terça-feira, fevereiro 23, 2010

25410

O mundo que entranhamos feito em luz
Ao grande amor recende e nos permite
Viver além do quanto se limite
A intensidade audaz que reproduz

Intensamente a força deste sonho
No qual me abandonando sou feliz,
E mesmo quando a vida contradiz,
Um novo amanhecer quero e componho,

Vencendo os meus terríveis dissabores
Alçando Paraíso imaginável,
O amor quando demais, inevitável
Colheita de sobejas, raras flores,

Inusitado sol que ora nos banha,
Erguendo-se por sobre esta montanha.

25409

Quisera podre crer no amor humano,
Seria então decerto um novo dia,
Mas quando a realidade propicia
Um ar bem mais cruel quase profano,

Percebo bem mais forte cada engano
Aonde se pensara em alforria,
Escravidão refeita na alquimia
Deste poder soberbo e desumano

Prostituindo enfim este Cordeiro,
Que agora simboliza algum dinheiro
Vendido como fosse um milagreiro,

Amigo, dos meus sonhos Companheiro,
Que em vida fora simples carpinteiro
Do AMOR MAIOR EXEMPLO, O VERDADEIRO.

25408

Perceba o quanto Deus se fez amor
E nisto simplesmente a realidade
Falando com total sinceridade
Aí reside todo o meu louvor,

Não quero nem preciso de pastor
Que leve para a falsa eternidade
Ganhando com poder, notoriedade
Achando-se deveras o Senhor,

Eu necessito, amigo e nisto insisto
Somente deste AMOR QUE TROUXE CRISTO
Acima de qualquer espúria IGREJA,

Pois dele é que se tem pleno perdão,
E DELE A COMPLETA REDENÇÃO
Que para o Eterno Amor, deveras seja.

25407

Não faça do teu voto algum penico,
Depois quem come a merda; amigo és tu,
Cocô assim assado, frito ou cru
Cobrando bem mais caro qualquer mico.

Político é safado? Mas retrata
A cara deste otário, do eleitor,
E seja da maneira como for
Da própria sociedade fina nata,

Mamata atrai mamata e a burguesia
Mantendo no poder essa cambada
O nome já diz tudo de putada
É prole que outra prole já recria,

E assim de pai pra filho, filho e neto,
Procriando esta praga, qual inseto.

25406

Terrível fedentina toma a rua
E ganhando os altares vem de chofre
Recendendo deveras ao enxofre
Que assim em pleno culto continua,

Perfumando deveras já se exala
Da face de um pastor tão exaltado,
No rabo do capeta em vão pisado
Tomando já de assalto a velha sala,

O quadro se repete todo dia
Depois é só correr a sacolinha
Socorre quem não tem e nunca tinha
Ao encher uma pança outra esvazia,

E Cristo numa cruz mui bem pregado
Olhando para a cena desolado.

25405

Antigas cortesãs e lupanares
Agora aposentadas, na mesmice
Se vê a realidade em que se disse
Usando para tal novos altares,

E quando perceberes e notares
Aonde chegará tanta crendice
A humanidade bebe esta tolice
Vendida em gritarias ou esgares.

Profetas transformando o pobre Cristo
Nesta mercadoria bem falsificada
Inextirpável mesmo o podre cisto

E drenar este abscesso é necessário,
Mas quando se percebe esta cambada
Gulosa qualquer passo é temerário.

25404

O amor que se traduz em Jeová
Depois de ter criado a humanidade
Jamais se percebeu saciedade,
E assim ainda agora, ontem e já.

Decerto novamente tomará
Por mais que uma verdade desagrade
À força o tal poder da sociedade
No inferno a cada dia mostrará

A garra desta fera insaciável
Movida pela fome de poder,
Tornando o ar assim irrespirável

E mesmo que inda tenha que morrer,
Num suicídio estúpido e venal,
E à plebe futebol e carnaval.

25403

Na arquitetura vária do universo
Perfeita sincronia se percebe,
E quanto à realidade, a velha plebe
Concebo num buraco sempre imerso

O sonho de igualdade; não converso,
Pois sei que o rico o sangue quando bebe
Não se sacia nunca e ainda recebe
As graças de um terror jamais disperso,

Pagando os seus pecados numa Igreja,
Maldito para sempre que assim seja
O abutre insaciável, este burguês,

Que enquanto esfacela uma esperança
Aos rumos mais insólitos se lança
Mantendo esta soberba em altivez.

