sexta-feira, dezembro 21, 2007

SONETOS 057 E 058

Diversos e devassos sentimentos

Confluem meus desejos e prazeres.

Sentindo que são vãos os meus tormentos

Invado totalmente os teus quereres...

É minha amada amante, ar e promessa,

Fazemos de um momento, toda a festa,

No amor tão delicado e assim, sem pressa...

Na cama, os dois exaustos, o que resta

De toda essa volúpia, da loucura...

As mãos silenciosas se entrelaçam

Num gesto de pureza e de ternura.

Dois corpos seminus quando se abraçam

Nos dão este sentido mais preciso,

De como deve ser o paraíso!

X

Amor é um momento de grandeza

Forjado em doação; não é um mito

Jogado e desprezado sobre a mesa.

Amor: um êxtase sublime; assim, bendito

Além do que é capaz a natureza

Humana compreender. Amor é rito

Diuturno e se conquista com leveza

Da alma. Por isso digo e te repito

Que não deves negar quem se encantar

Pelos olhos sinceros de um amor.

Corres o risco de teres que enfrentar

A negra solidão que não perdoa,

Aqueles que mentindo sem pudor,

Se escondem, mal disfarçam, vão à toa...

X

Se eu fôsse um retratista
tirava um retrato teu,
para mim pôr no meu quarto
para ser consôlo meu.

Amada, teu retrato na parede

Mostrando como é bom ser mais feliz.

Dessa alegria imensa tenho sede

Do amor eu sei que sou um aprendiz...

Ao ver quanta beleza em ti transluz,

Me sinto em privilégio frente a Deus,

Teus olhos; duas fontes, forte luz,

Não diga nunca mais sequer adeus...

Ao te perder senti como era triste

A vida sem amor e sem carinho,

Amor é fortaleza que resiste,

Gaiola que encantou um passarinho...

Ao ver o teu retrato, me lembrei,

Do tempo em que vivia como um rei...

Trova típica da região do Nordeste de Minas Gerais

X

Meus erros são enormes, mas humanos.

Nas ânsias as terríveis maldições.

As falhas que me tomam; desenganos,

Impedem com certeza, as soluções.

Não falo que meus versos tão insanos

São formas de enganar-me; ilusões.

Mergulho na esperança os oceanos

Formados pelas dores, emoções...

Oscilo entre a verdade transparente

E toda uma mentira que me guia.

Nas mãos incandescentes, a serpente,

Nos olhos outros brilhos mais sutis,

Resisto e não concebo a fantasia,

Mas mesmo assim, me sinto mais feliz...

X

Tantas vezes receio que não venhas,

E passo toda a noite em agonia.

Ardendo no meu peito, velhas lenhas

Que me salvavam frente à noite fria...

Mas quando chegas, sinto tal ternura

Que esqueço o sofrimento desta espera.

Somente em teu amor a dor se cura,

És como o renascer da primavera.

Amor é doce mal a quem me entrego,

Em atos em palavras, pensamentos...

Sem teu amor por certo vago cego,

A solidão impera por momentos...

Amor que se propôs sem desengano,

É verso que me toma, onde me dano...

X

Levaste meu amor quando partiste

Em busca de outros campos mais amenos;

Minha alma apaixonada ficou triste

Bebendo desta ausência os tais venenos

Que fazem do meu canto, meu lamento;

Regendo o coração, esta saudade,

Queimando como fosse um forte vento,

Tornando tão vazio o fim da tarde...

Sou árvore sem frutos, mar sem praia,

Jardim sem ter as flores, sou ninguém...

No peito a solidão se achega, espraia,

E busco como um louco, por meu bem...

Só resta esta saudade, com certeza,

E toda essa tristeza; sobremesa...

X

Eu quero te encontrar com mais saúde,

Guerreiro que aprendi a respeitar

Desde a minha longínqua juventude

Nas lutas que tivemos que enfrentar.

Tu és meu companheiro de jornada,

Na busca do horizonte que virá;

Com passos decididos, nesta estrada

Qual rumo e qual destino levará?

Às vezes me sentindo combalido

Mas nunca derrotado, pois confio

Na força de teu braço decidido,

Jamais tememos dor, sequer o frio...

Meu pai, eu te agradeço, grande amigo...

Aos poucos teus caminhos, eu prossigo...

X

Amor... Em teus domínios me entreguei

De tal forma que nunca imaginara...

Distantes emoções. O que farei

Com esta sensação imensa e rara.

Suspiro na procura de um remédio

Que possa me trazer de novo a paz.

Amor tomando forma; em seu assédio

Me perco e já nem sei se sou capaz...

Tentando em ombro amigo, me apoiar

Mas nada me conforta, alma se solta

E busca andante errante te encontrar...

Este caminho trilho e sei sem volta...

Mas ouço tua voz, meu coração,

Dizendo-me: não lute. Ah! Isso não....

X

Montada num cavalo e seminua,

Em todos os meus sonhos, tu estás;

A mão ao me tocar, logo recua,

O desejo transtorna minha paz...

Donde vens? Amazona mais bonita,

Tua pele morena, olhos morenos...

A crina e o cabelo, tudo agita

Nos campos e nas relvas, mais serenos...

Ao seguir o teu perfume já me perco,

E penso que encontrei felicidade

De toda esta beleza que me acerco

Encontro profusão de claridade...

Porém o teu perfume me alucina,

E já te denuncia, m’a menina...

X

Meu coração descansa no teu seio

As tuas mãos rolando meus cabelos...

Aos poucos aumentando o meu anseio

De me envolver contigo... Nos novelos

De pernas misturadas. Como é bom

Sentir o teu perfume me envolvendo

Desperta o meu desejo, o mesmo tom

De promessa que vai amor tecendo...

Selva, areias, desertos e montanhas

Por todos os lugares te buscar...

As mãos em meus cabelos, quando assanhas

Vontade de te ter e me entregar...

