sábado, junho 03, 2006

DOS TEMPOS DA ARENA E DO MDB

Nos tempos da ditadura, como todos nós sabemos, havia somente dois partidos políticos no Brasil, mas, por uma desses casuísmos inerentes aos períodos de exceção, havia a divisão dos partidos em “famigeradas” sublegendas, o que permitia, em Muriaé, que a antiga UDN e o antigo PSD andassem lado a lado numa mesma ARENA governistas.

Alguns poucos corajosos, se reuniam no MDB e faziam tripla oposição; aos Governos Federal, Municipal e Estadual, todos unidos sob a égide da cruel ditadura militar que vivíamos.

Em Muriaé, havia uma professora de Português muito querida por todos, de temperamento explosivo e famosa por suas atitudes corajosas e, muitas vezes, intempestivas.

Pois bem, numa eleição para prefeito e vereadores, lá pela década de 70, a nossa amada mestra, resolveu se candidatar.

Como só poderia ser, optou pelo MDB, o que diminuía bastante suas chances de se eleger, mas, mantinha a coerência de uma lutadora.

Tínhamos nesta mestra, além de um excelente caráter, uma purista do idioma, reagindo com indignação a qualquer erro crasso que ocorresse.

Cabo eleitoral de cidade pequena, normalmente, não tem ideologia. A sua principal função, a de arregimentar eleitores, normalmente é recompensada a peso de ouro.

Luisinho Pereba era um dos mais requisitados de Muriaé, tinha dívidas para com o pai de nossa heroína, fruto de casos passados ligados à compra e venda de gado.

Nessa eleição, portanto, não adiantava nem a Arena 1 nem a Arena 2 tentarem contratar Luis, este estava irremediavelmente ligado à nossa candidata.

Estava, mas não ficou...

Não é por causa de “compra” ou aliciamento, como vocês podem pensar não. Luis era incorruptível.

O problema foi a maldita mania de perfeição de nossa mestra com relação ao idioma.

Num comício, para melhor localizarmos, no MAIOR comício preparado pelo MDB, ansioso com a provável votação recorde de sua candidata e a possibilidade de eleger um vereador, fato raro naqueles tempos bicudos, a professora fez um dos mais belos e corajosos discursos.

Ao falar da desigualdade, da opressão, da falta de liberdade de expressão, nossa heroína se emocionara às lágrimas.

Empolgado, Luis, mesmo sem entender muito que a mestra dissera, resolveu tomar o microfone e defender, com unhas e dentes a sua candidata.

Num momento de emoção incontida saiu-se com essa:

-Votem em M..., ela é a MULHER IDEAL PRA “CAMA” DOS VEREADORES DE MURIAÉ!

A professora, ao ouvir tal disparate, não conseguiu se conter:

- Ideal PRA CAMA DOS VEREADORES É A SUA MÃE, SEU IMBECIL!

Surpreso com a reação da professora e sem entender muito bem o porquê, Luis se levantou e retirou-se do palanque. Do palanque e da campanha!

Claro que a nossa mestra não se elegeu, mas pelo menos a sua honra e a da “flor do Lácio” foram respeitadas!