segunda-feira, novembro 27, 2006

O Vermelho e o Amarelo

Durante minha estada pela cidade de E..., no interior de Minas, conheci uma figura extremamente interessante.
Filho de uma família daquelas que podemos chamar de tradicionais, herdeiro de uma das maiores fortunas em café e gado na região, tinha algumas características bastante marcantes.
A começar pelos cabelos, ralos e precocemente prateados, como se a lua nova quisesse se mostrar mais forte e adiantara um plenilúnio no mínimo interessante. De uma força física inversamente proporcional à sua capacidade intelectual era famoso pelas confusões que aprontara durante a juventude o que lhe dera, além da fama, algumas cicatrizes pelo corpo, principalmente na face.
Isso justificava seu apelido Touro. Pelo menos era o que ele pensava.
Dono de seus trinta e poucos anos Gilberto, esse era seu nome, tinha se casado com uma das mais belas e interessantes mulheres da região, Carminha que, não se sabe se por posição social ou por um destes injustificáveis arroubos da mocidade, resolvera se casar com o famoso brutamontes.
Aliás, isso é extremamente comum entre as adolescentes e as mais jovens.
Com a venda da imagem do príncipe poderoso em miosina e, na maioria das vezes, com baixa quantidade e má distribuição de mielina, são vendidos como o ideal de beleza a ser seguido e conquistado.
Se bem que, na fase inicial da puberdade temos uma quantidade enorme de figuras afeminadas ou, pelo menos, adamadas sendo imputadas às nossas pré-adolescentes como se fossem belas.
Realmente, a maioria destes musos são, fisicamente, mais parecidos com musas; talvez por que a sexualidade feminina a esta época ainda não esteja totalmente definida e a noção do belo ainda está ligada à recém saída infância com seus castelos, príncipes etc... Todos com certo aspecto de feminilidade que, muitas vezes, surpreendem.
Passada esta fase onde os ídolos de Maria do Carmo eram alguns grupelhos nacionais e estrangeiros que faziam algo que, ligeiramente, se assemelhava à música, ela começou a se interessar pelos estereótipos comuns à primeira fase da juventude, onde a noção de macho perfeito para a procriação se resume no aspecto físico já que, emotivamente, ainda não se firmou o discernimento necessário para se fazer uma escolha de melhor qualidade.
Sob essa visão, como posso dizer, trogloditiana da realidade, Carminha encontrou em Gilberto o par perfeito.
O tempo passando e ao ver que não poderia ter feito escolha melhor para os olhos e pior para o cérebro do que aquela, Carminha foi se irritando cada vez mais até que começou a ter crises “de nervo”; ou seja conversões histéricas, o velho furor uterino dos antigos psiquiatras.
Até que, sexualmente, Gilberto não era dos piores embora não sabia o que e muito menos para que servia o clitóris, coisa que, apesar de ter tentado algumas vezes indicar caminho e serventia, deixava Carminha cada vez mais insatisfeita e irritadiça.
Recomeçara a estudar e isso, aliado à eterna insatisfação sexual deram cada vez mais independência emocional e intelectual à bela senhorinha.
Para piorar a situação, o único filho do casal era a cópia fiel do pai, em todos os aspectos; um era difícil, agora dois era castigo e dos piores.
Algumas mulheres com a gravidez se tornam muito mais belas que antes, desabrocham completamente; e esse era o caso de Carminha que, a cada dia, se tornara mais bonita e mais ‘apetitosa”.
Dona de belos e volumosos seios com dois luzeiros amendoados que brilhavam à distância e com formas perfeitas, a cada dia Carminha se tornava mais desejada. O declínio físico do marido era evidente e, apesar da diferença mínima de idade, três ou quatro anos, esta diferença parecia muito maior, fruto das noites passadas entre jogatina e prostitutas em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, para desespero e ira de Maria do Carmo.
Com a morte do pai de Gilberto a propriedade e os bens da família vieram todos para ele, filho único, e para sua amada consorte que, com ou sem sorte se tornava cada vez mais agressiva.
Por acomodação, como pensava Gilberto, ou por acomodação em outros braços, o que traduzia a realidade, Carminha, da noite para o dia, começou a ficar mais tranqüila e serena.
As crises passaram a se tornar raras e, depois de certo tempo inexistentes.
A causa da cura da bela moça estava há menos de um quilometro do sitio e tinha um nome, Reginaldo.
Advogado cível recém formado e vindo de Belo Horizonte começou a dar assistência advocatícia a Gilberto a respeito de umas disputas territoriais com seu vizinho de cerca, Zé Traíra, conhecido pelas encrencas que criava e pelas qualidades que justificaram seu apelido.
Reginaldo, um jovem louro nem tão bonito quanto Gilberto nem os cantores dos tempos de pré-adolescente, muito pelo contrário, tinha as características que a jovem senhora passara a buscar em um homem.
A mansidão na fala e o sorriso meio carente conquistaram a moça mas, o que definitivamente desarmou-a foi o fato de que, apesar do jeito manso e carente, o rapaz demonstrava-se protetor e muito carinhoso.
Ah! E sabia a serventia do clitóris.


