sexta-feira, dezembro 21, 2007

SONETOS 048

Ao ver uma criança abandonada
Nas ruas das metrópoles, faminta.
Imagem que devia ser mostrada
São cores tão reais que a vida pinta.

Ali, talvez encontre explicação,
Para essa violência que nos toma,
Amar é sempre multiplicação
Não é somente simples como a soma.

Nos braços da criança que se estendem
Pedindo, não futuro, mas presente;
Nos corpos das meninas que se vendem,
Percebo que amizade vai ausente...

No rosto da menina; sempre insisto,
A lágrima chagásica de Cristo...

X

Em todo grande amor da juventude
As marcas indeléveis, cicatrizes...
Amei por tantas vezes, mais que pude,
Acertos que cometem aprendizes...

Não quero ter limites para amar,
Porém as chagas vivas da paixão
Impedem a minha alma de voar,
Contendo meus desejos sobre o chão...

Quem dera ter a força de vencer
O medo que transtorna e que detém,
Sabendo que esse amor pode doer,
Essa barragem louca se retém...

Só peço neste amor intensidade
Que tinha há tanto tempo; mocidade...

X

Meu coração profusa e calmamente
Irriga de esperanças minha vida.
Eu sinto que te posso num repente
Trazer a nossa lua vã, perdida...

Eu sigo meus fantasmas do passado,
Argutos e ferozes, me sugando.
Eu quero te reter aqui ao lado,
Ao mesmo tempo sempre te buscando.

Apenas em profunda hemorragia
Amor se derramou, tomou espaço,
Percebo que hoje sendo o que viria
Após a noite imensa sem cansaço,

Eu quero te envolver nesta ternura
De amor que te traduz intensa e pura...

X

O mar com seus mistérios de sereia
Se ri desta esperança que não sei.
Seria se pudesse nesta areia
Certezas de saber que sou teu rei.

Eu sinto que se tinto-me do mar,
Extintos os meus medos, sem motivo,
Pressinto quando insisto em te amar
Que aos poucos sobre o mar eu sobrevivo.

E quero se não sabes navegar
Nas vagas desfilar nosso desejo
Se sou ou se não fomos sem luar
Espero te saber a cada beijo.

O mar com seus mistérios me domina,
Sereia venha ser minha menina!

X

Em todo o teu passado tanta glória.
Os que mares distantes navegaram
E seus feitos, amores, registraram
São páginas perdidas desta história...
Tantos deuses, em vão, te cortejaram
A dama de beleza assim notória,
Guardada, por milênios, na memória
Nos livros, alfarrábios se contaram...

Os templos se erigiram em teu nome,
Tua glória ninguém no mundo tome;
Da beleza e bondade és um exemplo.
Depois de tantos anos, te encontrei.
Permita-me sonhar ser o teu rei,
Reinando em nossa vida, te contemplo...

X

Eu carreguei as brumas das saudades
Por toda a imensidão da minha vida.
Um resto de canção, poucas verdades,
Sem ter parada, caço a despedida.

Tua presença espanta essas neblinas
Causando o sol inteiro do meu jeito.
As gramas se refazem nas esquinas
Do tempo que se dá por satisfeito.

Não faço mais perguntas, sigo sendo,
O quanto nunca fui nem bem queria.
Deixei o purgatório mal me rendo
Desconheço-me ao ver a luz do dia.

Refletida nos olhos cor de mel,
Abertos dois luzeiros para o Céu...

X

Mal pude perceber que, enfim, brotava
A flor do jasmineiro em meu jardim.
Se fosse jardineiro reparava
Porém, quase não vi esse jasmim.

Jazia em mim a dor de ter perdido
A flor que se fizera companheira.
Durante, antes, depois de ter sabido,
Que nada se perdura a vida inteira.

Em mim o cheiro triste destes lírios
Em cravos e perpétua solidão.
Mortalhas macilentas e martírios;
Delírios invadindo, sempre o não.

Ao ver-te, bela e mansa, junto a mim,
Relembro o jardineiro e o jasmim...

X

As brumas do caminho já se foram,
Minha alma não se esfuma em sofrimento.
Nem mais tantas saudades já me agouram,
A vida se refaz neste momento.

Alagado pela alegria deste amor,
Eu bebo, a cada dia, uma esperança.
Seguindo cada passo, sem temor,
Tão terno meu olhar sempre te alcança.

Todos os maus presságios se calaram
Não ouço nem sequer mais os oráculos.
Aos poucos teus carinhos me domaram,
Invadem a minha alma, são tentáculos...