25402

Como uma roda gera eternamente
O mesmo movimento, a rotação
Da Terra numa tal demonstração
Que outrora se pensara diferente

Assim noutro momento outra visão
Diversa da real tomando a mente
De quem tendo nas mãos o onipotente
Poder feito qual Santa Inquisição

Ardentes as fogueiras do passado
Ainda no presente demonstrado
Esta falácia tosca dita Igreja

Que em trevas mergulhou a humanidade
E nunca se percebe saciedade,
Ainda sem respaldo, vã, troveja.

25401

Aonde houvera luz se fez sombria
Terrível madrugada em solidão,
Aonde houvera outrora algum verão
Apenas noite imensa, amarga e fria

E muito aquém do quanto se pedia
Vazio aonde houvera multidão,
Os dias no futuro mostrarão
O quanto a cada tempo se esvaia

Do todo feito em brumas, tão somente
O nunca mais deveras se apresente
Tornando este cenário tão escuro,

E quando imaginara, de repente,
Um mundo mais feliz a sorte ausente
Da luz que insanamente em vão procuro.

25400

Ao tremular as folhas, vento atroz
Trazendo novidades mais espúrias
Exposto aos vendavais, terríveis fúrias
Não quero nem ouvir da sorte a voz,

A fera se escondendo em todos nós
Não ouve nem sequer dores, lamúrias
Professa com certeza vis incúrias
E traz no olhar soberbo um ar feroz.

Astuciosamente atocaiada
Depois de ver a presa destroçada
Gargalha-se esta hiena dita amor,

Ferrenhos companheiros de desgraça
Os sonhos desfilando em plena praça
Fazendo da mortalha seu andor.

25399

Lábios desejosos deste pus
Abscessos que deveras não rasgaste,
E quando se percebe este contraste
Ao qual decerto tanto já me opus

Percebo que afinal, faltando a luz,
A sorte se perdendo como um traste
Diversa do que tanto propalaste
Vivendo tão somente inferno e cruz.

Perenes abandonos, noites vãs
Aonde se pensara nas manhãs
Eterna madrugada em tom sombrio,

E quando se percorre outra alameda
Por mais que uma esperança se conceda,
Condenas ao terrível, ledo frio.

25398

De todos os rochedos e penhascos
Aonde se arrebenta o velho mar,
Apenas poderia decifrar
Momentos entre turvos, débeis ascos,

E sabes que deveras nestes frascos
O veneno entre o sangue a se banhar
A face desdenhosa a provocar
Sabendo desde já velhos fiascos,

Amargas com teus risos os meus dias,
E sinto em tuas mãos as rebeldias
Que outrora me trouxeram seduções

Nefastas armadilhas que ora expões
E nelas com tenazes homicidas
Demonstras tuas faces distorcidas.

25397

Trovoas em terríveis temporais
Deixando a placidez sempre de lado,
E quando se percebe derrotado
Caminho que deveras trouxe um cais,

Bebendo dos esgotos queres mais
Que um simples corpo nu e ensangüentado,
Cadáver insepulto vislumbrando
Exposto à torpe fúria dos chacais,

Apenas te servindo de regalo,
Olhando tal cenário nada falo
E sigo meu caminho simplesmente

A fera te domina e te transtorna,
Destroço de esperança que te adorna,
Um fétido destino se pressente.

25396

Outrora entre insensatas maravilhas
Vencemos insolentes desafios,
Agora quanto mais extensos fios
Diversa senda estúpida já trilhas

E mesmo que inda fossemos quais ilhas
Os deuses em soberbos desvarios
Levando para além mares e rios
Gerando a cada passo as armadilhas

Das quais não poderíamos fugir
Sem ter sequer no olhar qualquer porvir
Nosso horizonte em névoas se perdendo,

Felicidade um sonho tão distante,
E quando se pensara deslumbrante
O dia se nublando, anoitecendo.

25395

Amando o temporal que nos destroça
E tendo sob os olhos no horizonte
A morte que insensata já desponte
Fazendo da ilusão medonha troça,

As farpas entre os dardos atirados
Venenos desta vil zarabatana
Enquanto a realidade desengana,
Os dias entre nuvens traçam fados

Medonhos e talvez neles perceba
Um rastro de ilusão ainda viva,
E quanto mais a história sobreviva
Na multiplicação da espúria ameba

A sorte se desenha em luz sombria
Enquanto sortilégios vãos, desfia.

25394

Brindando à morte em taças de cristal,
Esboço a reação que tu querias,
E as noites embalando as agonias
Num torpe desmedido ritual,

Olhar deveras tolo e sensual,
Que tanto vez em quando enaltecias,
Deveras com certeza não sabias
Do quanto parecia tão boçal

E agora com sarcasmos imbecis,
O todo que se foi se contradiz
Rasgando a velha roupa já puída,

Assim ao perceber este naufrágio
A dor volve cobrando com seu ágio
Esfacelando assim a rota vida.

