sexta-feira, dezembro 21, 2007

SONETOS 049 E 050

Sem ter sequer a mágoa e a coragem
Não quero me vingar do que passei.
Só quero que tu saibas que a viagem
Prossegue pelo mar que desejei.

Não tenho mais temor nem piedade,
Às vezes sou nefasto, outras sou são,
Procuro dirimir a dor que invade
Sem ter sequer escrúpulos, em vão...

Tomo por testemunha a luz solar
Que queima e que mormaça meu querer.
De novo, com certeza, irei de amar,
De novo, pelos menos, quero crer.

Não leve tanta lágrima contigo,
Perceba que inda sou teu grande amigo...

X

Quando andava sozinho pela estrada
Depois de ter pescado uma ilusão,
Achando que talvez a namorada
Viesse como um trem numa estação.

Com hora e com destino bem traçados,
Na santa ingenuidade de menino,
Apenas ao andarmos abraçados
Selava em pensamento, o meu destino...

O tempo se passou e eu a revejo
E volto a ser menino por um dia,
Depois de tantos anos ganho o beijo
Com quem sonhara em minha fantasia...

Menino novamente; volto a ser,
Contigo, nesta estrada, a percorrer..
.

X

Quando o templo do amor eu conheci
Nos sonhos mais felizes que podia,
A tua imagem bela estava ali
Raiando como o sol no pleno dia.

Meus versos imaginam tua face
Na luminosidade mais sagrada
Não sinto mais temor, sequer impasse,
Em mármore divino foi talhada.

Quando entrei neste templo, distraído,
Mal pude perceber, não vi saída.
Agora, prisioneiro; estou perdido,
Só vejo o nosso amor em minha vida...

E só quero adorar-te noite e dia,
No canto que te faço, em poesia...

X

Amor quando em procura de um engenho
Que o faça mais perfeito e sedutor
Demonstra esta ternura que, sei, tenho,
E forja uma obra prima: o pleno amor.

A vida traz contrastes de matizes
Que sempre valorizam a pintura,
Amor quando nos toma em aprendizes
Prepara
a divindade que nos cura.

Em cada poesia que preparo
Com ânsias de poder fazer meu rito
No ritmo mais fecundo e bem mais caro
De ter o grande amor, vivo e bendito...

Embora o sentimento sempre seja
A dor que dá prazer e que lateja...

X

Um verdadeiro feito amor consegue
De ser bem mais potente que uma dor,
A vida em desamor nunca prossegue
Aborta-se sem ter sequer calor.

Amor quando se apossa já domina,
Não deixa um sentimento sem resposta.
É mar que me domina e descortina
Banquete na minha alma, sempre exposta.

Não me cuido do medo de te amar,
Eu sei que bem o que quero; destemido.
Nas asas que me deste p’ra voar
Eu sinto meu destino resolvido.

Se olhar-me com cuidado, tu verás,
O bem que tanto amor, em mi, já faz...

X

Eu quero esse cantar em liberdade
Rompendo
os meus grilhões, soltando a voz.
Sempre louvando a solidariedade
Criando uma corrente em vários nós.

Eu quero que o futuro traga à vida
Todo o valor que sei, a vida tem.
Não haja mais infância desvalida
Nem a velhice triste, sem ninguém.

Que em toda terra espalhe uma esperança
De um povo mais unido e mais feliz,
A noite tão vazia já se cansa
De ter somente o não; como raiz.

Que o AMOR seja infinito e sempre eterno
Que surja o belo estio após o inverno!

XX

Imensa adoração que te dedico
Com versos, com palavras, com amor...
Ao ver tua presença; sempre, fico
Extasiado e pleno em esplendor.

Num trono de fulgores, te elegi
Rainha dos meus dias mais felizes,
Certeza de saber que estás aqui
Transforma as minhas chagas, cicatrizes...

Quando eu cruzava tristes, vãos desertos,
Na busca pelo oásis da paixão,
Os ventos que batiam tão incertos,
Apenas prometiam solidão...

Agora que te achei não largo mais,
Não quero te perder, amor, jamais!

X

Os olhos tão formosos de quem amo
Emprestam a beleza para o céu.
Olhando para estrela sempre chamo,
Teus olhos são pintados a pincel

Por um artista raro e talentoso,
Um deus que imaginou coisas de amor,
Por certo tal artista vaidoso
Também de ti tornou-se adorador.

E sinto a tentação de Akenaton,
Vivendo este desejo sem limite.
Na formosura imensa, todo o tom
Que sei, faria inveja à Nefertiti...

Teus olhos sedutores são sinais
Divinos deste amor que imploro mais...

X

Eu quero o teu amor completo e puro,
Sem ter mais que temer nem o ciúme.
O chão que se aparenta, às vezes, duro,
Por vezes já me traz doce perfume.

Eu quero o teu amor sem preconceito,
Sabendo que é direito ser feliz.
Amor que noutro amor vai satisfeito,
Nos dá nosso destino de aprendiz.

Em cada cicatriz refaz-se forte,
Sem medo da ferida e da batalha,
Amor que sobrevive até na morte,
E sabe perdoar pecado e falha.

Eu quero o teu amor, querida amiga,
Que a todo e qualquer ser, decerto abriga!

X

No rosto deformado da esperança
O gosto tão amargo desta dor,
No velho, na mulher e na criança
A morte toma um cunho salvador.

Nas vilas, nas favelas, nos cortiços,
A mesma sensação de uma impotência
A flor da mocidade perde os viços
Nos vícios, precipícios da inocência.