-Bom dia, meu amor!
O sol acabara de trazer vida a casa e, com ele, um sorridente Gilberto tinha acordado e tentava acordar a esposa.
Coitada, as aulas da faculdade iam até tarde e depois havia as reuniões com os tais de grupo de estudos.
Como era época de provas Carminha estava chegando muito tarde, ontem então, passava das duas da madrugada, pensou Gilberto.
Aliás como o estudo estava fazendo bem! Tinha parado de tomar o antidepressivo e dormia calmamente agora. Crise? Nem pensar!
Carminha, entretanto, entre cansada e satisfeita ainda tentava dormir um pouco, se virou de lado e demonstrando ares de cansaço pediu ao marido para que este a deixasse descansar mais.
Embalde!
Gilberto acordara com a corda toda e queria levar Carminha até a cidade para fazerem as compras semanais.
Como ela não tinha mais tempo, era ele que passara a organizar as compras e sabia que o açúcar e o arroz estavam no final.
-Acorda meu amor!
-Ah Gilberto, me deixe descansar um pouco mais, por favor; ontem a gente ficou até tarde estudando para a prova.
-Depois que a gente voltar você dorme de novo, amorzinho...
Esse “amorzinho” era extremamente irritante, fazia-a lembrar das velhas desculpas que o marido tentava arrumar quando chegava de madrugada das casas de prostituição e dos cassinos clandestinos.
Até hoje quando isso não faria a menor importância, a simples referência ao “amorzinho” causava em Carminha certo mal estar.
Mas,fingindo que não incomodava-se com isso e vencida pela insistência do chato do marido, resolveu levantar mas somente depois de um belo “Vá à merda!” soltado com uma exemplar indignação.

Ir às compras era certa força de expressão, já que o que motivava Gilberto na realidade era uma vontade de agradar à esposa passeando até a cidade coisa que, no começo do relacionamento agradava-a, já que a vida de confinamento na roça parecia-lhe extremamente dolorosa.

Pela enésima vez iriam ao mesmo mercadinho que pertencia a um tio de Gilberto, comprar as mesmas coisas, o velho chocolate que Carminha, nos últimos tempos não exigia tanto; o mesmo açúcar, o sal, o arroz e só; já que o resto era produzido no próprio sitio.


- Tudo bem dona Carminha? E o senhor, “seu” Gilberto, como vai?
Encontrar Reginaldo logo cedo não fazia parte dos planos de Carminha e, como fora pega de surpresa, sem maquiagem e dormira pouco, tentou se esconder, em vão.
Empolgado com o que estava acontecendo e com a oportunidade de colocar aspas no famoso Touro, agora literalmente, Reginaldo estava a todo vapor.
Mas Carminha tinha aquele mau humor matinal comum às mulheres mais irritadiças que muitas vezes vem acompanhado da maldita enxaqueca. Como estava abusando do vinho tinto nos últimos tempos, as crises matinais se sucediam e aquele dia prometia mais uma delas.
Às expensas disto, Carminha não respondeu com a esperada gentileza ao cumprimento do amante.
Este, na certeza de que isso não passava de um subterfúgio para afastar as suspeitas do marido traído não se deu por isso e seguiu o seu caminho, sorridente e cantarolando...

