O DOUTOR E O CAIPIRA
SEU MOÇO, VOU LI CONTÁ,
ESSA HISTÓRA, NA VERDADE
CONTECEU NO CEARÁ,
NAS MATA DA BREVIDADE,
ONDE UM CABOCO TRISTE,
DESSES QUE LÁ INDA EXISTE,
HÔME DE MUNTO RESPEITO,
FAMOSO LÁ NO SERTÃO,
TRAZENDO DEUS NO SEU PEITO
SEM MEDO DE SOMBRAÇÃO
NEM DE JAGUNÇO FEROZ,
NEM SE OS ENCONTRASSE A SÓS.
VIVIA, SEU JANUÁRIO,
NOS SEUS OITENTA JANERO,
MARCADO NO CALENDÁRIO,
SABEDÔ DO MUNDO INTERO,
COMO DIZIA CO ORGÚIO;
NUM GOSTAVA DE BARÚIO...
MORÁVA CUM DONA SANTA,
NUM CASEBRIM BEM FULERO,
SUA POBREZA ERA TANTA,
MAS AMÔ BEM VERDADERO,
PELA SUA CUMPANHERA
AMÔ DUMA VIDA INTERA...
SEUS FÍO JÁ TINHA IDO
PRA SUMPAULO TRABAIÁ,
SOZIM NO SERTÃO, PERDIDO
CANSADO DE BATAIÁ,
SÓ FICÔ ELE E A MUIÉ,
INDO INTÉ ONDE DEUS QUÉ.
APOIS BEM, NUM FEVERERO,
A MUIÉ CAIU DUENTE
FOI BATENO UM DESESPERO,
DESSES QUE MALTRATA A GENTE,
PERCURÔ UM RAIZERO,
SEU ANTERO DOS PERERO,
MAIS DI NADA ADIANTÔ,
TANTA REZA E TANTA FÉ,
PERCIZAVA DUM DOTÔ.
MÓDE SARVÁ A MUIÉ.
ISSO BEM CONTRARIAVA
QUEM EM DEUS, SÓ CUNFIAVA...
MAS DOTÔ, NAQUELES LADO,
ISSO NUM SE ACHA NÃO,
NO SERTÃO ABANDONADO,
À DUENÇA FEBRE E SEZÃO,
É COISA QUE NUM SE ACHA
AINDA SE FOSSE CACHAÇA...
CACHAÇA, BALA E CAXÃO,
POBREZA, FOME E MISÉRA,
ISSO LÁ NUM FARTA NÃO,
NEM CHÃO ADONDE SE ENTERRA,
OS ANJIM QUE MORRE CEDO,
ISSO LÁ NUM É SEGREDO.
TRABÁIO SÓ SE CHUVÊ,
SENÃO NUM TEM PRANTAÇÃO,
O MÍO PÕE-SE A MORRÊ,
MORRE TODA A CRIAÇÃO,
E CHUVA, ESSE ANO NADA,
NEM DEU SOMBRA DE INVERNADA...
JANUÁRO VENDO SANTA,
ESVAINDO DE MAGREZA,
FEZ PROMESSA, REZA TANTA,
ESPERANDO, NA POBREZA,
QUE VIESSE UM MOÇO SANTO,
PRA ACABÁ MERMO SEU PRANTO.
APOIS BEM, PUR UM MILAGRE,
DESSES QUE CONTECE POUCO,
LÁ NAS TERRA DO SEU SAGRE,
UM CAMARADA DOS LOCO
QUE VIVIA LÁ BEM PERTO,
PERCURANDO POR INSETO,
MÓDE FAZÊ COLEÇÃO,
E ISTUDÁ OS BICHO MORTO
NUMAS INVESTIGAÇÃO,
QUE LEVAVA PRUM TÁR PORTO
QUE MORAVA EM PORTUGÁ,
PRÁ MIÓ PUDE ISTUDÁ.