Somente restará a triste espera
Por uma fantasia em solução,
Que o homem enfim se livre desta fera
Que carrega a nossa alma para o chão.

Na fé que sempre leva ao Salvador,
A solução completa está no amor!

X

Neste canteiro enorme da paixão
A rosa que se esmera em perfumar,
Depois de certo tempo abre o botão
Quem sabe poderá de novo amar?

Eu quero ser, quem sabe, o colibri
Que pousa nesta rosa e que a deslinda,
Não sabes, mas te quero sempre aqui,
Tu tens este poder; ó rosa linda!

Por vezes, ao beijar-te me espezinhas
Bem sei que pode ser tua defesa,
Mas quero tuas noites sempre minhas,
Amor sempre nos serve cama e mesa.

Permita que te toque um passarinho
Que cego, tantas vezes perde o ninho...

X

Não deixe que a miséria passe em branco,
A fome nunca é boa conselheira,
Sorriso deve ser aberto e franco,
Uma amizade é para a vida inteira...

Será que tens ouvido para ouvir
E olhos para ver o que tu vês?
Na mão que se estende a te pedir
Imagem deste Cristo em que tu crês.

Passamos pela vida sem saber
Que tantos somos nós, mas um somente.
O próximo reflete o mesmo ser
Que inunda-te de vida totalmente.

O que nos deixará em liberdade?
Somente o pleno amor duma amizade...

X

Amigo não permita que a criança
Que mora na tua alma se definhe,
Vida se perpetua na esperança
Desde que todo canto já se alinhe

No encanto deste amor que é soberano,
Amor que se traduz em nossa luta
Que é contra essa opressão, formato e plano
Daqueles que só usam força bruta.

Amigo não permita que se mate
Toda a felicidade do viver,
Pois toda essa desgraça que se abate
Começa desde o dia em que nascer

O egoísmo estúpido que traz
Matando o vero amor, o fim da paz...

X

Na minha escura sorte procurara
Durante tanto tempo, sem ter sorte
A jóia que eu sabia cara e rara
Do amor que fosse guia e fosse norte.

Pois vindo deste peito já sangrante
O medo de saber-te mais calada,
Desmascarado o medo deste instante
Encontro-me contigo, minha amada.

Neste ansiado encontro o meu futuro,
A sorte se lançando num segundo,
Aguardo uma ilusão que negue escuro
E trague a sensação de sentir fundo

O gosto do prazer correspondido,
Que me deixou assim; tonto, aturdido...

X

Ao procurar abrigo nos teus braços
Sabia que podia já contar
Com toda a garantia destes laços
Tão fortes que ninguém pode apartar.

Consolo para os tristes pensamentos
No apenamento duro de minha alma,
És garantia certa dos momentos
Onde nem a beleza já me acalma.

Suave, o teu perfume, companheira
Recende a um jardim de alfazemas,
Por mais que se persiga a vida inteira,
Douradas garantias destas gemas

Que formam estas pedras lapidadas
Duma amizade sempre de mãos dadas...

X

Eu peço-te que cuide deste amor
Com toda essa presteza que anuncias,
Fazendo como faz o bom pastor
Proteja nosso amor nas noites frias.

E seja meu humano cobertor,
Aqueça sempre, todos os meus dias,
Preciso do carinho protetor
Que trame nosso amor em harmonias...

Perceba que cuidar dos sentimentos
É como preservar as alegrias,
Em todos os difíceis, maus momentos,

Permita que se encontrem fantasias
Que submergindo tantos sofrimentos,
Nos traga aos corações, as sinfonias...

X

Amor que se entregando não descansa
Se cansa de saber quanto me dói
Ausência de qualquer uma esperança
Que sabe que somente amor constrói.

Vivendo sem lembranças do que fora
A vida sem ter chamas onde arder,
A sensação real e redentora
Que traz uma alegria pro meu ser.

Banhado com meu sangue sem demora,
Amor se fez mais belo e iridescente,
Sabendo que quem sabe faz agora,
Amor é muito mais do que pressente.

Permite que se trague um novo dia

Repleto de ternura e de ousadia...

X

Amor, um sentimento tão tirano
Que, déspota, não deixa respirar,
Causando, se traído, desengano,
Recende a fantasia e ao penar.

Converte todo bem em um talvez,
Invade sem pedir calma ou licença,
Nunca sabe esperar a sua vez,
Às vezes punição ou recompensa.

Amor que me injuria quando exalta,
Exala tal perfume que inebria,
Quanto maior se sente mais a falta
Ausente, traz uma alma mais vazia.

Amor que nos derrota na vitória
É rumo que se perde em plena glória!

X

Querido sonetista, nos teus versos,
Encontro as mais diversas emoções,
Viajo e me transporto em universos
Que
trazem melodias e canções.

Guerreiros, minuano, chimarrão,
Dos pampas, teu cantar chegou aqui.
E já veio inundando o coração,
Tanto carinho sempre vejo em ti.

Amigos são tão raros nesta vida,
Ser teu amigo sempre, já me ufana,
Presença companheira e tão querida,
Orgulho desta terra de Quintana!

Não devo mais ficar aqui, calado,
Chaplin venho dizer: muito obrigado!

X

Esperança perdida? Nunca mais!
Agora não consigo mais deixar
De crer que poderei deixar pr’a traz
Quimeras que vieram par em par.

Eu vejo destroçadas as tristezas
E sinto tanto bem por ser assim,
A vida se envolvendo nas certezas
Da paz que retornou, até que enfim!