Teu rosto junto ao meu num só respiro,

Suando, todo amor, por ti, transpiro!

X

Que o dia seja bom para você;

Não se deixe levar pelo cansaço.

Coragem é preciso pra viver;

Desânimo desenha um outro traço.

Um pouco de otimismo não faz mal,

Não deixe que essas pedras do caminho

Te impeçam de vencer. É natural

Querermos um bocado de carinho

Por isso é necessário acarinhar

Quem ama de verdade. Um bom amigo

Antes de ser amado quer amar.

Trazendo, se possível, uma alegria

Que contagie a todos. Vem comigo

Com esperança sempre de um bom dia!

X

Ao ver-te qual miragem no meu quarto,

Desnuda passeando em minha cama;

Sorriso sensual, sereno e farto

Reacendendo em mim, toda esta chama...

Esplêndida visão do paraíso,

Tua nudez convida para a dança,

No toque mais sutil e mais preciso,

A festa em nossa noite já se avança...

E passo a passo sigo a maravilha

De teu corpo, decorando cada ponto.

Aos poucos aprender esta cartilha

Que traz todo desejo a que remonto...

A boca peregrina te decora,

A noite me alucina e nos devora...

X

Amor é sentimento que não nega

Apenas se entregando sem cobrar.

A um mundo mais tranqüilo nos carrega

Com paz, serenidade, ganha o mar.

Amor é desejar felicidade

A quem por tantas vezes nos magoa,

É crer na plenitude da amizade,

Só querer para outrem a vida boa.

Amar é mais que tudo, ser sustento

Nas horas mais difíceis, complicadas...

Quem ama é ser divino e tem assento

Nas terras mais queridas e ansiadas...

Eu amo bem aquém de minhas forças,

Do mar que necessito, tenho poças...

X

Ao ver-te tão bonita, moça feita,

Reparo como o tempo é tão cruel.

Às vezes a minha alma não aceita

Pensando ser criança, risca o céu

Em busca de um alento que não cabe

Em quem já ultrapassou o fim da tarde.

Um coração teimoso nunca sabe

E envolto em fantasias, lúdico, arde...

Meus dias se passando sem remédio,

Correndo, não consigo acompanhar.

Sobrando do que fui; apenas tédio,

Vontade de me ter sem me encontrar...

Ao ver-te tão bonita, me retrato

Preparo a despedida, e me maltrato...

X

Uma esperança dança em minha mente

De ser teu companheiro novamente

Na dança que fizemos, simplesmente,

A vida se tornou mais envolvente.

Não sei por que partiste de repente,

Talvez tu não me amastes totalmente,

Aqui fiquei sozinho tolamente

Aguardo tua volta, descontente.

Amor quando é demais, incontinente,

Não teme a tempestade e é urgente.

Minha alma sem te ter logo pressente

Que a vida não valeu, morreu semente.

Quem ama tanto, verdadeiramente

Não foge de quem quer, também não mente...

X

Fazendo dos meus versos minhas lavras

Cultivo tanto amor... Não são somente

Jogadas ao vão vento, estas palavras.

Quem dera se brotasse essa semente...

Usando essa esperança como adubo,

Eu rego todo dia o meu canteiro,

Aos céus com esse canto, eu juro, subo,

E sei felicidade por inteiro.

Amada, não se esqueça que te quero,

Meu mundo não é vago sentimento.

Outra realidade; sei que espero

Trazida novamente pelo vento...

Minha alma em tua alma se completa,

Tu és no meu jardim, a predileta!

X

Falar em nosso caso, nosso amor,

Dizer que nós vivemos ilusões,

Furtamos da esperança toda a cor,

Nossa alma esmeraldina, corações...

Eu sei que tantas vezes me ocultaste

A dor que no teu peito se calava,

Por isso meu amor, tu foste a haste

Que toda nossa vida sustentava...

Eu sou um sonhador, tu sabes bem,

Andando sempre a esmo, bebo ruas....

Nos bares, nas esquinas, sem ninguém,

As minhas fantasias quase nuas...

Por isso te agradeço, nos meus versos.

Meus sonhos e meus mundos tão dispersos....

X

Quando vens para mim, sorriso aberto,

Trazendo uma esperança radiosa,

Oásis que encontrei neste deserto,

Num plácido desejo, tão sedosa.

Teus seios sobressaem; transparentes,

Ao ver tanta beleza, me distraio,

Meus olhos te tomando, bocas, dentes.

Do visgo que me toma; eu nunca saio,

Mal posso te abraçar; levo-te à cama

E deito sobre ti os meus anseios,

Absorto, mal percebo; a noite inflama;

Passeio minhas mãos sobre teus seios...

Ouvindo na mudez, teu manso gozo,

A noite a me tocar. Num anjo eu pouso...

X

Eu sou o resto podre da maçã

Que foi abandonado em praça pública.

Um quase sem ter nexos, amanhã

Jogado nem sou bola nem sou búlica.

Apenas vago o mundo, vida cã,

Nesta quaresma a esmo, perco a túnica

Despido do que fosse uma manhã

Nos trâmites, trambiques da república.

Sedado se fui dado ou se fugido

Não vivo mais em buscas estrambóticas.

Exóticas verdades tenho tido,

Há sido o que bem ácido, contei.

As ilusões que tenho são as de óticas.

Perdido no que fui nem quem sou sei...

X

Bem sinto meu amigo, este torpor

Que toma tua vida por inteiro,

Nestes versos que acabas de compor

Não foste quem conheço, companheiro...

Tu tens a mansidão dentro de ti,

Pacato como o vento mais suave,

A bem de uma verdade eu nunca vi

Criares para alguém qualquer entrave.

Porém se eu te encontrasse desse jeito,

Jogado como as pedras neste rio,

Iria te dizer do amor perfeito,

Que faz o coração ser mais macio.

Nos braços com total sinceridade,

Eu te relembraria da amizade...

