quarta-feira, agosto 23, 2006

Seu moço, tanta saudade -Décimas

Seu moço, tanta saudade,
Foi feita de sofrimento.
Por um único momento,
Vasculhei realidade,
Passei por campo e cidade.
Procurei por meu amor,
Quero seu colo e calor.
Não encontrei nem indício,
Meu amor foi precipício,
Onde afoguei minha dor...

Meu tempo, disso estou certo,
Não teve nem mais valia,
Decerto que não sabia,
Não estava nem por perto...
Sei que viver é correto,
Mas de que vale sem ter,
Sem seu amor vou morrer,
Disso não tenho medo.
Seu amor foi o segredo
Mas que faço sem você?

Nas noites de solidão,
Que são as mais doloridas,
Me lembro das despedidas,
Vou pedindo seu perdão...
Me devolva o coração,
Sem ele, minha querida,
De que vale minha vida,
Nisso é melhor nem pensar,
Não tenho rumo ou lugar,
Não cicatriza a ferida...

Meus versos são bem tristonhos,
Por que ‘inda quero sonhar?
Sem você não há luar,
De que servem os meus sonhos...
Somente sonhos medonhos,
Povoam a madrugada,
Minha vida não é nada,
Sem ter você nada sou,
Minha estrada se acabou,
Cadê você, minha amada?

Nascido em terra distante,
Meu amor foi verdadeiro,
Da minha vida, o primeiro,
Que me deixou radiante.
Achei que eu era importante,
Em sua vida, meu bem.
Hoje sei que fui ninguém,
Nada fui para você,
Mas como posso viver,
A minha vida é um trem...

É tão triste a sina, agora,
A de não ter a mulher,
Que o peito da gente quer,
Por quem a gente só chora.
Saudade vem, me devora,
Engole meu coração,
Vomitando solidão,
Saudade bicha danada,
Acompanhou minha estrada,
Não quer me deixar mais não...

Procurei pelos seus braços,
Por sua boca divina,
Fiz minha alma cristalina,
E nem quis outros abraços,
De você nem vi os traços...
Perdida por outra banda,
Por onde é que você anda,
Me responde, eu lhe peço,
Senão, lhe juro, tropeço,
Nas danças dessa ciranda...

Meu amor trago meu canto,
Nas décimas que lhe faço,
Mas já perdi meu compasso.
Naufragado em seu encanto;
Restando só o meu pranto,
Não consigo meu intento,
Minha voz, perdida ao vento,
Você nunca vai ouvir,
Desde o dia que perdi,
Só conheci sofrimento...

Quem souber dessa morena,
E cujo nome é Ritinha,
Não é alta, é bem baixinha,
Tem uma boca pequena.
É calma, muito serena.
É bem fácil de encontrar,
É só olhar pro luar,
E reparar na beleza,
Assim, com toda certeza,
Fica mais fácil de achar...

Ela não anda, flutua,
A fala dela é de fada,
Por todos é adorada,
Ilumina toda a rua.
Minha vida é toda sua...
Tem os pés mais delicados,
São, por Deus, abençoados.
São provas que Deus amou,
Tudo que dela restou,
No meio dos meus guardados,


São essas fotografias,
Que mostro para vocês,
Repare bem nessa tez...
São repletas de magias,
Obra prima que Deus fez...
Moço, me diga a verdade,
Por minha felicidade,
Me responde, bem ligeiro
Se já viu, no mundo inteiro,
Me diga, por caridade,

Onde encontra essa tal moça,
Em que país ou Estado?
Coração descompassado,
Chorando, pede que ouça,
Meu lamento desgraçado
Já não chora outro chorar,
Não canso de procurar
Quero encontrar a Ritinha
Que num dia já foi minha,
E que não sei onde está...

Caminhão vai cruzando essas estradas Sextilha

Caminhão vai cruzando essas estradas,
Norte-sul, sem temer as curvas, segue.
Nas descidas, banguela. Nas lombadas,
Nada impede que suba e que carregue,
Um país, nessas tantas toneladas...
Percorrendo os caminhos de mãos dadas,

O progresso e futuro, são seus passos...
Vagando, sem temer má sorte e sina,
Caminha, faz das retas, seus espaços,
Muitas vezes, audaz, nem mesmo atina
No valor que se insere nos seus braços...
O caminhoneiro esquece seus cansaços...