Amiga, como é bom saber que vivo
Nos braços da esperança mais feliz:
Da liberdade inteira de um cativo
Que foi por tanto amor, um aprendiz.

Amiga; não mais choro uma saudade;
Agora eu encontrei felicidade!

X

Eu nunca mais terei contentamento
Se não tiver teu corpo contra o meu,
Numa explosão de imenso sentimento
Que forma, num instante, luz no breu.

Um sentimento assim, que me entontece
E me faz perder senso e ser audaz,
Numa emoção que sempre vem e cresce
Em forma de esperança mais tenaz.

Eu nunca mais terei uma alegria
Que não surja do amor que hoje me cura
Em toda uma beleza em sintonia
Depois
de meio século em procura.

Eu nunca mais verei u’a solução
Distante do sangrar de um coração...

X

Oh! Bem aventurados os que sabem
Que amor é o caminho mais sensato,
Pois neles universos todos cabem,
Carregam dentro em si manso regato.

São bem aventurados os amigos,
Que sempre se oferecem em ajuda.
Nos braços companheiros os abrigos
Não deixam que uma dor sempre te iluda.

Amor com amizade são perfeitos,
Não posso discordar desta verdade,
Quem sabe defender dos preconceitos,
Dos medos e de toda falsidade.

Amor que não permite insanidade
Deságua em belo mar: o da amizade!

X

Não quero que transportes o meu sangue
Em pleno coração mais distraído.
Nem quero hemorragia que se estanque
Nos beijos que te dou, estou vencido.

Não quero que me tomes a minha alma,
Pois sinto que não tenho mais remédio.
Nem mesmo uma emoção nova me acalma
Pretendo me inteirar no meu assédio.

Eu na verdade sou o que preferes,
O gosto desta boca é todo teu,
Não guardo mais sequer os caracteres
Pois tudo o que já fui, amor perdeu;

Eu sou simples cativo que te busca,
De uma maneira mansa, mas tão brusca...

X

O meu hábito antigo de entregar
Meu pensamento inteiro ao mago amor,
Qual fosse necessário ter o mar
Com ânsias de um real navegador.

Trazendo à luz do dia tantos sonhos
Vivendo a fantasia sem saber
Que mais que nos pareçam tão risonhos,
Os sonhos têm sua hora de viver.

Sofrendo com desgastes da paixão,
Aos poucos endureço o sentimento,
Mas como convencer minha emoção
De que tudo tem hora e tem momento?

O vento deste amor bateu na porta,
Abri... Me constipei; mas o que importa?

X

Duras as leis do amor e da amizade,
Apenas as consigo adivinhar
Sei que elas não permitem claridade
Ofuscam cada verso que eu cantar.

Meus lábios quando osculam os teus lábios
Convidam para a noite em bom festim,
Segredos dos amores, toscos... Sábios?
Impedem que tu venhas para mim...

Mas, entretanto, quando me desejas,
Eu sirvo-te, cativo deste encanto.
E qual u’a fera louca tu me beijas
Deixando por completo o manso manto.

Quem dera descobrir esses mistérios
Que tecem neste amor, vários critérios...

X

É madrugada fria, estou sozinho,
Sonhando com amor que já partiu.
Revoltos travesseiros neste ninho
Demonstram quanto amor me repartiu.

Amigo me perdoe, companheiro
Se telefono a ti, em altas horas,
Escuta este meu verso derradeiro
Perdi minha esperança, essas escoras

Que tanto me ajudaram a viver,
Agora nada resta senão pranto,
Um corpo que se move sem saber
Sequer se inda tem forças, desencanto.

As estrelas do céu já se apagaram,
Apenas os teus braços me apoiaram...

X

Não quero embriaguez de uma aguardente
Com toda toxidade que transtorna,
Nem quero mais andar como um demente
Sem rumo que, vazio, não retorna.

Não quero este mistério tão difuso
Que faz com que eu não saiba discernir,
Deixando-me deveras tão confuso
Que não tenha sequer como seguir.

Na sensação feroz da solidão,
Andei por tantos bares sem destino.
Agora quero ter esta emoção
De ser bem mais que um louco em desatino.

Procuro em meu caminho e o que se vê?
Eu quero inebriar-me de você!

X

Rasgo dos mundos, mantos tão etéreos
Que levam o pensamento para o nada.
A noite que me envolve em tais mistérios
Apenas te chamando, segue atada

Ao que passara há tempos e me inquieta,
Ao sentimento imenso e sensual
De ter tua presença mansa e quieta
Deitada nesta cama, um ser real.

Pressinto que virás ao fim do dia,
Eu sei que nosso amor jamais morreu,
Escuta este meu canto em poesia
Ausculte
um coração somente teu...

Eu te amo e esperarei se for preciso,
Pois sei, me levarás ao paraíso!

X

Na multidão de versos que proponho
Sentidos e desejos mais fecundos,
Na troca em turbilhão te peço o sonho
De misturarmos sempre nossos mundos.

Gravada no meu peito em garrafais
Letras
, essa palavra sempre me traduz.
Vontade de emergir e pedir mais
Volátil sensação de imensa luz.

Meus dedos te tateiam nessa cama
Encontram os teus seios desnudados,
Acendem o calor de minha chama
Meus beijos vão ficando apaixonados...

Carinhos se buscando neste escuro
Amor em tentação, voraz e puro!

