quarta-feira, maio 17, 2006

A MERETRIZ E A SANTA - FANTASIA

Trazendo o viço da vida
E um vício, felicidade.
Perseguindo na cidade
As portas da despedida
Do tempo que fui feliz
No colo da meretriz
Matada por ser verdade
O boato que dizia
Que em toda essa eternidade
Rasgando essa fantasia
De dona desse bordel,
Viajava pelo céu
No cabo desse cometa
Que comentam que surgia,
No nascedouro do dia
Pelas alvorada afora
Que desde que foi embora
Escurraçada, essa moça.
Nunca mais quebrou a louça
Que compunha nessa Igreja
Para quem quiser que veja
A clarear nesses dia
Nessa imagem dessa santa
Olhos da Virgem Maria.
Pois então desde esse dia
Ando vida solitária
Buscando cara metade
Mas no mundo sem alarde
Num tem esperta ou otária
Que queira, de serventia
Ou por amor ou decreto
Viver, amar de concreto
Fazer da vida a valia
Que possa dar compromisso
Fazendo do jogo atiço
Do rogo desse serviço
Que traga minha fornada
De pão e de poesia
Pra poder só nessa estrada
Ser a minha estrela guia
Essa mão que me consola
Que me carrega a viola
E me ensina nessa escola
De que serve a valentia
Se nada mais me trazia
O rebento desse dia
Que acende todo pavio
Que me deixa por um fio
Antes que nada avacalha
Sou do fio da navalha
E gosto de ser assim
Que tudo seja por mim
Como nada mais poderia
Se tivesse essa fantasia
De ser feliz com mulher
Se Deus isso não quer
Por culpa da cafetina
Que amei desde menina
Que voava sem ter asa
Pelas soleiras das casa
Esquentando feito brasa
Aquele que nunca se acha
Que pensa que vai, despacha
E que carregando essas acha
Pra aquecer tempo mais frio
No mundo segue vadio
Meu coração sem atino
Acostumou com destino
De viver do desatino
Por causa de bruxaria
De quem nunca foi compasso
Com pressa nem o cadarço
Da vida amarrou direito
Trafegando no meu peito
Sem rumo e sem direção
Foi o lastro desse chão
O gosto azedo da vida
Assumindo a despedida,
De quem nunca mais voltou
As asas criadas vento
Os olhos partidos, tento
Fazer desse meu intento
O meu maior instrumento
Se preciso restaurar
As mãos estão calejadas
Perfumadas por suor
Trincadas pelo melhor
Da vida que a vida nega
A quem na vida trafega
Sem ter rumo que se entrega
Nos traços desse meu lápis
Que com grafite bem negro
Não deixa mais que me escapes
Sorte sem rumo e apego
Minha sombra rela o pé
Atravessa esse portão
Formiga das lava pé
Queimando meu coração.
O amor, foi reviravolta
Sentou praça sem escolta
Vacilou, o amor caiu
Ralando o seu joeio
Sangrando todo vermeio
O coração já saiu
Andou dando devorteio
Na viola que ponteio
Do mundo roçando o meio
Varando pela porteira
Que permitiu minha fuga
Mas agora já refuga
Disfarçada em brincadeira
Dessas de saltar fogueira
Nas noites de sexta feira
Na coruja da ribeira
Qual mocho de bico torto
Vou seguindo absorto
No meio desse caminho
Que vai pra trás da fazenda
Perto daquela moenda
Que moendo, me matou
Os olhos perdidos ao leu
Percorrendo nesse céu
Em busca de minha amada
Única infeliz madrugada
Que acalentou minha lua
Que andava toda nua
Nos meus sonhos mais gulosos
Agora, como os leprosos
Do testamento mais velho,
Sem Cristo pra me curar
Embolado escaravelho
Me enovelo devagar
Qual fora ouriço caixeiro
Me defendo dos cachorro
Que lá por cima do morro
Já passam o tempo inteiro
A preparar o seu bote
A minha sina mais forte
Aquela que leva pro norte
Procurando minha sorte
Mas só tenho minha morte
Pra poder negociar
No fundo, pode estar certo
Que nada tendo por perto
É o que melhor vai tocar
O coração deslambido
Que bate de tanto sofrido
Num acalanto sem rima
Acabando com estima
Estrume tomando tudo
O corpo vai cego, mudo
Eu nem sei se me ajudo
Se posso saber o contudo
Se não sei nem o porque
De tudo que posso ver
Tá tudo selecionado
Nas cismas da minha sina
Feito mágoa cristalina
Feito matreira saudade
Gerada por contrafeitos
Contra os meus próprios defeitos
Nada posso argumentar
Só sinto nada ter feito
Nem do doce nem confeito
Mereço ao menos respeito
Pela dor que trago, o peito
Batendo feito demente
Trazendo para essa gente
Esse canto de amargar
A boca da noite vigora
Essa minha triste espora
Machuca qual catapora
Queima tal qual caipora
Me lembrando que agora
Já ta chegando minha hora
O meu tempo já se estora
É hora de ir-me embora
Embora fora de hora
Agora chegou minha hora
Doutor vou já vazar fora
Desculpe pela demora
A lua já se ancora
A barra da noite aflora
E terminando essa história
Carrego nessa memória
Os tristes olhos da Santa
Quebrados, por essa moça
Cuja carne não foi louça
Sangrada até não ter força
Com ela também fui morto
Meu pensamento absorto
Procurando por um porto
Onde possa ter descanso
Procurando pelo remanso
Desse rio que se encurva
Pra no meio dessa curva
Numa noite do sertão
De lua e de poesia
Enterrado, sem valia,
Meu inútil coração...