25393

Retratos do que fomos, as carrancas
Vagando pelo rio em noite escura
Na ausência de beleza, a dor perdura,
E apenas sofrimentos vis arrancas,

E quando se percebe frágeis laços
Que uniram sentimentos tão diversos,
Somente restarão então meus versos,
E neles os meus olhos, tristes, lassos,

Num enfadonho canto, a ladainha
Que tanto repetiste vida afora,
E sabes muito bem o quanto agora,
Uma esperança viva é tão daninha,

Não deixe qualquer rastro nesta sala,
Minha alma empedernida já se cala.

25392

Cantando o nada ter seguindo em frente
Destroços que recolho dos meus passos
E neles novos dias, velhos traços
O quanto se queria diferente

No fundo não se sabe nem se sente
Sequer nestes momentos bem mais lassos,
Os gozos entre dores e cansaços
Medonhas ilusões, pobre demente,

Arrisco-me e sabendo desta queda,
Pagando com a mesma vã moeda
A dor que me trouxeste como brinde,

Sem ter qualquer beleza que deslinde
A vida se perdendo em turbilhões
Aos quais os meus caminhos logo expões.

25391

Como outrora nos cantos a euforia
De quem se fez eterno sonhador,
Agora ao perceber já murcha a flor,
O quanto desejava se perdia

Nas ânsias mais vorazes, percebia
Que embora fosse um tolo trovador,
Envolto em armadilhas de um amor
Além do que deveras concebia

Cedendo às tentações inda reluta,
Mas sabe quanto a vida se faz bruta
E traz depois da luz a escuridão,

Perpetuando o sonho em seus poemas,
Atando o seu futuro às tais algemas,
Seus olhos alegrias não verão.

25390

Bebendo as amarguras que trouxeste
Em noites tão vazias, solidão,
Os dias que virão nos mostrarão
Aquém do que sonhara e que se ateste,

Ao menos ser feliz eu poderia
Se tudo não passasse deste nada,
Uma alma ao sofrimento destinada,
Já sabe que sonhar, dura utopia

A cada tempo trama outra falácia
E nela me conduz á luz espúria,
E aonde se fizesse tal incúria
Não posso ter sequer qualquer audácia,

Vencido pela tosca insensatez
O mundo que eu sonhara se desfez…

25389

Num abraço divino vejo a terra
Exposta à bela lua que se dá
E nela a fantasia mostrará
Beleza sem igual que ora se encerra

Na placidez sobeja que desterra
Qualquer tristeza ou dor e desde já
O dia novamente brilhará
Mudando esta paisagem: dor e guerra,

Assim nesta mutável realidade
O amor quando demais já nos invade
E não deixa sequer alguma chance

Aos tantos insucessos, solidão,
E noites de luar nos mostrarão
Eternidade em luz ao nosso alcance.

25388

Findando a tormenta aonde havia
Perdido as esperanças, recupero
O dia após um dia duro e fero,
Renasce pouco a pouco a fantasia,

Uma alma delicada se extasia
E sabe muito além do que inda espero
O tempo aonde o sonho regenero
E nele se bebendo esta alegria

Percebo quão divina a vida trama
O sonho mais voraz que a própria chama
Eternizando o gozo de um instante

Defronte aos meus antigos desafetos,
Sensatos caminhares mais corretos
Levando a um novo tempo deslumbrante.

25387

Qual fora forte cedro, algum carvalho
Cipreste que deveras se mostrasse
Deixando no passado um vão impasse,
Nas horas em que amor, quero e batalho,

Enfrento o pedregulho e neste atalho
Por mais que outro caminho a vida trace,
Adentro sem temor, mostrando a face
Jamais cedendo ao corte, à faca e ao talho.

Mesquinharias lego ao triste olvido,
E sigo com vigor e decidido
Vencendo os desafetos e vinganças,

Enquanto neste olhar tranqüilo e firme,
A sorte a cada dia se confirme,
Comigo em meio às trevas vais, avanças.

25386

Como se fora algum nobre concerto
Em vozes afinadas, instrumentos
Trazendo aos meus ouvidos sentimentos,
Diverso do terror que ora deserto,

Caminho pelo encanto descoberto
Encontro nos teus olhos meus alentos
E bebo a fantasia destes ventos,
O peito sem defesas segue aberto

E quanto mais te escuto mais me embrenho
Na cândida emoção em raro empenho
Vislumbrando o futuro mais tranqüilo,

E tudo o que se fora angustia e medo,
Agora em plenitude já concedo
Enquanto a paz imensa ora destilo.

