ou ter destino
Nas lavras que me restam só espinho,
No canto que te faço, um desatino.

Ao ver chorar sem trégua um pobrezinho
Nas lágrimas doridas do menino,
A morte sem segredos, ganha o ninho
No corpo tão faminto magro e fino.

Somente uma certeza se denota
Na sombra do cadáver ambulante,
A vista delicada já se embota.

Será que um dia a justa liberdade
Virá de uma verdade repugnante?
Minha esperança faz-se na amizade...

X

Qual pássaro veloz percorro o céu
Levando uma esperança aqui comigo,
As nuvens me cobrindo como um véu
No peito um coração assaz amigo.

Tremulam minhas asas, pesam tanto,
Pois sei quanto é difícil flutuar
Co’o peso deste enorme desencanto
Que forra meu desejo de lutar.

Não temo nem distância nem o vento
Que traz contrapartida a cada sonho.
O mundo que se faz no pensamento
Aquele que no vôo já proponho.

Nos olhos o futuro qual miragem
As asas tão pesadas da viagem ..

X

Vencido pela noite que chegava,
Deitado sobre a cama sem prazeres
Distante dos amores e quereres.
Aquela a quem amara não deixava

Sequer a sua sombra. Não contava
Com os olhos sombrios das mulheres
Que nunca mais teria. Mas se feres
Com a boca em mordida que beijava

Não podes entender que, nesta vida,
Nem sempre aguardarei a despedida.
Pois quem nos dá carinho nos reflete.

Portanto não se esqueça da semente
Que maltratada torna-se serpente,
Mas se bem cultivada já promete...

X

Estarei sempre aqui querida amiga,
Em cada novo tempo que virá,
A sorte de teimosa já periga
Mas sei que novo sol assim virá

Trazendo uma manhã que nos abriga
E o canto que por certo espalhará
A força da ternura tão antiga
Que nem a morte em vida calará.

Não temos outro mote senão vida
Em toda plenitude, companheira,
Por mais que seja dura esta saída,

Por mais que não nos deixem quase nada,
Se temos nossa luta verdadeira,
A vida há de ser nossa camarada...

X

Difícil responder assim, amada,

Eu sei que te desejo; isso me basta.

Futuro renascendo em madrugada

A noite que aproxima e nos afasta.

Só sei que não mais sei de quase nada

Imagem desta deusa pura e casta

Se perde quando a deusa é observada

De perto. O sentimento se desgasta

Com todas as palavras quando usamos

Sem ao menos pensar no que dizemos.

Jamais pensei que fossemos dois amos

E escravos deste sonho mais bonito.

Mas eu devo dizer que nos queremos,

Embora nosso amor, morrendo aflito...

X

Amiga, eu te esperei na lua nova;
Depois de tantas nuvens, não vieste.
Gripei meu coração que não renova
Vestindo esta saudade em velha veste.
A boca que negaste não se prova
Nem mesmo o pobre anel que não me deste.

Amiga, desalinhas nosso prumo
E crias estruturas bem mais fracas.
O parto dos amores perde o rumo,
Carrego nossas dores, velhas macas,
Da seiva prometida seco o sumo,
O peito da amizade sangra estacas...

Tu és o meu remédio, nega cura,
Sem ti como viver sem estrutura?

X

No contrapé dessa saudade insana,
Eu percebi teus passos, titubeias...
Vencer todos os medos, tanta gana,
No final disso tudo, novas teias

Emaranhadas. Fujo pr’a cabana
Onde, meus pobres sonhos, incendeias.
Mas a mim mesmo, a dor no fundo engana,
Percorrendo silente, minhas veias...

Eu mal sei nomear seus artifícios,
Nem quero mais ceder aos seus caprichos.
Saudade não terá meus sacrifícios.

Pois procure encontrar em outros nichos;
Aonde cultivar seus velhos vícios
Prevejo em novo amor, novos indícios....

X

Não quero mais conter esse delírio
Nem quero transformar todo esse pranto
Em serenata louca, sem martírio.
Quero perceber ecos no meu canto;

Eu quero a mansidão brotando em lírio
Na
sedução gentil, onde agiganto,
Tua beleza intensa, meu colírio
Pintando em minha vida seu encanto...

Na dor que sentirei na tua ausência,
O que restou, no fim, da minh’história.
Te peço meu amor, tenhas clemência.

Da vida, foste encanto, foste glória,
Não deixes dominar-me esta demência
Não quero só guardar-te na memória...

X

O teu corpo colado, atado ao meu,
na dança atroz que vai queimando tudo
na claridade, em que muito se perdeu,
já me deixando pasmo, quieto mudo

as mãos macias sabem sonho ateu
nas delícias, em todas, corte agudo
na carne dolorida que nasceu
somente para ser teu corpo e escudo.

quero insensatamente tresloucado
beber no doce cálice da vida
meu rumo torto, pálido, calado

repete em ti meus rumos sem guarida
cometo os mesmos erros do passado
minha alma segue em ti, nave perdida...

