domingo, setembro 24, 2006

Flagelo

Flagelas essa mão que não consolas...
As vivas mãos suaves, aves plenas...
Nas pássaras alvíssaras esmolas...
As vivas mãos nas naves sorvem penas...

Retornas de teus tornos, traz estolas...
As mãos consagradoras, não acenas.
As pistas, teus alpistes são pistolas,
Nos solos tuas solas tudo assolas...

Flagelas essa mão que acaricia,
Cospes no prato sujo que comeste...
Não temo tuas noites... És vazia...

Morreste desde o dia em que nasceste!
Meu mundo, num segundo tudo muda...
Não quero teu conselho nem ajuda!

Temor da Morte

Falo da morte como quem não teme...
Nas lúdicas mensagens, não sou santo.
Meu modo de fugir do triste pranto,
A boca beija mas, no fundo, geme!

Quem poderia crer em tal encanto,
Se na verdade, minto... Tudo treme,
As pernas congeladas, meu espanto.
Meu barco naufragando, perde o leme!

Falo da morte, como quem duvida.
Espero ansiosamente minha cura!
Respiro a cada dia, a noite escura,

Lutando ferozmente pela vida!
A mão que me afagava, na brandura,
Açoita e me apresenta a despedida!

Versos Vãos

Meus versos são em vão, pra nada vivo...
As ondas nunca deixam de chegar.
Quem resta tão somente, vai altivo,
Meus olhos nunca pedem teu luar...

As dores vão chegando, estou passivo.
A tarde nunca mais vai terminar...
Procuro perceber pra quê que sirvo...
As ondas nunca deixam velho mar...

Meus versos são estúpida nudez,
Exponho assim, meu âmago no verso...
As formas que escondi da timidez,

Os templos que passei pelo universo.
Meu mundo tão comum e tão diverso,
Os versos repetidos, meus talvez!!!

Andorinha

Andorinha perdida faz verão?
As cores que roubei desse arco íris,
Num prisma repetido na amplidão,
Um coração pintado pede pires.

As forças se refletem no perdão.
Dos deuses que pensei tu eras Íris
Meus olhos nunca deixam meu sertão...
Nas hordas endeusei também Osires...

Solução pode ser, rima jamais...
Andorinha não pode mais voar...
Suas asas cortadas, sem Raimundo...

Mundo, mundo, me inundo e sou capaz,
Andorinha não tem onde chegar!
Como é vasto e cruel nefasto mundo!

Sertanejo

Nas terras mais bravias, sertanejo
Trazendo as mãos cansadas da batalha...
Sua fome estampada num desejo,
Na ponta do punhal ou da navalha...

A sorte amaldiçoa, finge um beijo,
Mas logo, perniciosa, traz trovejo...
O couro que vaqueija se retalha,
Ao sol tão inclemente que se espalha!

Os filhos são deixados na tapera,
Dividem toda a palma com o gado.
A noite devorando, fosse fera...

O mundo se perdendo, triste fado...
O sertanejo sonha com futuro,
Nas janelas trancadas, tudo escuro!

Noites de Luar

Seu dotô me discurpe pelas rima,
Num consigo falá de coisa boa.
As laranja que colho são as lima,
A chuva que me móia é garoa...

As corda da viola chora as prima,
Nas asa desses pásso que avoa...
Nóis já vamo subino morro acima.
Minhas perna cansada andano à toa...

Nas mata do sertão adonde móro,
As coisa mais mió de se cantá:
Os rio cum seus pêxe prá pescá;

Nas berada dos rio me demóro...
Nas noite mais bunita de luá,
A casa, com estrelas, eu decoro!

Belinha

Passarinho que canta na janela,
Sabiá laranjeira, companheiro...
Me responda se acaso o mundo inteiro,
Alguém pode falar onde está Bela?

Belinha, abelha, bela bel tinteiro
Das cores que roubei nem a amarela...
Responda passarinho... O verdadeiro
Brilho anda onde está tal Bela bela...

Os fios da meada já perdi.
As chaves desta entrada já não tenho.
No medo de ser morto já morri...

As horas que passei, nem de onde venho!
Apenas percebendo passarinho,
Sem Bela nunca mais faço meu ninho!