Obviamente Gilberto admoestou a esposa, já que os seus negócios estavam sendo administrados pelo gentil advogado.
- Meu amorzinho- de novo! – você tem que ser mais bem educada, quê que o doutor vai pensar?
- Que se dane você e o doutor! Respondeu a mal humorada Carminha.

Com aquela intimidade que somente a cidade pequena e o parentesco proporcionam, o dono do mercado neste momento resolveu interferir no assunto.

- Por falar em doutor, esse aí tá me saindo melhor do que a encomenda!
- Quê que você está dizendo tio Julio?
- Pois é, não é que esse doutorzinho mal chegou e está de caso com uma mulher casada?

Carminha gelou tudo o que tinha direito e mais ainda. Ficou pálida e começou a querer desmaiar tendo que se apoiar no balcão.
Ao perceber a palidez da mulher enxaquecosa, Gilberto associou o mal estar à noite cansativa e o excesso de atividade da querida esposa e logo acorreu, buscando uma cadeira para que a mesma sentasse.
Depois disso, o tio Julio continuou a falar.
- Como eu estava dizendo, estou sabendo que esse camarada está de caso com uma das mais conceituadas mulheres da cidade.

A curiosidade é uma das maiores características do ser humano. Normalmente os machistas atribuem a ela um aspecto feminino mas isso é puro preconceito, ela é generalizada.

Há esse meio tempo Maria do Carmo aflitíssima olhava de rabo de olho para o tio Julio que sem pestanejar respondeu:

-Pelo que eu sei é carm..

Engraçado como em menos de um segundo algumas coisas podem parecer de uma eternidade ímpar, e este era o caso...

Maria do Carmo estava quase desmaiando, certa de que o Touro iria demonstrar ali mesmo o motivo da fama de estouvado e violento que carregara desde a juventude quando ouviu o final da frase;
-...em, filha da dona Maria , aquela que é casada com o Luis Caixeiro...

De repente, de pálida que estava Carminha ficou vermelha, mas quase roxa com um sentimento de ira absurda e de alívio incontrolável.


A partir daquele dia, as crises recomeçaram e Gilberto começou a desacreditar das orações e benzeções que dona Zulmira, mãe de Reginaldo tinha feito para a cura de Carminha...

Amor Divino

Eu quero que tu saibas que eu resisto
Por mais que nossos rumos dispersamos
Por mais que tantas vezes nós erramos,
Desse nosso caminho eu não desisto!

Em meio a tempestades e desordens
Nas lutas que travamos, claros céus,
Outras vezes nos cobrem negros véus,
Ilusões: obedeço suas ordens.

Ao ver essas fantásticas estrelas
Que sempre irão trazer inspiração
Eu abro totalmente o coração
Às flores deste espaço, sempre belas!

Amor, tenha certeza, e monopólio
É como ter o mar sem ter areia,
Fria chama jamais nos incendeia.
É como misturar água com óleo.

Evite, nessa vida, tal abismo,
Entenda que jamais ninguém amou
Se dele e só por ele sustentou
Um sonho mais terrível: egoísmo.

Quando Deus nos criou, como modelo,
Poderia ter sido tanta estrela,
Ou outra forma astral também tão bela;
Porém à Sua imagem; posso Vê-lo

Em cada ser humano. Na verdade
Nos deu Seu sacrifício em fera cruz,
Só para nos mostrar – caminho e luz...
E, na ressurreição, a claridade!

A vida se demonstra e traz seus motes,
Aprenda a conviver com teus irmãos,
São deles e por eles tuas mãos!
Também neles estão teus sacerdotes!

Nos teus caminhos prendem-se teus mastros.
Saiba que a cada passo que for dado,
Mesmo devagar, lento, compassado,
Caminhas com milhões de belos astros...



Disponha deste céu é casa tua,
O sonho que te leva, bom porteiro,
Permite que conheças mundo inteiro,
Olhando para cima em tua rua.