25385

No palpitar dos sonhos, entranhado
Vivenciando o gozo quase incrível
Aonde se pensara um invencível
Caminho a ser devera desbravado

Agora que percebo-me ao teu lado,
Não tendo mais temor sinto plausível
O quanto desejara imperecível
Momento com denodo desfrutado,

Escuto a voz que outrora fora um canto
E nela me refaço em puro encanto
Perenizando em vida um sonho audaz,

Que tanto desejara e ora desnudo
Com fé, viva esperança eu não me iludo,
Mas sei o quanto em brilho satisfaz.

25384

Uma alma de poeta bebe o sonho
Aonde se imagina mansidão
Deveras novas luzes me trarão
Além do que em poesia ora componho,

Servindo como tela este risonho
Caminho aonde glórias mostrarão
A sorte de viver tal emoção
Aonde cada dia eu recomponho,

Vivendo a plenitude de poder
Saber da maravilha do nascer
De um sol que se irradia pela Terra

E nesta imensidão já traduzir
O sonho de um melhor, belo porvir
Que a cada novo dia se descerra.

25383

No sonho cantarei glórias a quem
Nos deu tanta fartura e se fez Pai
E enquanto a noite chega e a tarde cai
Beleza multicor o céu contém

Vislumbro nesta lua que ora vem
Um raio tão fantástico que atrai
O olhar deste poeta onde se esvai
A dor de se saber já sem ninguém.

E quando me envolvendo em tantas luzes,
Deixando no passado, abrolhos e urzes
Permito acreditar no amanhecer

Raiando com soberbo e belo sol
Tomando totalmente este arrebol
E nele ao Grande Deus, agradecer.

25382

O mar tocando a areia com ternura
Esfuma-se em beleza sem igual,
Assim ao refazer tal ritual
A vida se refaz e já perdura

Tocada pelas mãos desta candura
Que é feita em água, sol, mares e sal
Sobeja maravilha que ancestral
Na enfática deidade se emoldura.

Assisto a tal paisagem e me proponho
Além de simplesmente um mero sonho
Viver a eternidade deste instante

Que tanto procurara a vida inteira,
Da glória feita em luzes mensageira
Deveras divinal e deslumbrante.

25381

Quando finda a tormenta que me assola
E transformada em paz tal rebeldia,
Nascendo finalmente um claro dia
A glória perfilando nova escola

Aonde se pudesse ter nas mãos
A sorte benfazeja e desejada,
Depois de ter vivido esta alvorada
Momentos do passado sendo vãos,

Encontro a paz que tanto perseguira
E nela a claridade feita em festa,
Adentrando do amor sobeja fresta
Mantendo sempre acesa a intensa pira

Que tanto representa este laurel
Trazendo para a Terra o imenso céu.

25380

Nos sonhos cantarás as melodias
Que tantas vezes ouço em noite branda
A lua se espraiando na varanda
Aonde com prazeres sonhares crias,

Derramas sutilmente as alegrias
E danço como fosse uma ciranda
Realidade tola em vã demanda
Diversa da ilusão que ora porfias

Escravizando uma alma onde se vê
A luz que não pergunta se há por que
Apenas se algemando na paixão

Esgota qualquer força libertária,
E sabe muito bem quão grã e vária
A glória que outros dias nos trarão.

25379

Andais em tal soberba, disfarçada
Vencendo os vossos medos, mas também
Enquanto as noites frias inda vêm
Uma alma se demonstra tão gelada

Que leva do não ser ao pleno nada
E se isto com certeza vos convêm
Eu não posso apostar mais um vintém
Na senda pouco a pouco desgraçada,

Salgando este riacho aonde um dia
A vida se mostrara menos fria
Entendo-vos, porém jamais aceito

Os ermos que me dais; cruel herança
E quanto mais além o passo avança
O amor perde bem mais que simples pleito.

25378

Na grã vontade exposta em vossos olhos
Arpôo meus sentimentos mais vorazes,
E quando se demonstra em toscas fases
Apenas colherei urzes e abrolhos,

Orgásticas e insanas sensações
Diversas das que outrora não sentira,
Ainda posso crer acesa a pira
E sei que novos dias e verões

Virão para tornar bem aquecida
A história renegada desde quando
O amor em novas luzes se mostrando
Matara o ressurgir de alguma vida

Expresso o que sincera renegais
E sei que não vos tenho nunca mais.

25377

Mui alheio ao desmembrar de tal história
Aonde se mostrara ultimamente
Aquém do que se quer e se pressente
Apenas os resquícios da vanglória

E nela esta verdade peremptória
Tomando já de assalto minha mente
E quando em vós a luz se torna ausente
O amor se trancafia na memória.

