sexta-feira, maio 12, 2006

DURMA COM ESSA

Rice elogia Lula e afirma que poderia ter nascido brasileira DE WASHINGTON A disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez pelo posto de líder latino-americano ganhou uma jogadora de peso. No esforço mais evidente até agora de mostrar sua opção pelo brasileiro sobre o venezuelano na queda-de-braço que se seguiu às nacionalizações na Bolívia, Condoleezza Rice elogiou o programa educacional do Brasil e chegou a dizer que seus ancestrais poderiam ter sido brasileiros. "Eu sei que o presidente Lula, do Brasil, tem dado grande ênfase à educação", afirmou a chanceler norte-americana em discurso na sexta-feira, cujo íntegra só foi tornada pública anteontem à noite. Ela participava do encerramento do ciclo "Espaço EUA -Vanguarda Latina 2006", no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington."Quando estive no Brasil, recentemente", continuou, "tive uma conversa muito interessante sobre afro-brasileiros porque, é claro, meus ancestrais poderiam muito bem ter acabado no Brasil, em vez de no Alabama. Fazia parte do comércio transatlântico de escravos. E, ao olhar como essas diferentes populações estão começando a afetar seus ambientes domésticos, enxergamos o que é melhor sobre a democracia, mas, mais importante, sobre a democracia multirracial".A secretaria de Estado, que vem sendo questionada por ter sido surpreendida pelas decisões recentes do presidente boliviano, Evo Morales, e por fazer parte de uma administração que deixou a América Latina em segundo plano por conta da chamada Guerra ao Terror, fez um mea culpa: "Eu quero estar mais presente no continente, porque essa é a nossa vizinhança", disse, "um lugar com o qual dividimos fronteira".Segundo Rice, o principal problema da região hoje em dia "é que os governos democráticos estão tendo dificuldade em cumprir o que prometeram à população, e a população está ficando impaciente". "Quando os cidadãos perguntam "o que a democracia está fazendo por meus filhos e por minha família e por meus anseios", nós temos de ter uma resposta para isso", declarou.Como prova de sua preocupação, disse a secretária de Estado, a administração de George W. Bush teria "dobrado" a ajuda oficial para a América Latina, e essa ajuda, mais a expansão da zona de livre comércio e de oportunidades na região, "não levam em conta a posição dos governos no espectro político".No domingo, analistas haviam criticado na Folha o órgão do governo norte-americano por sua falta de política para o continente.