nas andanças

Nas andanças pelo mundo
Muita coisa encontrei.
Gente de todos os tipos
Nas terras por onde andei
Gente de amor profundo
Temente a Deus e ao diabo
Por tanto tempo são sei
Se devo estar enganado
Sei que esse tempo passado
Não foi de todo perdido
De certa forma cumprido
Na barca da minha sorte
Nas trilhas de minha sina
Na vida mais assassina
Que combina com passado
Que nega o nunca negado
Meu sonho de liberdade
Passeia pela cidade
E dobra, a cada esquina,
No remédio mais doído
O meu andar foi comprido
E meu destino cumprido
Na minha alma o comprimido
Da bula felicidade
Passando pelos volteios
Das curvas desse regato
Sei que nada mais que seios
Adormeceram meus retratos
De triste cavalgadura
Na mata, da noite escura.
Que mata, carece pura.
Como a pinga que bebi
No tempo que resisti
Na beirada dessa estrada
Que leva o nada a esse nada
Que comporta muita força
Do colo da menina moça
Ao cheiro da maresia
Cravando de poesia
O tempo mais assuntado.
Assustado companheiro
Não sei desse mundo inteiro
Mas sei bem mais que você
Pelo menos sei perder
O rumo no colo doce
Que essa morena me trouxe
Lá das matas do Pará,
Do cheiro dessa capina
Da terra molhada o gosto,
Brilhando no seu rosto
Feito pedra cristalina.
O campo que me alucina
É o verde da minha terra
Que me transporta, fascina,
E não acerta mais nem erra
Apenas aceita a dança
Da mais forte temperança
Que nunca arreda, criança,
No meio dessa vingança
Que é minha essa contradança
Que espalha, me dá sustança,
De encarar outro sermão
De saber mais desse chão
Que me pega, supetão.
Traz o sim confunde o não
E se espalha no sertão
Fazendo tal confusão
Que nem padre ou sacristão
Resolve e dá solução
Ao que pergunta meu povo
Para onde ele vai de novo
Se quebrarem mais um ovo
E não deixarem nascer
O futuro mais esperado
Onde quisera viver
Sem esse tal de volver
Sem essa de nunca ver
Que poderia saber
O resto dessa embolada
Que nada mais é distante
Trazendo o que era adiante
Como se fosse constate
O grito desse levante
Que me fez deu tal arrelia
Que cravado nesse dia
Foi de resto minha sobra,
Que rasteia feito cobra
Nas ondas desse que cobra
O que a gente não gastou
Somente a gente tentou
Mas, remediando a vida,
Nessa estrada mais sem rumo
Vou tentando ter meu prumo
Das dores faço um insumo
Que mantém meu caminhar
Por onde gente passar
Contando essa valentia
Vou com minha fantasia
De quem não quer sufocar
Nem precisa suportar
As marcas desse chicote
Dos que tentaram o bote
Não há mais quem que suporte
O peso desse grilhão
Que maltrata tanto a sorte
Que sufoca até a morte
E que mata o coração.
Quero dizer pra você
Aquilo que me comporta
Abra bem a sua porta
Não liga, pois não me importa,
O que quer que te contaram
Sou amigo nada tema
Por mais tempo que passaram
Mudar a história da gema
Que faz nascer um poema
Que se chama liberdade
Não creia nessa maldade
Desse povo mais safado
Que negam o já negado
Que pegam o caso encerrado
Para carregar de lado
Nas página do jornal
Que trazem nesse embornal
Para embrulhar mais você
Não deixe esse temor ter
Mais força do que devia
Muda de cavalaria
Esquece a cavalgadura
Senão essa noite escura
Vem de novo lhe cobrir
Não deixe que essas premissas
Nem se rezada nas missas
São os frutos das cobiças
Das gentes que, movediças,
Transformam o nosso sonho
Num pesadelo medonho
Daqueles que eu não me enfronho
Nem tento solucionar
Pois percebo nessa gente
Que se ver gente contente
Logo fica mais doente
Parece gente demente
Mas é um povo que mente
Difícil de acreditar.
Moço não dê mais assunto
Pra esse povo sem pudor
O que eles querem, e muito,
É transformar um doutor
De cara mais deslambida
Parece de mal com a vida
Tem jeito de enganador,
Pois então tome cuidado
Que esse povo safado
Tá querendo engabelar
Vendem-te como coitado
Esse cara mal lavado
Que não dá pra confiar
Esse sujeito é famoso
Por permitir mais o gozo
De quem gosta de levar
Da nossa propriedade
Quase toda, as mais querida.
Mesmo assim, sinceridade,
Gosta de aumentar a dívida
E não paga nada não
Deixando toda pobreza
A ver nessa tristeza
O fim de nosso país
Que não é mais meretriz
Aprendeu o seu valor
O valor de ser brasileiro
De correr o mundo inteiro
Com o orgulho altaneiro
De nosso novo janeiro
De ser bem mais verdadeiro
Sem deixar escravizar
Deixa de novo brotar
No meio desse pomar
A fruta mais melindrosa
Que perfuma como rosa
Que brilha nesse luar
Que nunca mais que se alcança
Que bela como criança
Faz do futuro essa dança
Que transporta na lembrança
A NOSSA FRUTA ESPERANÇA!