LÁ NAS TERRA DESSE SAGRE
UM MOÇO SE APRESENTÔ,
CUMA CARRANCA DE BAGRE,
SE DIZENDO UM TAR DOTÔ
QUE VEIO DA CAPITÁ
DIZENDO QUE IA CURÁ
A POBREZINHA DUENTE,
QUE GOSTAVA DE TRATÁ,
DO PESSOÁ MAIS CARENTE
QUE VIVESSE NO LUGÁ;
ASSIM, MEI RESSABIADO,
MAS SEM TER POR ÔTRO LADO,
SEU JANUÁRIO DEXÔ
QUE O HOMÊ LÁ FOSSE VÊ,
ESSE TAR DE HÔME DOTÔ,
A QUE ESTAVA A PADECÊ
DE DOR E DE SUFRIMENTO,
MAS AVISÔ: TOME TENTO,
VEJA O QUÊ QUE VAI FAZÊ...
O MOÇO RIU, DEVAGAR,
NEM PREGUNTOU O PRUQUÊ
DE TODO AQUELE FALAR,
PEDIU LICENÇA E ENTRÔ
PULA CASA, O TÁR DOTÔ.
VENDO A SANTINHA DEITADA,
FOI PEDINO UM CANDIERO
PRA MÓDE DÁ UMA OIADA,
NA VÉIA, DE CORPO INTERO,
PEDINDO PRA EXAMINÁ
FOI OIANO DEVAGÁ.
SEU JANUARO NERVOSO,
CUM TODA ESSA MAPIAGE,
FOI OINAO PARO O MOÇO,
IA DIZÊ AS BESTAGE
QUE NÓIS DIZ CUM AFLIÇÃO,
ACHÔ MIÓ DIZÊ NÃO.
APOIS BEM, QUE TRAPAIÁDA
FEIZ ESSE TÁR DE DOTÔ,
PEDIR PRÁ VÉIA DEITADA,
LEVANTÁ O CUBERTÔ,
E MOSTRÁ NAS CAMISOLA,
AS PARTE MAIS SEM DEMORA.
SEU JANUÁRO FERVIA,
QUANDO O DOTÔ ZAMINAVA,
PRÁ PARÁ QUAGE PEDIA,
PRU ESSA NUM ESPERAVA,
DEXÁ A MUIÉ QUAGE NUA,
COMO SE ELA FOSSE SUA...
O DOTÔ VIU A CUMADE,
E DISPOIS ELE AFIRMÔ,
CUM TODA SIMPLICIDADE,
O QUE CAUSAVA ESSA DÔ,
DISSE NUM TÊ MAIS PERIGO
QUE O PROBREMA ERA NO FIGO.
QUE TOMASSE UMAS MEZINHA,
QUE FIZESSE UMA DIETA,
QUE TREIS OU QUATRO TARDINHA,
SE ELA FICASSE BEM QUIETA,
TAVA CURADA DO MÁR,
QUE PUDIA LEVANTAR...
APOIS BEM, MUNTO OBRIGADO,
DIZ O CABRA JANUÁRO,
QUE POR DEUS SEJA LOVADO,
QUANTO QUE ERA O ONORÁRO
QUE COBRARIA O DOTÔ
POR TER FEITO ESSE FAVÔ.
“NUM POSSO LI COBRÁ NADA,
POIS FOI MINHA OBRIGAÇÃO”.
-POIS ENTAUM PEGUE ESSA ESTRADA
E NUM VORTE AQUI MAIS NÃO.
SE O SINHÔ FOR VORTÁ,
SÔ OBRIGADO A MATÁ.
DOTÔ FICÔ ASSUSTADO,
O PRUQUÊ DESSE SERMÃO.
ENTONCE FOI EXPRICADO:
-SEU DOTÔ, PRESTE ATENÇÃO.
EU TÔ MUNTO AGRADECIDO,
PRÚ SINHÔ TER ASSISTIDO,
A MINHA POBRE SANTINHA,
MAS, ME PREMITA UM PORÉM,
QUANDO O SINHÔ VIU NUÍNHA,
COISA QUE NUM VIU NINGUÉM,
NEM MERMO NA NOSSA VIDA
A VI, ANSIM, DESLAMBIDA,
SEM TÊ ROPA PRÁ COBRÍ.
POIS LI JURO, SEU DOTÔ,
JURO POR TUDO QUI VÍ,
VAI EMBORA, FAIZ FAVÔ,
ISSO NUM VÔ PERDOÁ,
SE NUM FÔ, VÔ LI MATÁ...