X

O tempo que se foi; não recupero,

Apenas rememoro... Às vezes, quase...

Mas sinto que talvez nem mesmo espero

Que a vida se refaça noutra fase...

Outono que, no amor, quis primavera

Inverno em coração, fazendo estrago.

Não sou o queria nem quem dera

Apenas me perdi no teu afago...

Mas eis que surge a sombra do passado,

Envolta num abraço e num sorriso.

De novo vou brincar no mesmo prado?

Não... Isso com certeza; é impreciso.

Porém ao te rever meu velho amigo,

As pazes eu já fiz. E foi comigo!

X

Quem sabe não se perde, vai atrás.
Por isso não permito que tu vás;
Quem corre tão depressa alma não traz
Em meio à tempestade eu perco a paz...

Eu sei quanto te quero, não duvide,
É todo o meu amor, não diga adeus.
Amor é quem escolhe e quem decide,
Povoas, meu amor, os sonhos meus...

É feito uma esperança que não cessa,
É feito uma alegria que disfarça,
Amor não é somente uma promessa,
É dança noite e dia em plena praça...

Ao dedicar amor, recebo amor,
Um eco deste peito cantador...

X


Amor nunca se pensa, só se vive!
A nossa recompensa é o prazer.
De todos os lugares onde estive
Apenas aprendi que o que valer

Não deve discutir; apenas ir
Por caminho mais belo, sem pensar...
Eu sei que tenho pressa em prosseguir.
Parado muito tempo vou cansar...

E deixo de alcançar aquela estrela
Mais bela que surgiu no firmamento.
Não quero simplesmente poder vê-la,
Eu quero te viver, todo momento.

Não perca tanto tempo, meu amor,
Viver felicidade é tentador!

X

Amigo, eu não pretendo atrapalhar

Teus planos nem causar um desconforto.

As pernas necessitam caminhar

Distantes, procurando um outro porto.

Eu sei que tu pretendes a mulher

Que um dia já me quis, unhas e dentes.

Te juro, se ela um dia me quiser,

Meus braços não serão mais envolventes.

Pois ela, que já fora a companheira

Que sempre desejei, pros dias meus,

Depois em certa altura, quer não queira,

O nosso caso teve fim. Adeus...

Por isso não se perca mais amigo,

Eu nunca te trarei qualquer perigo...

X

Eu durmo em paz, pois sei que não menti

Nem menos disfarcei o que sentia.

Minha esperança vive só em ti,

Eu creio que virás comigo, um dia...

Morena, teu caminho é meu caminho,

Não tema mais as pedras, nem as urzes.

Eu quero me entregar ao teu carinho,

Amores como o nosso levam cruzes...

Mas valem toda espera sem cansaço,

Eu quero me entregar de corpo e de alma

Deitado calmamente no teu braço,

Por isso, meu amor; te peço calma!

Minha alma na tua alma já se exila,

Eu durmo, consciência vai tranqüila...

X

Não tenho tanta pressa de ir embora,

Agora que cheguei, quero ficar.

A noite se passando sem ter hora,

O tempo inteiro; vou querer te amar.

Com calma; meu carinho mais gostoso,

Promete te dar muito mais prazer.

Desejo teu delírio em manso gozo,

Transtorno tão intenso no teu ser.

Amada, é necessário para amor

Toda uma certa dose de lirismo,

Teu corpo, delicado e tentador,

Não pode se entregar ao egoísmo.

Por isso te dedico esta atenção,

Na busca do prazer, com perfeição...

X

Eu não desejo o mal a ti, mulher;

Embora maltratasse quem te adora.

Porém, meu amor haja o que houver

Te quero, sem ter medo e sem ter hora.

Eu sei que irás sofrer; mas o que faço?

Trouxeste tantos males para mim.

Vencida pelo amor e por cansaço,

Adormeceste calma... Mas assim

Como fizeste, sinto que terás

As dores que outras vezes me causaste.

Por mais que te desejo amor e paz,

Não posso me ocultar deste desgaste.

E mesmo que eu te cubra em ouro e cobre

Eu não posso impedir que a vida cobre...

X

Desculpe; meu amigo, eu sei que errei,
Eu sei quanto querias ser feliz...
Mas sei, bem que tentar sempre tentei,
No amor eu me julgava um aprendiz...

Eu sei que mal disfarço, não consigo,
Por isso venho aqui me desculpar;
Por tanto que te quero, meu amigo,
Não posso mais deixar de me culpar.

Acontece que amor, vivendo cego,
Nunca soube escolher, vem simplesmente.
E toda esta tristeza que carrego
Já pesa no meu corpo, em minha mente...

Pois faça o que quiser, eu já nem ligo.
Porém... Tua mulher... Está comigo!

X


Vamos viver! Não tema qualquer dor,
As horas nunca voltam; vem comigo!
Deixando para trás o medo, o temor,
Fazemos da alegria nosso abrigo...

Hoje estamos aqui; mas amanhã?
Os beijos que não dei se perderão.
O sol só brilhará noutra manhã
Sozinhos nunca somos solução.

Vamos pela estrada mais florida
Do amor que nunca nega uma paragem.
Não tema ser feliz por toda a vida,
Um dia findará nossa viagem...

A morte não ataca por idade,
Por isso vamos já: felicidade!

X

Amigo, somos ecos do passado,

Por isso nossas bases asseguram

As luzes de um futuro sonhado

Aonde nossos males já se curam.

Do que tivemos, tudo o que valeu

Estará no futuro e nos trará

O melhor. Claridade em pleno breu

O que fomos; o futuro mostrará.

Não pense que o que fomos já não vale,

Apenas aprendendo, se renova.

Montanhas são promessas: calmo vale.

Nunca leve seus erros para a cova,

Aprenda com que foi para o virá,

Somente assim a vida brilhará!

X

Amei-te com certeza e muito mais

Do que podia amar. Foi o meu erro...