Vestido de Noiva

Teu vestido de noiva está rasgado,
Dilacerado pela face crua
Desse amor que julgavas conquistado,
Dessa noite que finge ser de lua...

A mão que acaricia, vil pecado,
A beleza estampada foi-se nua...
Teu vestido de noiva, avermelhado...
Tua boca sangrante, o corpo sua...

Jogado em algum canto desta casa...
Representando engodo, triste engano.
Mentiras que formaram todo o plano,

De uma vida mais bela e mais feliz.
O fogo que queimava virou brasa,
A brasa que te queima, a cicatriz...

Mensagem da Morte

Recebi a mensagem que esperava!
Agora poderei dormir em paz!
A sombra perseguia quem amava,
A noite tenebrosa, nunca mais...

Nosso tempo, passando, se contava
Em séculos ,milênios... Sou capaz
De perceber as mortes que encontrava...
Nas portas dos castelos ancestrais!

Recebi teu recado companheira...
Não tardas em beijar a triste face.
Nas horas que te quis fugiste inteira,

Teimavas em usar torpe disfarce...
Agora que se chega a derradeira
Hora. Faça um favor: não descompasse!

Amiga

Amiga, não perguntes por que choro!
A vida não me deu sequer escolha...
O vento me carrega, junto à folha
Onde escrevi meus versos. Hoje imploro

À solidão que deixe-me, recolha
Os restos que largaste sem decoro...
O mundo me trancou na triste bolha
Onde emolduras... Onde me demoro!

Amiga, não te peço que me escutes,
Apenas não desejo que me esqueças...
Das jóias que ganhei na triste vida,

Nas guerras que pedi, comigo lutes...
Batalhas que perdi, me convalesças..
A luta que forjei, já vai perdida...

Castelos

Nem preciso dizer quanto te quero...
As cordas esquecidas do meu pinho...
As notas que procuro enquanto espero,
Roubadas no cantar dum passarinho...

Nem preciso dizer quanto venero,
A boca que me morde, com jeitinho,
O mundo que navego, não tem clero,
Totalmente profano o meu carinho...

Nem preciso dizer que te esperava...
A tarde que sonhei, audaz e brava,
Nas mãos que acariciam, meus pecados...

Amores que perdi, desesperados...
Compensam esta espera que passei...
Castelos que constróis, neles sou rei...

Amor Canibal

Amor que me devora, canibal;
Desfaz as tais auroras que não tive...
A lua enamorada deste astral,
Viaja pelos mundos onde vive

A bela criatura angelical,
Com quem o meu amor nunca convive...
Das portas não transponho seu metal.
As rosas nunca brotam no declive...

Amor que me devora, pestilento,
Não cura nem permite usar ungüento.
Destrói quem nunca teve sobrevida...

Amor mordaz me corta, vil ferida...
Amor que sempre vem nunca se espraia...
A vida vai morrendo em sua praia!

Disfarce

Sonhaste com camelos no deserto.
Tu eras odalisca predileta,
Mil danças já dançavas, bela, ereta...
O mundo que sonhavas, estou certo,

Trazia a voz macia dum poeta...
Sonhavas acordada por completo,
Amores perseguias como seta...
De jóias, por sultões, corpo coberto...

Acordaste sozinha, sem ninguém...
Aos teus pés encontraste só comigo.
As dores dos amores que se tem,

Por certo são suaves, sem perigo.
Restando tão somente minha face...
Por amor, não te nego meu disfarce...

Beduíno

Pelo deserto, triste caminheiro.
Encontra nas areias seu tesouro.
Quem sonhava um amor mais verdadeiro,
Esmeraldas, opalas, prata e ouro...

Beduíno procura um companheiro,
Nada encontrando, o sol doura-lhe o couro...
Num oásis palmeiras num outeiro,
Uma bela odalisca, bom agouro...

A riqueza que traz não mais importa,
A beleza feroz, já o domina.
A lua no horizonte predomina;

A natureza abrindo sua porta...
Uma odalisca, bela como o sol...
Na fria noite cobre, qual lençol...

Eras a Princesa

Esperavas teu príncipe encantado...
A vida te negou tal fantasia.
A noite ludibria o belo dia,
O sonho que vivia, abandonado..