X

O fruto do desejo é nosso amor,
Orgástico delírio que vivemos,
Na sinergia intensa, protetor,
É mais que pensamos e queremos.

Formando uma vulcânica erupção
Em lavas que se escorrem, tresloucado.
Convulsos em magnífica explosão
Num mar de tanto sonho derramado.

O fruto do desejo redimiu
Um coração que fora sem sentido,
Percebo que este encanto ressurgiu
De quem já fora um dia, desvalido...

O fruto do desejo sem juízo,
Nos abriu o portal do paraíso!

X

No tempo em que sonhara desmedido,
Guardado por desejos insensatos,
Vivia sem amor, tão distraído,
Vencido pelos sonhos, morrem fatos.

Querendo do arvoredo um agasalho,
Não tinha nem sequer um simples colo,
Deitando minha dor em cada galho
Caído sem remédio, sobre o solo...

Agora que encontrei o meu refúgio
Nos seios da mulher que imaginara,
No breu destes meus sonhos já refulge-o
O lume dos teus olhos, pedra rara...

Amada como é bom sinceridade
Que traz ao nosso amor a eternidade...


X

Se quando me amparaste nos teus braços
Houvesse mais cuidado em me reter
Talvez não se rompessem nossos laços,
Talvez inda pudesses ser meu ser

Cativo deste amor que dedicamos
Sem termos nem sequer ansiedade,
Aos poucos os carinhos derrotamos
Aos poucos transformados em saudade...

Tua palavra amiga sustentou
Durante tanto tempo meus anseios,
Agora que te vejo cedo estou
Saudoso deste colo, dos teus seios...

Amada me perdoe se eu lutei
Contra este amor imenso, nossa lei...

X

Amor que na abundância ou na miséria
Não deixa de querer quem te quer bem,
Do abismo mais profundo à noite etérea,
Envolto nestes mantos sempre vem...

Não me permite mais tomar assento
No banco das tristezas e das dores,
Em meio a tais carinhos me contento
E flagro-me roubando jardins, flores...

Livre dos medos tolos, insensatos,
Caminho em cordilheiras mais audazes,
Bebendo a mansidão destes regatos
Percebo em nosso amor forças tenazes

Que tanto acariciam que alucino,
Completam meus desejos de menino...

X

Meu verso te procura no universo
Em tantas avenidas e planetas,
No sonho mais diverso vou imerso
Retorno ao teu carinho qual cometas

Que sempre voltarão por mais distantes
Que sejam suas órbitas no céu,
Não deixam de viver a cada instante
Saudade do destino, mesmo ao léu.

Seu néctar soberano, meu maná,
Eu vivo desejoso da ambrosia
Que sempre o paladar dominará;
Na tua boca quente em noite fria.

No plenilúnio imenso deste amor,
Em ti vou naufragar, navegador...


X

A música encantada da amizade
Ecoa no meu peito como prece,
Garante em meu viver, tranqüilidade
E sinto que este amor por ti já cresce.

Eu sei que não consegues discernir
Amor dum sentimento bem mais nobre,
Por isso venho aqui para pedir
Que saibas que o que sinto já me encobre

De uma alegria imensa e benfazeja
De ter essa emoção encantadora,
Meu corpo te procura e te deseja
Minha alma já te sabe redentora.

Tu és bem mais que simples companheira,
És minha amada amiga, a verdadeira!

X

Meu canto de agonia que se esparsa
Espessas nebulosas vão tragando,
Formando em tanto sonho, a velha farsa
Que aos poucos eu percebo me levando

Ao fim deste meu sonho mais bendito
De ter uma esperança em ser feliz.
Meu grito corre embalde ao infinito
E morro sem ter tudo o que mais quis.

Quem maldizia a sorte que encontrara
Dos dias benfazejos sequer sombra,
A noite que se dera em cor tão rara,
Em toda negritude já me assombra.

Meu canto tão sereno em emoção
morre da fatal desilusão...

X

A tarde que me trouxe esta alegria
Desmonta-se em terrível tempestade,
Formando tantas nuvens, morre fria,
Em plena sensação de insanidade.

Quem fora uma promessa de vitória
Adormecendo mostra-se quimera,
A vida se repete; a mesma história,
Trazendo imensa dor, temível fera.

Agora a solidão não me perdoa,
Andando do meu lado, castra o sonho,
A dor de te perder inda ressoa
Num vívido sofrer, o mais medonho...

Meus olhos empapuçam, sem beleza,
Vão se encharcando em lágrimas, tristeza...

X

Mais uma noite fria e sem ninguém,
Apenas esse vento na janela
Procuro sempre em vão pelo meu bem,
A vida se entregou ao lado dela...

O resto do que fui caminha a esmo
Sem ter sequer destino, vou vazio...
Quem dera que eu pudesse ser o mesmo
Antes que o coração calasse frio...

Amor, por que partiste, diga enfim,
Meus versos não suportam a distância
A morte vem rondando, chego ao fim,
O sofrimento imenso em tal constância

Permite que eu escute sempre o não,
E morra, a cada dia, em solidão!

X

Quando as espadas ferem quem disputa
Os jogos da emoção, doce pecado.
A mansidão se torna força bruta
O meu olhar se entorna apaixonado.

Do gládio que me invade, hemorragia,
Dilacerante seta que entontece,
Vai maculadamente a fantasia
Não adianta mais sequer a prece.

Em todas as arenas, derrocadas,
O coração repasto de tais feras,
As sanidades estão já destroçadas
Nas garras das paixões, fatais panteras...

