segunda-feira, novembro 20, 2006

Areias escaldantes do deserto.

Areias escaldantes do deserto.
As brancas testemunhas deste ocaso.
Amor que traduzimos por incerto,
Morrendo na tardinha, findo o prazo...

Um pobre beduíno, céu aberto,
Espera pelo oásis, ao acaso.
A miragem do amor, sem nada certo,
Olhar pleno e distante, morto e raso...

Areias escaldantes desta praia
Delícias de morenas e sereias...
O sol enamorado já desmaia,

Casais semi-desnudos se acasalam,
Desfilam seus hormônios nas areias...
Camelo e beduíno, nada falam...

Hortênsia: Aquela que cultiva o jardim, horticultora

Hortênsia: Aquela que cultiva o jardim, horticultora


As flores do jardim de nossa casa
Em plena primavera, tantas cores!
Calor dum sentimento que me abrasa,
Trazendo mais perfume para as flores;

O vento, calmamente, tanto apraza
Vestindo de esperanças minha dores.
Fogueira das paixões ardendo em brasa
Volúpias que me trazem meus amores...

Tenho culpa se quero ser feliz?
Em todas estas flores do jardim,
Algumas com raríssimo matiz.

São lumes duma tão pobre existência
Que teima feramente estar em mim.
Entre todas as flores, bela Hortênsia!

Hilda: Donzela da batalha, guerreira

Hilda: Donzela da batalha, guerreira


Nas guerras, nos amores e na paz,
Foram tantas promessas que fizeste
Duvido, meu amor, se inda é capaz
Saber se o sol nasceu no oeste ou leste.

O vento de esperanças não me traz
O rumo que perdemos e que deste.
A mão que me tortura é tão tenaz
O fogo vence amor, lhe queima a veste.

Recebo das batalhas, a notícia
Que tantas vezes, finjo que não quis.
A dona do meu sonho de carícia

Retorna para, enfim, viver comigo.
Distante das guerrilhas, do perigo,
Com Hilda, certamente, sou feliz.

Hercília: Orvalho

Hercília: Orvalho


Manhã que nunca veio, morre tarde.
A cor destes teus olhos, frágil lume.
Amor tão terebrante nega alarde,
O sol embora fraco, traz perfume.

A cor desta esperança já se encarde.
O verde desbotado, teu ciúme.
Transforma-se vazia, é tão covarde;
Meu medo, é cordilheira cobre o cume...

O raio das manhãs, me nega aurora.
Nos meus jardins sofridos, morre a tília
A morte, tantas vezes, me namora;

Mas quando a noite cai, profundo talho,
Me lembro da manhã plena de orvalho;
Me lembro d’ outros olhos, os de Hercília!

Nos olhos violetas a quimera,

Nos olhos violetas a quimera,
Feroz devoradora de esperanças...
Tragando todo amor que se venera
Ferindo totalmente, suas lanças...

Quimera companheira me tempera
Com ácidos humores das vinganças.
A dor que não se queima, regenera
Não some e me consome, más lembranças...

Na poderosa bruma, meu naufrágio.
As nuvens que escurecem não dissipam.
As mortes dos amores já me estripam.

Angústia no meu peito é seu pedágio.
Quem dera ver da vida outra faceta,
Na luz que não dissipa, em Henriqueta!





Henriqueta: Senhora da pátria, poderosa

Fera dissimulada esconde garras,

Fera dissimulada esconde garras,
Profundas e ferozes tais tenazes.
Fingindo-se cativa, rompe amarras,
As noites e sonhares, mais audazes...

Conhece o paladar das alcaparras
Embora se desmanche, nega pazes,
Delira com acordes de guitarras
Transmuda-se completa em várias fases.

As presas nas tocaias, indefesas,
Hipnotizam, os olhos da pantera..
No brilho de seu couro, mil belezas,

Nos laços dos seus sonhos são atadas,
Mal sabem da grandeza que há na fera!
As unhas escondidas, ‘stão cortadas?

Helga: Sagrado

Helga: Sagrado


Criando meus castelos, descobri,
Os olhos desta calma criatura.
Por vezes procurei. Estava aqui
A mansidão que salva e me traz cura.

Por tanto sofrimento que vivi,
Por tantas punhaladas da tortura,
Nas vezes em que distâncias percorri
Buscando a claridade em noite escura.

Agora que te encontro, sou feliz.
Encontro a principal finalidade
De tudo que sonhei, do que já fiz.