Pensei que amar assim nunca é demais.

Cravei meu coração num triste aterro!

Tu foste logo embora. Fiquei só.

É bruxa o que restou de uma rainha.

De tudo o que sonhei nem restou pó,

A rua que eu pensei, nunca foi minha...

Ladrilho de esperança? Já gastei...

O bosque solidão foi minha herança.

Quem quis desta donzela virar rei,

Morreu sem conhecer sequer a dança...

Mudaste meu amor, ou mudei eu?

Só sei que hoje te odeio. Amor morreu!

X

O mundo nos ensina dia a dia,

Portanto estar atento é importante.

Ensina mais com dor do que alegria,

Nas voltas, esse mundo é inconstante.

Amor; eu percebi que maltrataste

O amor que tenho em mim, sem ter motivo.

Sem perceber, talvez, tu magoaste;

Bem sabes que eu te quero e por ti; vivo.

Eu te amo, nunca mais duvide disso,

Tu és razão primeira desta vida,

Eu tenho na verdade um compromisso,

Quero-te bem além. Ah! Não duvida

Quem ama sem medida. Pode crer;

O mundo é um bom livro, basta ler...

X

Dançando com palavras, eu sonhei;

Na valsa debutante deste amor.

Os trâmites legais eu respeitei,

Embora sempre fosse um sonhador.

Amar não é seguir nem ditar lei;

Do amor serei decerto, um servidor.

É certo que em deserto eu esperei,

E veio a tempestade sem temor.

As lavras e canteiros que cultivo

São parte deste sonho. O que fazer

Se sem amor nem sei se sobrevivo,

Ou vivo simplesmente por viver.

Amar não é se dar e ser passivo,

É mais do que ficar, é sempre ser

X

Tenho tanta afeição por ti, querida,

És mais do que uma amiga simplesmente.

É lume que norteia a minha vida,

Contigo sempre estou bem mais contente.

Meus versos são modestos p’ra dizer,

De toda essa importância que tu tens.

Amparas mansamente o meu viver,

Nas horas mais difíceis, sei que vens...

Tu és tão generosa e sempre amiga,

Não deixa que essas dores me maltratem,

E quando minha sorte já periga,

Teus braços aliados, já combatem

Todas as quimeras sem perdão.

Te agradeço de todo o coração...

X

A noite nos convida a namorar,

O frio tão gostoso já nos chama,

Na chama que queremos no queimar,

Amar... Enveredar por louca trama.

Quem ama não pergunta, e já mergulha

Nas sombras vaporosas, mais ardentes.

Acende novamente esta fagulha,

Rumores delicados e vibrantes.

Os beijos que tocamos; doces, quentes,

Os seios em meu peito, descansando.

Turbilhões cada vez mais envolventes,

No frio desta noite, nos cortamos...

Encharcam-se de rosas meu jardim,

Perfumes dominando tudo, enfim...

X

Exploro; viajante, cada palmo

De teu corpo moreno e sedutor.

Às vezes muito tenso; só me acalmo

Quando chego na fonte; monte, amor.

E sinto que reviras teus olhares

Em busca do infinito... Com prazer,

Me inundo destas ondas dos teus mares,

Vontade de poder te conceber

Rainha que sonhei por toda a vida,

Mulher que me encantou, linda sereia;

A noite se passando, distraída,

A lua se entregando, plena e cheia.

Deitados no carpete desta sala,

A lua enamorada, nada fala...

X

Tua beleza negra, deslumbrante,

Deitados nesta cama, num contraste

De lua sobre o céu. Extasiante

Delírio neste amor que me ensinaste.

No nosso encontro, de ébano em marfim,

A fúria desejosa da pantera

Passeia teu amor lindo e sem fim,

Queimando em tanto ardor, flor, primavera.

Na certa, lua e noite; branco e preto,

Formando este retrato mais sublime.

Mergulho no teu corpo e me arremeto,

E tudo o que eu desejo, amor suprime...

Neste alvinegro quadro, um bom pintor,

Teceu uma obra prima ao Deus AMOR...

X

Não pense que deixei de te querer,

Apenas num disfarce me escondi.

Por incrível que isso possa parecer,

Todo o meu cantar é para ti.

Sinto-me enamorado e não mudei,

És mais que uma alegria. Meu encanto.

Amar o teu amor é minha lei,

Por isso; é a razão deste meu canto.

Espero te encontrar em pouco tempo,

Nos campos que sonhamos; minha amada

Assim que se acabar o contratempo.

O tempo pra quem ama não é nada...

E vamos rumos fortes decididos,

Viver os nossos sonhos, pré sentidos...

X

Há tempos que eu queria te dizer

Deste desejo imenso que acompanha

Em cada novo dia, o meu viver,

E todo o pensamento já me assanha...

Deitar-me no teu colo, na tardinha,

Sentindo esse mormaço caloroso,

Sabendo que depois serás só minha,

No sonho mais sutil, voluptuoso...

Amada, meu desejo é teu carinho,

Caminhos intrincados, labirintos,

Podermos destilar do nosso vinho,

Numa explosão divina dos instintos.

Beber todo um oásis; estou bem certo,

Inundação que alaga este deserto...

X

Teus desejos roubados, decifrados

Em toques, despertando teu frescor,

Nos beijos em sussurros, vão marcados

Os símbolos marcantes deste amor...

Suando, mal respiro e me enlouqueço,

No louco remelexo dos quadris,

Cativo de teus sonhos; obedeço,

E sou enquanto faço; mais feliz...

Exploro tantas rotas, mil segredos;

Uma ofegante voz me chama à luta.

No ritmo tão frenético, meus medos

Cedendo a uma vontade mais astuta...

E sinto que depois, no doce mel,

Encontrei uma escada para o céu!

X

Te quero destemida e sem pudor,

Sem medo de saber desta delícia

Que forra nossa cama em pleno amor,

Tornando cada gesto uma sevícia.