Entregue aos teus desígnos, fero amor,
Não me adianta ser gladiador!

X

As catedrais divinas deste amor
Em tantas orações permitem ver
Do fundo de meu peito adorador
A redenção expressa em novo ser.

Quem fora despedida, hoje suplica
Amor de quem jamais soube esquecer,
Não uso mais nem luvas de pelica
Meu verso escancarando vem dizer

Tu és o meu desejo de mulher,
O sonho mais bonito que pensei,
Amar demais é tudo o que se quer,
Perdoe se; algum dia; já pequei

Contra esse deus sensível, inconstante
Que quando empequenece faz gigante.

X

Quem pensa em ser poeta tem que ter

O pensamento livre, sem amarras,

Não pode se deixar mais submeter

Ao egoísmo torpe em tristes garras.

Vivendo a poesia como um todo;

Quem ama sempre a vida vai buscar,

Mesmo na ostra que vive em pleno lodo,

Inspiração liberta p’ra cantar...

Amada, por favor, não tolha o sonho

Que nunca se deixou ser um cativo,

Por vezes meu cantar é mais risonho

Que a dura realidade onde estou vivo...

Não queira confundir a poesia

Com vagas sensações do dia a dia...

X

Que a voz do trovador sempre te exalte
Em versos mais singelos ou mordazes.
Que a vida de quem canta já se paute
Por sonhos mais felizes ou audazes.

Tantas noites passadas nestes bares
Sonhando com justiça e com amor.
Em cada companheiro mil altares
Em cada novo canto o meu louvor.

Que a voz tão insegura de quem canta
Não deixe de calar a sensação
Que toda essa alegria seja santa
Que traga para nós uma emoção

Distinta da ilusão que nos castiga,
Que emane da cantiga a voz amiga!

X

Vou célere fugindo de mim mesmo,
Perseguem-me delírios e visagens,
O coração batendo sempre a esmo
Reflete taquicárdico, as imagens

Dos dias mais felizes que tivemos,
Das noites em total ebulição,
Meu Deus! Por que será que nos perdemos
Do rumo que seria a salvação?

Mas sinto que te adoro fatalmente
E nada irá tomar outro caminho,
Peço-te que tu voltes finalmente
E traga o teu calor ao nosso ninho,

Não quero mais meu canto assim sombrio,
Não deixe que este amor morra de frio...


X

É noite em plenilúnio dentro da alma,
Em festas meus desejos qual crisálidas
Percebem teu carinho que me acalma
Deitando em tua cama flores cálidas.

Eu tento percorrer o teu sacrário
Sabendo que encontrei a solução
Que mata meu destino temerário
E invade de prazeres a paixão.

Vogando meus carinhos nos teus mares
Na doce sensação destes sargaços,
Entregue aos teus delírios, meus luares,
Encharcam-se na alvura dos espaços

E quero teu amor vivo e noctâmbulo
Que sempre me procura, amor sonâmbulo...

X

Não penso neste amor, em gratidão,
Nem quero que me beijes por beijar.
Apenas te proponho uma emoção
Que faça sem ter asas, revoar...

Não falo desta chaga que carrego
Nem conto a cicatriz exposta em ti.
Eu sei bem d’onde venho e nunca nego,
Só sei que nos teus braços me perdi.

Acendo este cigarro, veja a fumaça,
Assim; o nosso amor não quero ter.
Eu quero te levar, de noite à praça
Depois o teu prazer no meu prazer...

Esqueça essa mão vil do meu passado,
Perceba quanto estou apaixonado!

X

Cevaste meu amor por tanto tempo,
Agora que me tens fazer o que?
Não quero que me vejas passatempo
Apenas um brinquedo em que se vê

O gosto da vitória na batalha,
A sensação suprema de ganhar,
Meu canto enamorado já se espalha
O que fazer senão te amar?

Cavaste na minha alma uma esperança
De ser além do amor, ser imortal.
Eu vejo, do brinquedo já se cansa,
Não quero ser apenas um jogral.

Eu quero me perder nestes teus rios
Embora eu já perceba, são tão frios...

X

Perdido para sempre em tua rede
Não quero me ausentar das belas teias,
De teu amor eu tenho tanta sede
Teu sangue se imiscui nas minhas veias.

Meus olhos se perdendo sem ter rumo
Bebendo de teus olhos sonhadores,
Eu quero deste amor inteiro o sumo,
Eu quero me encantar com tuas flores.

Não vejo aterradoras diferenças
Que possam impedir o nosso enlace,
Pois saiba que teremos recompensas
Se não nos ocultarmos. Nossa face

Em um espelho só já se mostrara
Mostrando o que sentimos: jóia rara!

X

Paixão é sentimento tão selvagem
Que trama uma loucura enquanto corta,
Permite ao pensamento tal viagem
Que arromba qualquer casa e qualquer porta.

Paixão que nos treslouca e alucina
É quase convulsão em tempestade.
Nos toma a liberdade e nos domina,
Nos matando em fatal ansiedade.

Sentir tão fascinante e doentio
Flambando o coração em doce amaro,
Promessa de calor que traz o frio,
Derruba enquanto quer dar todo amparo.

Paixão é negação do próprio ser
Tortura e dá vontade de viver...

X

O manso caminhar por esta vida,
Em tantas tempestades, sempre acalma.
Certeza de uma paz já ressurgida,
Com toda uma alegria dentro da alma.