A análise dessa notícia postada acima deve ser feita com muito cuidado, porém parece clara se analisarmos do ponto de vista norte americano sobre a América Latina nos dias de hoje.
Em primeiro lugar, temos em Lula a figura conciliatória e verdadeiro contraponto lúcido à Chavez, com uma capacidade de diálogo maior e de, prestem atenção, SEM SER SUBALTERNO, ter uma contrapartida mais lúcida com relação ao Governo Bush.
Rice, como todos sabemos é o cérebro que a natureza negou a Bush, portanto traduz fielmente o que pensa os Estados Unidos, verdadeira Rasputin de saias, eminência parda do Governo Bush.
Lula representa o socialismo inteligente, sem radicalismos desnecessários, mesmo assim firme nas atitudes como na ruptura pacífica com o FMI, nas posições claras com relação a OMC e o protecionismo dos subsídios na Europa e EUA, além de sua política social de resultados invejáveis, além do sepultamento sutil da A L C A.
Isto demonstra claramente que não haverá intervenção americana pró ALCAmin, como temíamos e suspeitávamos, mesmo que esse se ofereça qual “donzela” da Praça Mauá, como no caso da oferta de reiniciar a A L C A; além do canto da sereia das privatizações, mesmo que sejam da PETROBRAS e até, não duvidem da internacionalização da Amazônia.
Muito interessante este aspecto da eleição que se aproxima, eu nunca iria imaginar postar isso um dia:
O operário que tirava o sono da Regina Duarte e de dezenas de “assustados” brasileiros que, fraudando o país, sob os auspícios de FHC, detonaram a economia do Brasil, com a gigantesca evasão de divisas; hoje é muito mais aceitável aos olhos dos EUA, SENDO MAIS DESEJÁVEL QUE A PRÓPRIA DIREITA, pois essa, o que poderia fazer se ganhasse as eleições no Brasil, seria aumentar a liderança radical de Chavez.
Hugo é um grande companheiro, mas sua visão de socialismo ainda remete aos tempos onde o radicalismo era a única opção, com sutis, mas importantes diferenças do socialismo de Lula de bases mais sólidas e menos conflitantes.
Não se é necessário destruir para reconstruir, sendo mais fácil e inteligente a reformulação, mesmo que se utilizem medicamentos diversos para se atingir a cura, o importante é a cura.
A política, aparentemente neoliberal de Lula, é no fundo uma genial adaptação de um medicamento esdrúxulo com resultados efetivos na distribuição de renda e diminuição da miséria.
Outra coisa que me espanta é essa capacidade de Lula de contemporizar diversidades, creio que treinada na dura oficina diária com o PT e suas várias vertentes, muitas vezes aparentemente antagônicas.
Quem diria que o WASP norte americano iria “torcer” para uma vitória do nosso operário, independente, mas sensato.
Eu creiam-me, me espanto cada vez mais com LULA, esse gênio que, na sua simplicidade tem o poder de agregar as mais diversas tendências desse mundo globalizado.
Já Alcamin, fragilizado por si só, não contava com essa, acostumado à subserviência aos yankees, mesmo “ofertando” os bens do povo, a submissão e o que fosse necessário, não conseguiu sensibilizar os americanos.
Durma com essa PSDB/PFL, por essa nem o eterno “slave” FHC esperava!

