domingo, maio 28, 2006

CRÔNICA - DUAS VOLTAS

Na pequena Mirai de Ataulfo Alves e de Marcos Coutinho Loures, moram ainda muitos parentes meus, inclusive primos, tios, tias; parentes enfim, pelo lado de meu pai.
Entre esses meus primos, dois protagonizaram essa história que passo a narrar agora.
Declino-me de dizer o nome dos personagens por questões meio que óbvias e, à moda antiga colocarei somente as iniciais dos nomes dos nossos amigos.
P... Era um rapaz muito bem apessoado, loquaz, namorador; um tipo bem agradável e muito solicitado por todos, da pequena Mirai. Porém, tinha um hábito terrível, bebia muito e, quando estava embriagado, cismava de aprontar alguma.
Volta e meia as placas de sinalização amanheciam jogadas na rua, algumas portas das casas, abertas, outros portões escancarados; etc...
Tal fato deixava em polvorosa, os pacatos miraienses; era um tal de carro entrando na contramão, de cachorros e gatos fugindo pelas ruas, bêbados entrando nas varandas das casas, um verdadeiro pandemônio.
Pois bem, o delegado da cidade, já sabendo quem aprontava aquilo, mas sem poder provar, admoestava nosso travesso e ameaçava-o de prisão a cada final de semana.
Sóbrio, P... era o sinônimo da candura; cordato, não criva qualquer tipo de problema, muito pelo contrário. Ajudava na hora da missa, tratava a todos com solicitude e presteza; mas, se bebesse...
Um dia, no sábado à noite, P... Resolveu beber além da conta e, como havia comprado um Fusca usado, e a rua já estava praticamente vazia, pois já se passava das 2 horas da manhã, decidiu entrar com o carro dentro da Praça principal da cidade.
Para seu azar, esquecera-se que o delegado morava defronte à Praça e, ouvindo aquela balbúrdia do carro passando por cima dos canteiros, tirando fininho dos bancos, se levantou e ao abrir a janela, se deparou com o espetáculo.
Ligou para a delegacia, onde estavam de plantão dois soldados e o carcereiro J..., PRIMO EM PRIMEIRO GRAU de P....
Ao chegarem à Praça, foi o mesmo que pegar um gambá depois de embriagado e satisfeito.
P... rendeu-se sem esboçar nenhuma reação.
O delegado, feliz por ter conseguido colocar as mãos no Pedro Malasarte Miraiense, deu-lhe voz de prisão e, com um sorriso estampado no rosto, deu a ordem ao carcereiro: - J... , prenda esse vagabundo e dê DUAS VOLTAS NA CHAVE, DUAS VOLTAS, HEIN...
J... sabendo do temperamento bonachão do primo e que, assim que a carraspana passasse, ele voltaria a ser o bom rapaz de sempre; e conhecendo bem o delegado, percebendo que esse, embora justo já estivesse com a paciência esgotada com P...; pensou, pensou e:
Cumprindo as ordens do delegado, realmente deu duas voltas na chave:
UMA PARA FRENTE E A OUTRA PARA TRÁS!