sexta-feira, junho 16, 2006

Frorianópolis

Ele estava tranqüilo, o serviço fora muito bem feito.
Serviço profissional, desde o roubo do carro até as falsificações dos documentos. Não era a primeira vez que passava por isso, afinal, vivia disso.
O comprador do carro já esperava, especialista em recepção. Dali ao Paraguai era um pulo. Passar a fronteira, moleza...
Já contava com o dinheiro no bolso, grana alta. O carro importado tinha venda certa.
Recordava do começo de sua vida, os pequenos furtos, os pequenos golpes...
Olhava para os lados e se sentia imbatível. Era fera, cobra criada...
Passara por duas guaritas da Polícia Federal, sem nenhum incômodo.
Atravessar a fronteira entre Santa Catarina e Paraná foi moleza.
Agora era ir até Foz, atravessar a fronteira e serviço terminado.
Mais um dia, mais um carro; rotina...
Mas um carrão daquele valia um passeio, afinal o tanque estava cheio e deu vontade de visitar a tia que morava em Maringá.
Aquela sua priminha era deliciosa. Lourinha dos olhos esverdeados, verdes da cor do carrão.
Ainda podia tirar uma onda com os parentes. O menino pobre ficou rico!
E poderia zoar o primo babaca, professorzinho de merda, metido a inteligente; trabalhando o dia todo para ganhar aquele salariozinho...
Estrada bonita, um friozinho maravilhosamente agradável, poder aquecer-se nos braços da prima...
A fome estava começando a incomodar. Sabia daquele restaurante na beira da estrada, comida caseira, suculenta...
Parou, estacionando o carrão bem na porta do restaurante, orgulhoso do belo automóvel.
Chegou cantando marra : “Me dá o que você tem de melhor, o melhor vinho, a melhor mesa, o melhor melhor...”
Comendo tranquilamente, degustando aquele vinho importado, chileno, fantástico.
Era feliz e sabia, muito feliz...
Porém, de repente, sentiu uma mão sobre o ombro.
Quando ia se virar para tirar satisfação com aquele estranho, um susto.
O que estava fazendo esse cara fardado aqui?
“O que deseja meu senhor?”
A voz de prisão o assustou. Preso por quê?
“Roubo de carro...”
Como? Roubo de carro? Meus documentos e os do carro estão aqui, e estão em dia...
Piorou mais ainda a situação.
O carro era de “FRORIANÓPOLIS”.
E daí? Capital de Santa Catarina, ora bolas!
Depois, em cana, ao chamar um advogado, é que percebera a lambança.
Naquele momento, ficou morrendo de inveja do primo professor.
Pela primeira vez na vida começou a perceber o quanto a educação faz falta...