Saudade...

Guinada da saudade, faz doer...
Não quero nem saber de ter saudade.
Saudade muitas vezes, faz morrer,
Saudade faz estrago, de verdade...

A saudade traduz verbo sofrer,
Conheci tal saudade, tenra idade...
Tenho tanta saudade de você,
Saudade dos teus olhos, claridade...

No que saudade mata, sei de cor.
As luas da saudade me torturam,
Saudade dess’amor, que é o maior.

Os males da saudade só se curam;
Onde a saudade vive bem melhor,
Nos braços que, saudade, mais procuram.

Quero ser aprendiz de feiticeiro

Quero ser aprendiz de feiticeiro,
Fazer meus versos simples sem buril.
Cantar amor, meu sonho brasileiro,
No meio da poeira, pueril...

Quero aprender da vida, por inteiro,
O que, bem antes, fora mais gentil.
Travar batalhas, tantas, com tinteiro;
Tentar pintar, com cores, meu Brasil...

Minhas mãos calejadas não se calam,
Procuro em formas límpidas, meu sal.
Essas palavras soltas tanto entalam,

Que se não as escrevo, fazem mal.
Os perfumes qu’as almas sempre exalam,
Carrego bem comigo, no bornal...

Balançado o coqueiro, peço a Deus

Balançado o coqueiro, peço a Deus,
Que me dê um pouquinho de alegria.
Quem me dera não fossem tão ateus,
Os dias que perdi por ti, Maria...

Sertanejo, decerto, sabe os breus,
E conhece, também, manhas do dia...
De Julietas sabe, e dos Romeus,
Esperando calar a cotovia!

Na tristeza dos versos, por paixão,
Decerto viverei minha esperança.
Extraída de tanta distração,

Esperança bandeia da lembrança.
Restando tão somente o coração,
Vivaz como brinquedos de criança...

Por que não sei falar dessa maneira Oitavas camonianas

Por que não sei falar dessa maneira,
Usando os verbos vagos, virulentos,
É que perdi meu tempo, uma bandeira,
Desfraldada por sobre os excrementos
De quem tentou ferir sobremaneira
A quem amara, em todos os momentos.
A vida me ensinando não temer,
Eu vou correndo sempre, mas por quê?

Quis tragar melodias e senzalas,
Não pude mais conter esse chicote.
Mas as costas lanhadas onde exalas,
Não me deixam sinal, quebrei o pote...
Traduzindo seara, levo malas
Em busca da saída, vou a trote.
Mas queria viver teus novos dias,
Nas nocivas franquezas que medias...

Num ato de belíssima vontade,
Misturando, sagaz, novas cantigas.
No que não poderemos crer saudade,
Eram senão pedradas mais antigas.
Coram, cegam, feroz realidade.
Queimando como fosses tais urtigas,
As que n’alma repetem cantinelas,
As mesmas que quisemos, serem delas...

No meu karma sei pétrea solidão,
Onde navegaria tantos portos.
No dizer sim, queria tanto o não,
Carregando por certo, velhos mortos.
Na melhor melodia que verão,
Perderei tantos rumos, que sei tortos.
Minha lança, lanceta e confraria,
Nos bares e botecos; dê sangria...

Capuccino, cachaça, chá e mate,
Novos sabores, fluidos paladares;
Da vida sempre torta, um arremate.
Nos teus olhos repletos dos altares,
Brilham loucos fantasmas do combate...
Revejo minha triste lucidez
Quem me dera perder a minha vez...

Pus e sangue, mistura delicada,
Que, emanando de todos os meus dedos;
Fazem-me saber, como está errada
A vida que criei de meus segredos.
Quando permiti noite, madrugada,
Deixei armazenados os meus medos...
Num quero nem concebo liberdade,
Vagando pelos parques da cidade...

Nascido nessas terras das Gerais,
No que pude sentir, foi tudo a esmo.
Não temo nem tempestas, vendavais,
Criado, de cedinho, com torresmo.
Em meio a cercanias sem jornais,
Aos olhos dessa noite, sou o mesmo...
De pequeno, nutrido com coragem,
Desse rio, conheço fundo e margem...