DE TELEVISORES E DE BOLSA FAMÍLIA



Membros do PCC receberam 60 TVs de tela plana na cadeia
Presos do PCC receberam em suas celas, em diferentes presídios de São Paulo, em plena crise, 60 aparelhos de tevê, tela plana, via Sedex. Os criminosos compraram à vista nas Casas Bahia com o objetivo de assistir à Copa do Mundo.
Godofredo Bittencourt Filho, diretor do Deic, deu essa informação ontem, segunda feira, dia 15, a cerca de cem empresários que foram ouvi-lo na Fiesp. Ele chegou de helicóptero e foi lá, segundo um dos participantes, tranqüilizar os empresários. Godofredo foi muito aplaudido, porque, segundo essa fonte, demonstrou “sinceridade e honestidade”.
Um empresário também presente, e que não quis se identificar, ficou “muito preocupado” porque só ali se tratou da eventual possibilidade de a policia e as operadoras de telefone fazerem um acordo para que, de forma eficaz, as operadoras possam bloquear as ligações para as áreas em que ficam os presídios. A Fiesp se dispôs a promover futuramente esse encontro entre autoridades e operadoras para estudar o assunto. “Pensei que isso já estivesse resolvido”, disse esse empresário presente à reunião.
Segundo a outra fonte, Godofredo foi muito fiel aos fatos, fez um relatório minucioso e demonstrou que a situação estava sob controle. Depois dos aplausos, foi embora de helicóptero.
Fonte: Conversa Afiada (Paulo Henrique Amorim)

Qua, 17 Mai - 11h31 IBGE identifica 14 milhões de brasileiros famintos
Agência Estado
Cerca de 14 milhões de brasileiros, 7,7% da população total, vivem em domicílios caracterizados por um "estado de insegurança alimentar grave", o que significa dizer que convivem com o fantasma da fome "quase todos os dias", "alguns dias" ou "um ou dois dias" por mês. São pessoas que não têm acesso a alimentos em quantidade ou qualidade adequadas e que temem sofrer restrições ainda maiores no futuro.
Os estados do Norte e do Nordeste lideram a trágica estatística, com mais da metade da população vivendo em um ambiente onde a quantidade de alimentos disponível para a família é insuficiente para garantir a sobrevivência em condições dignas. O Maranhão, com 18% dos domicílios em situação de "insegurança alimentar grave", lidera o ranking da fome, seguido de perto por Roraima (15,8%) e Paraíba (15,1%)...
...A pesquisa foi feita pelo IBGE, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e pela primeira vez utiliza em escala nacional a chamada Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), uma metodologia que permite identificar famílias em diferentes níveis de risco alimentar...
...O grau de insegurança alimentar varia não apenas em relação à distribuição geográfica das famílias, mas também em função da faixa etária dos seus integrantes. Nesse aspecto, a situação se revela mais grave para as crianças com até 4 anos de idade, com uma em cada dez crianças convivendo em um ambiente de insegurança alimentar grave, índice duas vezes maior para aqueles com mais de 65 anos.
Os números do IBGE revelam ainda que 17% das crianças com até 5 anos residentes nas Regiões Norte e Nordeste vivem em condições de insegurança alimentar grave, ante 5,3% nas Regiões Sul e Sudeste e 5,7% nos Estados do Centro-Oeste. A metodologia utilizada pelo IBGE considera em situação de segurança alimentar pessoas ou famílias que não sofrem restrições na quantidade ou na qualidade dos alimentos e não temem qualquer mudança deste cenário. Por outro lado, a insegurança alimentar é percebida em níveis que variam desde a preocupação de que o alimento acabe antes que haja dinheiro para a reposição até chegar ao ponto mais grave, em que a família passa a sofrer restrição na disponibilidade de alimentos...
O porque de ter selecionado estes dois artigos hohje, parece meio óbvio, mas é sempre salutar discorrer sobre idéias e parâmetros diferentes e termos uma idéia do que está ocorrendo e do que pode acontecer nesse nosso país.