Meu coração pesando aqui do lado,
Encontra, no final da tempestade
Em Helga o sol que brilha e é sagrado!

Bruxuleante luz que me transtorna tanto...

Bruxuleante luz que me transtorna tanto...
Me embaço em teu olhar, são minhas esperanças
Do dia que trará um novo e belo canto...

Cansado de viver somente em duro pranto;
Buscando no teu mar augúrios das bonanças,
Um brado do meu peito; amor... Alto, levanto!

Profano sentimento envolve-me, n’espanto
Rompendo em minha dor antigas alianças
Trazendo um sentimento onde, enfim, me agiganto!
Nas fúnebres saudades onde escondes
As luzes das promessas, velhas frondes,
Encontro a solidão, manto de treva.
Mesquinho sentimento de vingança
A noite dos amores, triste neva,
Levando nos seus braços, a esperança...

No pássaro canoro, um bom parceiro,
Também aprisionado num viveiro,
Procura pela luz e claridade.
Meus olhos vagueando pelos céus,
Buscando tão somente claridade,
Envoltos na penumbra destes véus!

As vastas amplidões obnubilaram
Desejos tão sutis que te esperaram.
Não vieste, sequer deste notícia,
Não pude compreender tua saída.
A noite me açoitando traz sevícia,
O mote que deixaste, despedida!

Ataste nos meus punhos a corrente
Com a qual me tornaste teu cativo.
O frio tão soturno e envolvente
Dormita em cada canto aonde vivo...

As noites inflamadas de desejo
Em passos miasmais traz o relento.
A boca onde derramo o manso beijo
Se esparsa no universo. É a do vento...

Quem fora, noutros tempos o meu cais,
Degeneradamente se destrói.
Promessas de viver, nunca, jamais...
A vida sem futuro; como dói!

Vieste na promessa não cumprida,
Viveste em profundezas colossais.
Na porta da chegada, a de partida,
Meu barco, naufragando, cadê cais?


As cartas que legaste, testemunho
Dos sonhos já desfeitos. Fecho o punho
Em lutas com fantasmas que não vejo.
As ânsias mais ferozes de outra sorte
Destroem-se, infelizes, num lampejo
Tão fantasmagórico, de morte.


Versejo procurando meu espaço
Por entre siderais constelações
Embalde, não encontro meu regaço,
As dores me devoram, borbotões.
Dos sonhos que já tive; sequer traço,
Em plena tempestade, confusões...
A vida que já fora minha fonte,
Desmaia-se, chorosa, no horizonte!


Mergulho as esperanças neste açude
Das águas que lacrimo sem descanso...
A dor é companheira e amiúde
Me espreita e não permite mais remanso.
Nem olhos suplicantes, nada ilude,
Trôpegos passos, pernas, pernas, tranço...
A mansidão farsante não me engana
Das cruzes do meu peito já se ufana.

Não posso desculpar quem não me quis,
Embora tantas vezes fui feliz,
Mentiras, sedimentos de esperança?
O gosto da tortura sangra lábios,
Penetra, destrutiva, venal lança.
Amor, jamais achei, meus alfarrábios.


II

Estrelas refulgentes, brilho esparso,
Em tantas solitudes me desfaço
À beira deste rio enluarado.

Escaras e profundas cicatrizes
Herdadas qual noturnas meretrizes
Denotam este amor des’perançado...


Canto que cantaste,
Lua que me deste
Rasga a bela veste
Morre sem luar
Negando esperança
Morre e não avança
Não sobra fina haste
Nem luz a brilhar.

Rasgo meu cometa
Disfarço ciúme
Esqueço o perfume
Mato a doce rosa
Perco meu jardim
Aborto o jasmim
Perco essa luneta
Morro sem luar...

Eu já busquei primavera
Minhas noites do sertão,
Encontrei a solidão
E beijei esta pantera
Acariciei tal fera
Disso não faço segredo
Minha herança? Meu degredo.
O gosto amargo do fel,
O meu barco de papel,
Naufragou, morreu de medo...

Vestido de lua clara
Buscando por claridade,
Eu carrego esta saudade,
Jóia bela e muito rara
Com a qual não se compara
Nem o raio deste sol
Nem o belo girassol
Nem o verde desta mata
Nem o véu, minha cascata,
Nem o brilho do farol!