Adentrais tais masmorras do sentir
E crer após o nada no porvir
Tarefa à qual não posso me entregar,

Servindo-vos deveras poderia
Criar ou navegar na fantasia,
Mas como se roubardes céu e mar?

25376

Alheio aos vossos dias em quimeras
Terríveis pesadelos, noite adentro,
No quanto ser feliz já me concentro
Teimando em ressurgidas primaveras,

Ser-vos-ei fiel enquanto houver
A luz que ora nos guia e que permite
Olhar novo horizonte no limite
Além do que este sonho propuser

E por amar-vos tanto é que me entranho
Em sendas tão confusas e diversas,
Por mais que escutais; vãs, tolas conversas
Refaço este caminho desde antanho

E vivo como fosse etérea luz
Que espelho distorcido reproduz.

25375

Em vós percebo agora ser presente
A condição terrível em que se expõe
O mundo que deveras não se opõe
Por mais que nova face se aparente

Argutos passos sendo-vos constantes
Não deixam que se espreite o bote enfim,
E quando se percebe está no fim,
Diverso do que vira, até bem antes.

Ser-vos-ia melhor ter outra face
E dela ao comprazer-se uma esperança
Que ao vago do infinito ora se lança
Por mais que o dia a dia nos embace,

Destino que se faz escorpiônico
Num suicídio lento e quase hedônico.

25374

Percebo em vós diversa senhoria
E dela ao alcançardes vossos rumos
Encontro-vos exposta ao vários fumos
Lapido em vós soberba pedraria,

Minha alma em vos servir se comprazia
Mantendo do passado seus aprumos,
Bebendo da ilusão, sobejos sumos
Enquanto no vagar, futuro espia

E vê que nada além do que deveras
Exposto sob o olhar das frias feras
Servindo-vos agora como um cais,

Que aos poucos, com soberba destroçardes
E a vida sem sequer medos e alardes,
Aos poucos com tal fúria devorais.

25373

Nas margens deste arroio em que te entregas
Aos sonhos de um passado tão remoto,
Aonde se pudesse ver eu noto
Mesmo que tantas vezes siga às cegas

Momentos maviosos que sonegas
E tramas ilusões no amor que adoto
E quando noutro rumo a dor emboto
Encontro doce vinho em tais adegas,

Os deuses protegendo cada passo,
De augustas emoções rumos eu traço
Desfaço velhos nós tão esgarçados,

E assim ao caminharmos para o mar
Percebo neste manso caminhar
A flórea divindade destes prados.

25372

Na limpidez das águas cristalinas
Riachos desaguando em grandes rios
Imensas correntezas, desafios,
Aonde certamente te alucinas,

E quando te embebendo em mansas minas
Deixando no passado os desvarios
Os faunos entre ninfas, rodopios
Futuro mais audaz, tu determinas

E sabes fontes raras de beleza,
Aonde com ternura e tal grandeza
Sobejas maravilhas reconheces

E tendo em tuas mãos o teu porvir,
Os dias mais felizes hão de vir
No enredo que ora em paz desejas, teces.

25371

Os Deuses tão nefastos, rudes seres
Espúrias garatujas do passado
Ainda resistindo vejo ao lado
Dos tantos delicados vãos poderes,

E quanto mais detalhes perceberes
Verás no olhar escuso deturpado
O sonho que pensara emoldurado
Entre as diversas luzes do quereres.

Argutas caricatas e medonhas
Enquanto com planície e vale; sonhas
Imensas cordilheiras, altas serras

Defronte ao teu espelho esta figura
Amarga e inconseqüente se afigura
E o sonho – ser feliz, agora enterras.

25370

Vibrando com as cordas deste pinho
Num mesmo e tão igual diapasão
Encontro em desafio a solução
E sigo noutra senda mais sozinho,

Compondo ou recompondo o velho ninho
Eu sei das desventuras que virão
Embora ao perceber novo verão
Inverno retornando de mansinho,

Astuciosamente o gelo invade
E tendo no final opacidade,
Hiberno a fantasia e me transtorno,

Do quando não devia já retorno
E trago em minhas mãos outra fornada
Da sorte há muito tempo embolorada.

25369

Ainda aguardo o fim e sei do esquife
Que a vida me prepara e sem saúde,
O sonho feito em lira ou alaúde
Enquanto neste solo eu me espatife

Ainda se quisera ser de grife
A roupa já puída que transmude
Transporta noutro tempo ou atitude
O que se fez mordaz, ledo e patife.

Assédios entre tédios e tensões
Não posso mais conter velhos grilhões
Grileiro do futuro nada além

Do que complete o sonho em desvario
Porquanto tanto quanto eu desafio
As dores se repetem, sempre vêm.