A reportagem colocada pelo Estado de São Paulo demonstra uma realidade da qual não podemos escapar: A FOME NO BRASIL, AINDA É MUITO GRANDE e o risco de desassistirmos essas camadas mais humildes e miseráveis, desses milhões de excluídos é de MORTE E ANIQUILAÇÃO, num verdadeiro GENOCÍDIO.
Os programas governamentais, quando são criticados pelo que chamam de “assistencialismo eleitoreiro”, são de fundamental e crucial importância para que milhões de irmãos nossos sobrevivam, a questão não é eleitoreira nem esmolar, como apregoam alguns, inclusive dentro da própria Igreja Católica, mas sim são, na verdade, programas HUMANISTAS E CRISTÃOS, além de trazerem de novo a dignidade para esse povo.
Pode-se imaginar o quanto as, a princípio principalmente para a classe média, pequenas quantias mensais fornecidas a título de complementação de renda, são vitais para a sobrevivência de nossas crianças e adolescentes, principais vítimas de quinhentos anos de desgovernos e massacre contra os mais pobres; numa guerra sem tréguas dizimadora de milhões e milhões de brasileirinhos desde a colonização desse país.
Se colocarmos na ponta do lápis, nem assim podemos ter a dimensão de quantas indefesas crianças foram assassinadas por um modelo escravagista de poder que se eternizou no Brasil, sendo que, o início de um modelo alternativo, somente agora se inicia.
O salvar essas crianças é obrigação de TODOS NÓS, através de ações diretas e indiretas, como a atuação de ONGs, da Saúde pública e da melhor distribuição dos recursos públicos com a verdadeira valorização do que e para que pagamos com nossos impostos.
Paralelamente a isso, devem ser coibidas e punidas as lambanças com dinheiro público, como no caso do nepotismo, nas obras e compras superfaturadas, nos descalabros que vemos no dia a dia.
Se o chamado “mensalão” tivesse comprovadamente dinheiro público, como ocorreu em outros casos, eu seria o primeiro, por princípio e dignidade a incluí-lo aqui, mas, a bem da verdade, o que temos tão somente são ilações sobre a origem do famigerado “valerioduto”.
A visão do governo atual é clara e lúcida a respeito da política de melhoria de renda dos miseráveis, e é JUSTA e, na minha opinião, poderia ser mais audaciosa, com criação de mecanismos outros de assistência, mas o SUAS (SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL), quando implantado em todo seu vigor melhorará mais esse aspecto.
O termo assistência é colocado de uma forma pejorativa por parte intragável da imprensa brasileira, como se fosse esmola. Esmola damos é quando compramos uma revista como a VEJA, prostituta enganosa que tenta arrebatar consciências a qualquer custo, para fazer o miché bem feito para seus SENHORES e Capitães do Mato.
Agora, a divulgação do “presentinho” dado ao PCC, verdadeiro Comandante in-chefe da Segurança Pública paulista, demonstra o quanto esse Governo Estadual é refém de uma facção criminosa; assustando-me muito, pois o Comando Vermelho e o Terceiro Comando, nem no auge de seu poderio de força tinha tal poder de barganha com o Governo fluminense.
A permissão da entrada desse tipo de “compra” é uma ofensa as milhões de crianças mortas de fome nesse país.
Importa-me e muito saber quem pagou e como, tais brinquedinhos; se os presos compraram e chegaram por SEDEX, a mercadoria deveria ser apreendida e instalado inquérito com participação da Receita Federal, pois me parece óbvio que a origem dessa grana não é fruto do Bolsa-família.
Nem poderia, pois essa meia dúzia de bandidos tem aos olhos do Governo Paulista uma importância muito maior do que os milhões de famintos que moram e coabitam com os governantes e “donos da maior economia da América Latina”.
O que corrobora com minha afirmativa, é o fato explicitado de “acordo” entre o PCC e o Governo para o cessar-fogo. Qual foi a moeda de troca? Garanto que não foram esses brinquedinhos não, e tenho certeza que essa moeda é podre e nada salutar para paulistas e paulistanos; ficando claro que este GOVERNO é o principal refém deste grupamento criminoso.
A negativa de apoio de forças do Governo Federal me permite imaginar que HÁ ALGO DE PODRE NO REINO DA DINAMARCA, pois de outra forma, se fosse por cunho puramente eleitoral seria mais absurda ainda essa recusa.
A situação em que se encontra São Paulo nuca poderia estar sob controle, a partir do momento em que o Governo cede e negocia para estancar a violência que impera e manda nesse Estado.
As diferenças entre as formas de ataque à violência se demonstram claramente na ação do Governo Federal, com a permissão à vida de milhões de brasileiros, e a do Governo Paulista, incapaz de debelar ou por orgulho, incompetência ou, pior submissão, um grupamento para militar cujos chefes não estão nas matas nem nas favelas e sim, pasmem, dentro de penitenciárias sob a custódia desse mesmo Governo.

QUERO FALAR DESSE AMOR

Quero falar desse amor
Que me traz felicidade
Andar por essa cidade
Com a promessa de vida
Que me trouxe a despedida
De quem fora sofredor
Quero falar de você
Minha flor e bem querer
Quero saber de tristeza
Correndo longe da mesa
Onde se encontra querida
A boca mais decidida
A doce boca da vida
Que traduz tanto prazer,
O prazer ter conhecido,
Nas curvas dessa invernada
Nesse canto adormecido
Não esperando mais nada
A não ser tanta tristeza
Que essa vida, sem beleza,
Reservara-me por fim
Achava já fim de história
Mas puxando na memória
Bem que eu podia sonhar
Por tanto já ter penado
Coração mais machucado
Procurava se curar;
Cuidando tanta ferida
Coleciona despedida
E nada mais pra tentar
Tentar ser feliz na vida
Cantar o canto sereno
Esquecendo-me o veneno
Que pega corta e me irrita
Preso por essa guarita
Que tanto dói e nem grita
Que me corta qual bauxita
Sangrando esse sofredor
Que nessa sofreguidão
Agasalha o coração,
Preso por essa porteira
Que trava na vida inteira
Sacode tanta bandeira
Tenta ser a verdadeira
Luz que ilumina na vida.
Cansado de despedida
A mão corta, essa ferida
Nunca cicatrizará,
Engano meu, minha sorte,
Pra quem pensava na morte
Como mais forte alegria
Saber que agora já posso
Passar as mãos onde roço
O rosto dessa mulher
Que me trouxe a alvorada
Que rompeu a madrugada
De quem não sonhava mais
Trouxe, com seus madrigais,
A magia da esperança
De poder voltar criança
E de novo recordar
O que já fora ilusão
E a vida fez mais sortida
Resto de vida na vida
Ponto de interrogação
Mas a sorte me sorrindo
Disse-me, nada me imita,
E já na noite vem vindo
Trazendo a manhã bonita
Nos olhos, vida parindo.
Já sinto vir e vem vindo
Cheiro de fruta que agita
O pomar nunca se imita
No gosto de minha Rita!