Princesa, não sabias que eu sabia,
Que espelho dos teus sonhos foi quebrado,
Negava à Cinderela essa magia...
Cruel mundo real manda o recado...

Dançavas tuas festas, lindos sonhos...
Pensavas noutros mares, u’a princesa.
Os medos transtornaram-te, medonhos.

A vida veio crua, sem beleza...
Quem brincava, tristezas teve par...
Quem sonhava, jamais pode encontrar!

Maquiagem

Espelho onde retocas maquiagem...
Nunca mente, mas finges não ouvir.
A noite transtornando tua imagem,
Madrugada teimosa não quer vir...

Espelho refletindo essa visagem,
O tempo vil mendigo vem pedir,
Nem espera resposta, por passagem.
Belas flores murchando... Vais sair...

O espelho respingando tanta mágoa,
As rugas mapearam o teu rosto.
As lágrimas descendo, dão um beijo...

A tristeza transforma-se nessa água
Que borra a maquiagem... No desgosto...
Mas, minha amada, como te desejo!!!!

Conter o Universo...

Nas ondas que perfazem tal mistério,
Estrelas vão pulsando num quasar.
Cometas peregrinos... Cemitério
Deste corpos celestes a vagar...

Universo criando seu critério,
Transformando tudo, sem parar...
Em momentos diversos, este império,
Transbordando violento em fogo e ar!

Nas ondas que recebo das estrelas,
As esferas são feras e tão mansas...
Quem me dera pudesse então bebê-las,

Transportando os espaços dentro em mim...
Percorrendo meus versos, novas danças...
Universos contidos, terão fim...

Casa Abandonada

A casa abandonada me trazia,
Criança curiosa não tem medo...
Descobre sem querer, tanto segredo...
A noite me deitava a fantasia...

Volta e meia, pensava que podia,
Tentava, me ocultava, saia cedo
Na entrada de tal casa um arvoredo,
Como fosse, da casa, um bom vigia...

Na casa abandonada, nunca fui,
Os fantasmas habitam o esqueleto...
A roupa que vesti o tempo pui,

Nada mais serviria por completo...
Na casa abandonada, minha vida,
Minha infância feliz, ‘stá escondida...

Patético

Meu amor opalesce tão patético...
Nesses cantos suaves das manhãs...
Amor hereditário, sim, genético!
Não desiste jamais das noites vãs...

Amor mais mentiroso, és hipotético
Persiste girassol, em meus afãs...
Oxalá sempre seja assim... Poético...
Amor que me devora os amanhãs...

Meu amor padecendo das saudades,
Mas sorri, tristemente, sem vergonhas.
Embalde adormecendo tuas fronhas,

Deslinda-se num poço de vaidades...
Amor que multiplica qualidades,
Esparso, se perdendo nas montanhas!!!

Agônico

Coveiro dessas minhas ilusões,
Um atroz serviçal das negras trevas...
Dilapida sem medo os corações,
Onde fora verão, sem perdão, nevas...

Fizeste minhas deusas, simples servas...
Trazes torpes problemas... Soluções
Ocultas; velha chaga, podridões!
Cadáveres de amores, sempre cevas...

A sórdida lembrança que deixaste
Reproduz fielmente meu tormento...
Nas pútridas manhãs que me beijaste,

As horas se verteram em lamento...
Não te quero mais, suma! És podre traste.
Deixe-me então em paz, por um momento....

Deusa Maia

És uma deusa, linda deusa maia,
Uma noite virás para os meus braços!
E antes que isso aconteça, quebro os laços
Que impediriam de eu chegar à praia...

Bela deusa, levanto tua saia
E me embrenho feliz por teus espaços!
Não me permita Deus, que nunca eu saia
Do paraíso que encontrei... Meus passos

Titubeio, vencido o medo, sigo...
E cada vez que penso, não consigo
Imaginar-me só, deusa distante...

Meus sonhos virtuais, os meus delírios...
A noite que te trouxe, deu martírios!
Vento frio acordou-me neste instante!

Crisálida

Onde anda essa menina linda, pálida?
Os meus olhos buscando nada encontram...
Onde anda essa garota magra,esquálida?
Vou perguntando a todos, não me contam...