ESSA HISTÓRA, NA VERDADE
CONTECEU NO CEARÁ,
NAS MATA DA BREVIDADE,
ONDE UM CABOCO TRISTE,
DESSES QUE LÁ INDA EXISTE,
HÔME DE MUNTO RESPEITO,
FAMOSO LÁ NO SERTÃO,
TRAZENDO DEUS NO SEU PEITO
SEM MEDO DE SOMBRAÇÃO
NEM DE JAGUNÇO FEROZ,
NEM SE OS ENCONTRASSE A SÓS.
VIVIA, SEU JANUÁRIO,
NOS SEUS OITENTA JANERO,
MARCADO NO CALENDÁRIO,
SABEDÔ DO MUNDO INTERO,
COMO DIZIA CO ORGÚIO;
NUM GOSTAVA DE BARÚIO...
MORÁVA CUM DONA SANTA,
NUM CASEBRIM BEM FULERO,
SUA POBREZA ERA TANTA,
MAS AMÔ BEM VERDADERO,
PELA SUA CUMPANHERA
AMÔ DUMA VIDA INTERA...
SEUS FÍO JÁ TINHA IDO
PRA SUMPAULO TRABAIÁ,
SOZIM NO SERTÃO, PERDIDO
CANSADO DE BATAIÁ,
SÓ FICÔ ELE E A MUIÉ,
INDO INTÉ ONDE DEUS QUÉ.
APOIS BEM, NUM FEVERERO,
A MUIÉ CAIU DUENTE
FOI BATENO UM DESESPERO,
DESSES QUE MALTRATA A GENTE,
PERCURÔ UM RAIZERO,
SEU ANTERO DOS PERERO,
MAIS DI NADA ADIANTÔ,
TANTA REZA E TANTA FÉ,
PERCIZAVA DUM DOTÔ.
MÓDE SARVÁ A MUIÉ.
ISSO BEM CONTRARIAVA
QUEM EM DEUS, SÓ CUNFIAVA...
MAS DOTÔ, NAQUELES LADO,
ISSO NUM SE ACHA NÃO,
NO SERTÃO ABANDONADO,
À DUENÇA FEBRE E SEZÃO,
É COISA QUE NUM SE ACHA
AINDA SE FOSSE CACHAÇA...
CACHAÇA, BALA E CAXÃO,
POBREZA, FOME E MISÉRA,
ISSO LÁ NUM FARTA NÃO,
NEM CHÃO ADONDE SE ENTERRA,
OS ANJIM QUE MORRE CEDO,
ISSO LÁ NUM É SEGREDO.
TRABÁIO SÓ SE CHUVÊ,
SENÃO NUM TEM PRANTAÇÃO,
O MÍO PÕE-SE A MORRÊ,
MORRE TODA A CRIAÇÃO,
E CHUVA, ESSE ANO NADA,
NEM DEU SOMBRA DE INVERNADA...
JANUÁRO VENDO SANTA,
ESVAINDO DE MAGREZA,
FEZ PROMESSA, REZA TANTA,
ESPERANDO, NA POBREZA,
QUE VIESSE UM MOÇO SANTO,
PRA ACABÁ MERMO SEU PRANTO.
APOIS BEM, PUR UM MILAGRE,
DESSES QUE CONTECE POUCO,
LÁ NAS TERRA DO SEU SAGRE,
UM CAMARADA DOS LOCO
QUE VIVIA LÁ BEM PERTO,
PERCURANDO POR INSETO,
MÓDE FAZÊ COLEÇÃO,
E ISTUDÁ OS BICHO MORTO
NUMAS INVESTIGAÇÃO,
QUE LEVAVA PRUM TÁR PORTO
QUE MORAVA EM PORTUGÁ,
PRÁ MIÓ PUDE ISTUDÁ.