MACACO VELHO E, AINDA POR CIMA, MINEIRO...

Tucanos reavaliam a campanha

De Paulo Sotero em O Estado de S.Paulo, hoje:

"O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, reúne-se hoje em Nova York com dois outros cardeais do PSDB, o presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para avaliar os eventos e conversar sobre a campanha do pré-candidato tucano ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin.

"O momento é de definir estratégias", disse Aécio. "É claro - e digo isso com muita franqueza - que todos nós gostaríamos que o Alckmin estivesse com o dobro do que está nas pesquisas."

Numa linguagem que traz no mínimo apreensão diante do mau desempenho do candidato tucano até agora, Aécio afirmou: "É hora de ter muita serenidade, para que possamos executar uma estratégia que possa nos levar à vitória."

Segundo Aécio, "a candidatura Alckmin tem um grande potencial de crescimento". Ele conta que baseia seu otimismo, por exemplo, no fato de haver pesquisa mostrando que apenas 65% do eleitorado conhece o candidato, enquanto 99% sabe quem é o presidente Lula.

E pesquisas qualitativas, prosseguiu, indicam que, quanto maior o índice de conhecimento de Alckmin, maior a intenção de voto nele. "Isso não ocorre em relação ao presidente Lula.""

Interessante a afirmativa de Aécio Neves sobre a candidatura Alckmin, baseando seu baixo índice nas pesquisas ao fato de que esse não é muito conhecido.

Se basearmos essa análise pelo fato de ser ou não conhecido, teremos outra visão sobre esse assunto, o fato de, termos em Alckmin um candidato com aspectos únicos, associando total incompetência administrativa com uma apatia natural, sem feeling, sem sal, acredito que o fato de se tornar mais conhecido terá um resultado antagônico ao que proclama Aecinho.

Vejamos bem os seguintes aspectos: em primeiro lugar, a maioria das pessoas de classe média conhece Alckmin, não administrativamente, o que está ocorrendo, para decepção de muitos, agora.

Alckmin é um fenômeno paulista, tendo como principal artífice e mantenedor Mario Covas, que era muito respeitado pela população do estado, e suas 4 eleições como vice ou como Governador se deve a isso.

Realmente, Alckmin é o governante brasileiro com mais tempo no governo, mostrando a par disso, um total despreparo para encarar de frente os graves problemas que afligem o Brasil.

Para quem, num estado rico como São Paulo não conseguiu e; pelo contrário, viu o agravamento dos graves problemas desse povo sofrido mantendo, inclusive oito anos desse longo governo, em total harmonia com o correligionário Fernando Henrique, essa exposição deverá ser catastrófica.

Nos moldes de FHC, Alckmin fez privatizações, inclusive do BANESPA, entre outros, aumentou a dívida pública e arquivou toda e qualquer denúncia de irregularidades com relação ao mandato seu e de seus aliados, gerando um clima insustentável de impunidade.

Outra coisa que deve ser lembrada é que, a bem da verdade, Alckmin é muito conhecido entre os seus prováveis eleitores, pertencentes a uma classe média e elitista que lê jornal e tem notícias diárias sobre o que ocorre no Brasil, como um todo.

No seu provável eleitorado, que o está conhecendo mais a fundo agora, através das denúncias de associação indireta ao crime ou por omissão ou por acordos feitos como os de agora, inegáveis para o final da crise de segurança paulista, com aspectos de imoralidade mesmo e demonstrando total inoperância.

As denúncias feitas sobre as compras de votos através do sistema financeiro estadual, via Nossa Caixa, que são impedidas a todo custo de serem investigadas a fundo é outra pedra no sapato do ex-governador tucano.

Agora, no eleitorado de Lula, de quem vota em Lula, contra quem aparecer, o que representa trinta por cento de fiéis eleitores, Alckmin não tem a menor chance de conseguir nada.

Com os ex-petistas arraigados no PSOL, a história se repete, esses pregarão o voto nulo, mas não apóiam Alckmin, sob a pena de não mais se elegerem a nada.

Garotinho, mesmo com todas as denúncias tem maior capacidade de penetração que Alckmin, pois sua candidatura tem a consistência de um longo período de campanha política, feita através das últimas décadas em todos os meios de comunicação.

E ainda pode ultrapassar novamente Alckmin nas pesquisas, apesar de tudo, embora o PMDB não deva ter candidato próprio, se o tiver, Alckmin é o principal candidato ao terceiro lugar.

