terça-feira, julho 11, 2006

Aline

Cada vez que vejo alguém acreditar que o amor é o rumo e a base de uma existência, mais me recordo de Aline.
Aline, doce menina, bela mulher, dominadora...
As noites sem Aline foram dolorosas, sem o odor de rosas que exalava, tristes e distantes noites.
Pesadelos diários, insensatez, delícias e delírios. Dos lírios do jardim, Aline foi o mais belo.
Mas, partindo, levou o que restava da casa. O violão calado, o cansaço da vida, a velhice se aproximando, velhice sem Aline.
Ah se eu pudesse não a ter conhecido, talvez ainda iria querer viver.
Mas, o que se apresentou como luz, terminou num incêndio, num terrível incêndio, queimando tudo o que encontrasse, matando todas as esperanças e as alegrias.
Da mesma forma e intensidade que fui feliz, mergulhei no inferno em vida, das dúvidas e do vazio.
O cigarro aceso, o copo de uísque, a sala vazia, o desencanto de amar demais. Morrer de amar demais.
A fossa, a desilusão, partida...
Quero conhecer o mar, distante mar, mergulhar nesse mar de infinitas ondas, que me levariam para a eternidade, sereia distante.
Seria o meu último mergulho, carregando o entulho que a vida me deixou como espólio. A lembrança do rosto de Aline, sorrindo...
O sorriso manso que se transformou na saudade atroz pouco tempo depois.
Tempo, senhor de todos os sentimentos, de todos nós, dos nós desatados ou presos na garganta. Tempo, amigo do esquecimento, não foste fiel comigo.
Nada apagou Aline, nada, nem o tempo...
Aliás, aumentou a cada dia, o vazio deixado, no quarto desarrumado e nunca mais tocado, guardando ainda as marcas de um amor insensato.
De um louco e infeliz mundo que me deixou com o amargo e atroz sabor da saudade.
Em meio aos meus guardados, um pedaço de Aline sobrevive.
Um último pedaço, um mínimo pedaço, mas é Aline.
Quem me dera poder ressuscitar Aline, trazê-la de volta, a partir desse tênue fio, desse fio de esperança, desse fio de vida...
O fio de cabelo de Aline é minha última esperança.
Dele, no milagre da ciência, refazer Aline, minha Aline...
Aline, que o mar levou sereia...