sábado, fevereiro 20, 2010

25242

Os sonhos mais gostosos de sonhar
Permitem que se veja a liberdade
Tramando desde sempre a claridade
E nela com certeza mergulhar

Aos raios mais sublimes do luar
Percebo que a real felicidade
Não necessita mesmo que se brade
Tampouco desconhece algum lugar

Vivendo por viver sem ter razões
Nesta beleza rara em que compões
A vida bem melhor de ser vivida,

Sem termos nem perguntas, só respostas,
As horas entre luzes vão dispostas
E sabem decifrar sem despedida.

25241

Aos poucos me envolvendo, me enlevando
Vontade de poder estar contigo,
Vivendo mansamente em tal abrigo,
Um mundo mais tranqüilo, até mais brando

E quando em tempestades eu me abrando
Não vendo após o cais qualquer perigo,
Assim enamorado enfim prossigo
Até que eu te perceba retornando,

Vivendo sem perguntas nem por que
No amor que tanto quer quem nele crê
Passível de pensar eternidade,

E mesmo que se torne agora infindo,
Um sonho que invadindo já deslindo
E dele toda a glória que me invade.

25240

Querendo simplesmente te encontrar
Depois dos temporais e ventanias
Aonde nosso encanto tu desfias
Tecendo novos raios do luar,

Escuto neste instante a preamar
E quando as noites seguem bem mais frias
Em ti farto calor que em luzes crias
Tocando a minha pele, devagar,

Arrasto-me deveras aos teus pés,
E preso nas entranhas do desejo,
O quanto mavioso o amor prevejo

Sem medos, nem correntes ou galés,
Vivendo a liberdade do querer
A recompensa é feita no prazer.

25239

Não deixe que estas ânsias determinem
O fim de um caso raro em pleno amor,
E sendo necessário recompor
Momentos que deveras nos dominem

Enquanto novos dias exterminem
O que se fez outrora em plena dor
Sentindo deste encanto o raro ardor,
Aonde os meus temores se suprimem,

Verás nos olhos meus a poesia
E dela a realidade se recria
Moldando um novo tempo de viver,

Aonde se enverede em voz suave
Sem medos nem terror que ainda agrave
Tornando mais difícil meu prazer.

25238

Sobeja majestade em vossos olhos
Divina criatura feita em luz,
O amor quando em amor nos reconduz
Deixando no passado os vis abrolhos

Recolhe na florada, ensandecido
Momentos deslumbrantes, bom perfume,
Bem antes que minha alma se acostume,
Acende-se a vontade na libido

E tendo-vos por ama e por senhora,
O quão maravilhoso e perolado
Delírio quando estou ao vosso lado,
E nesta voz suprema ora se aflora

Encanto sem igual que derramais,
Delírios em delícias sensuais.

25237

Aonde imaginavas um acerto
Decerto nada tendo, desviaste
O olhar em tanta fúria e num contraste
Criaste em nossa vida um vão deserto,

E quando deste fato ora me alerto,
Embora te pareça ser um traste,
Vagando em noite imensa desabaste
Medonhas excrescências: rumo certo.

Visões de outros momentos já passados
E os olhos muitas vezes embotados
Confusas as imagens, percebera.

Exposto aos mais terríveis pesadelos,
Agora mais tranqüilo posso vê-los
E nele se repete a mesma fera.

25236

Gentis, desconcertantes vastidões
Entoam luzes fartas e serenas,
Além do que pensara em duras penas
Encontro as maravilhas que ora expões,

E tendo nos meus braços soluções
As dores se transformam e pequenas
Jamais perturbariam, pois apenas
São faces que deveras recompões.

Esboço novos passos noite adentro,
E quando neste intento me concentro
Vislumbro o que queria e procurava,

Aonde quis momento em sintonia,
A música se espalha e se irradia,
Vai libertando esta alma, outrora escrava.

25235

Uma alma enfraquecida não percebe
O quão dificultoso o caminhar
Em meio às tantas pedras e buscar
Além do que do amor já se recebe,

O quanto deste sonho se concebe
E bebe-se deveras devagar
E quando novamente eu vasculhar
Veremos noutro encanto a rara sebe,

Em glebas tão distantes e sombrias
Durante muitas horas, tantos dias
Seguimos rastros outros que encontramos,

E após diversos ermos, descaminhos,
Agora que sabemos tão sozinhos,
Prazer incomparável; desfrutamos.

25234

Em ásperos caminhos, vossos passos
Levando à mais completa solidão
E quanto aos novos dias, mostrarão
Além de meros erros, velhos traços,

Enquanto os olhos restem quietos, baços,
Ordenhas de ilusões não nos trarão
Tampouco uma esperança ou solução,
Engodos cometidos; toscos, crassos,

E sendo-vos melhor não ter agora
A fonte luminosa em que se aflora
A benção de saber em voz constante

O quão soberbo andar se preconiza
Transformando tempesta em mera brisa
Nas guerras ou na paz, já triunfante.

25233

Faço-vos Senhora em cada verso
Declarações que ousando vos falar
Derramam sobre nós raro luar
Tomando em claridade este universo,

Nas ânsias do desejo sigo imerso
Servindo-vos qual fora a um altar
E em vós aprendo logo a decifrar
Delírio dos meus cantos mais diverso.

E quando vedes noite enluarada
Derramais vossos sonhos nesta estrada
E nela ao encontrardes meus caminhos

Percebei quão sobeja fantasia
Aonde a luz superna se irradia
Tomando-nos na força dos carinhos.