Resta o que Aecinho proclama como potencial de crescimento, as camadas mais simples da população; e é nesse campo mais vasto que Lula cresceu com o seu mandato visando à diminuição das diferenças sociais.

A simples indexação do nome de Alckmin ao PSDB, ou seja, ao partido de Fernando Henrique leva pânico à maior parte da população carente desse país.

Portanto, toda essa história alegada por Aécio, parece “história para inglês ver”, já que nem o próprio Aécio irá, sob pena de perder a reeleição, entrar “de cabeça” na campanha de Alckmin.

Afinal, além de neto da raposa Tancredo Neves ele sabe, como bom mineiro, que quem for macaco velho não coloca a mão nessa cumbuca não.

Ela tá mais do que furada...

OLHOS AZUIS.

Acordara cedo, como sempre fazia desde há muito tempo, criado sozinho; desde os tempos mais pueris da vida fora obrigado a trabalhar; primeiro com os tios na roça, depois com o mesmo patrão que tinha sido do pai, falecido no início dos primeiros passos, lembranças esquecidas dentro de uma gaveta qualquer, há muito fechada.

Olhou para o corpo estendido na cama, corpo de belas formas, da morena bonita que conhecera e logo se apaixonara; casamento de 10 anos, quatro filhos e poucas alegrias.

Reparou bem no despertador, 5 horas, como sempre, mesmo nas férias não conseguia acordar mais tarde, escravo de uma rotina cruel...

Naquele momento pensou na noite anterior, noite longa e estranha, cheia de fantasmas e pesadelos, o que ultimamente se tornara costumeiro, quase diário, gritos e tumulto de gente correndo, coisa estranha...

Pacato desde menino, “incapaz de fazer mal a uma mosca”, segundo comentava o tio; tio que fora pai, num ato de amor sem cobranças, amor verdadeiro.

A tia nem tanto, não gostava daquele menino melequento correndo pela casa, bastava-lhe os três que a vida deu e ainda tinha que aturar esse pestinha.

Ainda mais filho de quem, daquele mesmo que fora o primeiro, grande e único amor de sua vida; mas a irmã era mais bonita...

A peste do menino, a cada dia mais se parecia com o pai, tão diferente do seu marido, irmão do safado...

Aqueles olhos azuis do cunhado ficaram atormentando sua vida por longos anos, agora aquele moleque solto pela casa.

É provação divina, provação e provocação, como podia agüentar?

E a vida foi passando entre quintais e escola, brincar era difícil, só se a tia não estivesse em casa, a megera era terrível.

Proibindo tudo, e trancando o menino dentro de casa como se fosse uma donzelinha vigiada. Tia muito estranha, vez em quando observava os olhos dela sobre os seus, descansados e desavisados.

Quando fez quinze anos, sexo explodindo nas noites solitárias, no calor queimando tudo, em pleno inverno, acordando numa febre, febre incontida, desesperada...

E o prazer culpado, pecado, segundo a tia e o padre...

Um dia, esquecera a porta aberta e, surpreendentemente quando olhou para o lado viu uma sombra correndo pela casa afora, estranha sombra, que adivinhava ser da tia, mas não podia garantir.

Aos dezessete conhecera Marta, morena maravilhosa, corpo perfeito, coxas duras e dentes alvos, radiantes.

O tio ficou muito contente, sobrinho trabalhador, morena bonita, casal perfeito.

A tia calada, cada dia mais se trancafiava no quarto, menopausa falou o doutor, o tio aceitou e, com paciência foi agüentando as crises cada vez mais freqüentes da mulher; boa mulher, mas muito temperamental, “problemas de nervo...”

O primeiro filho chegara com o outono, casamento às pressas, Marta grávida, barriga grande, estrias muitas, Marta estava diferente e os dentes começaram a cair, pouco a pouco até não restar mais nenhum.

Menina bonita que a gravidez modificara e trouxera um menino diferente, doentio, fraco dos peitos, menino estranho que quase não chorava e, se chorava era fraquinho, quase um gatinho miando.

Dois anos depois, o segundo menino, forte, robusto, parecido com ele, dono dos mesmos olhos azuis, quem sai aos seus não degenera...

Depois as duas meninas, gêmeas, bonitas e dengosas, Marta reeditada, mas com os olhos azuis, os mesmos olhos do avô e do pai.

A esse tempo já se mudara para a cidade e trabalhando como pedreiro, fizera certo sucesso e tinha sempre emprego, e Marta conseguira um emprego como faxineira na escolinha perto de casa.

Vida simples de gente simples na cidade simples, mas os sonhos estavam deixando-o preocupados; sonhos repetidos e cada vez mais estranhos.

Aquele dia, então, os sonhos pareciam tão reais que era como se tivessem sidos verdadeiros.

O estranho é que, reparara a algum tempo, quando se olhava nos sonhos estava mais envelhecido, enrugado mesmo, como se tivesse passado muitos anos, e havia uma sombra de uma mulher com o rosto esfumaçado e, reparara num detalhe, uma coisa que chamara a atenção foi um anel que a mulher usava na mão direita, algo assim como um anel, um anel sim... De prata, com um desenho estranho, parecido com aquele que vira numa foto, sobre o Egito, com o rosto de uma mulher...