A beleza que muda noite e dia,
Penetra por teus olhos tristes baços,
Mostrando-te que acima, nos espaços,
Há todo esse universo, em harmonia!

Os milagres se mostram em tua boca
Na palavra que transmite a doutrina
Também pode ferir, dura e ferina.
Outras vezes se perde, fria e rouca...

A mesma mão que cura, maltrata,
O mundo tão enorme, como um todo,
Também pode trazer-te ao podre lodo.
O chão que traz o pântano, traz prata.

Nunca fique assentada na cadeira
Que pode parecer assim, segura,
Mas que te levará à noite escura
A vida aqui te quer e por inteira!

Não mostres teu olhar assim altivo,
Olhando quase a esmo, p’ra ninguém.
Saiba que é no outro onde está teu bem.
Mantenha nos teus olhos, lume vivo!

Teu olhos são reflexos do céu
Aqui, que sejam veros missionários.
Mas sabendo que somos todos vários
Em cada um recobre um próprio véu.

Cada ser tem a própria consciência
Que pode ser até, à tua, alheia.
Mas a chama é igual, sempre incendeia.
Perceba em cada ser a sua essência!

Se todo julgamento nos desgasta
E em todo esse universo só irmãos,
Evite transformar as tuas mãos
Naquelas que, julgando, nos desbasta.

Caminhe para a frente, amor nos leva
Aos braços do Senhor. Amor estende
O tapete para onde alma se pende
E nos livra da triste e negra treva.

Permita que deslinde-se o futuro,
Semeie sem temer, a boa nova.
Somente em vida, a vida se renova.
A luz pode nascer do céu escuro.

E saiba que viver é para os bravos,
Deles, toda semente dá seus frutos.
Carinhosos, por mais que penses brutos,
Sabem que amor liberta. Sem escravos!

Somente amor aquece em noite fria.
Amar é conviver, é comunhão.
É se permitir sempre dar perdão,
É fazer dessa noite um claro dia..

Mesmo que todas dores, tristes molhos,
Invadam tua vida, duras chamas,
Te tracem dolorosas, negras tramas,
E ceguem não te deixem nem ter olhos,

Assim como as tristezas, podres laços,
As marcas dolorosas de uma guerra;
Várias pedras caindo de uma serra,
Os raios, trovões, riscando espaços,

As febres devorando corações,
A vida em carne viva, sofrimento.
As quimeras trazendo dor, tormento,
Os problemas todos, multidões,

Erupções de vulcões, incandescentes,
Que a tudo não perdoa e incendeia
O sangue congelando em tua veia,
Os sonhos, pesadelos envolventes...

As mortalhas doídas, canibais,
Os cortes tão profundos, dissecantes,
As noites do martírio, delirantes,
Os medos e as maldades tão fatais,

Saiba que dos céus sempre boas novas,
Os olhos que te miram, verdadeiros
Trarão em teu viver belos luzeiros
E todas as angústias, meras provas.

Não temas nem os braços algemados
Nas coisas que te trazem a saudade.
Lute e conseguirás a liberdade.
Na verdade são anjos disfarçados

Que trazem toda a prova que precisas
Para que tua vida não se faça
Em base que, no fundo, sempre passa.
Se vão e se esfarelam em plena brisa...

A vida nos prepara, esteja certa,
O medo que polui nosso futuro.
Pois não temas transpor esse alto muro;
Saiba que depois tudo se conserta.

A mesma mão que fere te levanta.
Por isso sempre erguidas para o céu
Com o Senhor, mantenha teu anel.
Para que, com Deus tenha a vida santa.

Tu és um grão de areia no areal
Por isso não proclame aos quatro ventos
As dores nem tampouco os sofrimentos
Quem te ouve com certeza tem seu mal.

Mas nunca negue apoio ao que precisa.
Mesmo na tua dor, estar contente
É forma de mostrar a toda a gente
Que alegria nos salva e ameniza.

Se todo o teu tormento não te cura,
Saiba que nele existe a mão divina.
Pois todo sofrimento descortina
Aurora da esperança em pura alvura.