Vestido de tanta lua
Encontrei um novo amor
Espinho recende flor
Ladrilhei de novo a rua
Minha vida continua
Não quero mais minha morte
Me revigoro, estou forte,
Meu caminho vai ao mar
Essa noite de luar
Já é meu rumo, meu norte...

Na curva deste rio, um coração

Na curva deste rio, um coração
Sepultado. Relembro desta história.
De bruços nesta terra, sem perdão,
O vento da derrota e da vitória.

No amor desta pantera e do leão,
Momentos descuidados, morte e glória.
A mão que traz amor vive ilusão,
A tarde é do luar, contraditória...

Nas tramas desta vida, uma pantera;
Beleza e maciez, garras expostas.
Tocaias e guerrilhas, triste espera...

Leão, forte e faminto, louco cio...
Os dentes da pantera cravam costas,
O coração do rei, curva do rio...

Não posso permitir que me torture

I

Não posso permitir que me torture
A dor d’uma existência sem sentido.
Por mais que a tempestade se perdure,
O dia brilhará, eu não duvido!
Preciso muitas vezes que se cure
A dor da solidão no amargo olvido.
O trilho que me trouxe ao teu regaço
Com minhas mãos sedentas, o desfaço.

Vieste qual penumbra dos meus sonhos,
Nasceste com a marca da pantera.
Os dias que vivemos, vãos, medonhos,
Por certo de se jogaram na cratera
Do esquecimento. Morta essa quimera,
Nascerão com certeza mais risonhos.
O sol que nunca brilha, se esvaindo.
A lua dos amores vem surgindo!

Recebo das manhãs, doce promessa
Da vida que se fez enamorada.
Albor de bela aurora me confessa
Os sonhos que guardei da madrugada.
Querer ser mais feliz, já tenho pressa,
Procuro nos meus sonhos nova fada.
Vestindo claros mantos, mansa lua,
Desfila nos meus édens, toda nua...

Respiro seus momentos de prazer,
No cio que jamais vou confessar.
Penetra feramente todo o ser,
Na calmaria atroz vinda do mar.
Soprando nova brisa, converter
As duras tempestades, calmo ar...
Forjando sua imagem, minha mente,
Encontra teu olhar, puro, envolvente...

Meus versos disfarçados em sementes
Fecundam os teus olhos, mostram lume.
Os gritos que bradara, vãos, dementes,
Perderam intensidade de costume,
A boca que mordia sem os dentes,
Tua flor já me inunda de perfume.
Amor que não soubera paradeiro,
Invade, me tomando por inteiro...

Não quero mais saudades nem tristezas,
A vida se demonstra mais sincera.
Percebo que virão tantas certezas
Matando a solidão, minha quimera.
Os campos se encharcando de belezas,
Nascendo, finalmente, a primavera!
Recebo desta vida, seu pendor,
Na doce mansidão do teu amor!!!!

II


Porém o tal destino, traiçoeiro,
Derruba meus castelos, mata o mundo.
Amor que se mostrara verdadeiro,
As máscaras se quedam num segundo!

Rasgaste nossos sonhos, sequer traço,
As luas que te viram morrem pasmas,
Meu barco desgoverna, perde espaço;
Restam-me tão somente meus fantasmas...

Quem trouxe tanta luz, morre no breu,
Quem fora juventude traz a morte;
Quem fora claridade, escureceu.
Quem fora meu caminho, perco o norte...

Vestígios do que fui, velho retrato,
Jogado na parede, despencou...
Nas noites em que lembro, me debato,
Procuro, não encontro mais quem sou...

Desfaço-me nas dores da saudade,
O rumo que seguia perde prumo.
Ao peso tão cruel da mocidade
Desfeita, me esvaindo como o fumo...

Acordes dissonantes são meu mote,
A dor vem entranhada e traz receio
Meu barco naufragado, sem um bote,
Dos campos que sonhei, morre centeio.

A vida se transcorre, sem abrigo,
O medo de morrer já não assombra.
A tal felicidade, nem persigo,
Nas ruas onde passa, sequer sombra...

Qual noite que perdeu o firmamento,
Qual reino que jamais teve tesouro.
Qual sonho num presságio de tormento,
Destrói as esperanças, mau agouro...

Mendigo pelas ruas, noites frias,
Estrelas que me tragam esperanças.
As luas se gargalham, vãs, vadias,
Restando-me somente estas lembranças...