25232

Desprezos que trazeis em vosso olhar
Estranhas desventuras me causando,
Aonde houvera um tempo desde quando
O Amor se poderia imaginar

Servindo-vos deveras e encontrar
Momento tão suave, ameno ou brando,
E mesmo quando em luz alvoroçando
Falena num instante a se encantar

Adona-se dos sonhos, poesia,
E dela em ventos mansos se porfia
Tecendo nobre e raro amanhecer,

Servir-vos ó senhora dos meus ais
Enquanto o vosso encanto; derramais
Navego ao vosso claro e bel prazer.

25231

Agonizando em vida, um louco amante
Percebe o quão inútil caminhar
E tendo muitas vezes que enfrentar
Perigo audacioso e mais constante

Ainda prosseguindo sempre avante
Não deixa de tentar e de sonhar,
Embora muitas vezes sem lugar
Procura pelo amor, seu diamante.

Andara tantas noites sem saber
Aonde em que estalagem me esconder
Lutando com gigantes ou moinhos,

E agora que te tenho em minhas mãos
Percebo o quanto os sonhos foram vãos
E os dias continuam tão sozinhos.

25230

Das águas cristalinas sei a fonte
E dela me fartando a cada dia,
Enquanto aos mais diversos sonhos guia
A mão que se estendendo no horizonte

Transforma nosso amor em rara ponte,
E nela novos campos eu veria
Sabendo desde sempre esta alegria,
Que a cada amanhecer logo desponte

Deixando como um rastro o brilho farto,
Do qual jamais deveras eu me aparto,
E sei que escravizado em tal algema

Por mais que enamorado nada tema
Eu sigo em luzes várias, movediças
Exposto aos dissabores e cobiças.

25229

Como se fosse amor sábia ventura
À qual já se atrelasse uma esperança
Vivendo dos agouros da lembrança
Eterna busca ainda em vão perdura,

E quanto mais se quer e se procura
Distante deste olhar, amor se lança
A mão já com certeza não alcança
Sobrando a quem deseja esta loucura.

Essencialmente eu vivo só por que
Nas sanhas deste encanto que se vê
Ao longe, minhas tramas me conduzem,

Mas quando me aproximo, logo escapas
Da essência do viver percebo as capas,
Aonde os meus anseios vãos reluzem.

25228

Falo de ti a todos os que vejo
E sinto que a resposta é o mesmo não
Enquanto as horas todas mostrarão
O quanto da emoção fora lampejo,

O beijo mais audaz não antevejo
Tampouco alguma luz ou solução
Esqueço qualquer rota ou direção
Perdendo desde sempre o bom ensejo,

E sendo assim navego em mar sombrio
Diverso do que tanto fantasio
Sem porto que me abrigue, ancoradouro,

Que faço sem poder ter florescido
Jardim há tantos anos esquecido,
Porém só para mim, raro tesouro.

25227

Nos louros da vitória se expressara
A glória que jamais se fez inteira,
História tão comum e corriqueira
Agora se apresenta como rara,

Vencido e vencedor, a mesma cara
Reflexo desta luta costumeira
Vivendo em precipício sempre à beira
A morte a todo dia se declara

Nas formas mais sutis ou agressivas
Enquanto de prazeres tu te privas
Virando um prisioneiro do presente,

Audaciosamente esta caterva
Aos poucos dominando já te enerva,
Mas logo silencias tão descrente.

25226

Das fadas e princesas do passado
Ainda guardas cenas na memória
E mesmo quando muda toda a história
O sonho vez por outra relembrado,

O tempo diz do templo abandonado
E nele tão somente rala escória
Do quanto se fartou como em vitória
Desenho na parede mal pintado,

E as horas vão passando e nada vindo,
O amor que outrora fora quase infindo
Esvaecido em cenas de novelas,

E quando lacrimejas, voz embarga
A doce fantasia agora amarga
Menina que inda existe tu revelas.

25225

Gritar teu nome estúpida quimera
Durante a noite fria em que talvez
O sonho aonde a vida se desfez
Quem sabe noutro sonho regenera

E a vida seduzida em primavera
Mostrando de algum jeito a lucidez
Diversa do que agora ainda vês
Não seja tão somente vaga espera,

Ansiosamente escuto a voz do vento
E nela com certeza, me apascento
Lembrando que virás, mas não sei quando,

E enquanto a noite avança e o sol renasce
A vida repetindo o mesmo impasse,
E eu aqui sozinho te esperando.

25224

Lembrando a despedida em dores fartas
Aonde não queria perceber
Que após a fantasia esvaecer
Enquanto dos meus braços já te apartas

E os sonhos mais felizes tu descartas
Deixando neste instante se antever
Que apenas me emoldura o desprazer
Jogadas sobre a mesa velhas cartas

Ainda não decifro seus sinais,
Mas onde houvera luzes magistrais
Agora tão somente a escuridão,

Sorvendo cada gota do passado,
Retrato na gaveta amarelado,
Traduz toscos momentos que virão.

25223

Ser-vos-ia deveras mais fiel
Não fossem vossas luzes tão dispersas
Enquanto ao perceber nossas conversas
Em laços discordantes, sigo incréu

E temo perceber que assim ao léu
Em novas maravilhas vão imersas
As ânsias pelas quais sendo perversas
As noites onde o amor procura o véu

E se amortalha em turvas nuvens foscas,
Tornando nossas vidas quase toscas
Invariavelmente dispersando

As raras maravilhas desfraldadas,
Agora com certeza malfadadas
Alegrias fugindo em turvo bando.