Tua vida não seja um mar deserto,
A tua alma sozinha se descora
Precisa renascer a cada aurora,
O fim de nossa estrada é sempre perto.

O vento da existência não vai longe.
A vida não vacila e nunca espera.
Seja então uma eterna primavera.
Nossa felicidade é nosso monge.

Carregue tua vida em santa paz.
Não deixe nem suporte tanta mágoa.
Teus olhos nunca deixe rasos d’água
Amar a quem te odeia! És capaz?

Conheça o coração, palmo a palmo;
Ame teus filhos, todos os teus filhos.
Mas deixe que prossigam nos seus trilhos.
Cada um te trará um sonho calmo.

Respeite em cada ser, o vegetal,
Os animais. Refletem mesmo Deus.
Não são teus, nem são nossos nem são meus,
Quem os criou; o Pai Nosso, imortal,

Os fez para viverem liberdade
E em cada um seu brilho radiante.
É prova desse amor tão deslumbrante
Onde Deus nos mostrou Sua bondade.

E com certeza, todos são amados
Tanto quanto nós somos pelo Pai
E Saiba que a verdade nunca trai.
Ao contrário, confirma nosso fados.

Amor é sobre tudo, o soberano.
É fonte que nos mostra toda glória.
É Deus que nos demonstra, na memória
O quanto que Ele amou o ser humano.

Pois saiba que somente amor acende
O lume que nos livra das tristezas,
É fonte de invencíveis fortalezas
Que o perfume divino já recende!

Amor e Diversisdade

Nessa diversidade a nossa maravilha.
Toda proximidade esboça certo espelho
Muitas vezes azul, outras, vermelho,
E nesta confusão, formamos nossa trilha...

Muito bom sonhar junto, os sonhos sendo vários.
Assim, nesta mistura, a vida faz sentido.
Mesmo no mesmo leito, o rumo é dividido.
Amor que já se anula é sempre temerário.

Importante é somar frações tão diferentes,
E, disso, transformar plenamente as vidas.
As dores são assim facilmente esquecidas.
Mas nunca devem ser vias incongruentes.

Há que haver liberdade e também respeitar
As diferenças. Disso é feito nosso amor,
Não sou espelho enfim. Porém por onde eu for
Eu te quero ao meu lado. O mesmo caminhar.

Cada qual com seu passo, e sempre solidários.
Para que não haja queda e, se houver, não nos lese.
Difícil carregar por isso nunca pese,
Difícil de sonhar os sonhos solitários.


Nesta soma que temos, felicidade.
Já que não invadimos espaços
Cada qual tendo a própria claridade
Estreitam-se sempre nossos laços,
Aprendemos viver com liberdade
E toda noite, juntos nos abraços
Que nos irmanam, fazem o futuro.
O chão, com nossa força, é menos duro...

As nossas diferenças sem segredo,
Enfrentam ilusões, desesperanças,
Esquecem, bem distante, nosso medo
Fortalecendo sempre as alianças
Que nunca deixarão que este degredo
Domine nossos dias e lembranças.
Nosso amor não transforma e modifica.
Na vida, esse somar nos edifica.

Eu não quero sugar todo o teu mel,
Apenas conviver com teu prazer.
Assim, como é difícil te esquecer,
No nosso sentimento um claro céu.

As nuvens que se chegam, logo espanto.
Vontade de fugir, bem cedo passa.
Não sou teu caçador nem sou a caça.
Nessa nossa harmonia, um belo canto...

Aliados diversos, mesma guerra...
Sem capitão, major ou general,
Na luta pela vida, tudo igual,
Planalto que não pede morro e serra.

Todo sonho em conjunto é mais possível
Também escuridão logo se aclara,
Sabemos o que somos, não se para
A caminhada, nada é impossível!

Mas se a dor se aproxima e nos maltrata,
Se a noite escureceu, a vida dói,
E nada nessa vida nos destrói
Tal firmeza do laço que nos ata!

Assim, com toda força e sem temor,
Vencendo tempestades sem degredo.
Nas nossas diferenças, o segredo,
A base que formou o nosso amor!