25368

Estrugindo os momentos onde ainda
Pudesse ter alguma lucidez,
A farpa que derramas já desfez
O que uma fantasia não deslinda,

E sendo muito cedo para tal
A morte ainda vejo mais distante,
Embora se perceba o seu brilhante
E gigantesco atroz, torpe caudal,

Espero noutras sendas a conquista
Do todo que pertence ao sonhador,
E seja tão somente como for,
Por mais que tanto doa não desista

Uma alma em aura turva e tão confusa
Dos erros mais comuns ainda abusa.

25367

Aonde se pensara em vã estrugem
Uma alma se rebela e ainda busca
Por mais que a noite seja amarga e fusca
Momento além do cais, que ora ressurgem

Vagando sem destino, quando rugem
Em torpes gargalhares; senda brusca,
Astuciosas feras; sonho ofusca
Qualquer delírio aonde os medos surgem

E traçam desatinos mais ferrenhos,
Aonde se tivera em vãos empenhos
Mecânicas diversas das comuns,

Os dias refletindo, pois, alguns
Reflexos de um passado tão medonho
Na ausência do que almejo e te proponho.

25366

Um Sátiro que expõe em multicores
Delírios as vontades mais atrozes
Enquanto disfarçando velhas vozes
Eclode nos projetos, são autores

Das endemias toscas sem pudores
Que mostram tais tenazes mais ferozes,
Pruriginosos sonhos quais micoses
Afloram nesta tez gerando horrores,

Em assertivas falsas, contraluzes,
Aquém do vão caminho onde conduzes
Expressas divindades picarescas

Deveras histriônicos truões
Nudez que neste instante tu me expões
Tornando as fantasias mais grotescas.

25365

Hediondos caricatos, velhos toscos,
Escrachos kamikazes da ilusão
Meus olhos sem futuro negarão
Os dias mesmo quando forem foscos,

E sei que nos meus ermos acalento
Vontades que deveras não desvendo
O amor não poderia ser adendo
Tampouco o passo assim, muito mais lento

Alcanço os meus primórdios e revejo
Momentos onde a sorte se desfez
Gerando a cada dia esta acidez
Aonde algum sorriso, vão lampejo

Ainda escancarado em rosto amargo,
Enquanto o meu caminho eu mesmo embargo.

25364

Truões entre diversas fantasias
Expressam o que sou exposto às feras
E quando noutra sanha degeneras
Matando estas venais alegorias

Meus sonhos, ledos títeres que vias
Nas noites em silêncio, nas esperas,
Apresentando em dores as quimeras
Mergulho nesta insânia onde havias.

Medonhos os penhascos que enfrentara
Quem dera se visão tivesse clara
Destes cenários toscos que ora enfrento

Os dissabores vários de uma vida
Aos poucos sendo assim já destruída
Num raio tão voraz quão violento.

25363

Aonde se fizesse em luz nefanda
As ansiosas horas solidão,
Vergastas entre fráguas mostrarão
O quanto a realidade já desanda,

E o tempo se pesando, assim de banda
Percebo terminando este verão
No outono tantas folhas cairão
E o coração sem nexo se debanda

Vasculho seus resquícios e não vejo
Sabujo sem o faro necessário
Apenas este frio temerário

Tomando desde já qualquer desejo,
Espúrias madrugadas, noites vãs,
As nuvens encobrindo estas manhãs.

25362

Tua presença; eterno e raro estio
Deliciosamente exposto em luz
Enquanto pouco a pouco me seduz
Promessa de desejo ao qual me alio,

E quando meu caminho em ti desvio
E sinto na imprudência, corpos nus,
Vencidos os pudores, contrapus
Vontades tão diversas, desafio.

E sinto o teu perfume junto a mim,
Deliro e quando vejo estás aqui
No quanto te desejo e pressenti

O amor batendo forte, até que enfim
Depois de tantos anos solitário
Num mundo sem razão, sem estuário.

25361

E vendo-te comigo, amanhecer
O dia que sonhamos e não vinha,
A sorte sendo nossa, sei que é minha
A rendição às tramas do prazer,

E quando vejo a luz nos envolver
O coração ao teu resta e se aninha
Além do que deveras me convinha,
Entregue sem defesas, passo a ser

Apenas um cativo deste encanto,
E quando noutro tom, ainda canto,
Percebo dissonantes ilusões

Diversas das que agora tu me expões
E salutares sonhos adentrando
Tornando nosso mundo bem mais brando.