Aquela manhã; ao ver Marta deitada, com as coxas fortes e grossas exposta, resíduo de um passado glorioso, mostrando que onde havia estrias e flacidez, houvera uma cabocla desejável, pensou na vida passada e agradeceu a Deus pelo que a vida lhe dera; uma mulher boa e companheira.

Achara que o sonho era com Marta, mas ao reparar bem viu que Marta era mais alta, mais cheia de corpo que a mulher do sonho.

Ao se preparar para tomar o café, foi interrompido por uma gritaria que vinha da porta.

Um moleque gritava a toda, arfando e chamando-o pelo nome.

Ao abrir a porta, percebera que tinha se arranhado e fundo, não se lembrara, mas o trabalho estava muito árduo e poderia ter se machucado, sem perceber, isso vez em quando acontecia. No começo estranhara, mas agora já estava acostumado.

O menino então disse ao que veio.

Sua tia tinha morrido, amanhecera morta, e parece que seu tio é que tinha matado a velha. Ela estava toda machucada, estropiada, mesmo.

Saiu correndo e fora ver o que tinha acontecido.

Ao chegar à casa do tio se deparou um espetáculo dantesco; a porta arrombada, a casa toda revirada com sangue para todos os lados.

Na sala, o corpo da tia todo cortado, cheio de equimoses, os olhos esbugalhados, saltando da órbita, uma cena terrível.

O tio, preso algemado, gritando desesperado, negando tudo, porém as marcas no seu rosto denunciavam que havia tido luta, uma luta gigantesca.

- Não fui eu!! Não fui eu!!! Gritava o tio.

Falava confuso sobre um assaltante ou coisa que o valha que tinha entrado na casa, agredido a mulher e ele, ao defendê-la teria sido atingido pelo homem que, encapuzado não deixava ver nada, a não ser os olhos,, estranhos olhos azuis...

Um detalhe passara despercebido de todos, inclusive do nosso herói; num canto da sala, jogado no chão um anel, com a esfinge esculpida...

A partir daquela noite, coisa estranha, nunca mais teve aqueles pesadelos...

POR NÃO CRER NESSES FANTASMAS

Por não crer nesses fantasmas

Que atrapalham nosso sono

Por não ver nesses miasmas

Nem acreditar em mono

Bichos de sete cabeças

Nem em trem desgovernado

Foi que tive nas travessas

Travessura vai formando,

Com esse mesmo alentado

Que me fez assim calado

Palavras poucas consumo

Não penetro nem no sumo

Das poucas que sei usar.

Nasci quase taciturno

Emburrado, sem sorriso,

Dos dias todo seu turno

Foi do meu tempo preciso

Percebo que sei de nada

De nada quase não sei

Minha vida vai estrada

Por tantas quantas passei

Fui da ponta dessa espada

No choro da carpideira

Fiz de toda sexta feira

Minha trama mais pecada.

Foi meu mundo minha escola

Das lições sei a primeira

Quem não luta não decola

Quem faz tanto nada faz

Quem quer mostrar ser capaz

Num precisa de recado

Nesse mundo meu pecado

Foi o de não certeza

Se serve tanta tristeza

Pra que que se reza tanto

Se não existe mais santo

Nem hora de precisão

Pra transformar em encanto

O que foi assombração.

Menino solto, liberto,

Sem ter nada nem por perto

Nem distante do meu peito

Que correndo, sempr’aberto,

Trazia por satisfeito

Cada trocado da vida

Num abraço de partida

Numa luz sem ter reflexo

Isso pode parecer

Que nada é tão mais complexo

Que não consigo entender

O resto dessa viagem

Vida seguindo, paragem.

Não podendo traduzir

Por onde mais querer ir

A não ser o recomeço

Do fosso que bem mereço

Do gosto podre do beijo

Da moça que não desejo

Mas beijo por precisão

De aliviar o meu peito

De transtornar satisfeito

O que dizem coração.

Fui crescido, de precoce,

Tantas foram as pancadas

Não permito que se coce

Essas carnes machucadas

Triste peleja da vida

Trazendo lá da partida

Um gosto de sangue em riste

A dor sendo o meu alpiste

Para que nada despiste

O Passarim sofredor

Que insiste e logo desiste

Pois não cultiva mais dor

Trafegando sem atino

Correndo feito menino

Nesse peito aparador

Acostumado a desmando

Sem entender o comando

Que destina o meu senhor

Único que conheci

Na minha sina estradeira

Por quanto que já vivi

Não tenho medo de esteira

Não sei mais tanta besteira

Pode conter meu amor.

Não tive dono nem guia

Minha vida minha trilha

Foi toda essa poesia

Feita de tanta Maria

Quantas pude ter de dia

Na minha boca safada

Que pior que minha enxada

Tanto solo desbravou

Num canto qualquer da mata

Na beleza que arrebata

Faz de todos um doutor

Nas sinas dessas meninas

Que por tanto sei, senhor,

São todas as minhas sinas

As bocas mais assassinas

Das que um homem já provou.

Criado sem asas, só,

Dum jeito sem sentir dó

Nos campos de cabrobó

Fui feito de muita lenha

Nas matas por onde embrenha

Os passos mais corajosos

Os trajes mais andrajosos

O peito guardando a senha.

Agora vou mais completo

Das dores já vou liberto

Sem mala medo sem cuia

Sem trama nem plenitude

Sem ter cabra que me ajude

Que disso não tem precisão

Nem tamoio, nem tapuia.

