quinta-feira, fevereiro 11, 2010

24604

Que mostra em brilho raro o bom caminho
Não tenho quaisquer dúvidas querida,
Perpetuando a sorte merecida
Não quero estar deveras mais sozinho.
Pois tudo se transforma e já me alinho
Nas sendas desta luz fortalecida
Na plena liberdade, em nossa vida,
Servindo com certeza como um ninho;
Se a “liberdade, ainda que tardia”
Não seja tão somente alegoria,
No emblema que nos move, inconfidentes.
Jamais suportaria tais algemas,
Por isso é que repito: nada temas
Aqui terás o amor que também sentes.

24603

Meu coração te busca, um helianto
Inebriadamente se transporta
E toca mansamente a tua porta
Bebendo da ilusão, sobejo encanto
E quanto eu te desejo, aqui eu canto
Meu barco nos teus braços já se aporta
O que virá depois já não me importa
Só quero ser coberto pelo manto

Que trazes com sorrisos venturosos,
Delírios entre mares prazerosos
Uma álgida lembrança se desfaz
E tudo se renova ao mesmo instante
Em que este caminheiro se agigante
Na fúria de um prazer insano e audaz.

24602

Teus olhos me servindo de farol
Não deixam que eu perca em mar escuro,
E quando nesta sanha quero e juro
Além do que talvez um girassol
Dourando-me deveras de teu sol,
São brilhos que com sonhos eu misturo
Angariando ao fim um bom auguro,
A paz se entorna em todo este arrebol,
Serenamente o verso te proclama
Além do que pensara simples cama,
O amor não sossegando um só instante
Ascende ao mais perfeito paraíso
Tramando tudo aquilo que preciso,
Tornando o meu caminho deslumbrante.

24601

Clareiam divinais, o nosso ninho;
Olhares em que vejo o teu fulgor
Expressando com fé o raro amor
Do qual e pelo qual eu já me alinho.
Antigamente andara tão sozinho,
E agora novamente ao recompor
A estada deste eterno sonhador,
Bebendo em tua boca, o doce vinho

Jamais avinagrado, não se acida
E nele resumindo a nossa vida,
Eterna e tão durável quão profunda.
Minha alma se transborda neste encanto
E sabe decifrar o que ora canto
No temporal sobejo que me inunda.

24600

Quem dera se pudesse, um cavaleiro,
Sentir desta princesa uma presença
Que mais do que talvez minha alma pensa
Um extensivo gozo é corriqueiro.
Herege cavalgada e nela inteiro
O sonho que se fez sem desavença,
Gerando do vazio, medo e crença
Mudando este matiz do meu tinteiro.
Argutas melodias espalhadas
Enquanto se preparam alvoradas
Ainda posso ver no fim da noite
As tramas que criaram tal polêmica,
A vida sem amor se torna anêmica
Endêmica tortura de um açoite.

24599

Seguindo num galope, passo a passo
A trilha que deixaste minha amiga
Enquanto a solidão já nos persiga
Nas ânsias de um calor a vida eu traço,
E sem saber se tenho ou não o abraço
Eu sei que tudo então nos desabriga
E quando a sorte assim se desobriga
O amor seria mesmo um erro crasso.
Disfarço com poemas o desejo
E deles a verdade que eu almejo
Tornando-se afinal um subterfúgio
Queria ter somente uma alegria,
Mas solidão chegando desafia
E nega ao andarilho algum refúgio.

24598

Até chegar ao sonho derradeiro
Depois de tanta luta é que percebo
Que aquém deste delírio, não recebo
Sequer o meu cardápio costumeiro,
Vencer estes rancores, mas primeiro
Preciso vislumbrar no que me embebo
O amor jamais seria um bom placebo
Apenas um suave fogareiro.
E gélido caminho se prepara
A quem estando aquém da luz tão clara
Esgota-se em esgotos vida afora,
Estranhas melodias? Não mais ouço,
Quisera candelabro e o calabouço
Realidade torpe enfim decora.

24597

Encontro, mais feliz, no teu abraço
Esboços de uma vida mais audaz
E sei que sendo assim, estou atrás
Do mundo em derradeiro e firme laço.
Se tanto desejei o que desfaço
Num ato audacioso e até mordaz
Não sou sequer teu amo ou capataz
E fênix; do passado, enfim renasço.
O mundo se procura meteórico
Vencer os meus temores, ser eufórico
E tudo sendo lógico serena
Uma alma prisioneira não cativa
Mesmo que se mostrasse mais altiva
Deveras não se dá de forma plena.