25222

Outrora em vossas noites se adonando
Das minhas emoções, senhora e diva,
E quando a própria vida já nos priva
De um tempo mais suave, ou mesmo brando

As flores novamente ver brotando
Cevadas pelas mãos de uma alma altiva
Enquanto desta forma outra cativa
E o amor no pleno amor se eternizando.

Vestindo-vos de glória mais sobeja
O quanto meu desejo vos deseja
Permite-me sonhar com novos dias,

Aonde poderia ter nas mãos
Além do roseiral, diversos grãos
E deles vos servir em fantasias.

25221

Assenta-se em canteiros magistrais
A rosa que cevara com carinho
Deixando no passado o ser sozinho
Mostrando o que desejo e quero mais,

E quando em entrelinhas demonstrais
O vosso encanto e nele eis o caminho
Que tanto eu procurara e me avizinho
Bebendo em belas taças de cristais,

Diamantinas noites em vós tendo
Aos mais sublimes ápices, ascendo
E nada me impedindo posso ver

O dia em luzes fartas que ora vedes
E nele saciando antigas sedes
Dourando em vossas mãos, o amanhecer.

25220

Com o desabrochar da flor que tanto
Desejei ver enfeitando o meu canteiro
Depois de ter cevado o tempo inteiro,
Alvissareira rosa à qual eu canto

E neste puro encanto sei o quanto
O amor se fez real e verdadeiro
Dos sonhos o mais nobre mensageiro
Deixando no passado a dor e o pranto,

Eu sinto ser possível novamente
Um dia mais feliz. Por isso bem
Conheço quando a sorte me contém

E nada mais sequer teima ou desmente
A glória insofismável de ser teu
Vivendo o que o amor nos concedeu.

25219

Quem dera se pudesse ter ainda
O gosto desta boca junto à minha,
Suprema maravilha feita em vinha
Que a vida num segundo já deslinda

E traz esta emoção sobeja e linda
Numa insânia constante onde se alinha
O corpo seduzido que ora vinha
Beber da poesia rara e infinda.

Vencido pelas ânsias desde quando
Eu pude perceber já me tocando
Os lábios sensuais desta mulher,

E agora que sou dela e só por isto
Do sonho mais audaz nunca desisto,
E nele todo o bem que uma alma quer.

25218

Aonde houvera pássaros e aurora
Eu poderia crer ser mais possível
Que a vida se mostrasse noutro nível
Aonde a luz que agora nos decora

A cada novo dia mais se aflora,
Mutável fantasia sendo crível
Felicidade então viva e plausível
Decerto voltará e não demora.

Mas vendo esta aridez feita em asfalto,
Em plena solidão fria me assalto
E vejo que a penumbra é uma constante,

E sendo sonhador por natureza
Talvez ainda saiba a correnteza
Na límpida beleza noutro instante.

25217

Enquanto dos fantasmas inda corres
Fugindo destas sombras mais estranhas
Vagando sem destino por montanhas
Ausente da ilusão onde socorres

Percebendo então São Martin de Porres
Que possa te ajudar nas várias sanhas
Ainda mesmo amiga se não ganhas
Ou mesmo quando em lágrimas escorres

Não creia na derrota, pois é fato
Na força insuperável me arrebato
E faço desta crença a minha luz,

Não deixe a dor tornar-se soberana
Nossa Senhora de Copacabana
A um bom caminho logo te conduz.

25216

À rosa se recende a maravilha
Que tanto procurei e não sabia
Aonde talvez fosse fantasia
A poesia ainda vaga trilha

Enquanto um novo rumo se engatilha
Audácia mesmo às vezes sendo fria
Mergulha noutras sendas e porfia
Momentos de prazer; e a estrela brilha.

Alçar cometas tantos, vários céus
E neles me perder, sonhos ilhéus
Vencendo os mais complexos desalentos

Aonde não pudesse ver a luz
Imagem neste espelho reproduz
Além de meras cruzes e tormentos.

25215

Quis o Fado que arruda benfazeja
Trouxesse a boa sorte a quem possua
E a leve junto a si, e enquanto atua
Decerto não há mal que não proteja.

Então bendita planta sempre seja,
A preferida de quem já continua
Fazendo a cada dia falcatrua
E até quem no futuro isso deseja.

Mas veja quão diversa a sina e a sorte,
Pois tendo uma arruda que conforte
Arruda sem ajuda foi flagrado,

E agora Deus me acuda em corre-corre
Sem ter Arruda aquele que o socorre
Arruda contradiz a sorte e o Fado.

25214

Palpitas entre beijos, fogaréus
E tramas as venturas mais audazes
Enquanto novamente tu refazes
Dos erros cometidos, velhos léus

Antanho percebera falsos céus
E neles recriaras torpes fases
Aonde mal percebes incapazes
Delírios encobertos, mausoléus

Ocultas nas entranhas sortilégios
Vendendo as ilusões de privilégios
Ou régios caminhares entre luas,

Mas quando me aproximo e te desvendo,
O todo resta apenas como adendo,
E mesmo em falsos palcos inda atuas.

25213

Um alquebrado sonho diz amor
E tudo se deriva deste vão
Aonde muitas dores mostrarão
Apenas esta angústia se compor,

Vencido pelos medos, meu andor
É feito de total ingratidão
Negando em gelidez todo o verão
Destroços do que outrora fosse flor,

Desembainho atroz e fria lança,
Mas quando a tempestade enfim avança
Recolhe-me ao vazio de onde vim,

Seguramente nada me sustenta,
Somente esta ilusão ainda alenta
Regando vez por outra o meu jardim.

