quarta-feira, novembro 01, 2006

esperarei pelos teus beijos...

Por certo esperarei pelos teus beijos...
Esperarei refeito da tristeza
Esperarei com força dos desejos
Esperarei das matas tal beleza...

Esperarei a morte nos cortejos
Esperarei gritar a natureza
Esperarei lunares, seus lampejos
Esperarei, do amor, a realeza.

Esperarei teus braços de princesa
Esperarei as cores, azulejos.
Esperarei a flor desta fineza

Esperarei da noite, relampejos
Esperarei comida e sobremesa...
Por fim, esperarei pelos teus beijos...

Ouvindo tua voz em serenata,

Ouvindo tua voz em serenata,
Amiga me recordo dos teus lábios...
A vida me negara fina nata,
Os medos revestidos, alfarrábios
Esquecidos num canto, estante prata.
Destinos, extravios, astrolábios
Destruídos, perdida esta fragata,
Encontra seu amor. Mares arábios...
Último que saltar apague a vida...
A tua voz serena inda me tenta,
Por onde procurar irá perdida
A manhã dos amores sem sentido...
Um coração disforme se arrebenta,
O mundo que vivemos, distraído...

Ciúmes

Vasculho por teus bolsos, meus ciúmes...
As chaves que encontrei não abrem portas.
Nas blusas que não vestes, teus perfumes.
As horas que vivemos, horas mortas...
Mal posso condenar os teus queixumes,
As bocas que beijamos foram tortas.
Os mantos que vestimos, sem costumes,
Os dentes que mordestes, fundo cortas...
Não podes perdoar quem sofre tanto?
Permita-me dizer do meu amor...
Adormecido tento novo canto,
A voz que me enaltece, do pavor...
Amor que não deseja perde encanto.
Escusa meus ciúmes, por favor!!!

Necessito de um beijo, quem me dá?

Necessito de um beijo, quem me dá?
Amores temerários, não os quero.
Querida, tantas vezes, onde está
A noite que tragamos, peço, espero...
Preciso urgentemente, não dará?
Que faço destas flores? Desespero?
Não sei se Rio Grande ou Amapá
Só sei que sem amor, cadê bolero?
Me visto, me revisto, quedo mudo.
Me mudo me remendo, fico manso.
Não posso nem pretendo, mas contudo,
Meus versos são inúteis, um desejo...
Meu grito segue embalde, já me canso...
Imploro simplesmente por um beijo!!!!

Não posso permitir alheamento...

Não posso permitir alheamento...
És torpe e sou senil, noites escuras...
Carcomidos sentidos, meu tormento,
As hordas, cavaleiros, cancro, curas...
Meu hálito repete tosco vento
Telhados fenestrados que procuras,
Sobreviventes parcos, sofrimento...
Não quero prosseguir várias loucuras...
Lembranças inerentes, meus desejos...
Arraigado a pensares mais diversos.
A morte não me lega nem cortejos.
Os cantos preconizam tolos versos.
A boca sequiosa por teus beijos.
Quem dera não morrer os universos?

O tempo, transcorrendo lentamente...

O tempo, transcorrendo lentamente...
Os segundos, minutos, tantas horas...
Pecados cometidos, normalmente
Esperam sem desejos ou demoras.
O gosto da amargura vem à mente
Me lembro destas tardes... Comemoras
O gesto da discórdia novamente.
O tempo, transcorrendo, nunca imploras!
Essa Luz abortada quer lampejo,
Escuridão deixada nos meus olhos...
Sorrido delicado do teu beijo...
Cantochão redundante, meus segundos,
Navegante insular procuro Abrolhos,
Das horas que se passam, velhos mundos...

Triste, profundamente magoado

Triste, profundamente magoado
Por crenças deformadas, insensatas...
Meu mundo mal, chagásico, fadado
A perdas e derrotas, duras patas...
Não posso resistir: vivendo errado,
Panteras devorando tolas matas.
Meu canto agonizante, ledo brado,
Ecoa sob os mantos das cascatas...
Dor infindavelmente testemunha
As catedrais doridas, vou inerme...
Teus mares, meu poema não compunha,
Meu pranto amaldiçoas, ris e zombas.
Na morte dilacero ver-me verme
Navego teus escombros pós as bombas...

Tanta luz irradia teu olhar...

Tanta luz irradia teu olhar...
Belos faróis que guiam os meus sonhos...
Mesmo que, muitas vezes, sem brilhar,
Reflete nos meus dias enfadonhos.
Auroras dos amores morrem mar...
Meus dias morrerão, serão tristonhos,
Na busca desta brasa que, ao luar,
Refrigera meus medos vis, medonhos...
Obumbrado em teu colo, minha amada,
Nas tênues certezas desta vida
Que se demonstra forte, transformada.
Nos faróis que me guias, teus olhares,
Andarilha manhã que sei perdida,
Se encontra nas auroras, nos meus mares...