Por mais que seja sonho, nunca deixe
De ter esta esperança dentro em ti.
Amor que multiplica pão e peixe
Num acalanto doce, sempre vi.

Espero que este amor seja contigo
O mesmo que comigo já caminha.
Amor que nos protege, bom abrigo,
Na dor e na tristeza nos aninha...

Amor que se traduz sinceridade,
No rumo das estrelas, amizade...

X

Para onde fores, minha amada, irei;
Trilhando o mesmo rumo, mesmas ruas...
Seguindo estas pegadas, buscarei,
Usufruir das luas, nuas, tuas...

Por mais que a noite venha tão sombria,
Eu vejo uma mudança destes ventos.
Pressinto que terei tanta alegria
Em meio a tão felizes sentimentos...

Se acalmo estas tormentas dentro em mim,
Bem sei como foi triste um vão adeus,
Mas vejo que terei amor sem fim,
Promessa que senti nos olhos teus.

E seguirei teus passos onde fores,
Nas sendas infinitas dos amores!

X

Não falo deste mar que não me lembro
Distante das montanhas onde moro.
Passando tantos anos, num setembro;
Na pele da morena que eu adoro.

Não falo das montanhas que não subo
Distantes destes mares com que sonho.
Passando tantos meses, num outubro,
Amores e desejos que proponho.

Não falo das planícies, companheiro,
Do orvalho nestas matas desejosas.
Vivendo nosso amor, vital janeiro
Que trouxe teu amor, de tantas rosas...

Eu quero-te morena nem disfarço,
Nas chuvas de verão, no nosso março..

X

Florescem sob a lua, teus encantos,
No teu corpo as marcas do prazer,
Cobrindo tua pele como mantos
Entranham cada parte do teu ser.

As loucas, transtornantes fantasias,
São tuas cicatrizes favoritas,
Espelham nossas doces sinfonias
Tocada pelas bocas tão benditas...

Os astros te observando tecem lumes
Nos céus qual pirilampos fluorescentes,
As flores se encharcando de perfume,
Se abrindo e se mostrando enlanguescentes...

Florescem novamente meus desejos,
E rendo-me aos teus sábios lábios, beijos...

X

O tempo tão voraz derruba tudo,
Não deixa pedra sobre pedra... Nada...
Amor que te emprestei, porém; contudo,
Ainda faz a vida ser dourada...

Nesta profundidade em que me embrenho
Dos sonhos que não tive e nem vivi,
Aos poucos solidão fecha o meu cenho,
E sinto que talvez, eu te perdi...

Mas teimo em te manter nestas ruínas
Do que restou de mim, por sobre a terra,
Meus olhos se elevando nas colinas
Adivinhando a dor da dura guerra,

Procura por teus olhos, ansiosos,
Nos sonhos deste amor, voluptuosos...

X

O medo de morrer sem ser feliz
Sem ter este infinito que traduz
O verso mais bonito que já fiz
Em meio a tempestade, em tanta luz.

Não sou nenhum ególatra, querida,
Apenas já me sinto satisfeito
De ter-te encontrado em minha vida,
Mostrando quanto amar é um direito.

O medo de morrer já me abandona
Agora sou-te inteiro e me desdobro
Ao ver tua pureza de madona,
Cuidados e carinhos já redobro.

Eu quero te poupar das convulsões
Imensas dos delírios das paixões...

X

As dores que formaram nebulosas
Nos sonhos imprecisos deste amor,
Agora se permitem novas rosas
Tão orgulhosas sabem como a flor

Perfuma um desejo tão sutil
De ter-me novamente redimido
De todo este meu mal, amor gentil
Faz-me da morte estar, ser renascido.

A força que me atrai também revela
Que posso ser feliz, talvez um dia,
Pintando um novo amor em nova tela
Nesta aquarela santa da alegria.

A solidão recolhe suas garras,
Rebento, com o amor, estas amarras!

X

Meu coração não deixa-se domar,
Eu cria nesta lenda sem sentido,
Depois de que te vi, pus-me a pensar
Que amor nos doma e toma distraído.

Na tarde nebulosa da saudade,
A chuva derramando seus cristais
Rendendo e nos tomando a liberdade
Amor se aproximando mais e mais...

Percebo o rumorejo deste rio
Descendo nas cascatas altaneiras,
O mundo sem amor resta vazio,
As noites sem ternuras, sem fronteiras...

Meu coração domaste; fera amada,
A garra que cravaste: tão afiada...

X

Não deixe que agonize este desejo
De ter uma esperança mais bendita,
Futuro nebuloso sempre vejo
Se calas tua voz que é tão bonita.

Cadáver andrajoso pelas ruas,
Não quero mais a sina que percebo,
As horas transtornadas cortam cruas,
Nevasca dentro da alma já recebo.

Arrasto uma esperança moribunda
Atada qual corrente nos meus pés,
A solidão se emerge mais profunda,
Meu barco sem destino e sem convés.

Amor que tanto quis e desejei,
Qual fora um morto vivo, agonizei...

X

Vagando por mim mesmo, me perdi,
Não sinto mais a força que esperava,
De tudo o que sonhei, restei aqui,
A morte em tempestade beija e lava,

Eu sei que não devia ter sonhado,
Um sonhador merece tal castigo,
O coração se cala amargurado,
A vida se demonstra em desabrigo...

Eu sinto a solidão batendo à porta,
Sorrio: estás de volta companheira!
Achei que te veria, enfim, já morta,
Mas selas meu destino, derradeira.

Sentindo que a rotina recomeça
Minha alma sem sentido, vã, tropeça...

