segunda-feira, fevereiro 01, 2010

24000

Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós - e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela...

Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!

Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!

Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando...
Cheio de amores! E dormir solteiro!

Álvares de Azevedo

Pudesse ter a sorte ainda mesmo apenas
De ter em minhas mãos aquela a quem amando
Percebo que talvez, trazendo um dia brando
Não deixe se perder, as noites que serenas.

São poucas, na verdade, as alegrias. Condenas
Quem se faz sonhador e tendo assim se desviando
Do velho caminhar que escapa-te ao comando
Mudando desta peça; antigas, velhas cenas.

Assim não poderei sequer falar do sonho
Aonde mergulhara e dele inda componho
Os versos que ora trago a quem desejo tanto.

Falar de estrelas, lua e não se perceber
Este gozo absoluto e imenso de um prazer
É deveras morrer em vida, sem encanto...