Eu quero erguer-te a taça da emoção,
Num brinde que proponho ao coração!

X

São duros os caminhos desta vida,
Não nego e nunca tive essa ilusão,
Se temos uma infância já perdida,
Difícil consertar, eis a razão.

Não vejo noutros olhos esta fera
Que tantas vezes falam sem pensar.
Apenas, se matar a primavera
Como o verão, enfim, irá chegar?

Sem flor o que será do pobre fruto?
Tão somente um aborto de esperança.
Quem não teve carinho segue bruto,
Se mata a todo dia, esta criança...

A fera, com certeza, anda contigo,
Espero que tu sejas mais amigo...

X

Trazendo o espetáculo das cores
Envolto nessas carnes lapidadas;
Voltando mais sutil aos seus amores,
As horas que se foram, desmaiadas...

Os Astros e mensagens abrem flores
Decoram meus altares com rajadas
De perfumes e brilhos multicores
Luzindo e devorando madrugadas...

Sonhara muitas vezes seiva e gozo,
O monte dos desejos perde espinhos...
O mar das serenatas carinhoso

Invade cada canto desta areia...
Quem fora esta princesa pede ninhos,
As ondas vão lambendo-te sereia...

X

À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...

Alda Lara
Poetisa Angolana.



Quem dera repartir os meus anéis,
Esse ouro que carrego nos meus dedos.
A vida que se passa, de víeis,
Talvez já não guardasse tantos medos.

Quem dera repartir uma riqueza
Que sempre desejei e bem não fez,
Quem dera perceber que uma beleza
Provoca, tanta vez, insensatez...

Quem dera repartir as esperanças
A cada novo amigo que recebo,
Criando não somente as alianças
Fazendo deste amor, o que percebo.

Quem dera repartir os meus pecados?
Egoisticamente estão guardados...

X

A quitanda.
Muito sol
e a quitandeira à sombra
da mulemba.

- Laranja, minha senhora,
laranjinha boa!

A luz brinca na cidade
o seu quente jogo
de claros e escuros
e a vida brinca
em corações aflitos
o jogo da cabra-cega.

Agostinho Neto



O tempo passa e não percebo a pressa,
Menino que brincava no quintal,
A vida vai correndo mais depressa,
Saudade vai quarada no varal...

Os jogos infantis, a moça boa
Que sempre desejei ser minha tia.
A chuva vai caindo, uma garoa,
A vida se escorrendo na bacia...

Os corações aflitos não percebem
Que o tempo tem seu tempo de durar.
Os olhos das lembranças me recebem,
Com risos de meninos no pomar.

A fruta mais gostosa, a do vizinho,
Agora, tanto medo, estou sozinho...

X

Meus Sonhos

Meus sonhos, cavaleiros da ilusão,

Completam o que a vida não me deu,

São feitos de vontade e de emoção,

Encontram o que tive e se perdeu.



São dias que não fui e nem teria,

São outros que vivi e quero mais,

Aqueles que podiam, fantasia,

Aqueles que não voltam, são jamais...



Meus sonhos são propostas que carrego

Do ser que nunca foi e que quer ser.

Mil vezes, a mim mesmo já me nego

E cismo intensamente este querer...



Meus sonhos são meus mundos inconstantes

Nas terras de tão próximas, distantes...

X


Eu sinto-me invadido pelos raios,

Relâmpagos, borrascas tempestades,

Os ventos que me causam arrepios,

O céu vai se riscando em claridades.



As pedras de granizo me cortando,

As nuvens preparando uma bonança,

Em meio a tal loucura me entregando,

Olhar nem um palmo mais alcança...



Eu sei que passará e que se acalma

A tempestade louca da paixão,

Senão o que seria de minha alma;

Senão resistiria o coração?



A chuva da paixão que me tomou,

Qual fora um furacão, me destroçou...

X

As estrelas roubando sua luz,
Invejosas percebem tal beleza...
O manto que lhe cobre, já seduz,
Trazendo, pr’a quem sonha, esta certeza

A vida valerá, decerto, a cruz
Das dores e das sombras da incerteza...
Rogando em tantas preces a Jesus,
Que a vida siga sempre a correnteza...

Na plena sensação dessa existência
Os monstros escondidos na tocaia,
Jamais a profanar tal inocência...

Sentindo exuberância deste instante,
A lua enamorada já desmaia
Nos braços tão serenos, minha amante...

X

No teu coração uma andorinha
Voando na procura d’outro mar...
Tua alma viajante vai sozinha,
Na espreita de poder, enfim, amar...