25212

Nascendo a primavera aonde outono
Vivera com terror e frialdade
Pensara tão somente na saudade
Que a cada amanhecer mais desabono,

Do tempo inacessível não me adono
Tampouco vejo em ti a liberdade
Que tanto procurara e não me invade,
Deixando para trás o sonho e o sono.

Explícitos momentos de alegria
Uma alma solitária fantasia
Aonde solidária quis a festa,

Mas quando nada vindo, desespero,
Nas ânsias deste encanto me tempero
E a sorte se esvaindo em cada fresta.

25211

Uma alma que gorjeia em solilóquio
Vencendo os desamores que enfrentara
Enquanto todo amor já não declara
Num sonho em que jamais quero, retoque-o,

E quantas ardentias; necessito
Para poder vencer trevas soturnas,
As ânsias tão comuns sendo diuturnas
Transformam pensamento em brado e grito

Argutas emoções, ânsias diversas
Audaz e carcomida noite inglória
Aonde se pensara na vanglória
Agora noutras sendas sonhas, versas,

E teimas em fluir entre meus dedos,
Levando junto a ti, tantos segredos.

25210

A primavera feita em gozo e festa
Lasciva sobre alfombras traz desnuda
A carne que buscara em fúria aguda
E toda esta loucura rege e empresta

Volúpia que em delírios sempre atesta
A sorte onde deveras traz a muda
Mergulho nesta insânia sem a ajuda
De quem já desconhece o amor que resta

Ejeto os meus fantasmas, fanatismos,
E sei dos mais terríveis cataclismos
Gerando dentro em mim o fogaréu

Que possa transcender à própria vida
E enquanto deste intento a alma duvida
Eu alço neste instante inferno e céu.

25209

Uma alma que se mostra em fogo e lava
Hospitaleiros sonhos, inda tenta
E segue mesmo em fúria violenta
Vagando sem destino, feito escrava

Que em águas sempre turvas já se lava
Perece esta emoção e segue atenta
Por vezes destemida se apascenta
Enquanto noutro tanto se moldava

Escusas excursões pelo meu ser
Demonstram esta sede de viver,
Que tanto me maltrata e me inebria,

E dela sendo servo, não liberto,
Seguindo sempre em rumo vão e incerto,
À margem do que dita a fantasia.

25208

Fragrante Rosa em Jericó plantada,
Como a lua formosa, e esclarecida,
Como o sol entre todas escolhida,
E como puro espelho imaculada.

Virgem antes dos séculos criada
Para Mãe do supremo Autor da vida,
Para fonte de graça dirigida,
E de toda a desgraça reservada.

Pois a vosso rosário se dedica
Esta academia, em que tanto acerta,
Consagrando-se a vós, divina Rosa:

Claro, patente, e manifesto fica,
E conclusão é sem falência certa,
Que do mundo há de ser mais gloriosa.


GREGÓRIO DE MATOS

A Rosa que entre Rosas se fez Santa
Formosa em raro brilho ostenta a luz,
E dela este Cordeiro atado à Cruz
Cujo holocausto ainda nos encanta.

A força que Ela emana, sendo tanta
Às multidões diversas já conduz
Divina Criação se reproduz
Na Imagem mais fiel e Sacrossanta.

Da Glória em Graça feita, olhai por mim,
Em Vós percebo além deste jardim,
Superna Maravilha em divindade,

Dos nomes o mais simples vos daria
O Amor, pois em Amor se fez Maria
E Dela a Soberana Majestade.

25207

Canoras expressões de sonho e alento,
Das ânsias entre lágrimas sobejas
Além do que talvez inda desejas
Encanta-nos o amor doce tormento

No qual por vezes quero ou mesmo tento
Viver além do quanto sei que almejas
Nos céus que em esperanças azulejas
Legando ao nada ser, o sofrimento,

Adentrando diversas fantasias,
Ao mesmo tempo negas e confessas
Das várias ilusões, cenários, peças

Por onde nossa história tu desfias
Fazendo de bom grado esta ironia
Que à própria sensatez já desafia.

25206

Ó Musas o meu canto vos implora
A paz de um manso lago em placidez,
Dourado caminhar onde se fez
A noite sem estrelas desde outrora,

Em eras tão diversas, mágoa aflora
E do estro transformado em sensatez
Mudando em poesia a sua tez
A fonte ora salobra se descora,

Dos bardos ouço a voz e não respondo,
Ecoam dentro em mim brados distintos
Vulcões há tantos anos sei extintos,

E a força incontestável já se impondo
Não deixando fluir a água serena
Sulfúrica verdade me envenena.

25205

No imarcescível sonho eterna fonte
Por onde porejara uma esperança
Que aos vários caminhares já se lança
E dentre tantas dores se desponte,

A vida muitas vezes nega a ponte
Ao flóreo vicejar enquanto avança
E traz nos antros frios da lembrança
Visão em triste agouro do horizonte.

Às Musas destes vates liras cantam
Idolatrando assim belas deidades
Tramando sobre a Terra claridades

Que enquanto nos tocando sempre encantam,
Descendo o imenso rio em belas margens
Sobejas e divinas paisagens.

25204

Que a terra seja mansa ao caminheiro
Depois de percorrer sendas diversas
E nelas as belezas mais dispersas
Trazendo um novo rumo ao mensageiro

Dos deuses e das musas, companheiro
Enquanto sobre os vales, rios; versas
Palavras que pensara mais perversas
Num verdejante prado enlevo e cheiro.

Dourados os lauréis que ora desfilas
Celeste maravilha em nobres filas
Levando em teu olhar, altares vários

Bebendo desta fonte cristalina
O quanto em luzes calmas nos fascina
O sobejo esplendor destes cenários.