X

O frio que cortava o pensamento
No fio da navalha sempre andei.
Querendo desfrutar deste momento
Percebo que jamais conseguirei...

Cortando qual um aço mais feroz,
Bem fundo em minha carne lacerada,
O gosto da saudade invade a foz
Do rio que morria sem ter nada.

Sou verso e sou reverso da medalha,
Apenas um despojo que carregas,
Bem fundo e sem sentido a faca talha
Um coração exposto em várias pregas.

E calo meu sorriso em vil destroço,
Na morte de minha alma, já remoço...

X

Eu quero o nosso amor numa cabana

Na roça, na montanha ou na fazenda,

Bebendo uma garapa, pura cana,

Passada com jeitinho na moenda.

Eu quero uma casinha bem bacana

Comprar café e fumo numa venda,

O pó duma saudade o vento espana

A solidão, distante, vira lenda...

Comer queijo com broa de manhã,

Regado com café e leite cru.

Fazer de uma alegria nosso afã,

Quarar nossa esperança no varal,

Nadar na cachoeira inteiro e nu,

Fazendo muito amor no matagal...

X

Pobre pescoço andava tão sozinho,
Em busca de quem desse uma atenção,
Depois de tanto tempo sem carinho,
A cervical estúpida região,

Aos poucos se mostrando em desalinho,
A todos resolveu vir dar lição.
Ladrando e se mostrando podre linho
Só quis aparecer, o pescoção.

Cansados de tamanha pescocice
Alguns pediram mais educação,
Que a cervical dizia em asneirice...

Assim passaram meses, anos dias,
Pescoço continua em profusão
Só Pedindo
um colar de melancias...

X

Por tanto tempo andei sem ter ninguém,

Nas ruas, nas bodegas, botequins,

Cansado destas noites de meu bem,

Ou outras melodias mais afins.

A noite em polvorosa vai e vem,

Minha alma carcomida por cupins

Olhando para os lados perco o trem

E morro nessas saias, puros brins.

Depois de tanta saia procurando,

A azul e amarela quis meu beijo,

Aos poucos, devagar foi me encantando.

Agora está deitada aqui comigo,

Passando as várias fases do desejo,

Agora em outra saia peço abrigo...

X

Pretendo sim, usar perfeito zoom

Para mostrar-te inteira em emoção.

Cantando sem temor, sequer, algum,

Eu falo da mulher em explosão.

Daquela que domina, mansamente,

E cobra, de repente, seus desejos,

É força que se mostra plenamente

Tornando-se maior sem fantasia;

Mesmo que de princesa haja lampejos,

Aumenta o seu poder a cada dia...

X

Interessante, às vezes me lembrar

De como começou o nosso caso,

Eu quase te perdi. Fora do prazo,

Por pouco não deixava-te escapar.

Te via e quase nunca percebia

O brilho dos teus olhos sobre os meus,

Dizia tantas vezes: Vai, Adeus.

E não te imaginava e nem podia...

Cansado desta vida só e a esmo,

Já tinha me esquecido de viver,

Meu sonho adormecido, sempre o mesmo,

Não tinha nem resquícios de prazer...

Mas quando eu percebi; meu coração

Atado nesse fruto temporão...

X

Alago-me nessa água que percorre

As pernas bronzeadas da morena,

Ao mesmo tempo afoga e me socorre,

Ao mesmo tempo sana e me envenena;

Riscando por um triz o mar inteiro,

Lavando a cicatriz com água benta,

No gosto deste sal um derradeiro

Desejo de paixão tão violenta...

Na proa deste barco eu sempre embarco

O mastro que quer vela e se revela

Deixando em todo porto o gozo, o marco,

Pintando no teu corpo a louca tela

Formada em aquarela, num lampejo,

Marcada ao fero fogo do desejo!

X

Ao ver nesta mulher a rosa plena

Que emana imensidão em cada passo,

Compassos esquecidos lua acena

E sinto-me no poço de seu braço.

Aberta a rosa inteira feminina,

Me nina em cada mina meu tesouro.

No gosto desta boca, me alucina

Menina minha sina é ter teu ouro

Marrom em tanto tom, novo matiz,

Os olhos são marrons, teus dons e brilhos,

Marrom o meu desejo e cicatriz,

Ronrona enlanguescente nos meus trilhos,

A rosa se acastanha e se bronzeia,

Na brônzea emoção de lua cheia...

X

Bateu na porta, abri depressa... Amor,

Fazendo estripulia, veio vindo

Devagar invadindo sem pudor,

E quase que zombando, estava rindo...

Naquele instante sinto que perdi

O rumo planejado há tanto tempo.

Aos poucos me tomou; me convenci

Que desta vez não era passatempo...

A mais bonita moça do cerrado

Morena com sorriso mais gostoso,

Domou meu ar, meu céu, beijo melado

Que tanto desejei, amor fogoso...

Agora que este amor é minha lei,

A porta, de uma vez, eu arrombei!

X

Canção da chegança dos marujos cantada por Manuel Lima e Antônio Tavares em Penha (RN) e anotada por Mário de Andrade em 1928)

Adeus, meu lindo amor
Eu vou embarcar
Até segunda-feira
Terça, quarta mais tardar
Eu vou embarcar

Não chore, minha amada eu vou voltar..

As ondas que me levam vão trazer

Esta saudade imensa vai buscar

Meu barco aqui de novo prá te ver...