Esqueces tuas dores és doninha
Vestígios de saudade no luar.
Os cantos te fizeram avezinha
Que pede, simplesmente, p’ra voar...

Quem poderá fazer enfim, que as asas
Aprendam os segredos deste céu.
Teu corpo se acendendo todo em brasas

Os
beijos são promessas do desejo.
A mão que te carinha, tão cruel,
Desconhece os caminhos que antevejo...

X

No teu coração uma andorinha
Voando na procura d’outro mar...
Tua alma viajante vai sozinha,
Na espreita de poder, enfim, amar...

Esqueces tuas dores és doninha
Vestígios de saudade no luar.
Os cantos te fizeram avezinha
Que pede, simplesmente, p’ra voar...

Quem poderá fazer enfim, que as asas
Aprendam os segredos deste céu.
Teu corpo se acendendo todo em brasas

Os
beijos são promessas do desejo.
Os lábios encantados vertem mel,
Na ansiedade louca deste beijo...

X

De tudo que aprendi na minha vida
Em várias estações onde passei
Somente pouca coisa foi retida
Das muitas emoções que eu enfrentei.

Buscando a cada dia ser feliz,
Ouvindo algumas vezes a razão,
Contudo percebi ser aprendiz,
Meus versos sempre cantam emoção.

Meus erros repetidos num momento,
Os sonhos abortados ou calados,
A própria solidão, o sofrimento,
Os medos, os segredos desprezados...

O melhor, com carinho e humildade,
É ter, com certeza, uma amizade...

X

Tu foste a primavera dos meus sonhos,
Tu foste a poesia que sonhei.
Sem ti, todos os meus dias são medonhos,
Em ti, toda a grandeza que busquei...

Os filhos que me deste, duas bênçãos,
Com toda essa alegria, eu te canto.
Que os dias permaneçam todos sãos,
Movidos a ternura e tanto encanto.

A filha tão amada e carinhosa,
Esposa que me orgulho de saber,
Amiga e companheira maviosa,
Dá forças de lutar e de viver.

A rosa mais formosa, a mais bonita,
Por isso eu te agradeço, amada Rita.

X

Nos bronzes da memória esculturada,
Eu vejo esta mulher que não esqueço.
U’a página da vida amarelada,
Guardada com carinho e tanto apreço.

Nada apaga esse nome, nem a foto
Batida há tanto tempo, na emoção;
Parece que foi ontem, mas remoto,
O tempo que tivemos em paixão.

E nada apagará o que senti,
Nem mesmo esta distância insuperável.
Vivendo a fantasia, estou em ti;
Sentindo o teu carinho desejável.

Me falam que morreste. Que mentira.
Tu vives bem aqui. Nada te tira...

X

Na lira em que me inspiro e me declaro
As notas musicais do coração.
Amor, um sentimento nobre e raro,
Precisa dos acordes da canção.

Total eclipse forma nosso enredo
Que enreda e nos concebe mil desejos.
Não quero em nosso amor nenhum segredo,
Nem quero que se quebrem azulejos

Desta emoção criada a cada dia,
Aguada com ternura e com carinho.
Decerto nos trará tanta alegria
No dia em que for nosso esse meu ninho...

Amor corre ligeiro no meu peito,
Nesta taquicardia, satisfeito...

X

Nestas faíscas loucas do desejo
O rumo já perdi e não me mais sei,
Não teimo pois sequer mesmo eu me vejo
Nem mais em sofrimento me espelhei.

Meu canto se tornou bem mais suave
Sem ter as duras pedras, pedregulhos,
Agora que aprendi ser como uma ave
Permito-me saber destes mergulhos

E vôos sempre em busca da verdade
De ser o que bem quis sem ter temor.
Teu nome se traduz felicidade,
Felicidade intensa, nosso amor.

Olhai como transformas, de repente,
Alguém que sem amor, era indigente..

X

Não sentira essa força da paixão
Que bate violenta e nada deixa
Avassaladoramente diz não
Ao mesmo tempo sangra em cada queixa.

Derruba o sonhador, cria o cativo,
Por ela não consigo respirar,
Matando me mantém, por tanto, vivo,
Prendendo me traz asas, faz voar.

Alenta e desalenta num segundo,
Vasculha e nada vê, ou finge bem,
Devora o meu passado, invade o mundo,
Quer tanto e quase nada d’outro alguém...

Apaixonadamente me perdendo,
Não ganha mas jamais segue cedendo...

X

Das nuvens que enegrecem nosso céu,
Dos raios e trovões que nos assustam,
A natureza cumpre seu papel
Bem mais do que tristezas já nos custam.