25203

Nos mares onde outrora navegara
Buscando a calmaria que inconstante
Trazia a embarcação sempre adiante
Do tempo em noite imensa e lua clara.

Um perecível sonho, fragilmente
Exposto aos vendavais não resistira
E quando só restara simples tira
A vida sem pudores volta e mente

Dizendo ao velho andejo marinheiro
Que tudo continua como outrora
Naufrágio com certeza não demora,
E o canto se tornando o derradeiro

Desmancha qualquer forma de esperança
Enquanto à morte a sorte já se lança.

25202

Socorrem-me diversas fantasias
Durante a minha estada neste inferno
Aonde imaginar um tempo terno
Nefastas explosões; por certo, urdias

E delas não percebo mais sinais
Apenas os destroços que me tocam,
E quando estas escórias desentocam
Fantasmas que pensara terminais

Assombram-me terrores conhecidos
E deles recomposto, não permito
Sequer ouvir ainda um brado ou grito,
Há tanto desprezados nos olvidos

E sendo que ressurges por instantes
Figuras do passado, degradantes.

25201

Teu nome se traduz em fogo e lança
E quando me perguntam se talvez
Ainda possa crer na sensatez
Depressa se perdendo esta esperança.

Verdade não se cala e nem percebes
O quanto inútil ser já se adivinha
Nas hordas que vieste, erva daninha
Agora se espalhando em outras sebes,

Sedenta de vingança fera espúria
Por onde caminhavas nem um rastro,
E quando se perdera vela e lastro,
Apenas sobrevive a imensa fúria

Na qual eu me alimento e te devoro,
E a morte de tal fera, eu comemoro.

25200

Pergunto quase sempre e não sei quando
Alguém trará consigo esta resposta
A mesa há muito tempo deixei posta,
A casa ora vazia, te esperando.

Não posso suportar tamanha ausência
E vejo a minha vida se puindo,
O que pensara outrora fosse infindo
Agora se percebe em decadência,

Vencer os meus terrores; é possível?
No amor que tantas vezes fiz meu mote,
Sem ter a fantasia que se adote
Transforma-se afinal em perecível

Momento de completa insensatez,
Que a realidade amarga já desfez.

25199

A vida pode sim me maltratar
E destroçar o que inda resta em mim
Depois de ter cevado este jardim,
A tempestade chega devagar

Não deixa restar nada do que outrora
Granara sobre um solo mesmo agreste,
E quando em noite clara tu vieste
Promessa de alegria que se aflora,

Porém o tempo tem nas armadilhas
Diversas e complexas ilusões,
E quando noutra face tu te expões
Aonde posso ver as maravilhas

Que um dia se tornaram mais constantes
E agora vejo: falsos diamantes.

25198

Distante de quem quero, perguntando
Aonde se escondeu a estrela guia,
Inútil sem te ter, a poesia
Aos poucos noutra senda se formando,

Vagar inutilmente em noite escura,
A lua que entre brumas ora espreita
Enquanto a dor deveras se deleita
A vida se resume na procura

Insana e inconsistente, mas audaz
Por quem desejo tanto e não me quer,
Nas mãos abençoadas da mulher
Destino que inconstante já se faz

A minha redenção? Ainda aguardo,
A dúvida se torna imenso fardo.

25197

Aonde, meu amor, posso buscar
A fonte de uma eterna juventude
Tomando noutro rumo ou atitude
A imensa maravilha céu e mar,

Esculpo com cinzéis que tu me deste
Imagem redentora de um amor
Que quanto mais audaz quero compor
Maior a divindade que ele ateste.

Seguir por flóreos rumos entre espinhos
Vagando nos canteiros mais bonitos
Tramando em paz superna velhos ritos,
Não vejo mais meus dias vãos, sozinhos,

E sei que também queres tal momento
E nele mesmo em guerra, eu me apascento.

25196

Meus olhos vão famintos, são sedentos,
Buscando o teu olhar, doce miragem
E dele se permite servo ou pajem
Em meio aos dias frios, violentos,

E quando me percebo nos teus braços
Entendo ser feliz como se fosse
Um dia bem tranqüilo, e até mais doce
Do que pensara em tempos idos, lassos,

Agora me permito neste verso
Cantar esta beleza incomparável
Do sonho que se mostre mais amável
Do quanto já sofri, muito diverso,

Vivendo a cada dia esta emoção
Meus olhos outros rumos saberão.

25195

Não deixa de querer cada carinho
Quem sabe e reconhece que amor vem
E nele toda a sorte diz do bem
No qual com muita fé ora me alinho.

Espero poder ter alguma chance
De demonstrar o quanto te desejo,
E sei que na verdade sem ter pejo
A vida se mostrando a meu alcance

Permite que se diga em poesia
O quanto não teria nem coragem,
Se amor ao perpetrar esta viagem
Qual fora rara estrela já me guia

Levando ao glorioso amanhecer
Envolto pelas luzes do prazer.

25194

Tocado pelos sonhos, doces ventos
Clamando por quem tanto desejei
O amor que pela vida eu espalhei
Trazendo esta ventura, sem tormentos,.

E sinto quão profusa maravilha
Expressa neste olhar embevecido,
O medo há tanto tempo adormecido
Enquanto uma esperança ora palmilha

As sendas mais sublimes da esperança
Na plácida beleza deste lago,
Delírios entre encantos, se eu te afago
A vida sem terrores segue e avança

Até chegar ao fim da caminhada,
Seara por brilhantes, polvilhada.