Nesta fúria instintiva me entregar

E dar tanto carinho, sem segredos...

Aos poucos, no teu corpo levitar,

Fazendo do desejo meus enredos...

Caçado enquanto caço cada ponto,

Vestido da nudez, lençóis no chão.

Ao teu chamado sempre estando pronto,

Rompendo os limites da paixão.

Amor que se transpira em cada poro,

Querida, meu amor, como eu te adoro!

X

Mordendo minha carne, tara e fome,

Devoras cada parte dos meus dias

No fogo que me ateias se consome

Este prazer em gozo, em agonias...

Depois de certo tempo vai e some,

Transtorna minha vida. Fantasias

Delírios e vontades. Tanto come

Quanto me retribuis em alegrias...

Espaços penetrados, marcas, dentes,

Os olhos se reviram, entontecem,

Amores se tornando mais urgentes,

Rondando cada parte, corpo à vista,

Na nudez dois caminhos se conhecem;

Fazendo com que a noite não resista.

X

Reverto meu soneto, reverbero

Concerto que se fez jamais espero

Aperto que me deste eu não venero

Desperto para o mundo que não quero

Sensos encilhando meu futuro

Imensos os ladrilhos deste muro.

Tensos os momentos, vou escuro,

Pretensos os delitos que perduro.

Inatos sentimentos são remotos

Versando sobre restos inauditos

Retratos esquecidos terremotos.

Alçando tantos vôos infinitos

Recatos diluídos nestas fotos

Mostrando estes teus seios tão bonitos...

X

Faz tempo que não vejo o teu sorriso

Nem mesmo o teu perfume sinto mais.

Se o medo do futuro, eu exorcizo,

Me ganhas todo dia e perco a paz.

Notícias que procuro pelas ruas,

Às vezes desconcertam e não falam,

Bem sei que nas mentiras continuas

E as dores do que fomos nunca calam...

Se telefono nunca me respondes,

Se toco a campainha não atendes.

Preciso descobrir onde te escondes

Por qual nova fogueira já te acendes.

Mas sei que esta saudade fora de hora

Um dia, com certeza, vai embora...

X

Bebendo todo o mel de tua boca

Um cálice perfeito é necessário.

A fúria do desejo já me toca

E traz todo este brilho temerário.

Vasculho do teu rio cada loca,

E a boca procurando itinerário

Encontra esta delícia em tua toca

Prazer tanto voraz quanto mais vário,

Saliva se mistura com orvalho,

E escorre pelas matas pernas, dentes,

Numa loucura intensa, em ato falho,

Percebo que desmaias nos meus braços,

Os passos mais audazes, indecentes,

Abertos os caminhos, e os compassos...

X

Varando pela noite tão aflito

Na caça de teu corpo sedutor,

Buscando em cada toque o infinito,

Sentindo a insensatez, leve torpor.

Teu corpo desejado e tão bonito,

Aberto como as pétalas da flor,

Ouvindo o teu gemido, solto o grito

De quem já foi vencido e vencedor...

Rondando os teus caminhos me provocas,

Percebo no teu cheiro, o meu que entranhas,

Aos poucos me aproximo destas tocas,

Profano sentimento me propagas,

As horas entre os planos e montanhas,

Em pleno turbilhão, mares e vagas...

X

Montando o teu cavalo, nu em pelo,

Na noite em cavalgada, sou corcel.

Sentindo-te ofegante, em louco apelo,

Voando sem ter asas, ganho o céu.

Matando o que se fora pesadelo,

Bebendo cada gota deste mel,

Envolvo teus cabelos, meu novelo,

Apenas te recubro, braço e véu.

Usando a montaria com tal arte

Que faz com que eu delire e te ganhe

Na brasa deste sonho a desejar-te.

Por vales e montanhas infinitas,

As costas te pedindo que me lanhe,

Com garras afiadas. Caço as criptas...

X

Não tenha medo, venha o que vier querida

Estarei ao teu lado, eu só serei contigo.

Não deixe que a mortalha em nós tão escondida

Apresente essa dor como fosse castigo

Pelo nosso querer que é bem além da vida.

Eu tento te encontrar, às vezes não consigo,

Em busca deste sonho eu deixo toda lida

Para seguir risonho amor demais amigo.

Não tema chuva e frio; estarei sempre aqui.

Nós somos unha e carne, a mesma embocadura

Se dentro do teu seio, amor eu me perdi,

Não há por que temer, as pedras do caminho,

Vivemos nosso caso, em tramas de ternura.

Trazendo para amor, longevidade: vinho...

X

Tanta saudade tenho deste amor

Que se foi em tempestades, para o mar...

O tempo desbotando toda cor

Não conseguiu; o nosso, desbotar.

Eu sei que foi imenso o dissabor

De te saber distante. Perco o ar

Ao me lembrar que a bela e mansa flor

Não quis mais no meu mundo navegar...

Disseste que jamais tu poderias

Viver com quem vivia noutros mares,

Vagando porto a porto, noites, dias...

Amor que se perdeu em pleno cais,

Nos sonhos de quem busca por luares,

Sem ter paragem, sofre assim, demais...

X

Amigo; é necessário que respeites

As nossas diferenças. Liberdade

Traduz necessidade que me aceites

Com todos os meus erros. Na verdade

Jamais seremos feitos pros deleites

Daqueles que nos trazem a amizade.

Não digo que sejamos água-azeite,

Porém quando quiser tranqüilidade

Aprenda que nós somos diferentes,

Embora nos gostemos, meu amigo.

Por tantas vezes somos confluentes

Mas não quero afluentes nem ser foz,

A liberdade ajuda no perigo,

Às vezes precisamos de outra voz!

X

Quem ama não desiste quando a chuva

Surgindo em temporais inunda a margem

Se, no princípio temos visão turva

Depois de certo tempo, uma paisagem

Surge calma e serena. Quando a curva

Fechada nos proíbe uma passagem,

Amor que nos caiu como uma luva

Promete as alegrias da viagem

Depois de certo tempo, aberta a estrada

Mais nada nos impede a caminhar.