Eu sei que terça feira vou partir,

Buscando no oceano o nosso pão,

Meu corpo sempre tem que prosseguir

Mas deixo aqui, contigo, o coração...

Adeus meu lindo amor, depois eu volto,

Quem dera se pudesse estar contigo,

Quando âncora levanto e a corda; solto,

Meu coração se perde sem abrigo,

Só levo teu sorriso e a saudade,

E deixo aqui; amor, felicidade...

X

Nossa casa é vazia sem você,

As flores vão murchando sem carinho,

Procuram jardineira, mas cadê?

Eu vivo uma gaiola, passarinho...

Não deixa que isso venha a acontecer

Eu quero esta presença que me embala

Nas noites que mal posso adormecer

Sua alma na minha alma não se cala...

Durante tanto tempo em minha vida

A sorte parecia que fugia

Uma esperança pobre e adormecida,

Sangrava, simplesmente, todo dia...

Agora que voltou, meu grande amor,

A fria casa, agora, tem calor!

X

Não quero este teu Deus que só castiga,

Vivendo entre seus filhos preferidos,

A mão divina é sempre mão amiga,

Não creio, enfim, que existam preteridos...

O Pai que deu amor e nos abriga

Não é o causador desses gemidos,

Amor só se conquiste a não se obriga

Tampouco os seus pendores divididos.

Eu creio neste Pai amante amigo

Que sempre repartiu o peixe e o pão,

Desculpe, quero crer; mas não consigo.

A vida me mostrou com claridade,

A força tão enorme do perdão

No santo manto feito na amizade...

X

Um Deus onipresente e onipotente

Não vê um inimigo em cada canto.

Aos filhos este Pai tão semelhante

Que achá-los diferentes causa espanto...

Um pai que ama seu filho está contente

Mesmo em diversidade de outro canto,

Não creio ser possível que se tente

Deixar de ter amor e ter encanto

Apenas por que o filho não se vê

Parecido ou refletido neste Pai,

Prossigo respeitando quem se crê

O filho preferido do Senhor

Porém eu não admito quem já vai,

E quer o monopólio deste amor...

X

Eu sei que quando falas no meu nome

Uma saudade bate lá no fundo...

A nossa cicatriz nunca mais some,

O corte foi cruel e mais profundo...

Por mais que uma certeza já te tome,

Esquece, e me recordas num segundo.

A noite em solidão sempre consome

Não há lugar pra ti, no imenso mundo...

Querida estou aqui, pensando nisso,

Da flor que sem querer, perdeu o viço,

Nos olhos tão vazios sem ninguém...

Amada espero a volta deste amor,

Que foi neste jardim, mais bela flor,

Te peço, meu amor. Agora... Vem!

X

Quando tu me falaste num adeus

Senti todo meu mundo desabar,

Meus olhos já perdiam-se nos teus,

Sem o sol, como vive este luar?

Os dias se passaram, tão ateus,

Somente uma tristeza em meu olhar,

Cheguei a praguejar contra meu Deus,

Perdido, sem nem ter com quem contar...

Não fora uma amizade verdadeira

Talvez eu nem pudesse resistir...

Eu pensei ter perdido a vida inteira

Sem ter nenhum apoio onde escorar,

Agora, minha amada; vai me ouvir

A vida vai voltando ao seu lugar...

X

No culto divinal ao deus amor,

Meus olhos embargados não te esquecem,

Teus passos e caminhos sempre tecem

Destino deste louco sonhador...

Não quero teu amor em sacrifício

Difícil entender se assim fizeres,

Só quero; no banquete, teus talheres

Eu te ofereço amor, meu sacro vício.

Querida embalde a vida nos desfaça

Eu clamo eternidade para ter

Zil anos desfrutando do prazer

De ter o nosso amor em plena graça.

Permita-me sonhar, sei impossível,

Mas somos um só ser, indivisível...

X

Quando temos os olhos mais cansados

Na busca por dispersas ilusões

Sabemos quanto somos desprezados

Envoltos nos delírios das paixões.

Amada, meus caminhos desviados

Me levam, com certeza, p’ra rincões

Tão ermos, muitas vezes são marcados

Por outros desvarios e emoções...

Mas sei que mal, enfim, noite termine

Eu posso avaliar aonde errei;

Espero que a saudade determine

E eu cumpre meus presságios pela vida;

Mudando em nova sorte a velha lei

Que traga uma alegria mais sentida...

X

O tempo modifica todos nós,

Bendito seja o vento da mudança,

O que já fui e sou, serei após?

Contínuos os fascínios desta dança

No atar e desatar de antigos nós

Romper, formalizar outra aliança,

O tempo é companheiro, mas algoz

Forjando uma incerteza e uma esperança...

Converte amor em ódio ou em desprezo,

Produz numa amizade, indiferença,

O manto da tristeza sói obeso,

E uma saudade imensa do que fomos,

Amigo, ser feliz não é doença,

A fruta se divide em vários gomos...

X

Quando estou recolhido no meu quarto
Eu sinto o bafejar do calmo vento,
Depois de ter vivido um sonho farto
De amor que não me sai do pensamento,

Escuto tua voz chamando ao senso
Imerso em tal delírio, te procuro,
Depois de certo tempo o mar extenso
Da solidão me mostra o quarto escuro.

Levanto; fecho esta janela e deito.
E te sinto tocar a minha boca,
Beijando-te adormeço satisfeito,
Refém desta emoção sagrada e louca...

E sonho com teus olhos, teu carinho,
Assim eu vou vivendo em nosso ninho...