25193

Não posso mais ficar aqui sozinho
E deixo-me levar pela emoção
Pensando nos momentos que virão
Tornando mais tranqüilo o velho ninho,

Aonde um ansioso passarinho
Depois de tantas noites de verão
Agora na completa solidão
Ausente das delícias de um carinho.

Escute a voz do vento a nos chamar,
E veja sob os raios do luar
Beleza desta noite soberana,

O amor quando se entranha nada vê
E a vida passa a ter algum por que
E a sorte transparente não engana.

25193

Não posso mais ficar aqui sozinho
E deixo-me levar pela emoção
Pensando nos momentos que virão
Tornando mais tranqüilo o velho ninho,

Aonde um ansioso passarinho
Depois de tantas noites de verão
Agora na completa solidão
Ausente das delícias de um carinho.

Escute a voz do vento a nos chamar,
E veja sob os raios do luar
Beleza desta noite soberana,

O amor quando se entranha nada vê
E a vida passa a ter algum por que
E a sorte transparente não engana.

25192

Preciso de teu corpo, meus ungüentos
Que sanam as feridas do passado
Encontro neste solo abençoado
E dele com certeza mansos ventos

Trazendo esta alegria que deveras
Não posso mais conter, e em voz altiva
Mantendo esta esperança sempre viva
Num doce paraíso que ora geras

Viver sem ter razões, sabendo quando
O tempo nos transforma em eternais
Bebendo deste néctar quero mais,
Caminho pouco a pouco demonstrando

Fantásticos momentos de alegria
Que uma alma apaixonada fantasia.

25191

Salvando um coração tão pobrezinho
Destas vicissitudes, dor e pranto,
Enquanto houver o sonho ainda canto,
Das sendas de um amor eu me avizinho,

Longe de tantos erros cometidos,
Andando sem olhar sequer pra trás
O amor a cada dia já me traz
Momentos entre luzes consumidos.

Viajo em suas mãos e a liberdade
Alçando com delírios e prazeres
Unidos neste intento, pois, dois seres
Encontram a real felicidade,

E um verso simples nasce deste todo,
Numa expressão suave e sem engodo.

25190

Se fez mais forte em versos a esperança
De um dia bem melhor e mais tranqüilo,
E em cada fantasia que desfilo
Diversa do sentido de vingança

O olhar se perde ao longe, no horizonte
E vê dentre montanhas, o nascer
Da lua a pratear e embevecer
Traçando outro caminho que me aponte

A sorte de saber felicidade
Ausente dos meus dias, infelizes,
E em meio aos temporais, diversas crises
Que a voz de uma esperança ao menos brade

E mude a direção dos ventos, pois
Dela depende a glória de nós dois.

25189

Sou anti imperialista, pois cristão
E odeio qualquer forma de injustiça,
Jamais permitiria ser omissa
A voz quando se vê uma opressão

E sei que novos dias mostrarão
Em renovada cor velha cobiça
A areia sempre foi tão movediça
Assim como inseguro, o próprio chão,

E quando no futuro agora lês
O império que virá será chinês
Autoritário e mesmo tão pragmático

Sem nada que respeite ou o desbanque
Futuro que prevejo assim, dramático,
Trará saudades deste velho, o ianque.

25188

Ausência de esperança ora me leva
A crer neste vazio como herança
E quando o meu olhar enfrenta a treva
Ao horizonte atroz inda se lança

A mão que poderia crer na ceva
Apenas aridez ainda alcança
Amores arribando em tosca leva
Não deixam nem resquícios na lembrança;

Audaz e pertinaz caminho eu tento,
E nele um lenitivo, algum alento
Que possa permitir o renascer

Da vida prometida em profecia,
Porém a realidade dura e fria
Transfere para nunca o amanhecer.

25187

Nefasto deus não quero e nem desejo
Que alguém possa viver tal heresia
E quando a falsa imagem se recria
Diversa deste amor que tanto almejo

O amanhecer em paz já não prevejo,
Tampouco se percebe a fantasia
Moldando com prazer a alegoria
Num mundo mais tranqüilo, amor sobejo.

E tudo se transforma no vazio
Que tanto nos maltrata e nos corrói,
Uma esperança aos poucos se destrói

Felicidade, um sonho que ora adio
Olhando para trás vejo o depois
E a morte tão presente entre eles dois.

25186

Aonde se tentara paz e amor,
E nisto a liberdade como um hino,
Um sonho mavioso e até divino
Que vejo todo dia decompor.

Cantávamos a Terra em esperança
E toda a maravilha feita em flores
Canhões já se calando; e os dissabores
Morrendo sem qualquer ódio ou vingança.

O tempo se mostrou torpe corsário
Mudando este refrão que nos guiava,
Seara libertária agora escrava
Futuro novamente temerário

Do canto em que se quis libertação
O sexo com a droga diz prisão.

25185

Atrozes almas alçam infinitos
E visam o possível renascer
Noutra alma tão diversa ou noutro ser
E assim ciclos se fazem sem conflitos.

Assíduas ilusões vencem verdades
E volvem envolvendo vastos vãos
Atípicas paisagens, novos grãos
Refazem noutra senda a eternidade.

Implícitos desejos se fomentam
E deles outras vozes ou imagens
Escravos, vendilhões, patrões e pajens
As vidas desde então retroalimentam

Arquétipos diversos vida e morte,
Num único conjunto que os comporte.

25184

Imensa majestade em faustos feita
Sidéras paisagens desvendadas
Veredas pelas luzes decifradas
Uma alma ao percebê-la se deleita

E do éter que esvaece entorpecente
Lascívias entre lânguidas promessas
Luxuriosamente; recomeças
Mesmo que nova saga se apresente.