Redenção e Luz

Quando estava sozinho em plena dor;
A vida parecia sem sentido
Apenas um caminho já perdido
Por entre tempestades e pavor.

A liberdade, sonho tão distante,
Inalcançável! Tudo terminado,
O jardim sem as flores, destroçado.
Parecia morrer, agonizante.

Sem saber sequer por onde andavas
A minha esperança semimorta
A saudade batendo em minha porta
Em minha alma erupção, vertido em lavas.

A cada pesadelo um sofrimento
Que se torna maior; felicidade,
Quem me dera! Somente essa saudade...
A cada nova noite um só lamento!

Fui feliz, disso tenho uma certeza
Que me deixa pensar em esperança.
E voltar novamente a ser criança
Guardando, dessa vida, só beleza...

Mas o tempo passando me sussurra
Esquece! Pois jamais serás feliz...
Perdido, sem poder ter o que quis
A dor se rebelando, mais forte, urra.

E em toda essa agonia, a vida passa.
Não deixando sequer sobrar um cais,
E o tempo sempre fala: nunca mais.
A cada novo sonho, uma desgraça

A mais, eu vou seguindo em desespero.
Muitas vezes pensei ser o culpado
De tudo que passei. Fiz tudo errado,
Agora, a solidão, o tempo inteiro!

Nosso amor começou qual primavera
Em plena calmaria, mansa areia
Onde as ondas morriam... Quem me dera!
Mas a vida, entretanto me incendeia

E nas brasas queimando meu futuro,
Errei. Valorizei outro prazer.
Agora é tão difícil te esquecer,
Meu céu nebuloso, mais escuro...

A minha alma se arrasta em plena lama.
O vento da saudade tudo arrasa.
Procuro por teu rosto em toda a casa,
Só a quimera dorme em minha cama...

O frio desta noite um punhal, aço...
Que penetra e me cortando com certeza
Acaba destruindo a fortaleza
Invade sem ter pena, o meu espaço

E rouba esta esperança, plenamente.
A dor que me devora, imensa, tanta.
Qualquer pequeno mal já se agiganta
E passa a me matar, bem lentamente...

As garras afiadas do felino
Rasgando cada ruga do meu rosto,
Expondo esta mazela, o meu desgosto,
Aos poucos vão traçando o meu destino...

Minha vida, quimera desumana,
Perdida, sem sequer felicidade,
Fechada em tantas marcas, crueldade,
Em plena podridão, só dor emana.

Sentimentos confusos, turbilhões,
A cada novo dia, mais intensos,
Se tornam violentos, são imensos;
Aguardo, do destino, soluções!

Correntes que me prendem, sou escravo,
Cativo do passado tão cruel.
Mortalha de tristeza é o meu véu,
Nas águas mais medonhas já me lavo...

Porém desse fantasma que me ronda,
A morte, uma certeza nova traz.
De tudo o que mais quero, peço a paz
Que trouxe meu amor, numa praia, onda...

Da noite que me trouxe escuridão,
Ao longe, bem distante, um novo sol;
Onde talvez, quem sabe, meu farol.
Aos poucos aumentando esse clarão...

Os olhos tão divinos vão chegando
E posso distinguir um novo brilho.
Ao ver essa beleza, maravilho.
Cada vez mais os vejo aproximando...

Estranho, a tempestade dentro da alma
Cessando, lentamente vira brisa...
Um olhar tão sereno, já me alisa
Na mansidão da noite, tudo acalma...

Ar que me sufocava, agora manso.
Flutuo levemente, e nem percebo.
No carinho dos olhos, que recebo,
Incrível que pareça, leve, danço...

A terra se tornando tão pequena,
Os astros se aproximam, mais e mais...
Em todo esse universo, tanta paz.
A felicidade morta já me acena...

Os olhos acompanham, sorridentes,
O vôo que prossegue em calmaria.
Da noite que vivi, um pleno dia...
Os males se parecem quais dementes.

E cada vez menores, não os vejo...
O claro que se mostra, me domina
Em festa todo o brilho me alucina
Aos poucos realizo o meu desejo.

