quarta-feira, agosto 16, 2006

Eu busco, n’aguardente tal resposta

Eu busco, n’aguardente tal resposta,
Que possa permitir sobrevivência...
A mesa da taberna está disposta,
Teus olhos, no luar, coincidência...

Esses casais rodando, o medo tosta,
Queimando meus sentidos, sem ciência
De quanto me doeram tanta crosta
Criada nos fantasmas, providência...

Bem sei que se pudesse ser teu dono,
Não mais prosseguiria solitário,
Portanto, vou seguindo no abandono,

A tristeza fazendo aniversário...
Nem sei mais o canto que eu entono,
A cabeça girando, o calendário...

Nessas folhas caídas , meu outono

Nessas folhas caídas , meu outono,
Da vida vai distante a primavera.
Quisera não viver esse abandono,
Nem conhecer ardor dessa quimera...

Vem vindo devagar; quando ressono,
Inverno terminal. Ai quem me dera;
Meu Pai me concedesse; como abono,
Pudesse ressurgir, qual fora fera,

Nos tempos tão felizes que se foram...
Menino, procurando meu futuro,
Não sabendo, entretanto quanto é duro.

Perder os amores que ficaram,
As esperanças todas, se acabaram.
Já fui, agora espreito sobr’o muro...

Quando busco o calor na noite fria

Quando busco o calor na noite fria,
Encontro, tantas vezes, verdadeiro,
A chama que transforma essa agonia,
Deliciosa chama desse isqueiro...

Que traz a luz; penumbra e poesia,
No meu cigarro, brilho mais useiro,
Traz toda essa esperança que eu queria,
Vertida nessas cinzas , meu cinzeiro...

Sim, fugiste; fumaça, labareda...
Restando apenas tristes recordares,
A sombra, esfumaçada, na vereda;

Por onde tu partistes, nos luares.
Só peço a Deus, então, que me conceda:
Poder te procurar, por esses bares...

Tanto sorriso exposto sem ter senso

Tanto sorriso exposto sem ter senso,
Em tal sentido inverso aos meus desejos.
Se quis, não fora simples, nem imenso,
Teve essa dimensão, são benfazejos.

Nos ínfimos detalhes, sempre penso,
No que não poderia falsos beijos,
Por onde andaria? Fico tenso
Imaginando luzes, teus lampejos...

Se nesse gargalhar, me trazes luto,
É que, embora vagão, conheço o trem.
Não venhas me dizer que sou tão bruto,

Bem sei que depois, sabes o que vem,
Minhas melancolias; sei, amputo...
Não restando mais nada nem ninguém...

A minha mão passeia , calmamente,

A minha mão passeia , calmamente,
Buscando tocar todas reentrâncias,
Eu sinto esse desejo, mais urgente,
De conhecer molejos e cadências.

Sorvendo todo líquido fervente,
Que põe no nosso amor as evidências
Que poderás gozar, tão de repente,
Sem conceder sequer qualquer clemência...

Eu quero teu suor e teu sorriso,
Nas salivas trocadas; as delícias.
Teu prazer é tudo o que eu preciso.

Suave viajar dessas carícias,
Orgasmos delirantes, sem aviso...
Meu amor, por favor, me dê notícias.

Eu te peço perdão, meu companheiro,

Eu te peço perdão, meu companheiro,
Pelas tristes palavras que te digo.
Amigos sempre fomos; tempo inteiro.
Desde guris, revoltos sem castigo.

Vivendo sem temer, sem paradeiro.
Eu não tinha segredo algum contigo,
Juntos nós encarávamos vespeiro,
Não conhecemos medo, e nem perigo...

Mas, agora desculpe esse covarde,
Que não teve coragem de negar,
Pois bem sabes, se o peito mais nos arde,

É coisa bem difícil controlar,
E antes que tudo cegue e seja tarde,
Vou, tua amada prenda, namorar...

As cores verdadeiras que traduzem,

As cores verdadeiras que traduzem,
Diversas sensações que nos afloram,
Têm nas suas origens, tantas luzes,
Que, sempre transitando, não demoram.

Num prismático sonho, me conduzes,
Arco íris fantástico onde oram,
Os que amam, tentando tirar urzes
E espinhos tão venais que as adornam.

Não quero simplesmente do coral,
Essas preciosidades que desfraldas,
Viver completamente luz cabal,

Que vem desse brilhar das esmeraldas,
Nem do belo rubi, carmim carnal,
A magia das cores onde esbaldas...

Meu Senhor! Eu te imploro, por favor.

Meu Senhor! Eu te imploro, por favor.
Não me deixe morrer sem Seu alento...
Não tenho mais vergonha desse amor
Que me trouxe na vida, sofrimento.

Nem sei mais onde posso, nem compor;
As minhas melodias. Bebo o vento,
Tentando tempestades onde for,
Viver de tal maneira, não agüento...

Me deixe simplesmente ser feliz,
Eu não quero outra coisa em minha vida...
Felicidade; escondes, onde? Diz...

Procuro em vão, buscando outra saída,
Em cada canto, busco olhos anis,
Azuis olhos marinhos, despedida...