Ao ver-te aborrecida, ensimesmada;
Pergunto-te qual causa tem a dor;
Por vezes me respondes quase nada
Mas sei quanto tu sofres tal temor;

Da vida que querias mas não veio,
Das tempestades tantas que passaste.
Perceba, minha amiga, que o esteio
Da vida, posso até dizer uma haste;

Que sempre nos apóia e nos transforma:
Numa amizade; amor já toma forma...

X

Não vejo mais a dor que se emprestara
Aos olhos de quem sempre desejou
Amar esta esperança sempre cara
E quase que, sozinho, naufragou...

Disseste que jamais retornaria
Aos braços de quem ama e te procura.
Porém ao te encontrar, quanta alegria,
Tua presença sana e sempre cura

De todas as feridas mais profundas
Expostas em minha alma já sangrante.
Escaras terebrantes, tristes, fundas,
Jamais carregarei d’ora em diante.

Percebo meu olhar esperançoso
Vivendo em nosso amor completo gozo.

X

Amor que, dentro da alma, paralisa
E torna sem sentido cada canto.
Transforma a tempestade em calma brisa
Entorna a fantasia e forma espanto.

Faísca que incendeia, viva chama,
Que chama e me descreve a sensação
De ter esta esperança que reclama
Viva e definitiva solução.

Pureza de cristal, de um belo prisma,
Vicia e me domina, amor é ópio,
Fazendo andar sem rumo, amor já cisma
Forjando esta emoção-caleidoscópio.

Amor que nos oprime e nos liberta
Qual meta que nos faz a vida incerta...

X

O sol que se escondendo nesta tarde
Promete tal calor que me alucina,
A lua se aproxima sem alarde
E deita em minha cama, uma menina...

E toda a natureza em convulsão
Revela
esse desejo enlanguescente
Descendo, deste astral, uma emoção,
Penetra tão profunda e claramente.

Na perfeição divina desta noite,
O sol vem aquecendo meu dossel,
Rolando com a lua no pernoite,
Encontro mil estrelas no meu céu...

Espero esta menina imaginando.
E a vejo toda lua, me esperando.

X

A memória da vida sempre traz
Momentos tão difíceis que passei,
Olhando firmemente para trás
Percebo como tanto já sangrei.

Dizer desta ilusão de ser feliz
Que sempre acompanhava meu desterro,
Nem sempre conseguindo o que mais quis
Errando, pois se aprende mais com o erro.

Fiz versos, universos sem sentido,
Perdido neste espaço, sem ninguém.
Sem rumo, tantas vezes vou perdido
Na busca do descanso que não vem.

Ao ver-te enfim, deitada aqui do lado,
Esqueço minha dor; flor do cerrado...

X

Sem ti, o que sentir senão o frio?
Sem ti, o que sentir senão o medo?
No sentimento imenso de vazio
A perda desta vida em vão degredo...

Eu quero te sentir, o peito arfando,
Eu quero ser em ti o que quiseres,
Eu quero te sentir me iluminando
Eu quero ser em ti o que puderes.

Sem ti, a vida passa tão vazia,
Eu quero te sentir sempre comigo,
Eu quero ser em ti a fantasia
Do sentimento manso de um abrigo...

Eu quero te sentir, p’ra sempre aqui,
Tudo seria tétrico sem ti...

X

Eu quero te ceder cada momento
Em versos, em canções, em poesia...
Não sei se inda terei um pensamento
Que não venha inundado em fantasia.

Cansado viandante pela vida,
Em meio a tantas urzes nesta estrada;
Eu sinto que encontrei força perdida,
Eu vejo que vivera sem ter nada...

Bebendo noutras fontes, no passado,
Agora que te sinto, estou feliz.
Já vejo meu caminho iluminado,
Eu sei que renasci quando te quis.

Abriste, dentro em mim, um novo sol,
Que sempre te persegue, girassol!

X

Sei quanto a nossa vida é complicada
Sem termos um carinho, sem afago.
Passando pela noite, uma alvorada
É tudo o que queremos, manso lago.

E receber apoio de quem sabe
Que a noite mal se acaba, o dia vem.
Felicidade quase não nos cabe
Quando encontramos logo o nosso bem.

Persista com teu sonho, não se entregue,
Tua vitória é fruto deste esforço,
Não deixe que a tristeza, em vão, te negue,
Se depender de mim, por isto torço.

O fruto da amizade, uma alegria,
Mesmo que se demore, vem um dia!