Num hermetismo insólito e insensato
Astúcias entre farpas e delitos,
Carbônicos viveres, infinitos
Renovam-se mudando de formato

E assim do fogo fátuo; outra quimera
Real diversidade regenera.

25183

Debaixo dos colchões do Vaticano
Esconde-se a verdade sobre Cristo,
Repito novamente e até insisto
Não posso conviver com tal engano,

O Pai sendo absoluto e soberano
Num paradoxo é vil? Pois se hoje existo
Do amor insofismável não me disto,
E faço parte mesmo de algum plano.

Mas quando vejo a imagem demoníaca
Usada como fosse uma batina
Enquanto ao próprio Deus já sabatina

Numa ânsia tresloucada e até maníaca
Pergunto quem te fez venal Igreja?
Maldita para o eterno sempre seja.

25182

Angustiosamente sigo a vida
Entregue aos dissabores tão normais
Momentos que pensara magistrais
Tramando da alegria a despedida,

A sórdida figura que esculpida
Em mármores diversos, transformais
Em farsas costumeiras e venais,
Enquanto a realidade dilapida.

Não vedes quão passível de loucura
Quem tanto sem progresso já procura
Algum remanso à beira da torrente,

E mesmo que inda encontre algum resquício,
A sorte se transforma em precipício
Por mais que uma ilusão ainda invente.

25181

Absconsas profecias se refazem
Nos modernos oráculos, falsários
Procuram tão somente os honorários
E vários imbecis já se comprazem;

Espúria corja expondo em cartas, dados,
As toscas quiromantes do presente
No milenar engodo se pressente
Os dias muitas vezes malfadados,

Vendendo as ilusões, serão poetas?
Assépticos ignaros vitimizam,
Enquanto maravilhas otimizam
Palavras benfazejas e diletas

Visionárias vendetas no balcão,
Meu Pai, como é difícil ser cristão!

25180

Dejeto entre os dejetos, simples pária
Aonde mergulhasse em frio ocaso,
Se às vezes falsa luz da qual me aprazo
Expressa uma versão vã, visionária

Nas sombras dos errantes vagabundos,
Andarilho pagão, noites a fio,
Exílios mais constantes e me alio
Aos vermes mais espúrios ou imundos.

Jogado pelas ruas, ébria cruz
Visões entre paredes e senzalas
Olhando tal figura já te calas
E em mim, a tua imagem reproduz

Embora em contra-senso tão venal,
Delírio compartilhas; sensual.

25179

Angustioso rumo se procura
Durante os festivais em raras luzes,
E enquanto as maravilhas reproduzes
A noite fica sempre mais escura.

Beligerante imagem, roubo e morte,
Prazeres que desfrutas com regalo,
Silenciosamente nada falo,
Apenas peço a paz, frágil suporte.

Seviciando a fétida figura
Em asquerosa imagem construída,
Uma alma que se dá prostituída
E nela a realidade se afigura.

Que sendo sempre assim, pois que assim seja
Depois louvamos Deus na nossa Igreja.

25178

Mas quem te disse que o Diabo é feio?
Figura tão formosa e atraente
Prazeres espalhando e de repente
Nas suas chamas bebo e me incendeio.

Num gozo insaciável, belo Febo,
Ansiosamente exposto nas vitrines
E quando novos rumos determines,
Um ser tão sedutor ora concebo.

Promessas de momentos em fulgor,
Delícias entre jogos, droga e sexo,
Até que se perdendo todo o nexo
Esplêndida beleza a decompor,

Enxofre? Não. Perfuma em maestria
Enquanto te encantando, à morte guia.

25177

Amenas madrugadas e eu observo
Do alto deste prédio as variantes
De uma cidade em sonhos delirantes
A cada capitão servido um servo.

E vendo esta caterva que borbulha
E segue seus caminhos tão diversos,
Percebo em variados universos
A mesma incoerência em cada bulha.

Acasos entre ocasos, farsas tantas
Iludidos e tolos caminheiros
Do Demo, são pacatos tais cordeiros
Usando como em série mesmas mantas

Esbaldam-se nas teias que os amarram,
Enquanto em podres Cristos sempre escarram.

25176

Nas ânsias deste pária que vasculha
Escombros pelas ruas e sarjetas,
Aquém do Paraíso que prometas
A ponta envenenada desta agulha

Adentra a pele em rugas tão precoces,
Os pelos abundantes, o mau cheiro,
Um ato tão vulgar e corriqueiro
Por mais que em fantasias tu adoces

Espalha pelas ruas da cidade
A imagem mais perfeita do que seja
Humanidade herética; em bandeja
De prata nos servindo a realidade.

E assim vestindo a rota fantasia
Demônio eternamente se recria.

25175

Microscópicos seres devorando
O que se fez gigante e autoritário
Um homem desprezível, temerário,
Agora num silêncio eterno e brando.

As vísceras expostas carcomidas,
As órbitas vazias, nada vêm
Aonde fora tanto hoje ninguém
Na cíclica verdade traz ás vidas

Banquetes decompostos, fino prato,
Carcaça pouco a pouco destroçada
A alma há tanto tempo sepultada
Satânica figura em seu formato,

Enquanto se gargalha Satanás
Herético poder torpe e voraz.

25174

As velhas carcomidas heresias
Vendidas como fossem salvação
Deveras nos trazendo a adoração
Diversa da verdade que querias.

Amor feito em perdão, lição superna
Infelizmente tanto desprezada,
A quem se deve tudo, resta o nada
Depois se quer pensar em vida eterna?

Hereges companheiros de viagem,
A alma sempre pesa se cristã
A vida se permite noutro afã
Delírios e delícias, vã miragem.