Tua tarde chegando, linda, válida,
Trazendo novos ventos que me espantam...
Transmuda-se, tão bela, na crisálida
Deixando para trás, tempos remontam...

Libertária terás as suas asas...
Borboleta, teus olhos sonhadores,
Aquecendo esse mundo, tuas brasas;

O tempo te trará prazeres, dores...
Das lágrimas felizes, terás casas,
Mesmas das tristes lágrimas de amores!

Sonâmbulo

Andei por essa vida qual sonâmbulo!
Verti, da realidade, todo o senso...
Sorvi da crueldade esse preâmbulo
A transmudar nossa vida em imenso

Deserto. Nos cigarros, caranguejo;
Nessas minhas manhãs inconcebíveis,
Restando tão somente um vil desejo:
Penetrar teus desertos mais temíveis!

Andei por essa vida sem remédio,
As dores tão constantes causam tédio...
As fúnebres lembranças, solidão...

Tetânicos espasmos, coração...
Nem a fé acompanha mais meus passos...
A morte, sorridente, mostra os braços!

Nosso Caso

Nosso caso em perpétuas tempestades,
Carregando um mistério sem igual.
Atravessando campos e cidades,
Amor antigo, eterno, medieval!

Não permite penumbras nem maldades,
Caminha viagem transcendental!
Esvaindo-se etéreo em veleidades.
Amor eterno, lúdico, ancestral!


Nosso caso vencendo as intempéries...
Não permite qualquer outro caminho.
Tantas palavras ferem mas não matam...

Amor assim, jamais virá em séries,
Amor assim buscando sempre o ninho,
Numa face só, duas se retratam...

Deus

Encontrei um Deus livre, sem riquezas...
Andando sem calçado nas calçadas...
Um Deus manso, sensato... Das tristezas
Fazia um novo canto, madrugadas!

Um Deus mais solidário. De certezas
Rígidas e macias. Sem espadas,
Sem pensar em tais templos, realezas...
Um Deus Vivo caminha nas estradas!

Pobreza aliviada, miseráveis...
As dores mitigando com sorriso.
Um Deus amigo, brilho cristalino...

As palavras mais doces, mais amáveis;
Esse Deus verdadeiro, mais conciso,
Andava disfarçado de menino...

Solidão II

Priscas eras distantes da memória!
Nós éramos felizes, fortes nós...
Buscávamos, serenos, nossa história.
A noite chegou, veio mais atroz,

Não deixando restar nada... Da glória
Dos tempos idos, nada... Nem a voz
Que ouvíamos na noite, nem vitória
Sonhada, nem paz, nunca mais... Feroz

Solidão...Necrotério dos amores;
Morte lenta, punhal tanto lateja...
Solidão... Teimosia de quimera...

Carrego-te, guardada nos andores...
Solidão que destrói, não causa inveja,
Quem me dera morrer enfim, quem dera...

Bafio

O bafio da fera decomposta...
Na boca desse lixo escancarada,
A minha sorte morta esfacelada...
A mesa do banquete já foi posta...

Meu mundo destruído mostra, exposta,
A face mais cruel: sou simples nada!
Num momento fugaz, final de estrada,
A vida, sem sentido, a dor arrosta!

Destruído, sem rumo, espero a morte...
Se tiver, talvez, quem sabe, mais sorte,
Essa demora não será tardia!

A angústia tão voraz, já se demora...
Deitar eternamente, noite fria...
Me canso de esperar: quem sabe agora?

Chuva Derradeira

Se foi felicidade, hoje, agonia...
A chuva derradeira já não tarda
A sorte prisioneira, esta bastarda.
Me deixa... Mal a tarde inda morria...

A noite que se mostra gela, fria...
Melancolia chega, fera parda.
Minha esperança morta, grão, mostarda...
Lá fora, soprava o vento... Chovia...

Ilusão, devorada pelos vermes...
Neste esgoto, tão meu quanto dos ratos.
Plutão espera um velho... Julguei Hermes,

A mocidade cospe nestes pratos...
Minha alma apodrecida pede paz...
Quem m’ouve, tão somente Satanás!