Eu peço paciência, minha amada,

Difícil que pareça, a pedra dura,

Essa água que persiste sem parar,

Depois de certo tempo, a pedra fura...

X

Amigo, muitas vezes nos pegamos

Cometendo injustiças com outrem;

Depois, quase calados, disfarçamos;

Mas, porém; o perdão nem sempre vem.

Às vezes, sem querer, nós maltratamos

A quem, por certo só nos faz o bem;

Outras vezes, das árvores, seus ramos,

Ferimos sem querer. Isso também

De forma corriqueira; dia a dia,

Acontece. Melhor ficar calado

Do que quebrar encanto e fantasia

Das pessoas que são nossas amigas.

Ao falares, te peço, tem cuidado,

Palavras ofensivas quebram ligas...

X

Não entre em desespero quando a vida

Mostrar-se mais cruel, isso é verdade.

Por mais que seja triste a despedida,

O tempo há de curar qualquer saudade...

Muitas vezes devemos conformar

Com perdas e promessas não cumpridas.

As noites, companheiro, irão passar

Por mais que nos pareçam mais compridas.

Portanto, não se torne um imprudente

Guardando tanta raiva. No rancor

Sempre nos perderemos totalmente,

No fim, não restará sequer a dor...

Por isso, meu amigo, a convivência

Necessita da marca da prudência...

X

São tantos os meus medos, meus receios...

Quem sabe poderemos transformar

A dor que se propõe em meus anseios

Numa alegria imensa. Quero amar

Mas temores derrubam meus esteios

Impedem meu acesso ao teu luar,

Meus rios se perdendo dos seus veios,

Jamais encontrarão, foz em teu mar...

Eu sei que isso não passa de defesa

Que a mente preparou sem perceber.

Que o medo não proíba esta beleza

Vinda da esperança mais risonha

De sempre nos teus braços me esconder

Quando a vida,maltrata e vem medonha...

X

Amor encontrou a porta escancarada,

E nem pensou, entrou devagarinho.

Quem viu mal percebeu, não falou nada,

Aos poucos, coração virou seu ninho...

O tempo se passando, a madrugada,

Ausência de calor e de carinho...

Ao ver; minha alma estava apaixonada,

Eu não queria mais dormir sozinho.

Depressa ao me sentir bastante frágil,

Amor veio em loucuras e desejos.

Bem sei que amor é forte, esperto, ágil.

Agora o que fazer senão lutar

Sonhando com teu corpo, boca, beijos...

E aos braços deste amor, eu me entregar...

X

Amada, eu percebi o quanto sofres

Pensando no que foi, no que passou,

Não guardo uma saudade nestes cofres

Que o coração há tempos te entregou.

Já tive outras mulheres não te nego,

Passaram como as águas deste rio.

Na ponte que atravesso, eu carrego

Somente o meu amor-tempo de estio.

Tu trazes o calor desse verão

Esqueça deste inverno em minha vida.

O futuro vivendo da paixão,

Deixa o passado, página vencida.

Então venha desfrutar destes carinhos...

Águas passadas não movem moinhos!

X

Morena eu te queria aqui bem perto,
Eu sei que não é fácil conseguir.
Criaram entre nós mais que um deserto
Difícil, mas eu quero prosseguir...

São tantos os percalços, eu bem sei,
Mas nada vai deixar; amor que eu lute
Por tudo que mais quero e quererei,
Por isso, vem comigo e não relute.

A fruta proibida? A mais gostosa
Embora tenha a cerca a proteger,
Roubei neste canteiro a bela rosa,
Querida, p’ra te dar e convencer.

Tu és deste rosal a desejada,
Bem sei que a proibida... Mais amada!

X

Desculpe se sou franco, meu amor,

Eu sei que essa verdade te maltrata,

Porém não sou da farsa, fiador,

Não deixo que a verdade nunca parta.

Um grande amor resiste quando digo

Verdades tão sinceras e reais?

Só sei que na mentira, um grande amigo,

Se torna simplesmente: nunca mais!

Pois neste paradoxo me perdi,

Amada nunca mais irá voltar.

Mas, com sinceridade, não menti,

Por isso demorei a me encontrar.

Se o amor pode morrer numa verdade;

Sem ela, não resiste uma amizade!

X

Um verdadeiro amigo compartilha

As dores e tristezas, solidão...

Uma amizade em si, é maravilha

Que toca e que nos toma o coração.

Um homem que jamais é uma ilha

Conhece, neste mundo a solução

Que beira à perfeição, por isso trilha

O rumo da amizade e do perdão.

Amigos nunca estão, assim, sozinhos,

Andando lado a lado, se completam,

Percorrem os difíceis descaminhos

Nos passos que bem sei, são solidários.

Na amizade, amigos se repletam,

E juntos, nunca marcham solitários...

X

A noite que passamos mais felizes,
Roubando da alegria este sorriso,
Tão delicadamente, sem deslizes,
Depois de visitarmos paraíso...

Do céu onde estivemos; os matizes,
Num toque sensual e tão preciso
Pedimos com olhares mil reprises
Sem medo de perdermos o juízo...

Durante tanto tempo, mil perguntas
Em vão, não precisamos responder
As nossas tatuagens feitas juntas

Reflexos de nós mesmos entranhados
Nesta tortura mansa do prazer
Por toda essa emoção, teleguiados...

X

Amar é como estar num mar de rosas,

Ao mesmo tempo ter tantos espinhos.

As noites nesse amor, maravilhosas...

Depois calamos tristes e sozinhos...

Mas sabes que te quero; isso não nego,

Se tu és como uma onda, eu sou areia,

Nos sonhos em que vivo; te carrego,

Tu trazes esperança em lua cheia...