25360

Nos madrigais da vida, renascer
Mudando as minhas velhas fantasias
E quando noutro rumo tu me guias
Encontro o que queria, meu prazer,

E sei que não devia me esquecer
Das mais terríveis horas, duros dias
E neles desfraldadas agonias
Enfáticos momentos a perder,

Engulo cada sapo no caminho,
Mas não quero seguir sempre sozinho
Sem ter qualquer momento de emoção,

Viver cada segundo como fosse
Um único e sabendo este agridoce
Destino sei das dores que virão.

25359

Sem medo de saber-me apaixonado
Quebrei a minha cara ao mesmo instante
Em que pensara ter um radiante
Caminho que deveras disfarçado

Agora se apresenta amortalhado
E deixa destroçado um diamante,
Por mais que a sorte ainda me acalante
O mundo terminou no meu passado,

E sei que não devia mais lutar,
Aonde se mostrasse devagar
Passada não levando ao que mais quero,

E sendo mais atroz, pois tão sincero,
Não vejo outro caminho e, de repente,
O fim do nosso caso se pressente.

25358

Fortalecendo sempre cada laço
Do quanto necessário para que
Se possa perceber e mesmo vê
O amor que se demora enquanto laço

A sorte que se foi sem um abraço
E mesmo quem conhece já não crê
Tampouco quando busca, mas cadê
O que deveras fora estardalhaço

Espero qualquer dia novo tempo
Vencido qualquer medo ou contratempo
Num ilusório rumo mais feliz,

E tudo não passando de promessa
A vida pouco a pouco recomeça,
Mas realidade chega e nos desdiz.

25357

Querendo estar contigo e não sabendo
O quanto é necessário perceber
Além de simplesmente algum prazer
Às ordens de um amor obedecendo,

Alhures entre estrelas, céus e fogos,
Os tempos não são mais conforme outrora
E quando esta paisagem se decora
Esqueço os velhos brados, tolos rogos,

E sinto a liberdade de fruir
Por entre cachoeiras, quedas d’água
E quando noutro mar amor deságua
Nas ondas vou tentando imiscuir

Vontades tão diversas e insensatas,
Mas logo qualquer elo tu desatas.

25356

Decifro no teu corpo, passo a passo,
Enigmas costumeiros e decerto
Ao penetrar no outrora vão deserto
Ocupo cada vez maior espaço

Vestindo esta emoção que mesmo rota
Permite uma alegria além do que
Se pensa quando nada mais se vê
Bebendo até fartar última gota.

Acordo em desacordo com teus atos,
Mas faço meus acordos mesmo quando
Sabendo que perdendo ou me encontrando
Os dias não serão de todo ingratos.

Pecar é se deixar sem ter lutado
Por isso é que inda estou sempre ao teu lado.

25355

O rumo que será nosso aliado
Depois da tempestade sem bonança
Aonde houver a luz de uma esperança
O dia não será tão destroçado,

Perenes emoções que ainda trago
Depois dos desvarios da paixão
Deveras novos dias nos trarão
Compensando com fé qualquer estrago,

Esgares não resolvem nosso caso,
Tampouco outras mentiras nem falácias,
E quando se percebem tais audácias
Eu vejo no final, simples ocaso,

Vestir esta ilusão que não nos cabe,
Bem antes que esta casa enfim desabe.

25354

Derramo nosso amor, venho e te abraço,
Mas nada disso mais te impressiona,
O quanto da verdade já se adona
Não deixa para a sorte algum espaço,

Do verso que te fiz não lembro um traço,
O gosto do abandono pressiona
E quando vejo a vida vindo à tona
Eu bebo deste copo e me embaraço,

Farturas no passado, uma aridez
Presente neste tanto que desfez
O que já fora gozo e riso imenso,

No vértice da vida vejo o fim
Se aproximando e quando junto a mim
Na fuga que não há, teimoso eu penso.

25353

Querendo ser por ti, somente amado,
Promessas vento leva; e nada fica
E quando a realidade não se explica,
O resto vou deixando assim de lado,

O gesto mais audaz se desfraldado
Permite esta ilusão que nos complica,
E quando fotografa e assim se clica
O tempo representa o teu passado,

Em vícios me perdendo, precipito
O encanto que já fora mais bonito
E agora se desfaz em leda história

Balofa fantasia fica esquálida
Figura tão formosa agora pálida
Bagunça com os lastros da memória.

25352

Paixão que nos tomou em poesia
Transporta o pensamento aos Eldorados
Há tanto noutro tanto imaginados
E quem deseja amar já fantasia

Vivendo desta estúpida alegria,
Os dias no futuro malfadados,
Bebendo da emoção em engradados
Caminhos que sonegam luz e dia,

Corteses, mas depois toscos, grotescos,
Carinhos se misturam quando frescos,
Mas amadurecidos viram tapas

Verdades absolutas e exceções
Na regra que deveras hoje expões
Da qual nem eu nem nós, jamais escapas.