No cálice do vinho que não bebo,
Amarga solidão encontra cura.
Quem fora, em pensamento, tal qual Febo,
Deforma-se infeliz caricatura.

III

Vestígios deste amor? Nunca mais os terei...
As cordas que rebento, esquecem-se dos nós.
A dor qual vil quimera, erguida, faz a lei...
Meu rio, assoreado esquece-se da foz.
Esboço minha queixa, aguardando meu fim.
Meu canto que brilhava, embalde, sem festim...


IV


Os astros tão distantes, decorando
Todo o céu com seus raios generosos,
Percebem fogo fátuo se emanando
Dos meus olhos vazios, lacrimosos...
Astros! Meus companheiros de desdita!
Desfaçam esta dor, cruel, maldita!


Entretanto, uma estrela mais sensata,
Mostra-me, no seu rastro, meu caminho!
A noite que negara serenata,
Entrega-se num canto, passarinho...
O raio desta estela-viajante,
Explode-se em luz; forte, radiante!

Meus olhos qual procelas disfarçadas
Ressurgem tempestades mais bravias...
Cortantes, tantas trevas; de guardadas
Rebentam num segundo, nas sangrias.
Amar que parecera ser inútil,
Num átimo devora, não é fútil...


Qual vergalhão penetra no meu peito,
Dilacera simplesmente, corta fundo.
Quem fora despedida, novo leito,
Do mar que naufragara, já me inundo!
Respiro, aliviado, essa promessa,
Nas pedras deste cais, vida arremessa!



Estrela luminária, sou falena,
Inebrias meus sonhos, aguardente.
Em tantos turbilhões, em louca cena,
No manto desta estrela, sou demente!
Rasgando minhas dores mostro entranhas,
Feridas terebrantes são tamanhas!

Estrela radiosa, meu destino,
Seus rastros me levaram para o mar...
Do canto que escutei, volvi menino,
Deveras mergulhei, sou constelar.
Cometa que lhe trouxe, minha estrela,
A noite dos amores, revivê-la!

Ao ver a mansidão desse sorriso,
Ao ver a paz que enfim já se aproxima,
Descubro que conheço o paraíso,
A fonte que me trouxe, tanta estima....
Nos olhos tão tranqüilos, calmaria,
Bonança que promete um novo dia...

Amores tão sutis quanto a manhã,
Na aurora sem ter nuvens, dia claro.
Recebo mansamente a guardiã
Que trouxe em minha vida, rumo raro...
Na maciez dos olhos, sem quimera,
O renascer divino, uma nova era...!

Sem guerras, sem desgraças e desmandos...
Sem medos, sem angústias, fim e rota...
As aves calmamente, tantos bandos,
Nascentes tão suaves, vida brota...
Recebo no bafejo desta brisa,
As boas novas que a alegria avisa...

Eflúvios matinais, forte esperança...
Os lagos, placidez, as águas mansas.
Das dores nem sequer triste lembrança.
A noite que virá promete danças...
Recebo seu carinho, estrela amada,
As mãos tão carinhosas duma fada!


V





Nesse amor o meu celeiro.
Promessas de amanhecer,
Vontade de renascer
E vagar o mundo inteiro.
Vivendo sem ter queixume,
Espalhando um bom perfume
Por campos, terras e mares,
Sem temer sequer a luta,
A vida que fora bruta,
Desmaia em belos luares.

Vestígios da solidão
Dormitam, não amanhecem,
São cadáveres que apodrecem.
Fenecem na podridão.
Os vermes já devoraram
No passado, se esgotaram...
O canto do passarinho
Engaiolado d’outrora
Há muito já foi embora,
Não cantarei mais sozinho...

Meus versos procuram rimas
Nos claros desta paisagem
Na brisa mansa, na aragem,
Pomares, laranjas, limas...
Nas flores deste jardim
Perfumes, rosas, jasmim...
A mão macia da vida
Desliza num rosto calmo.
Meu canto, meu manso salmo,
A dor deveras vencida!

Nem as densas tempestades
Que cismam pelos espaços,
Trazendo futuros baços,
Nem as garras das saudades,
Nem a morte que angustia,
Com a mão cortante e fria,
Nem a sombra da mortalha,
Nem sequer o vago medo
Conhecedor do segredo
Do corte desta navalha.

Nem o vento do deserto,
Nem procelas e quimeras
Nem o bafio das feras,
Nada mais anda por perto.
Minha vida se renasce,
Amor me mostra outra face,
A face mansa, serena,
De quem sabe perdoar
Do beijo manso do mar...
A vida renasce plena!