Excitado por voltas e revoltas,

Excitado por voltas e revoltas,
Sem medo de vender qualquer bobagem,
Nas danações remendos, traquinagem.
O mundo das revoltas tantas voltas.
Escrevi tantos versos, não escoltas
Corações dispersados, sem aragem.
Brancas nuvens mostrando tal roupagem
Consegui perceber reviravoltas...
Ardores e carinhos sensuais,
Piadas de mau gosto, simplesmente.
Os dias que passamos, pontuais,
São satiricamente demonstráveis.
A mente que remete sempre mente,
Os sonhos desse amor: imagináveis...

Caminhante isolado pede trilhos!

Caminhante isolado pede trilhos!
Desconfortos, confrontos impotentes.
Os medos que eu herdei, leguei aos filhos.
Meus olhos que são míopes, só lentes...
Reconheci quaisquer dos andarilhos
Que versejem promessas indecentes.
Amores irrestritos são caudilhos,
Na boca que me morde plenos dentes...
A sonda que lançaste sem resposta,
Radares e sonares sei de cor...
A pele maltratada cria crosta.
Aos dias que não tive, nem saudades...
O pranto que me deste finge dor...
Nos campos hipotéticos, cidades...

As lágrimas celestes, gotejando,

As lágrimas celestes, gotejando,
Dessas nuvens escuras, tempestades...
Meus lábios em teus lábios, viajando.
A janela trancada, obscuridades...
O tempo resoluto, vai passando,
Os monstros que tivemos, das saudades,
Aos poucos vão morrendo, exterminando...
Das lágrimas do céu, serenidades...
As luzes embotadas, negros olhos...
O canto que decifra meu tormento...
As flores desencantos, colho em molhos.
As noites que vivemos, nebulosas...
Caindo, a chuva inunda o pensamento,
As lágrimas fecundam terra e rosas...

Me permitam voar, asas abertas

Me permitam voar, asas abertas
Que sustentam meus sonhos, culminâncias...
Os mundos invisíveis, seus alertas,
Espreitam por conquistas, discrepâncias...
As expressões diversas, incompletas,
Navegam seus primores, as infâncias
Dos sonhos que perdi, as minhas metas...
Não pude resistir a tais ganâncias.
Benditos os que sofrem, regozijam,
As dores que não pecam nem deturpam...
Dos templos, predadores nos alijam;
Nos levam por fantásticos porões.
As mãos mais caridosas nos conspurcam,
As garras aprofundam solidões...

A divina presença da verdade

A divina presença da verdade
Reflete nos meus versos qual navalha...
Um cego procurando claridade,
A morte, num segundo, tudo atalha.
Nas plagas mais distantes, na cidade,
O gesto que maltrata me agasalha.
A fome que sacias, cedo ou tarde,
Um canto universal, o vento espalha...
Nas visões dessa insânia sem resposta,
Andando pedras brasas fogo, inverno...
O medo da verdade queima e tosta,
Esfacela qualquer sombra de paz...
A vida se transforma nesse inferno,
Teus medos te corrompem: Satanás!

A dor é companheira, parceria...

A dor é companheira, parceria...
Meu tesouro guardado nessas grutas.
Não posso descobrir mais alegria,
As luzes que me emanas, formas brutas.
Corcéis, imobilizas, montaria.
As podres maravilhas dessas frutas,
Difícil esquecer com maestria
As noites que perdemos, tantas lutas...
Não penso nas conquistas que não tive
Nem prendo meus olhares no vazio...
Na cama que roçamos, me contive...
Aurora torporosa me alvorece,
A dor que nunca sai permite cio
Amor que nunca veio, me escurece...

Travamos insensata guerra atroz,

Travamos insensata guerra atroz,
Formamos espetáculos insanos...
Obcecado segredo mais feroz
A vida não continha vagos planos.
No fundo desespero canto e voz,
A trama das mortalhas, sem enganos.
Encharco-me venenos, vidros, pós,
Esqueço dos conselhos dos arcanos...
Preciso de teu sangue, companheira...
Precisas do meu corpo, canibal!
A porta desta entrada é verdadeira
Saída mais temprana, um vendaval...
A forma que degustas beira e eira,
Teu sorriso que é mórbido, imortal!