Tens amores servis? Não mais os quero.

Tens amores servis? Não mais os quero.
Quero tal liberdade que permita
Construindo sem jaulas, mesmo o fero,
Mesmo que me transforme sem pepita.

Amores sem as ânsias não é vero,
Por mais que, tão teimosa, se repita;
Vivendo por viver sem lero-lero
As dores que esse peito tanto agita...

Quero amores libertos passarinhos,
Não quero prisioneiros sem espaço
Procuro perceber os teus carinhos

De noite, descansando meu cansaço,
Amores libertários são qual vinho,
Seu valor maturando num abraço...

Oitavas Sertanejas - Minha alma já vai perdida...

Quando quis viver contigo,
Bem sei que não me querias,
Meu amor, de tão antigo,
Traz em suas cercanias,
A certeza do perigo,
Desse medo que vivias.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Quis viver com muito luxo,
Quis meu tempo de reinar,
Carregando meu cartucho,
Bala de todo lugar,
Sou deveras, meio bruxo,
Nessa arte de magiar.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Da morte sei a sentença
E também sei o perfume,
Não há quem me convença,
Nem que meu revólver fume,
Não vai morrer de doença,
Carne irá virando estrume...
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Sei de tanta malvadeza ,
E também sei da saudade,
Tanta vida essa incerteza
Sua melhor qualidade,
Vivendo minha tristeza,
Amores; sei de verdade.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Bebi medo de serpente,
Comi carne de ururbu,
Minha sina, sei caliente,
Na pena preta d’anu.
Todo ser sobrevivente,
Fugindo qual inhambu.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Matei muitos, de emboscada,
Não sei mais quantos matei,
Dessa vida levo nada,
Nada da vida levei,
A não ser essa esporada,
Desse reinado sem rei.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Pois perdão; peço de fato,
Sei o quanto errei também,
Fiz de sangue, um regato,
Nunca respeitei ninguém,
Tanta morte por contrato,
Por real ou por vintém,
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Eu sei, confesso o pecado,
Pequei, já não tenho cisma,
Bem sei quanto estou errado,
Não precisa cataclisma,
Nem me chamar de safado.
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

No segredo dessa vida,
Nem precisa repetir,
Minha alma já vai perdida,
Foi tudo o que eu consegui,
Sei que a vida vai sofrida,
Perdão, não custa pedir...
No segredo dessa vida
Minha alma já vai perdida...

Oitavas Sertanejas - Galopando a Beira Mar

Quando eu conheci Serena,
Num galope a beira mar,
Aquela bela morena,
Tinha tudo pra encantar,
Coração bate, dá pena,
Dá vontade de chorar,
Nunca mais poder cantar
Num galope a beira mar...

Serena foi minha vida,
A razão do meu viver,
Tanta dor já tão sentida,
Sem vontade de sofrer,
Eta vida mais sofrida,
Não cansa mais de doer,
Viola canta, luar...
Num galope a beira mar...

Minha voz anda cansada,
Cansada de tanto pedir,
Minha moda vai cantada,
Cantada móde sentir,
A viola enluarada,
Que canta quase a carpir,
Tanta coisa, sem parar,
Num galope a beira mar...

Levei Serena pra casa,
Como manda o coração,
Tanto casa, quanto embrasa,
O luar do meu sertão,
Meu amor quando se atrasa,
É problema e solução.
Como era belo sonhar
Num galope a beira mar...

Com Serena tive filho,
Dois ou três se não me engano,
Do amor seguindo o trilho,
Passa dia, mês e ano,
Mas o tempo tem gatilho,
Detonando tanto plano.
Nunca mais vou esperar
Num galope a beira mar...

O amor, de maravilha,
Transformado na tristeza,
Na promessa dessa ilha,
No meio dessa beleza,
Toda dor vem de matilha,
Acabando a realeza.
Tanta coisa pra contar
Num galope a beira mar...

Serena foi assassina,
Do que belo, tinha em mim,
Maltratando minha sina,
Fazendo tão trist’assim
Tanta dor que desatina,
Do amor, foi meu Caim.
Me matando, devagar,
Num galope a beira mar...

São tristezas, duras penas,
Têm o gosto da mortalha,
Só pedia a Deus, apenas,
Outro tipo de cangalha,
Noites mansas, mais amenas,
Na minha casa de palha.
Poder sonhar com meu lar,
Num galope a beira mar...

Já cantei minha verdade,
Fiz meus versos sem vergonha,
Procurei felicidade,
Que é coisa que se sonha,
Pelo campo ou na cidade,
Não é coisa medonha.
É meu direito tentar,
Num galope a beira mar...

O veneno em minha veia,
Corre solto, vai matando,
Essa aranha fez a teia,
Minha vida foi sugando,
Minha carne foi a ceia,
Ela foi me envenenando.
Até conseguir sangrar,
Num galope a beira mar...

Quando vi nos seus olhinhos,
Verdes olhos cor de mata;
Percebi que seus carinhos,
Me diziam, ser ingrata,
Aquela por quem meus ninhos
Sonhavam amor em cascata,
Nunca mais eu vou cantar,
Num galope a beira mar...