Vestido de paciência,
Rompendo com tristes elos,
Dias se passam tão belos
Refazem-se na clemência.
No perdão, no amor completo
De saber-se predileto,
De saber que é tão feliz,
Do saber-se iluminado,
De saber do belo fado,
De ser tudo o que se quis!

Amor desta estrela guia
Que da noite fez a luz
Abelha que mel produz
Derramando poesia
Nos rumos belos, floridos,
Nos caminhos divididos,
Olhares de mansa delícia,
Sem as trevas, negra noite,
Sem cicatrizes, açoite,
Nas mãos, a plena carícia!


Amor que nunca promete
Não me torna prisioneiro,
É tinta do meu tinteiro.
É brilho que me reflete.
Amor, promessas divinas
Das águas mais cristalinas!
Recebendo manso beijo
Da fantasia mais pura.
Refletindo tal ternura
Que me inunda de desejo!

Amor praieiro destino,
Enfrentando a solidão,
Abençoado perdão.
Meu peito refaz menino.
É brilho, doce manhã,
Esperança temporã
Trazendo-me calmaria
Dedico meus longos versos,
Aos seus belos universos,
À luz clara desse dia!


V

Descortinando toda angústia fera,
O gosto da saudade, amargo vinho,
Deixado, abandonado não impera.
Meu canto que era, outrora, desalinho,
Se esgueira da tocaia da pantera.
Trazendo a mansidão d’um passarinho...
Não posso conceber a crueldade,
A vida se refez nesta verdade!

Meus olhos que viviam tão tristonhos,
São provas de que existem esperanças.
No mundo que te trago, puros sonhos,
Persiste essa alegria das crianças.
Os vales que caminho são risonhos,
Refletem tantos cantos, tantas danças.
A casa dos meus sonhos traz o mar.
O verbo que conjugo: pleno amar!

Meus dias vão passando sem tormentos,
A noite que já fora tão escura
Explode de alegria e sentimentos,
Aprendo a cada dia, que a ternura
Destrói, tão mansamente, os sofrimentos...
As dores que vivi tiveram cura,
A vida se renasce em mil momentos...
Estrela que ilumina tristes breus?
Nos braços tão amados de MEU DEUS!

Sonhavas com castelos, rendas, fadas.

Sonhavas com castelos, rendas, fadas.
O manto das estrelas te cobria
Penumbrosas, as luzes emanadas
Dos olhos de promessa d’outro dia.

Madrugada debruça-se na orgia
De cores e malícias derramadas.
Os olhos deslumbrantes de Maria,
Promessas de manhãs iluminadas.

Sonhavas com castelos e viagens,
Embalde sua aurora nunca vinha...
O vento prometendo, nas aragens,

O gosto delicado do rocio...
Sonhavas com castelos e rainha,
As duas divindades, pleno cio...

Não me queira dizer de seus pecados...

Não me queira dizer de seus pecados...
São mansas borboletas que revoam.
Os olhos que lhe buscam, desmanchados
Em pleno precipício não destoam...

Vagamos por espasmos desmaiados,
Os erros cometidos se perdoam
No mesmo instante em que se forjam. Dardos
Jogados simplesmente a esmo, voam...

Não pecamos se somos alvo e flecha,
Acordos irmanados pedem sangue.
A mesma mão que abriu, depressa fecha

A boca que cuspiu, já se deseja.
A praia que vivemos, morre mangue.
A tinta que enegrece, é a que alveja...

Um dia, passeando no Estoril;

Um dia, passeando no Estoril;
As águas fascinantes, Tamariz...
Meu coração deixado no Brasil,
Nos olhos de Milena, a bela atriz,

Achando que pudera ser feliz.
Em plena primavera, num abril,
O céu tão gracioso em seu matiz,
Num misto de vermelho com anil.

Ao ver, tão calmamente desfilando
As pernas mais bonitas que já vi,
As cores deste céu foram mudando...

Olhar mais indiscreto não disfarça
Fixo, permanecendo por ali,
Na beleza da deusa lusa, Graça!







Graça: Deusas da mitologia que tinham o dom de agradar

Cingindo meus amores, velho sol.

Cingindo meus amores, velho sol.
Perdido entre esplendores, morre chuva...
Os olhos disfarçados, sem farol,
Escondem-se em teu pranto de viúva.

