sábado, dezembro 02, 2006

Nas horas derradeiras desta vida
Que à noite nas boates terminava
Sem medo de viver a despedida
E nas dores cruéis agonizava
No prazer maior destes bacantes
Trazendo tantos gozos delirantes...

Investido de lágrimas e sonhos
Abraço teu cadáver, triunfante
Os gozos que me deste enfadonhos
Teu fim é meu começo, delirante.
O corpo desta fera pesa tanto
E traz ao meu destino, um novo encanto...

Ao me ver assim bêbado infeliz
Escarrado pelas ruas, um mendigo,
Buscando meu prazer na meretriz
Meu último quinhão, o meu abrigo
Nas noites friorentas deste inverno
Que sempre se traduzem como inferno!

Nas portas que fechaste com teus pés
A vergonha invadindo minha vida
Meu barco naufragado sem convés
Amargo da saudade desvalida
E o fel deste teu beijo envenenado
Teu fim sempre sonhei, tão desejado...

Mortalha não carrego, comemoro!
Em cálices de amarga lucidez.
Os olhos sobre o corpo já demoro
E rio, me gargalho dessa tez
Lívida, arroxeada e sem mistério.
A morte executada sem critério...

Agora que me livro desta fera
Encontro meu destino mais feliz.
O rosto venenoso de quimera
Não guarda mais sequer a cicatriz
Marcada pelo golpe que te dei
Nas horas onde foste a triste lei...

Vencida esta batalha, resta o sonho
Em busca d’outros dias sem fronteira.
Vejo-te em podridão, acho bisonho
Quem fora sempre forte, a vida inteira,
Coberta pelas lavras se destrói
O mais mísero verme te corrói.

A minha mocidade destruíste
Em todos os orgasmos não deixaste
Todos os meus desejos já puíste
E em cada sonho meu sempre escarraste
Não pude decifrar sequer teu rosto
Que agora, está em restos, decomposto...

Meus olhos regozijam com a tela
Demonstrada e pintada em vera cena
No brilho do matiz, esta aquarela
Resume o belo fim de minha pena.
Eu vejo destroçado quem me corta.
Depois deste cenário, a nova porta.

Agonizaste a cada navalhada,
Penetrante e sutil em tal prazer
Dada que esfacelou, não restou nada
Apenas a vontade de viver
Que renasceu com fúria no meu peito.
Descanso no meu leito, satisfeito...

Esperei por tal fato sem descanso,
Lutei tão bravamente e te venci!
Futuro tão distante, sim, alcanço
Num gesto quase heróico estás ai
Morta enfim. Destroçada sem perdão!
Livrei-me da quimera: a solidão!