X

O som do mar batendo em meus ouvidos,
O vento desfilando nesta areia
Os sonhos de viver vão repartidos,
A vida preparando a nova teia.

Nesta variedade de sentidos,
Percebo teu clarão de lua cheia,
Ao beijos deste amor são recebidos
Em tua boca intensa de sereia...

Eu quero a raridade deste dia,
Envolto nas centelhas da paixão,
Trazendo para a vida a poesia,

Da vida renovando, a sensação...
E quero o som do mar, doce marulho,
Do amor que tu me dás, eu tenho orgulho.

X

Quantas vezes senti que não querias
O vento da promessa que te trouxe,
Errara, pois nas raras alegrias
Da vida, com certeza és a mais doce.

Descanso nas entranhas, sentimento,
Se minto, pois cimentas nossa sorte,
É por que não pressinto mais tormento;
Nem sequer sofrimento de amor, morte.

Eu sei que nas estradas mais compridas
As curvas sempre ocorrem, não duvido.
Mas sei que tantas regras bem cumpridas
Permitem nosso sonho mais servido.

Sou servo deste amor, eu sou cativo,
E sei que p’ra te ter estarei vivo...

X

Eu nunca deixarei de te querer
Embora tantas vezes não é fácil.
Tu tens a maravilha, sendo um ser
Que ensina-me a saber o que é ser grácil.

Não quero me apartar dos teus sentidos
Amor é sentinela vigilante;
Não deixa que os soldados combalidos
Guerreiem nem bem antes nem durante.

Eu falo destas ondas que refazem
Escumas nas areias da ilusão,
Levando uma saudade sempre trazem
As fases que se esperam da emoção.

Tão cedo o negro manto da saudade
Não venha p’ra ofuscar a claridade...

X

Achara bem melhor eu não te ver
Depois destes momentos delicados
Em que não conseguia perceber
Toda complexidade desses fados

Decorridos de amor que sei demais.
Ciúmes que temperam trazem sal,
Agora, nunca é bom ter sal a mais;
Apenas a pitada é o ideal.

Entenda que jamais te quis mentir,
Nem ser o que não sou e nem seria.
Por essas é que tento te impedir
De ver o que esse olhar nunca olharia.

Achara bem melhor eu sempre estar
Disposto nesta vida, a te adorar!

X

Nos verdes arvoredos da esperança
Refiro-me a teu nome como base
Do que percebo ser uma aliança
Que jamais quebrará nem jura ou frase.

Com solidez perene do carvalho,
Resistiremos sempre aos vendavais,
Que a vida não poreje pelo talho
Dorido do ciúme ou coisas tais.

Formando uma alameda sem espinhos,
Sem cardos e sequer sem pedregulhos,
Sem urzes venenosas nos caminhos,
Sem restos de ilusão; puros entulhos...

Eu quero te implantar jequitibá
Com todo o teu valor, jacarandá.

X

Nos penedos silvestres da paixão
Espreito tais abismos da saudade,
Não vejo sequer outra solução
Mergulho meu amor insanidade...

Sem asas, pára-quedas ou disfarces
Eu espero a dureza deste solo,
Paixão se revelando nas mil faces
Aguardo que me encontre no teu colo.

Nas belas cordilheiras me perdendo,
Sem ter sequer noção de ter chegada.
Nas grotas da paixão sobrevivendo
Respiro o teu respiro minha amada.

E sei que não permito um novo fado,
Somente sei viver apaixonado...

X



Tantas prendas gentis, o meu tesouro,
Na crença de poder ser mais feliz,
Meu barco no teu cais, ancoradouro,
Tatua uma esperança, cicatriz...

Dos dolorosos transes do passado,
Não restam nem as sombras das lembranças.
Futuro em teu destino, vou atado,
Desejo firmemente as alianças.

As mãos tão piedosas tecem preces,
Eu acredito, enfim, no nosso caso.
A boca carinhosa que ofereces,
Explode em magnitude meu ocaso.

Nós dois nos completamos totalmente
Atados pelo amor, nossa corrente...

X

Nessas sombras dos verdes arvoredos
Deitada mansamente no meu colo,
Expondo seus mistérios e segredos,
Voando com meus sonhos, sai do solo.

Comigo, decolando deste chão,
Nas asas deste que nos comporta
Estendo o nosso sol numa emoção
Abrindo, do infinito a velha porta...

E vamos passeando pelos ares,
Conforme nossos olhos já pediam.
Colhendo as maravilhas dos amares
Em mares que jamais nos deixariam

Viver sem poder ter essa brandura
Da sombra tão macia da ternura...