Ao gerar este vinho tinto, a uva,
Da mansidão transborda em etanol;
A mão que me maltrata perde luva.
O brilho que me mostras, girassol!

Mas sabes que amanhã já me revolto,
Não quero ser somente teu espelho.
Amarras que me prendes sempre solto;

Amores se repetem, velha história!
Em todos os momentos, me assemelho
Na busca do esplendor que me deu Glória!

Gláucia: Verde claro

Gláucia: Verde claro


Na ponta dos pés, manso e calmamente,
Procuro pelos rastros desta lua...
O rio que me leva, na nascente,
Mostrava uma sereia bela e nua.

Infernos, paraísos, roda a mente;
Mas a busca não pára. Continua...
Lusco-fusco me invade, de repente,
Mas o desejo, ardente, se acentua...

Remansos e cascatas se revezam,
Os traçados lunares são meus guias.
Saudades e tristezas; como pesam!

Caminhos que persigo, são dourados,
Vislumbro, do claror, as fantasias...
Te vejo Gláucia: os olhos esverd’ados...

Gisela: Garantia, penhor, jovem loura

Gisela: Garantia, penhor, jovem loura

O trunfo que guardei p’ro nosso caso
Esqueci de jogar n’hora fatal.
Amor quando termina, finda o prazo,
Não passa de arremedo, vai sem sal...

O sol poente morre neste ocaso,
Sem brilho não clareia o matagal
Dos sonhos. Não flamejo e nem me abraso
Nos raios deste amor, tolo final...

A noite que pensei que fosse dela
Não veio nem virá, morreu apenas...
As cores desbotadas na aquarela,

Não fazem do cenário bela tela.
Não trazem, no horizonte, suas cenas,
Restando só meu trunfo, amor, Gisela...

Giovana

Giovana

Ninguém jamais dirá que não te amei;
As nuvens que carrego; testemunhas...
Nos barcos que hoje trago, me atrelei
Na busca d’outros sonhos que compunhas,

(As tábuas deste amor), a dura lei...
Mas quando te cravava minhas unhas;
Por certo, tantas vezes eu pequei,
Distante das promessas que propunhas...

Amor que dilacera morte explana,
O grito da discórdia dominava.
Morreu de inanição a soberana

Lua. Morte sutil e tão temprana,
Saberia que aurora não chegava
Nos ermos desse amor por ti Giovana!

Gilda: Aquela que tem valor, valorosa.

Gilda: Aquela que tem valor, valorosa.

Tantas vezes procuro pelo cheiro
Dos olhos deste amor que não conheço.
Vasculho por planetas, mundo inteiro,
Muitas vezes, eu creio, não mereço!

Amor que se demonstre verdadeiro
Mudou e não deixou seu endereço.
A seta procurando pelo arqueiro
Não sabe, nunca viu, vive do avesso...

Espero companhia que me leve
De novo a tantas praias que esqueci.
Verão que se transborda frio e neve

Não deixa primavera, sol e rosa...
Procuro angustiado, estou aqui,
Por Gilda, companheira valorosa!

Giane: Deus é cheio de bênçãos

Giane: Deus é cheio de bênçãos


Abençoado o dia em que te vi!
Andavas pelas ruas da cidade,
Da bela e tão amada Mirai.
O tempo inda corrói, resta saudade...

Estava passeando por ali
Em férias, a buscar tranqüilidade.
Neste mesmo momento percebi
Um fascinante lume, claridade!

Estava transtornado pela dor,
Dor que nunca pensei que minha.
Juventude se ilude com amor.

Rimas pobres, meus versos juvenis,
Andavam vagabundos, à tardinha...
Giane, aquela tarde fala anis...

Geralda: Aquela que doma com a lança

Geralda: Aquela que doma com a lança

A vida traz batalhas, armistícios...
Há momentos de guerra em plena paz,
Porém, quando morremos, nem resquícios,
A morte, rigorosa, não compraz...

Há pélagos profundos, precipícios,
Onde quem mergulhar não volta mais,
Quem busca tolamente por indícios
Percebe como a guerra é má, audaz...

Nas lutas sem demora, nada sobra.
Amores e fantasmas dos amores
Por eles, mordazmente, um sino dobra.

Aos olhos sonhadores só desfralda
A lança dos que pensam vencedores,
Nas mãos dessa guerreira que é Geralda...