X

AH! COMO EU PODERIA TE DIZER
DA SENSAÇÃO CRUEL DESSA SAUDADE
DIZER-TE QUE, SEM TI , MELHOR MORRER!
VOU PROCURAR-TE, SONHO EM LIBERDADE..

JAMAIS EU
SABERIA QUEM HÁ DE
INFORMAR A ESSE LOUCO SEM POR QUE
EM QUE CANTO, EM QUE RUA NA CIDADE
EM QUE MUNDO ELE SOUBE TE PERDER?

AGORA QUE AS PALAVRAS SÃO NEFASTAS.
AGORA QUE MEU MUNDO JÁ PERDI
QUANTO MAIS ME APROXIMO, MAIS T'AFASTAS

MAIS SINTO A ANGÚSTIA MAIS CRUEL, SORRIR.
SE, QUANTO MAIS DE DOR, MEU PEITO, ABASTAS;
SUPLICO, POR FAVOR, O AMOR EM TI

X

Horas passando, sem sentido algum ...
Solidão transformada em sofrimento.
Procuro, nada encontro, sou nenhum...
Fugindo sempre, braços soltos, lento...

Morrendo em cada esquina, sou mais um.
Nada do que já tive, só lamento.
Embriagado, sangue exposto em rum,
Amargo chimarrão, meu sentimento...

Nunca mais poderia planejar
Outro mar, vagabundo coração.
Nem nunca mais iria velejar..

Pelos teus mares , luas e sertão.
Perdido em tuas tramas, sedução...
Buscando, nos teus braços, o meu mar...

X

Renovo minha sorte em teu desejo.
Sou barco que se perde em pleno mar.
No céu que já nos guia em azulejo
Encontro
meus motivos para amar
Teu corpo desterrado pede um beijo,
Nas ondas vou tentar me equilibrar...

Alentos são me dados por teus versos,
Que são tal equilíbrio que conforte.
Te entrego meus sentidos, universos;
Reluto mas por certo estou mais forte.
Antíteses meus sonhos mais diversos,
Deveras me escondendo matam morte...

Teu corpo no meu corpo faz sentir,
Uma velha maneira de existir...

X

Meu canto de esperança esparso ao vento,

Trazendo este bom cheiro de café.

Na força que me invade o sentimento,

Igrejas tão distantes... Amor... Fé....

A voz de uma criança, num momento;

Correndo pela casa, corta o pé.

As mãos da avó contendo o sangramento...

Saudade vem chegando... Longe até

De todos os desejos mais distantes

No rosto da primeira namorada.

Os sonhos do menino, delirantes...

O amor chegara cedo. Turbilhão

Montando a cada dia, uma cilada,

Na força inusitada da paixão!

X


Tu és essa pessoa vitoriosa
Que sempre demonstrou tanta amizade.
Uma mulher assim maravilhosa
Nos traz sem perceber; felicidade.

Espinhos ninguém sabe desta rosa
Que faz da vida brilho e claridade.
A tua voz serena e gloriosa
Em todo coração tocando invade.

Não fazes mal nenhum, somente o bem.
Amiga de verdade, eu tenho o orgulho
Se ter um bom amigo teu, também.

Tua alma transparente é deslumbrante
Não deixas, no caminho, um pedregulho.
Pureza divinal de um diamante!

X

Minha vida vai louca arrastando meu barco
Esperando meu tempo ouvido nas cantigas
Que o tempo mais voraz, me traz, vozes antigas
Que renascem de um chão de nebuloso charco.

Cantar dessa sereia amada onde me embarco
Nessa solidão a esmo, ouvindo t'as intrigas
No final dessa estrada as dores forjam vigas.
A minha solidão descreve-se em teu arco.

Relembro cada passo envolto na tristeza
De te sentir distante e te saber tão perto.
A vida se perdendo envolta em incerteza

Mas
sinto que esse dia aos poucos se acabando,
A chuva que virá findando este deserto.
E depois disso enfim, no amor recomeçando...

X

TANTOS AMARES SÃO TODOS LUGARES
SE NOS MEUS PRÓPRIOS MARES NAVEGAR
BUSCANDO NO MEU CANTO TANTO MAR
TANTO QUANTO, POSSÍVEL FOR AMARES.

TANTO QUANTO SERIAM TEUS LUARES
NOS TEUS MARES, MEUS SONHOS NAUFRAGAR
COMER TODAS AS FRUTAS, TEU POMAR
TANTO QUANTO IMPOSSÍVEL, O SONHARES.

COM PERDIDAS MANHÃS PARA HABITARES
NESTE MUNDO TÃO MÁGICO, MEUS DIAS
VAGANDO LOUCO PROCURANDO PARES

DESCORTINANDO ESPELHOS, FANTASIAS
ROLANDO NOITES, LOUCAS NESSES BARES
ONDE DERRAMAS PASSOS; POESIAS...

X

Tua distância, companheira amada;
Retrata esse disfarce tão usado,
Vou teimando ser tudo, sem ser nada.
O meu canto seguindo, atropelado.

Tua distância amiga, vai calada.
Cortando meu silêncio, abençoado,
Forjando minha crença, nesta estrada
Onde sigo perdido, enamorado.