DA CAPACIDADE DE CONCILIAÇÃO

Uma coisa me chama a atenção: o caráter conciliatório de Lula, surpreendente para quem não conhecia o velho companheiro.
A imagem criada pela mídia de um combatente, de um guerrilheiro, a do homem de barbas e com cabelos desfeitos, das décadas de 70 e 80, dá lugar a de um contemporizador, de um pacifista de lucidez impar.
Interessante esse aspecto desconhecido pela grande parte da população brasileira, a de um homem amadurecido pelas dores e intempéries da vida.
Acostumado ao diálogo e à discriminação absurda, sem curvar a cabeça, mas tendo a paciência de esperar, sem discriminar ninguém. Respeitador e respeitado pelos homens de bem e, capaz de ser um ponto intermediário entre Bush e Chavez, aplaudido em todos os países onde anda, por sua maneira simples sem ser simplória de se expressar.
Lembro-me que desde o começo de seu governo, para espanto da classe média conservadora e da imprensa especular dessa mesma classe média, o líder operário se viu no centro das atenções nos fóruns que participava.
Poderias ser pelo exótico, diziam alguns, poderia ser pelo ineditismo de um operário no poder do Brasil, mas a verdade era bem outra.
Nós, socialistas acostumados à imagem guerrilheira de um Che Guevara, de um Fidel, olhamos, meio que desconfiados para esse homem de sorriso fácil, de bom humor e de empatia contagiante, sendo que muitos pensaram que o homem tinha voltado “americanizado”.
No seu encontro com Bush, alguns imaginaram que Lula iria partir para a “agressão” contra o imperialista americano, mas, ao se perceber que Luis Inácio tratou-o com a simpatia costumeira e surpreendente e com o carinho de um velho camarada, isso passou a ser visto com desconfiança por muitos de nós.
Sua linguagem popular, sem frescuras e de comunicação direta, transformou-o num líder popular de rara estirpe.
Isso foi, pouco a pouco, gerando a inveja em alguns e a admiração em muitos. O lançamento do programa Fome Zero e a capacidade de conquistar corações mais puros, levou o Brasil a se tornar um ponto obrigatório de referência, quando tratávamos de grupo dos 20, dos países emergentes, sendo destacada a liderança assumida por Lula, capaz de conquistar a todos, desde o Governo Francês até lideranças de países árabes, onde foi recebido com todo o respeito e admiração.
A passagem de Lula na Sorbonne, ao responder sobre a corrupção recém denunciada no Brasil, se essa era compatível com a democracia, ao dizer que no Haiti, realmente era incompatível, foi exemplar na forma elegante de responder à deselegância.
Pois bem, a partir daí comecei a entender por que Lula é respeitado por diversos setores, normalmente intransigentes, que vão de Stédile a Chavez.
Esse homem, que teve a sabedoria de não reagir intempestivamente às provocações diárias da oposição durante um ano e meio, percebendo que, como presidente do Brasil, sua função era a de dar a dimensão correta às denúncias e afastando, sabiamente todos aqueles que foram afetados direta ou indiretamente pelas denúncias, sem nunca se esquecer de que o direito à defesa é sagrado e ninguém é culpado até a prova ao contrário.
Poucos de nós teriam a paciência e a serenidade de não responder agressivamente às agressões sofridas de todos os lados, inclusive do nosso próprio lado.
Ao decorrer dessa crise, Lula amadureceu mais, tendo que se desfazer de companheiros de primeira ordem em nome da governabilidade que se fazia absolutamente imperativa naqueles momentos.
Passadas estas tempestades, eis que surge o problema com a Bolívia, Evo Morales, sem perceber está sendo o pivô de uma “disputa” até certo ponto fabricada pela mídia brasileira para tentar fragilizá-lo.
Percebe-se que a tentativa de antepor Lula a Chavez é uma forma de atuação conhecida e manjada, o divisionismo costumeiramente usado pela direita para enfraquecer os dois lados; o problema disso tudo é que, pelo que parece, o Presidente Boliviano não se apercebeu disso, poderá ser muito tarde quando esse acordar.
Não é difícil entender e se solidarizar com o povo boliviano, porém Morales tem sido muito infeliz em algumas declarações, muitas vezes parecendo que não identifica com clareza quem é realmente o inimigo do povo boliviano.
Aliás, essa história toda faz parte da herança maldita do Governo FHC, que criou todo esse problema, tornando a exploração imperialista da Petrobrás sobre o gás boliviano peça fundamental para a indústria paulista.
Esse problema é de fácil resolução, principalmente se tivermos em conta que a capacidade de auto-suficiência de gás natural brasileiro é evidente.
Lula, na sua sabedoria e paciência, sabe disso tudo e tem agido com a serenidade de sempre, inclusive resistindo às provocações mais canalhas, como as feitas pela capa de O GLOBO.
O desenrolar dessa história é claro, a Bolívia necessita essencialmente da Petrobrás e tem todo o direito de buscar em outros países a diversificação extremamente necessária para sua independência, isso é ponto pacífico, porém a forma atabalhoada que tem sido feitas algumas coisas pode, e muito, debilitar o governo popular de Morales.
A coragem, muitas vezes necessária tem que ser aliada à inteligência, pois senão se torna ou bravata ou temeridade, e ambas são deletérias.
Mais uma vez, Lula tem tido a sabedoria de saber negociar sem pressa, sem atropelos, sempre respeitando a soberania do país irmão aliada, é claro à nossa soberania.
O mercado financeiro, mais inteligente, pois acostumado às intempéries, já se apercebeu disso e reage com mais tensão com relação à situação norte americana que, propriamente com relação à Bolívia.
No dia 12 de maio, já tivemos uma reação mais serena de Morales, ao descartar a expulsão da Petrobrás, baixando a fervura desse caldeirão, onde todos poderão se prejudicar.
O caráter de Lula, seu amadurecimento como homem e como líder, mais uma vez se demonstra soberano sobre esse tipo de situação.
Não é a toa que, a cada dia fica mais claro que Lula será o líder natural da América Latina, inclusive sob os aplausos dos EUA, o que é de se admirar, mas parece ser o desenrolar natural dessa página importantíssima para o amadurecimento do socialismo no nosso continente.
Quem viver verá!