LÁ NAS TERRA DESSE SAGRE
UM MOÇO SE APRESENTÔ,
CUMA CARRANCA DE BAGRE,
SE DIZENDO UM TAR DOTÔ
QUE VEIO DA CAPITÁ
DIZENDO QUE IA CURÁ
A POBREZINHA DUENTE,
QUE GOSTAVA DE TRATÁ,
DO PESSOÁ MAIS CARENTE
QUE VIVESSE NO LUGÁ;
ASSIM, MEI RESSABIADO,
MAS SEM TER POR ÔTRO LADO,
SEU JANUÁRIO DEXÔ
QUE O HOMÊ LÁ FOSSE VÊ,
ESSE TAR DE HÔME DOTÔ,
A QUE ESTAVA A PADECÊ
DE DOR E DE SUFRIMENTO,
MAS AVISÔ: TOME TENTO,
VEJA O QUÊ QUE VAI FAZÊ...
O MOÇO RIU, DEVAGAR,
NEM PREGUNTOU O PRUQUÊ
DE TODO AQUELE FALAR,
PEDIU LICENÇA E ENTRÔ
PULA CASA, O TÁR DOTÔ.
VENDO A SANTINHA DEITADA,
FOI PEDINO UM CANDIERO
PRA MÓDE DÁ UMA OIADA,
NA VÉIA, DE CORPO INTERO,
PEDINDO PRA EXAMINÁ
FOI OIANO DEVAGÁ.
SEU JANUARO NERVOSO,
CUM TODA ESSA MAPIAGE,
FOI OINAO PARO O MOÇO,
IA DIZÊ AS BESTAGE
QUE NÓIS DIZ CUM AFLIÇÃO,
ACHÔ MIÓ DIZÊ NÃO.
APOIS BEM, QUE TRAPAIÁDA
FEIZ ESSE TÁR DE DOTÔ,
PEDIR PRÁ VÉIA DEITADA,
LEVANTÁ O CUBERTÔ,
E MOSTRÁ NAS CAMISOLA,
AS PARTE MAIS SEM DEMORA.
SEU JANUÁRO FERVIA,
QUANDO O DOTÔ ZAMINAVA,
PRÁ PARÁ QUAGE PEDIA,
PRU ESSA NUM ESPERAVA,
DEXÁ A MUIÉ QUAGE NUA,
COMO SE ELA FOSSE SUA...
O DOTÔ VIU A CUMADE,
E DISPOIS ELE AFIRMÔ,
CUM TODA SIMPLICIDADE,
O QUE CAUSAVA ESSA DÔ,
DISSE NUM TÊ MAIS PERIGO
QUE O PROBREMA ERA NO FIGO.
QUE TOMASSE UMAS MEZINHA,
QUE FIZESSE UMA DIETA,
QUE TREIS OU QUATRO TARDINHA,
SE ELA FICASSE BEM QUIETA,
TAVA CURADA DO MÁR,
QUE PUDIA LEVANTAR...
APOIS BEM, MUNTO OBRIGADO,
DIZ O CABRA JANUÁRO,
QUE POR DEUS SEJA LOVADO,
QUANTO QUE ERA O ONORÁRO
QUE COBRARIA O DOTÔ
POR TER FEITO ESSE FAVÔ.
“NUM POSSO LI COBRÁ NADA,
POIS FOI MINHA OBRIGAÇÃO”.
-POIS ENTAUM PEGUE ESSA ESTRADA
E NUM VORTE AQUI MAIS NÃO.
SE O SINHÔ FOR VORTÁ,
SÔ OBRIGADO A MATÁ.
DOTÔ FICÔ ASSUSTADO,
O PRUQUÊ DESSE SERMÃO.
ENTONCE FOI EXPRICADO:
-SEU DOTÔ, PRESTE ATENÇÃO.
EU TÔ MUNTO AGRADECIDO,
PRÚ SINHÔ TER ASSISTIDO,
A MINHA POBRE SANTINHA,
MAS, ME PREMITA UM PORÉM,
QUANDO O SINHÔ VIU NUÍNHA,
COISA QUE NUM VIU NINGUÉM,
NEM MERMO NA NOSSA VIDA
A VI, ANSIM, DESLAMBIDA,
SEM TÊ ROPA PRÁ COBRÍ.
POIS LI JURO, SEU DOTÔ,
JURO POR TUDO QUI VÍ,
VAI EMBORA, FAIZ FAVÔ,
ISSO NUM VÔ PERDOÁ,
SE NUM FÔ, VÔ LI MATÁ...
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