Jardim sem Flores

Quem me dera saber, fosse um profeta,
Dos dias que virão, nosso futuro...
Qual o caminho? Qual a melhor meta?
Eu não caminharia assim, no escuro...

A vida, meu amor, p’ra ser completa
Espreitar essa presa, saltar muro...
Meu coração tristonho de poeta
Espera a calmaria... Foi tão duro

Perder-te, nada mais me importará!
De que me vale luas sem luar...
As ruas onde levo minhas dores,

Sei por certo, jamais chegarei lá...
Quem precisa de vida sem amar?
É como meu jardim, seco, sem flores!

Guerrilha

Nossa vida transcorre sem perfumes...
As portas se fecharam, sem quintal...
Repetes cada dia teus queixumes,
As dores promovendo um festival!

Por que tantas mentiras e ciúmes?
Amores não suportam... É letal!
Depois de perseguir, chegam aos cumes
Matando simplesmente... Um animal

Feroz... As cicatrizes me tomaram,
Envolvendo os meus restos de esperança...
No lugar da paz, tristes, deixaram

As marcas indeléveis da guerrilha.
A mão que procurava não alcança...
Amor perdido, tentando nova trilha!

Mormaço

Na tarde quente, queimam-me o mormaço...
O tempo demorando-se a passar...
Eu sinto tão pesado o meu cansaço,
A vida transcorrendo devagar...

Distante sempre estou do teu abraço,
Na tempestade amena, naufragar!
Nas orlas dos meus sonhos, simples traço...
Nas fontes dos desejos, mergulhar!

Mas essa quente tarde imobiliza.
O vento prometido nunca veio.
Nem ao menos percebo suave brisa.

Preciso te encontrar, procuro um meio...
A tarde agonizante não me deixa...
Nem os ventos carregam minha queixa!

De Todas as Maneiras

De todas as maneiras vou te amar!
Por todos os meus mares e campina...
Nas ondas que se vão, neste luar...
Coração que se entrega, descortina

A vida que jamais pode esperar...
Um bolero orquestrado, a louça fina...
O tempo amaciando sem sangrar...
Meu coração descrente hoje imagina...

De todas as maneiras... Tão distante...
Quando partiu, deixou um vazio peito...
Tempestade rugindo, delirante...

Quem partiu só saudade me deixou...
Nem a força, seguir para adiante...
Quem me dera esperanças, as levou!

Ressurreição

Quando a vi nem pensei fosse possível
Ter em meus braços bela criatura...
A vida a transcorrer tão impassível,
Na penumbra soturna, uma amargura...

Nunca imaginaria fosse crível,
Eu pudesse encontrar tal formosura...
Num momento feliz, fui mais sensível;
Pois jamais encontrara, amor, candura

E deixei minha vida flutuar...
As palavras que ouvi tão sedutoras,
Posseiras, invadindo devagar...

As noites que passamos tanto douras...
Quero a maciez límbica e certeira,
Ao te ver renasci p’ra vida inteira...

Gentil

Tens a marca gentil da formosura...
Nos teus olhos resplendes toda a luz...
Tua boca sanguínea, bela e pura
Em momentos divinos me seduz...

Os teus cabelos longos, tez escura,
Ao amarmos, cavalgas-me andaluz...
De beleza mais rara, a carne dura,
Num sorriso brilhoso que reluz...

Num amor tão brioso, mais sincero,
Quem conhece tua alma não te esquece...
Concebi meu poema em voz de prece

Para cantar–te inteira. Pois espero
Que não deixes jamais, minha rainha,
A minha alma tristonha, assim sozinha!

Açucena

Minha açucena, bela, porém álgica...
Nasceste em jardim fúnebre, espástico...
A vida me ensinou, defesa antálgica,
Um coração tão frio fosse plástico...

Minha açucena, flor de minha vida...
Quem nasce em tal jardim, recende a dor...
De todas cercanias, esquecida,
A beleza sutil, mágica flor...

Açucena, serena companheira...
Não me deixes sozinho, eu tanto peço...
És brilho de esperança verdadeira...

És o que me restou desse universo!
Resplendes toda a luz, minha existência!
Açucena, não vás... Peço clemência!