Ouvir teu canto sempre revigora,

Trazendo para mim, um doce alento.

De espinhos, bela rosa se decora,

Mas sinto seu perfume solto ao vento...

E gosto deste jogo, rosa e espinho,

Um manso beija flor pede carinho...

X

Conquanto tenho tido tanto alento

Nos braços de quem muito amor me guarda.

A vida se transforma e o pensamento

Nos traz a noite imensa. Visto a farda

Do sonhador constante, num momento;

Por mais que a solidão, deveras, arda;

Encontro em teu carinho meu sustento.

Amor quando é demais, mesmo que tarda

Trará a solução para os problemas.

Não deixe que emoção nunca se extinga,

Amor, o meu tesouro em ricas gemas.

Fazendo de meu sonho a doce lavra

Plantando uma ilusão que nos respinga

No verso, na canção e na palavra...

X

Amigo, quando a dor nos toma assento,
Na frustração terrível nos perdemos.
Aquilo que se foi; perdeu-se ao vento;
Distantes; quase nunca mais sabemos.

O que era desejado num momento,
Perdido, talvez nunca mais queremos.
Um pulo, da alegria ao sofrimento,
Depois, passando o tempo; nem sofremos.

Mas quando conseguimos nossos sonhos,
Que tanto desejávamos; amigo,
Tornando-nos decerto mais risonhos,

E depois os perdemos, vão ao largo,
O doce que vivia aí contigo
Transforma-se num gosto mais amargo...

X

Mal conheço teu nome, e não me importo

Com isso, pois te sinto por inteiro,

Neste oceano quente onde me aporto

Te reconheço apenas pelo cheiro.

Nos dentes afiados onde me corto

As marcas deste bem mais verdadeiro,

Ao tempos mais felizes já reporto

Com gosto tão selvagem de espinheiro.

Borbulho em tua boca meu desejo

Num beijo decorado, essa tortura

Tramando uma loucura onde prevejo

A nossa fantasia em carne exposta,

Já vale o que me entorna e me procura

Num arrepio intenso enquanto encosta...

X

Vida abandonada em velho cais

Sem rumo e se perdendo, naufragada,

Meus versos do quem dera e do jamais

São frases que não valem quase nada.

Boiando em ledos olhos, queimo o mais

E vivo o de somenos. Na sacada

Dos velhos casarios, vento traz

As sobras derradeiras da invernada

Da velha mocidade adormecida,

Jogada neste canto, no porão,

Abandonada ao léu; encontro a vida,

Mas rio disso tudo, na ironia

Brincando com mim mesmo, com paixão,

Na compaixão que peço em fantasia...

X

Entrego-me, sem medo, ao sonho eterno

De ser uma ilusão deambulante,

Passei por cercanias deste inferno

Que involuntariamente gera amante.

Nos tronos do quem dera; sempre terno,

Inútil sentimento mais constante

Acolhendo tais sobras de um inverno,

Querendo este verão tão escaldante...

A cota de esperanças; ultrapasso,

E sinto que perdi o meu cavalo,

Trôpego caminho, passo a passo,

Encontro escadaria; busco o céu.

Talvez inda consiga decifrá-lo

Na tua paisagem; nudez, véu...

X

Sinto-me talvez menos que pensara

Correndo de mim mesmo, nada achei.

Nem mesmo o que te digo me antepara,

Apenas sei que nada, amada, sei.

Sou pouco, quero menos. Minha cara

Exposta a tapas, risos, dor e lei.

Que mais desejaria? Noite rara

Aquela em que, esparsa; eu te encontrei.

Vieste sem pensar, nisso acredito,

De súbito te encontro. Sei de mim,

Um esmo que se encontra neste rito

Do amor residual no velho pote

Quebrado no silêncio, vejo o fim,

E a sorte de te ter, último mote...

X

Seguindo esta alameda, uma esperança

Se mostra radiante após a chuva.

Baseio minha vida em nossa dança

Bom vinho sempre exige boa uva.

Não sei se inda te lembras da criança

Que o tempo já deixou depois da curva.

Por vezes esquecida, sem lembrança,

Nos trazem a visão confusa e turva.

Na maciez da seda um bom carinho,

A noite do teu lado, bem tranqüila.

Deitando no teu colo, quando aninho

Meus lábios te procuram, te reclamo,

Minha esperança em ti; paz se destila,

Por isso meu amor, eu grito: Te amo!

X

Buscando ter sossego, certo dia,

Entranho meu desejo numa mata

Aberta nos meus sonhos de alegria

Deitado numa pedra, uma cascata

Roncando maviosa melodia,

Que invade traz a paz e me arrebata

Formando o fundo para a sinfonia

Dos pássaros. Trancado em casamata

Levando minha vida sem descanso,

Somente desta forma uma ventura

Depois de tanto tempo; sinto, alcanço...

Tua presença amada no aconchego

Aumenta muito a chance de uma cura

Mas, nua como estás... Cadê sossego?

X

Na placidez do rio, a mansa lua

Deitando seu luar se entrega inteira.

Caminho-pirilampo continua

No pisca-pisca; estrela derradeira...

Tua beleza imensa, clara e nua,

Deitada em minha cama, em minha beira,

Nem um passo sequer, amor recua,

Deságua no prazer, queira ou não queira.

Nenhuma angústia toca nem resvala,

Apenas nos teus braços, eu me enlaço...

Ouvindo tão sereno, a tua fala;

Lembrando-me da lua sobre o rio,

Procuro acompanhar passo por passo,

A nossa noite em brilho. Trilho o fio...

X

Sentindo o leve fumo da esperança

Se esvaindo fugaz pelos meus dedos;

Recordo-me da nossa última dança

Pendurada na sala dos meus medos.

Não te digo que a vista não alcança

Os passos esquecidos, velhos, ledos.

Talvez fosse resquício, a contradança

Ungida nos teares dos segredos.