Mas, no fundo, pós milhas, tantas milhas,
Onde me encontro vago, sem sentido,
Nem no que poderia ser mais brilhas.

O cálice d’amor, está partido.
Amor; irei tentando novas trilhas,
Cansado de viver assim perdido...

X

Preciso deste amor que é tão intenso,
No qual eu mato a sede todo dia,
Às vezes, distraído, logo penso
Na paz que tu me dás, tanta harmonia...
Tu és onde me encontro e recompenso
A vida que se foi sem alegria...

Preciso de teus olhos, meu desejo,
São lumes que me guiam pela vida.
Pois sempre que te encontro já prevejo
A paz tão necessária e concebida.
Tu és o meu destino em que me vejo
Mais forte e decidido. Uma saída.

Floresces nos meus dias sempre mais...
Amada e desejada; santa paz...

X

Na velha chama da paixão me queimo
E trago um sentimento mais sutil.
Às vezes não percebo o quanto teimo
Em verso que pareça mais gentil.

Vivendo reclamando do que faço,
Nao sei se te encontrei ou me perdi
O rumo em que desenho cada traço
Desaba tolamente, assim, em ti.

Uma criança nega seu futuro
O medo te transtorna e contamina
Fazendo da manhã um céu escuro
Destruindo meu fado em tua sina...

Tu tens em tuas mãos a faca e queijo
Somente não me castre em cada beijo...

X

Sussurras tão baixinho em meus ouvidos
Palavras sensuais, desejos tantos...
Entorpecendo assim, os meus sentidos
Com magas fantasias, teus encantos...
Aos poucos nos tomando tais gemidos
A lua retirando nossos mantos.

E numa alucinada sensação
Do vento que nos toca, em arrepio.
Aumenta-se voraz, a tentação,
Na chama nos entorna um pleno estio...
O frio se transforma num vulcão
Teu corpo tão gostoso; tão macio...

A noite nesta entrega vai passando
O paraíso; vejo...vem chegando...

X

O tempo passa e leva-nos com ele.
O amor se modifica a cada dia,
Que a foto que guardamos nos revele
O quanto se perdeu na fantasia...
Os anos enrugando nossa pele,
Não mata o vivo amor em alegria..

As
razões superando tais paixões
Ou solidificando nossos passos.
As velhas e difíceis soluções,
Aos poucos vão perdendo seus espaços.
Recuperar o tempo nas lições
Que ensinam estreitar de vez os laços...

Tomando tuas mãos, velha esperança
Amor se renovando na mudança...

X

(ay, ay, ay)adiós que se va segundo
(ay, ay, ay)en un buque navegando,
(ay, ay, ay)las niñas que lo querían
(ay, ay, ay)casi se han muerto llorando.

Violeta Parra


O tempo foi passando sem perdão,
As lágrimas secando pouco a pouco,
Quem teve nesta vida esta emoção
Sozinho, vai rendido, morre louco.
Amar demais é ver-se em tentação
Melhor
seria ser feliz, tampouco...

Agora que a saudade bate ponto,
A mocidade morre tão distante.
O peito transtornado sem desconto
Vacila e quase escapa, velho amante.
Navega titubeia, segue tonto.
O mundo que já foi mais deslumbrante...

Os olhos embaçados na neblina
Do inverno que ao chegar, tudo domina...

X


Passeando em teu corpo, mar e mel,
Vencendo cada etapa da conquista,
Depois ir descansar profano céu,
Numa beleza rara que se avista
No belvedere ser o teu corcel
Passando todo o corpo por revista.

Imagens fantasiosas; seios, sela,
Corcel com amazona agalopando.
Neste delírio solto se revela
Caminhos se aprofundam, penetrando...
Vislumbro desejoso a bela tela
Que a mão do sábio amor está pintando

Em corpos misturados e sedentos,
Carinhos delicados, violentos...

X

Viajo no teu corpo, onda e cais
Descubro em cada atol a nova fonte
Que leva às profundezas abissais
Tornando o vento, o sol, neste horizonte
Fazendo meu querer, te querer mais,
Atando nossos portos, rumo e ponte...

Viajo sem ter rumo e sem vergonhas,
Cabendo meu destino em tuas praias.
Acordo enquanto sinto que tu sonhas,
Os olhos vão seguindo tantas saias
Que passam pelas ruas bem risonhas,
Enquanto em meu prazer cedo desmaias...

Vivo do não sei que nem sei aonde,
O olhar quase que a esmo em ti se esconde....

X

Quando vou para o pampa levo o sol
Das minas que ficaram para trás,
Olhando para frente, um arrebol
Distante do caminho que perfaz
O sonho de quem fora girassol
Agora noutro mundo busca a paz...

Vencido pelas léguas, no cansaço,
Abertas estas trilhas em torturas,
Caminho mais liberto em cada passo,
Deixando para trás as amarguras.
Fazendo da amizade, novo laço
Banhado no raro ouro das ternuras.

Refino desta forma, canto e brio,
Na esperança de ter eterno estio...

X