Nem trava no olho por certo

Vou seguindo meu deserto,

Sem querer nem companhia

Nada que me atrapalhe

Seguindo por valentia

Medo que me avacalhe

Transformando essa agonia

No sol desse novo dia

Que possa me dar alegria

A alegria dessa sorte

Da morte tenho alergia

Por isso sigo meu norte

Não há nada que me importe

A não ser minha batalha

Por esse canto qualquer

Onde possa, minha fé

Ter a força que agasalha

Fumando um cigarro palha

No corte dessa navalha

Que sangra na teimosia

Desse cabra mais inquieto

Que não teme por perto

Nem fantasma ou fantasia.

Quero trazer boa nova

Pro povo que me escutar

Venho sem lua nem trova

Chego só por eu chegar

Eu na mão trago essa rosa

Pra moça um dedo de prosa

Por causa d’uma sereia

Que transfundi nessa veia

Acendendo essa centeia

Que alumia o coração

Não quer saber de fastio

Vou vivendo meu estio

Como estivesse no cio

Carregando, mais vadio

O que não fora vazio

Meu peito sem serventia

Pra outra coisa qualquer

Quero acender o meu dia

Nos braços dessa guria

No cheiro dessa mulher

Que me deu a poesia

Agora não mais me quer

Que trago no meio dia

Da vida, sem valentia,

Comendo só de colher

A sopa amarga da vida

Que me deu a despedida

E vai hoje por qualquer

Coisa que seja capaz

De nunca olhar para trás

Nem vigor nem mansidão

Trazendo nessa amplidão

O brilho claro da lua

Iluminando essa rua

Por onde ela passará.

Tanto tempo sem falar

Falei tanto sem parar

Sem fazer descanso ao menos

Por isso pra terminar

Sem destilar os venenos

Que podia destilar;

Seguindo por esse rumo,

Buscando por meu aprumo

Procurando me encontrar

Vou terminar os meus versos

Já falei dos adversos

Já falei de diversão

Já mostrei meu coração

Já espantei esse frio

Debulhei todo esse mio

Já liguei fio por fio

Agora nada fazer

Senão olhar pra você

E nos seus olhos perder

De vez toda mocidade

Pois o fruto da saudade

Trouxe-me a firme verdade

Que não posso renegar

Minha lida é por saber

Que não consigo viver

Sem ter mulher para amar...

ORAÇÃO DE GRAÇAS POR MARCOS COUTINHO LOURES

ORAÇÃO DE GRAÇAS

É MARAVILHOSO, SENHOR, TER AS MÃOS RETORCIDAS E MUTILADAS, SEM QUE NELAS EXISTA UMA SÓ CICATRIZ DE QUE POSSA ME ENVERGONHAR, ENQUANTO QUE MUITOS USAM SUAS MÃOS, PERFEITAS, PARA OFENDER E HUMILHAR, ESMAGAR E OPRIMIR, NEGANDO O PÃO ÀQUELE QUE TEM FOME E O AGASALHO ÀQUELE QUE TEM FRIO.

É MARAVILHOSO SENHOR, NÃO PODER VISLUMBRAR A CLARIDADE DO SOL NEM O BRILHO DAS ESTRELAS, A IMENSIDÃO DO MAR NEM A BELEZA DAS FLORES, ENQUANTO QUE MUITOS, QUE TÊM OLHOS PERFEITOS, SEMPRE SE FECHARAM AO SOFRIMENTO E À DOR DOS MAIS HUMILDES, ESQUECIDOS DE QUE FOI A ESSES QUE TU MANDASTE OUVIR E CONSOLAR.

É MARAVILHOSO SENHOR,

NÃO TER SEQUER UM ABRIGO SEGURO PARA O CORPO CANSADO, ENQUANTO QUE MUITOS, QUE MORAM EM RICAS MANSÕES, NÃO SE LEMBRAM DE QUE, UM DIA, SERÃO DALI EXPULSOS E SE VERÃO DIANTE DE TI, IMPLORANDO A MISERICÓRDIA QUE SEMPRE NEGARAM AOS MAIS INFELIZES.

É MARAVILHOSO, SENHOR, SABER QUE MEUS PÉS ATROFIADOS IMPEDEM QUE EU ME AFASTE DE TI, ENQUANTO MUITOS CAMINHAM SEM PARAR, NA PROCURA DE UM BEM QUE NÃO SE ENCONTRA LÁ FORA, MAS SIM, NO INTERIOR DE CADA UM DE NÓS, NO CORAÇÃO QUE NOS INDICA OS CAMINHOS DA VERDADE E DA VIDA.

É MARAVILHOSO SENHOR, OUVIR TUA VOZ EM TODOS OS SILÊNCIOS, O TEU CANTO EM CADA MOVIMENTO E A TUA PRESENÇA EM TODAS AS AUSÊNCIAS.

ACIMA DE TUDO, É MARAVILHOSO SENHOR, PEDIR QUE NÃO ABANDONES AQUELES QUE SE AFASTARAM DE TI, AFIM DE QUE ELES TAMBÉM SE TORNEM DIGNOS DA TUA BONDADE E DA TUA INFINITA MISERICÓRDIA;

RIO, 11/08/1989