TRAVESSEIRO DE PEDRA
Mendigo atrapalha campanha de Serra em Araçatuba
Assessores deram R$ 1,00 para afastar o mendigo, que insistia em cumprimentar o político
Chico Siqueira
ARAÇATUBA, SP - O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, está em campanha neste Sábado na cidade de Araçatuba. O ex-prefeito de São Paulo chegou por volta das 12h30 no Calçadão comercial da cidade do interior paulista. Após a caminhada, o candidato se reúne com prefeitos e lideranças políticas da região. Na caminhada de Serra pelo Calçadão, a assessoria do candidato retirou do caminho um mendigo que insistia em cumprimentá-lo. Para evitar o assédio assessores de Serra deram R$ 1,00 para o mendigo, que se afastou satisfeito com o dinheiro.
Mario nascera na cidade de Aimorés, Minas Gerais; tivera uma infância e adolescência difícil como todo mundo que vivia na zona rural.
Na época da colheita do café ainda tinha trabalho mas, passada a safra, a situação voltara ao desespero de sempre.
A fome era muita, a esperança; ah! Essa era pouca, ou melhor, quase nenhuma.
Um tio seu fora para São Paulo, e o chamara para ir também.
No começo relutou muito mas, depois de uma safra muito difícil onde o preço do café tinha despencado, senão me engano, na época do plano cruzado, não teve outra alternativa.
Ir para São Paulo era o destino de muitos iguais a ele, Mario. E a capital paulista tinha emprego, tinha comida, tinha futuro.
Qual nada; até que nos primeiros anos, a situação ainda estava mais ou menos. Mas depois que o xará dele assumiu o poder, a coisa foi de mal a pior.
Como o Estado entrou em declínio econômico, foi da pobreza à miséria, da periferia às ruas.
Com a Martha ainda obteve uma pequena melhora, um pouco de esperança, com a possibilidade de se alimentar e poder ir para um dos abrigos na cidade.
Mas, depois que ela perdeu a eleição e um outro assumiu a prefeitura, a coisa acabou de vez.
O viaduto que servia de abrigo para as noites de frio, fora modificado, tendo sido colocado uma rampa que impedia o repouso do pobre.
Sem local para dormir, se mudou para Araçatuba, no interior do Estado.
Ali, a situação estava um pouco melhor; pelo menos podia continuar mendigando, o que lhe dava, não posso dizer prazer, mas um certo conforto.
Vivia disso, e sobrevivia disso.
Era complicado para os outros entenderem, mas não era de todo infeliz.
Ouviu falar numa tal de bolsa família e, como tinha dois filhos que moravam com a mãe numa favelinha lá pros lados de Osasco, pensou em procurar saber como fazia para conseguir a bolsa família.
Pois bem, naquele dia, lá pro final de maio, soube que um político influente ia vir até Araçatuba para fazer campanha.
Bem, devia ser aquele moço nordestino, o tal da bolsa família.
Resolveu chegar perto dele para pedir a bolsa família pra mulher e pros meninos.
Mas, ao se aproximar, nem deixaram falar com o homem.
Deram pra ele um real e mandaram-no sumir.
Um real é pouco, muito pouco, mas pelo menos aquele moço careca que ele viu de costas, não tinha expulsado ele do viaduto, nem tinha feito a covardia de mandar fazer rampa no lugar da cama onde ele dormia, mesmo sobre um travesseiro de pedra.
Assessores deram R$ 1,00 para afastar o mendigo, que insistia em cumprimentar o político
Chico Siqueira
ARAÇATUBA, SP - O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, está em campanha neste Sábado na cidade de Araçatuba. O ex-prefeito de São Paulo chegou por volta das 12h30 no Calçadão comercial da cidade do interior paulista. Após a caminhada, o candidato se reúne com prefeitos e lideranças políticas da região. Na caminhada de Serra pelo Calçadão, a assessoria do candidato retirou do caminho um mendigo que insistia em cumprimentá-lo. Para evitar o assédio assessores de Serra deram R$ 1,00 para o mendigo, que se afastou satisfeito com o dinheiro.
Mario nascera na cidade de Aimorés, Minas Gerais; tivera uma infância e adolescência difícil como todo mundo que vivia na zona rural.
Na época da colheita do café ainda tinha trabalho mas, passada a safra, a situação voltara ao desespero de sempre.
A fome era muita, a esperança; ah! Essa era pouca, ou melhor, quase nenhuma.
Um tio seu fora para São Paulo, e o chamara para ir também.
No começo relutou muito mas, depois de uma safra muito difícil onde o preço do café tinha despencado, senão me engano, na época do plano cruzado, não teve outra alternativa.
Ir para São Paulo era o destino de muitos iguais a ele, Mario. E a capital paulista tinha emprego, tinha comida, tinha futuro.
Qual nada; até que nos primeiros anos, a situação ainda estava mais ou menos. Mas depois que o xará dele assumiu o poder, a coisa foi de mal a pior.
Como o Estado entrou em declínio econômico, foi da pobreza à miséria, da periferia às ruas.
Com a Martha ainda obteve uma pequena melhora, um pouco de esperança, com a possibilidade de se alimentar e poder ir para um dos abrigos na cidade.
Mas, depois que ela perdeu a eleição e um outro assumiu a prefeitura, a coisa acabou de vez.
O viaduto que servia de abrigo para as noites de frio, fora modificado, tendo sido colocado uma rampa que impedia o repouso do pobre.
Sem local para dormir, se mudou para Araçatuba, no interior do Estado.
Ali, a situação estava um pouco melhor; pelo menos podia continuar mendigando, o que lhe dava, não posso dizer prazer, mas um certo conforto.
Vivia disso, e sobrevivia disso.
Era complicado para os outros entenderem, mas não era de todo infeliz.
Ouviu falar numa tal de bolsa família e, como tinha dois filhos que moravam com a mãe numa favelinha lá pros lados de Osasco, pensou em procurar saber como fazia para conseguir a bolsa família.
Pois bem, naquele dia, lá pro final de maio, soube que um político influente ia vir até Araçatuba para fazer campanha.
Bem, devia ser aquele moço nordestino, o tal da bolsa família.
Resolveu chegar perto dele para pedir a bolsa família pra mulher e pros meninos.
Mas, ao se aproximar, nem deixaram falar com o homem.
Deram pra ele um real e mandaram-no sumir.
Um real é pouco, muito pouco, mas pelo menos aquele moço careca que ele viu de costas, não tinha expulsado ele do viaduto, nem tinha feito a covardia de mandar fazer rampa no lugar da cama onde ele dormia, mesmo sobre um travesseiro de pedra.
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