25351

Formando imensidão de sonhos tantos
Diversos faroleiros, rota insana,
O que pensara rumo desengana
E gera noutras linhas desencantos,

Lutando contra medos, dores, prantos,
A porta escancarada ainda emana
O fétido bolor por mais que espana
A casa pelos quartos, salas, cantos.

Assentando a poeira vejo a luz
Que noutra mesma intensa reproduz
Eterna sensação de espelhos vários,

Até chegar ao nada que absoluto,
Que com a fantasia se eu permuto
Esconde-se no fundo dos armários.

25350

É forma de cantar em harmonia
Trazendo ao coração belos acordes
Por mais que na verdade não concordes
A vida novamente se recria

E enquanto com passados, fantasia
Sonhando com princesas reis e lordes,
Deveras o futuro onde recordes
À contraluz do espelho o velho dia.

Seqüelas do passado no amanhã
Tornando a mesma história antiga vã
Permite na passada algum tropeço,

Olhando para frente e para os lados,
Reflexos de outros tempos espelhados
Impedem no presente o recomeço.

25349

Meus ídolos depois de tanta grana
Agora aposentados coçam saco,
Cultura brasileira no buraco,
Quem sabe esconde o jogo ou mais engana,

Morena do passado, tropícana
No bonde das novinhas, mas empaco
E bebo de outros tempos, do Sovaco,
Chorinho com certeza era bacana,

Não posso reclamar da juventude
A culpa desta falta de atitude
É desta velharia aposentada,

Contando o vil metal, enchendo a pança
Enquanto a Melancia canta e dança
Do sonho que vivemos, resta nada.

25348

E viva a nova velha cachorrada
Vendendo as esperanças numa esquina,
Passado no futuro determina,
Depois de tanto tempo, sobra nada,

Assim a coisa andando bagunçada
O quanto na verdade nos fascina
Por outro lado morde em voz canina
E a pobre da gentalha anda ferrada,

A genitália exposta na revista,
Não sei se é da piranha ou de uma artista
É nisso que se deu liberação,

Não adianta crer numa igualdade,
Vaquinha de presépio na verdade
Jogada nesta tosca exposição.

25347

O pão e o circo fazem tal sucesso
Que novamente vejo a mesma cena,
Gastando sem poder mais outra pena
Estou ficando duro, eu te confesso,

Não vejo no meu bolso algum progresso,
A fama mais distante não acena,
Enquanto este país todo se antena
No circo ao esgotar qualquer ingresso,

Eu sou desafinado e inda por cima
Ainda me restando uma auto estima
Não entro nesta tal politicalha,

Sem ter nem vocação para ladrão,
Cultura no Brasil, desmancha-pão,
Porque não nasci burro nem canalha?

25346

Dizia um companheiro de pagode
Que a vida deve ser maravilhosa,
Por mais que a realidade mude a prosa
No fim se não der cabra vai dar bode,

Quem tenta e não consegue se sacode,
O cravo já não quer saber da rosa
Nos braços do jasmim a rebordosa
Curada como sabe e como pode.

A poesia é coisa de veado,
Vinicius de Moraes que assim o diga
Colher não vou meter na tua briga,

Senão sobra pra mim, e estou ferrado,
A terra só é virgem, nela bole
A pobre da minhoca, toda mole

25345

Pergunto se inda tens algum trocado
Além do que o pastor vai te levar,
Depositando oferta neste altar
Com juros vai pagando o teu pecado,

Milagre em prestações, bem parcelado,
Sem ter nenhum imposto pra pagar,
Só falta mesmo alguém ressuscitar,
Mas se isso acontecer tome cuidado,

A volta do Cordeiro carpinteiro
No meio deste povo milagreiro
Vai fazer com certeza estardalhaço,

Mistério que chicote desbarata
Apóstolo, pastor, padre pirata
Passando este sufoco num cagaço.

25344

A oposição parece brincadeira
Não tendo quem perturbe a caravana
Reinando sem problemas, soberana
O rei pode falar qualquer besteira,

Rainha vem depois, a companheira
Enquanto o de São Paulo não me engana
Um arrogante calvo já se ufana,
Mas vai perder o trona pra mineira,

Mineiro não quer nem saber de vice,
O que fora verdade ora desdisse
Pesando pros doía lados a balança

Assim nosso reinado agora avança
São tantos os corruptos, corruptores,
E o de Minas servindo aos dois senhores.