Mais fácil se levar pelo prazer
Ilimitado gozo a nos perder.

25173

Vindictas tu preparas, armadilhas
E delas não consigo decifrar
Sinais que possam mesmo protelar
A morte que deveras ora trilhas,

E sinto nas noctívagas matilhas
Nas noites mais escuras, sem luar,
Espreita num instante a desnudar
Mesmo que disto diste algumas milhas.

Assim a cada dia me preparo,
Pois sei quanto o demônio não é claro
Usando de artimanhas mais sutis,

Enveredando sendas prazerosas,
Emerge qual a rosa dentre as rosas,
Beleza que em si própria contradiz.

25172

Antíteses que formam vidas várias
Na mesma e tão complexa residência
Gerando a mais venal coexistência
Formada por visões que, temporárias

Tramando uma passagem movediça
Que ao mesmo tempo fere e às vezes cura,
Porém dicotomia se em loucura
Nefastas luzes traz sobeja liça.

E vendo tais figuras desconexas
Não posso me furtar às evidências
Tampouco ao ignorar t’as inocências
Preconizando vias mais complexas

Que levam às diversas direções
E nelas fragilmente tu te expões.

25171

Luxúrias entre orgias e bacantes
Espúrias ilusões que o tempo leva,
E quando após o rito, encontro a treva,
Percebo que o prazer traz por instantes

Excêntricos momentos que finitos
Resíduos muitas vezes entorpecem
E quando tais delírios se oferecem
São meros na verdade até restritos

Enfáticos, porém vagos caminhos
Levando aos mais diversos arremates,
E quando só por eles tu combates
Os dias que virão; ledos, sozinhos

Retratam o vazio que se cria
Na falsa sensação de uma alegria.

25170

Unindo nossos corpos num desejo
Explodem-se emoções, raros matizes
E sendo, como sempre mais felizes
Etéreas sensações agora almejo,

Vivendo esta fantástica viagem
Sem ter sequer fronteiras nem descanso
O auge que neste instante quero e alcanço
Traduz aos olhos vagos, a miragem

Esplêndidos caminhos desvendados,
Delitos cometidos, sacros ritos,
E quando penetramos infinitos
Sabendo desvendar tais Eldorados

Jamais nos permitindo a solidão,
Prazer a traduzir constelação.

25169

Efervescência intensa à flor da pele,
Desejo que incontido nos inflama
Mantendo sempre acesa a imensa chama
Ao farto desvario nos compele,

Ardentes emoções, jogos sutis,
Eternidade feita nos segundos
Aonde se envolvendo mais profundos
Anseio que em momentos tudo diz.

Suores e sussurros; saciados
Dois corpos irmanados num só gozo
Instante formidável, fabuloso
Enlanguescidos seres endeusados.

E lassos entre laços, firmes nós,
Delírio insaciável, fogo atroz.

25168

A paz que eu procurava e não sabia
Vestindo de funéreas emoções
Agora quando em luto tu me expões
Gerando algum sorriso de agonia,

Há tanto que deveras percebia
Brotando sobre a terra aos borbotões
Em gêiseres, em lavas e os vulcões
Permitem que se crie a alegoria.

Afãs diversos, lutas feras, claras
Por mais que outra saída; imaginaste,
Esta aparente dor traça o contraste,

Pois dela a paz que tanto desejaras
Num descanso sobejo e sem igual,
No encerrar deste ciclo, natural.

25167

Abstinência de luz trazendo agora
Esta hiperestesia que, constante
Se expressando das sombras, neste instante
Vaga fluorescência que se aflora.

E desta opacidade gero então
Hipersensível ser que não se omite
Tampouco reconhece algum limite
E as mais frágeis luzernas mostrarão

Caminhos que deveras desconheces,
E nunca imaginara, pois sombrios,
Herméticos lugares que, vazios
Sequer em fantasias ora teces,

E assim ao prosseguir em vãos escusos,
Decifro os meus prazeres mais profusos.

25166

Da longanimidade sigo ausente
Aonde se pensasse em brilho e incêndio
Apenas desfilando o vilipêndio
E a paz feita em ternura que se ausente.

Não posso me furtar aos desenganos
E como fosse um réptil ora rastejo
Deixando no passado o vão desejo
Adentrando os esgotos, podres canos

Encontro ali enfim o que buscara
Após as cicatrizes coletadas
Vagando pelas ruas e calçadas
A cada novo passo, nova escara

Mergulho nestas turvas galerias
E ali, conheço enfim, as alegrias.

25165

Em contraposição ao supernal
Entranho pelas furnas do viver
E sinto neste vão tanto prazer,
É como se pudesse triunfal

Galgar meu habitat mais natural
E nele de tal forma me envolver
Mimetizando ali, um torpe ser
Que um dia imaginara desigual.

Do subsolo entranhando as galerias
Diverso deste sonho que ora urdias,
Um subterrâneo verme me alimento

Das trevas e da sombra, escuridão,
Da vida a mais perfeita tradução
Mesmo calado e imerso sigo atento.

25164

Doía qual um membro que amputasse
E mesmo em dor terrível persistisse
Por vezes cria ser uma tolice,
Algia que gerasse algum impasse

Do tempo que virá e do que fora
Na persistência vã do que era morto,
É como não soubesse de outro porto
Tampouco de outra senda promissora

Quedara-se em espúria letargia,
E dela nem sequer um movimento,
Mortalha não servindo mais de alento,
No congelar da vida, o mesmo dia.

Aonde conseguir a liberdade?
Um torpe prisioneiro da saudade...