Fui ninado com sangue e com melaço,
Rasguei no mundo berro e valentia.
Peito duro, mineiro, ferro e aço,
Criado a tapa, restos, serventia...
Força nos olhos, pernas e no laço,
Por onde acordei, vida sem valia.
Traquinagem, comer sem saber faca,
Beber da fonte, tetas dessa vaca...

Orgasmos madrugada, tua saia...
No canto, no curral, em pleno mato,
Nem sei de mar, vivendo minha praia
Na beira doce, peixes no regato...
Em plena confusão, rabo d’arraia,
Na morte fiz carinho, sei dar trato...
Quebrando minha perna, sem ter pena,
De longe, traz as pernas da morena...

Vadio violão foi meu resgate,
No colo dessa serra, serenata...
Saudade faz que mata, dá empate,
Menina, levantei a tua bata...
Preciso, cafuné, qu’alguém me trate,
Eu quero te lavar nessa cascata.
Jogando nessas pedras da ribeira,
Teu corpo, penetrando-te, mineira...

Costeleta da Serra D´Espinhaço,
Fiz cabelo, bigode e barba, tudo...
Eu quero me deitar no teu cansaço,
Guardando meu diploma, meu canudo,
Em meio a tuas pernas, teu regaço...
Entrando mais calado, saio mudo.
Talvez me guardes todos os mistérios,
Nem temo teus amores, nem venéreos...

Cresci sofrendo tapa e pescoção,
Na lida atroz, enxada e cavadeira.
Nos brejos, sem temer por podridão,
A vida foi completa escarradeira.
Vacina de menino, de peão,
É feita de porrada, a vida inteira...
Das vespas que mordiam, fiz meu mel,
Da lida mais difícil trouxe céu...

Meu medo foi ter medo de lutar,
Não quis compressa, quero bisturi.
Cada ferida nova que brotar,
Capítulo relido que vivi...
Somente meus, serão; velho luar,
Os olhos dess’amor que já perdi...
Capricho sem temer, por resultado,
Os cortes que sangrei, apaixonado...

Recebendo a herança mais maldita,
O traste que pariu minha cadeia;
Não queira meu Senhor, que se repita,
A bosta que transcorre em minha veia...
Minha mãe, talvez, fosse mais bonita,
Se não tivesse sido uma sereia...
Que o boto mais pilantra desse mundo,
Safado caboclim, um verme imundo...

Criado sem ter beira nem paragem,
Escravo desd’o dia de nascido.
A vida preparou a sacanagem,
Bem no olho dessa serra, fui cuspido.
Quase que me perdi na traquinagem,
Mas, embora isso tudo, fui crescido...
Vômito de mendigo esfomeado,
Coragem coração, fez cadeado...

Meu cigarro da palha mais curtida,
No milharal da vida, colhi nada.
Serei por certo, servo e despedida
Nunca saberei sorte e tabuada,
Mas não reclamo nada dessa vida,
Estou vivo, e se dane essa embolada.
Na poeira joguei nome e meu futuro,
A morte me espreitando ‘trás do muro...

Fiz cósca em cascavel, minha tapera,
Tem as portas abertas para a morte.
Não temo solidão, nem bicho fera;
Eu queimo, em toda curva, a minha sorte.
Cachaça com limão, vida tempera,
Bem no meu coração, de grande porte,
Cravei as verdadeiras, duras, garras.
Não quero mais saber dessas amarras...

Veloz, eu fugirei dessa saudade,
A saudade de nunca mais ter sido.
A saudade feroz, felicidade,
Que nunca mais terei, nem conhecido.
Oprime o peito, face essa verdade,
A de não ter, jamais, nem ser nascido...
Queria, por momento simplesmente,
Um segundo sequer, me sentir gente...

Vieste como tábua; salvação...

Vieste como tábua; salvação...
Acreditei que; enfim, tinha encontrado,
A porta da saída, a solução.
Porém, vida mordaz, deu seu recado:

Em poucos dias, foste um outro não.
Perdido, sem saber para que lado
Poderia encontrar outro portão,
Bato de porta em porta, des’perado...

Vieste, muito cedo, me deixaste.
Agonizei na nova despedida.
Dos meus olhos,vou cego, tu levaste

Toda luz que guiava minha vida...
Perambulo, sem rumo, sou tal haste
Que nunca mais terá prumo, perdida...