Sorrindo, se aproxima a boa sorte,
Sem máscaras, aberta, mostra o peito.
E dentro, um coração mais satisfeito,
Recebe, em alegria, a minha morte!

A única saída é o AMOR!

Que tua vida traga a mansidão
E também a loucura e o sofrimento
Que te faça ter paz e ter tormento
Elementos que formam a paixão.

Alegria em um dia, a dor, tristeza,
Pois sem elas jamais serás feliz.
Todo o contraste forma esse matiz
E na diversidade está beleza.

Somente em sofrimento cresceremos
Esta é uma verdade inquestionável
Pois toda a maravilha é ser mutável
Mas acima de tudo, nos amemos,

Quando ele se refaz se fortalece,
Não deixe que saudade te domine
Ela nunca terá luz que te ilumine
Se encontra na penumbra; estão, esquece.

Mas deixe a fantasia renascer
Nela está o teu sonho, companheiro,
Mas não se esqueça; amor só verdadeiro,
Senão em pouco tempo irás sofrer.

Aceite todo o brilho de quem amas,
Poderá clarear a tua estrada
Mas não fique na sombra, iluminada,
E saiba que produzes tuas chamas.

São tuas não apague-as jamais.
Pois amanhã terás teu próprio dia
A noite, sem teu lume, será fria.
E mostre que também tu és capaz.

Não deixe que esperança te atormente
E te impeça de ver a claridade,
Mas não a deixe morta. A liberdade
É feita em tentativas, sempre tente.

Porém nunca desistas deste amor
Que guia e que transforma nossa vida,
Lembre-se que de toda despedida
Nos traz um novo encontro, traz calor.

E tente ser deveras humorado
Mau humor contagia e fere fundo.
Por vezes se espalhando num segundo
Não deixa que ninguém fique ao teu lado.

Terrível solidão, tão importante.
Quando estamos sozinhos, nós crescemos,
Pensamos, torturamos, conhecemos
E talvez não erremos adiante.

Saiba que dessa treva faz-se a luz,
Deste tempo nublado, em tempestade
O mundo nos trará fecundidade.
Das lágrimas celestes se produz.

Não há nada nocivo totalmente
Nem nada que não seja tão benéfico
Com certeza, benéfico e maléfico,
Se encontram no veneno da serpente,

Até na doce abelha em favo, mel,
A morte pode estar a nossa espreita.
Nenhuma criatura nos foi feita
P’ra nos satisfazer. Deste pincel,

Aprenda que o conjunto nos revela
A beleza final de toda essa obra.
E se nunca cuidares, a vida cobra,
Não deixe que destruam esta tela,

És dela, personagem e como tal,
Também irás morrer se não cuidares,
Das águas, das florestas e dos ares.
De todo vegetal e do animal.

Ânima, animado, alma, como a tua.
Receba a doce brisa deste amor,
Incorruptível, mágico senhor,
Que traz toda a beleza da alma nua.

Também deixe que a música te invada,
Ela amenizará os teus tormentos,
Com ela uma certeza d’outros ventos,
Descansa nossa vida tão cansada!

A cada flor que nasce um novo tempo
De vida que refaz em própria vida
Da morte muitas vezes dolorida.
Este ciclo não deixa contratempo.

A tua própria morte é necessária
Senão como teremos nossos filhos?
O trem que descarrila dos seus trilhos
Deixa toda a viagem temerária.

É preciso seguir sempre, não canse;
Não deixe este desânimo vencer.
Embora preguiça é bom de ter,
Seja hoje ou amanhã, teu sonho alcance,

Mas, se não conseguires, não desista.
Depois, prorrogação, se Deus quiser!
E venha, sabe Deus, o que vier.
viver a cada dia e ser artista.

Todas as promessas são de paz.
Em todas as discórdias, o bom senso.
O mundo é tão pequeno e tão imenso,
Acaba num segundo e nunca mais!

Por isso, companheira, por favor,
De tudo que eu já disse nos meus versos,
De tudo que houver nos universos,
O que nos salvará? Somente amor!