Mergulhando em sofismas que me travas,

Mergulhando em sofismas que me travas,
Não pude perceber tuas facetas.
As noites entrevadas velhas cavas,
Nas luas estendidas nas lunetas.
Reparo, indiferente, nossas lavas,
Desculpas que formaram teus planetas.
A roupa apodrecida nunca lavas,
Meus mundos, te entreguei, podres vendetas...
Baldados tantos gritos e perdões
Nas tramas e nas lendas somos arte.
Vasculho teu amor por toda parte,
No fundo me deparo com prisões...
O faro que negaste está, destarte,
Apodrecido em nossos corações!

Vivos vermes vergões e ventanias...

Vivos vermes vergões e ventanias...
Banquete destas fomes interpostas.
Meu cerebelo estático, agonias...
Meus ossos, minhas carnes, veras postas.
Vencido, num repasto de ambrosias,
As vísceras e cheiros justapostos.
Meus olhos amauróticos, seus guias...
Manjares delicados, decompostos...
A larva companheira, beijo santo...
Relembra-me de amores que passamos...
Ouvidos perfurados, lindo canto,
Nas sinfonias torpes que inventavas..
Recordo das mentiras que travamos
Nas noites maviosas. Me adoravas!

Nasci em meio a crises mais febris,

Nasci em meio a crises mais febris,
Meus olhos vasculhando esse planeta.
No rosto transfiguras formas vis,
Vadia a vida vivo qual cometa...
Não pude conviver, as mães gentis,
Nem pude conhecer vida dileta.
Na boca que me beija já cuspis,
Nos templos que me matas, sou poeta...
Descido pelas cordas abastadas,
Meus restos espalhados nas searas...
As mães que me negaram são bastardas,
Um verme vasculhando sua loca.
Perdido sem saber sequer da toca,
Ganhei minhas heranças, tais escaras...

O céu que se esfumaça, nebuloso,

O céu que se esfumaça, nebuloso,
Me traz velhos abismos temerários...
O vento tempestuoso, tão raivoso,
Convida meus temores vãos, contrários...
No templo insofismável, estertoroso,
Relâmpagos trovejam, tantos, vários...
Nimbos acinzentando, fabuloso,
Meus olhos faiscantes, lampadários...
As brumas e os ventos, companheiros.
Rugidos bronzeantes me alucinam...
Os dias mais fantásticos da vida
As loucas tempestades determinam...
Viver na maciez do teu regaço,
É como não me perder, luta vencida...
Pois quando o céu bronzeia reflito aço...

Nas ondas deste imenso mar, brancura...

Nas ondas deste imenso mar, brancura...
Jogado pelas águas, pelo vento...
Nos abismos, cratera negra, escura.
Mergulho meu desejo e pensamento...
Nessa morte submersa, minha cura,
Nas tempestades todas, meu tormento
Minha esperança navegar alvura
Morrer na areia dessa praia, tento...
A cândida ternura da fragata,
Calmaria silente, num golfinho...
Num instante feroz já me arrebata.
A leve maciez revolta a espuma...
Os olhos de quem fora passarinho,
Num momento voraz me destrói, puma...

Somos metades vãs sem coerência...

Somos metades vãs sem coerência...
Amo-te e me negaste, beijo e morte...
Vivemos justaposta convivência
Nos medos de rancores e da sorte.
Metralhas os meus passos sem clemência
No fundo desvairado incenso e corte
Antropófago amor trava em latência
Sorrisos e dentadas, dor e esporte...

Eu sei que juramentos não resistem,
Percebo tais contrastes definidos...
Amores que não matam não desistem
O beijo da serpente me apaixona...
Os termos deste trato confundidos.
A víbora feroz, mansa ressona...

orgulho

Meu orgulho exporei no meu desejo...
Vaso quebrado nega seu valor.
Meu ardoroso sonho que cravejo
Não precisa brilhantes a compor...
Nos olhos orgulhosos tudo vejo,
Não sinto teu sabor, doce licor...
A morte degenera meu vicejo,
A boca apodrecida dá pavor...

Já tenho consciência: disparate!
Meus restos escondidos no bornal...
A degeneração dum simples vate
Sonhador, demonstrando o que é a vida.
Os olhos despedaçam na partida,
Orgulho se desfaz no funeral...

Nas entranhas da Terra

Nas entranhas da Terra eviscerada
Estranhas criaturas emergindo...
O gosto da manhã despedaçada
Seu sangue e suas linfas aspergindo...
Astutas esperanças dão em nada,
Amor que não constrói morre fingindo...
Sou matéria, inexisto, polvilhada...
Do centro desta esfera irei fugindo.

Pirâmides, elipses, cubos, retas...
Nas formas e desejos mais brilhantes.
Nas vísceras expostas dos poetas,
Nesta hiperestesia que é patética...
Fâneros e fornalhas latejantes,
Nas veias que exporei, resta a poética...