Abrir os velhos lacres em ferrugem

Um desafio a mais, quem sabe? Quando?

Fantasmas derrocados não ressurgem,

Somente me entreguei e gosto disso.

Eu quero ir tão somente ir navegando

Amor tão complicado e movediço...

X

Se me entreguei voluntariamente

Aos impossíveis sonhos, impassível,

Erguidos os castelos tolamente

Buscando meu reinar que é invisível.

Nos ágios da incerteza, sou agente;

Arcando com os medos, corruptível;

Sei que nada mais resta tão urgente

Senão o perceber este desnível

Entre corpo liberto e alma tão presa,

Amar talvez se mostre como um fútil

Funil que nada traz. Perco a leveza

Sem tréguas nesta luta-fantasia.

Meu verso te perdendo fica inútil

Morrendo com nascer de um novo dia.

X

Não temo o chegar cedo ou chegar tarde,

Instantes são cometas, mas não voltam...

Arredio, buscando a liberdade,

Amarras e grilhões, os versos soltam...

Amor se recomeça. Traz saudade

Que corta e não recorta. Já me escoltam

As velhas cicatrizes. Na verdade

Depois de certo tempo nem se notam.

Meus ideais ainda são faróis,

Embora sem o brilho da ilusão.

Cerzindo uma esperança, rasgo o cós

E deixo esta nudez quase que exposta.

Apenso a pedir o seu perdão,

A boca desdentada ri, mas gosta...

X

Pousando sobre mim, asas abertas,

A borboleta toca minha pele,

As horas se passaram tão incertas.

Quase que um delírio me compele

A descobrir os sonhos que despertas

Enquanto uma ilusão já se repele.

Os medos sobrepostos, meus alertas

Impedem que teu nome, amor, revele.

Lindas asas tão frágeis deste inseto

Pousado em minha mão como a dizer

Que amor que vai nascendo, como um feto,

Precisa de cuidado e proteção,

Por mais que seja forte o meu querer,

Seu nome? Por favor, não direi não...

X

Um jardineiro cuida de uma flor

Como quem já soubesse dos perigos

Aos quais se expõe quem for um sonhador,

Em busca de outros braços mais amigos.

Um lavrador arando a seca terra

Percebe quão difícil é seu trabalho,

Na vária percepção que; sabe, encerra;

Não se permite nunca um ato falho.

Nós somos responsáveis pelos erros

Que a cada dia mostram-se mais claros,

Não adiantam somente nossos berros,

Ações são necessárias. Anteparos

Para preservar nosso planeta,

Bem antes que o final nos acometa...

X

Quem se fez em sorrisos morre só;

Distante picadeiro, nada mais...

Talvez uma esperança, deste pó,

Para onde voltaremos; ledo cais...

No circo inda se escuta um forte dó

Num eco que a saudade, triste, traz.

A vida qual moinho, em pedra, em mó,

Devora todo sonho e traz a paz

Que nunca se deseja. Mas virá.

As máscaras da sorte se calaram,

Riso que contagia, morrerá

Nos braços de quem fora sempre um laço,

Doces recordações que se amargaram;

Num último sorriso de um palhaço....

X

Talvez alguém me escute na calada,

Meu verso se guiando pelo vento,

A luz de teu olhar serve de estrada;

Galopo sem parar no pensamento...

Mas nada me respondes tão calada,

E sinto me perder por um momento,

Meu canto penetrando a madrugada,

Aos poucos se transforma num lamento...

Ninguém me escuta, sinto esta verdade,

Apenas minha voz ecoa triste.

Nos látegos desejos da saudade,

O canto vai disperso, perde o rumo...

Procura por alguém que sei que existe,

Imerso neste sonho, vou-me, esfumo...

X

Uma música toca ao longe... Escuto

Tua voz me chamando para a dança.

Carrego no meu peito inda este luto

Mortalha que sobrou de uma esperança.

Nas rendas deste som medo se tece

Nas cordas do violino, a noite passa,

Roubando desta sombra, como uma prece,

Que vai se definhando e mansa, esparsa...

Cessando este lamento, perco o fio

Que atava os meus sentidos, nada sobra,

Somente o vento canta em assobio,

A solidão imensa se redobra...

Não haverá mais nada... Na verdade,

Somente sinto o gosto da saudade...

X

Rainha dos meus olhos, minha rosa...
Não vás se não precisas mais partir.
Se queres minha vida esperançosa
Te peço, amada rosa, não sair...

Das flores que cultivo no jardim,
A rosa é com certeza a mais bonita.
Vivendo tanto amor que trago em mim,
Dourada rebrilhando qual pepita.

E sinto teu olor tão delicado
Penetra nas narinas, inebria...
Aos poucos me sentindo dominado,
Num vício que desejo todo dia...

Rainha dentre as flores, a mais bela,
A rosa dentre todas, amarela...

X

Amigo é necessária a persistência

Se queres conquistar esta mulher.

Embora eu já perceba; a paciência

Não é característica qualquer

Em quem jamais passou por penitência

E trama em desespero o que mais quer,

Não é tão simplesmente competência

É mais do que se pode, se vier.

O rumo de teu canto andando a esmo,

Se perde dos caminhos mais sensatos.

Te falo, pois dos erros sempre o mesmo,

Comete quem se encontra apaixonado.

Cumprindo fielmente os velhos tratos

Terás amor, enfim, recompensado.

X

É “inútil dormir que a dor não passa”

Por isso, companheira, nunca tema,

A vida sem ter garra se esfumaça

Amar, fazer feliz, o nosso lema...

A fome na calada não disfarça,

Preciso desta paz, pepita e gema,

Pois canto da amizade não se esparsa

Colado em nosso peito, como emblema.

Unidos nós seremos mais que dois,

Milhares, somos todos sonhadores,

Não deixe tanta coisa pra depois,

Nós somos concebidos sem temor,

Na luta desigual trazemos flores:

A fome nunca teve fiador...