24596

Tomando em cada brilho, o verdadeiro
Sentido que se dá quando se quer
Vencer as intempéries da mulher
Na qual um sonhador se deu inteiro,
O sonho muitas vezes vai ligeiro
E diz do que talvez fosse qualquer
Caminho desdizendo o que vier
Traçando o precipício que ora beiro.
Esqueço-me das vastas amplidões
E sei desta verdade que dispões
Trafega pelas farsas tão somente
E meço tais palavras, com cuidado,
Refaço cada sanha do passado
E mesmo assim, a vida, volta e mente.

24595

Sentido que se empresta ao vero laço
Do qual tu me negaste qualquer trama
Apenas desfilando aqui tal drama
Seguindo este tropeço, este embaraço,
E quanto mais desejo, mais desfaço
O quadro que se molda em luz e chama,
Uma alma transparente já reclama
Deixando-se levar pelo cansaço,
Abraço ao fim do dia, a insensatez
E nela cada passo se desfez
Mudando novamente o que me guia,
E verso sobre o trágico momento
Aonde se mostrando sem alento
Bebi a sordidez da fantasia.

24594

Do amor emoldurada falsidade
Trazendo num momento dor e glória
Semeio da ilusão tal promissória
Que a cada novo tempo mais degrade
E sem saber sequer se ainda agrade
O encanto se perdendo na memória
Restando tão somente a podre escória
Do que deveras foi tranqüilidade,
Mesquinhos descaminhos que assim trilho
E deles cada pedra, um empecilho
Que impede se chegar a tal consenso,
E sei que ser vazio e ter nas mãos,
Aquém desta emoção sobejos grãos,
Plantados na aridez em contra-senso.

24593

Nas telas divinais: felicidade
Expressando a ciência do querer,
Pudesse novamente amanhecer
Rompendo da ilusão, soberba grade,
Serenando este verso que ora invade
E toma com certeza todo o ser
Matando o que tentara até poder
Sonhar com algo além de uma saudade,
Retorno ao descaminho e enquanto audaz
Palavra que o silêncio agora traz
Negando uma clemência ao sonhador,
Desfiro com terror a arma concreta,
Palavra pela qual se faz poeta
Aquele que se entrega ao falso amor.

24592

Sonhos de amor, delícias sensuais
Prazeres que jamais pude tentar
Sabendo quão distante o vosso olhar
Mergulho neste não que ora me dais.

Expressam-se valores rituais
Aonde poderia se notar
O brilho onde deveras encontrar
Além das trevas quase tão normais.

Servindo-vos o amor nesta bandeja
Além do que pensais; a sorte almeja
A claridade intensa que não veio,

E mesmo quando vir alguma luz,
Fatalidade vã se reproduz
Gerando a dor aonde quis anseio.

24591

Palavras e vontades me envolvendo
E deles se permite um novo não
E quando perceber que inda virão
As dores em medonho dividendo,

Atendo aos meus prazeres merecendo
A mais completa e dura sensação
Do quase que se fez oposição
Ao que mais desejara, manso adendo.

Revendo os meus momentos se perceba
Uma inclemente luz em cada sebe
Forrando com incêndios o que outrora

Quisera em placidez, e me devora
Angústia de saber do ausente sim,
Na gélida dureza do marfim.

24590

Querendo de teu corpo sempre mais,
Dispenso os meus valores e mergulho
Sem ter sequer noção qualquer de orgulho
Esgoto os meus desejos animais.
Vê como a poesia quer demais
Servindo esta ilusão vago mergulho
Sabendo que deveras quão hercúleo
Trabalho nestes medos ancestrais.
Velórios entre risos, gargalhadas,
As honras deveriam ser guardadas
E dadas aos perfeitos, grãs heróis,
Mas tudo não passando de um engodo
Apenas se prepara a lama e o lodo
No quanto deste sonho tu destróis.

24589

Meus olhos em desejos sonegados
Expõem o quanto quis, a sorte é breve
E sem ter ilusão que se releve
Os dias que julgara consagrados
Agora se percebem agregados
Ao vácuo aonde a mão suave atreve
E quando este caminho se faz leve
Espalham-se cascalhos sobre os prados.
Perenes fantasias? Tosco brilho,
E dele quando tanto inda palmilho
Os vértices insanos de um minuto
Algozes as matilhas do vazio,
E quando a súcia inteira desafio
O fogo se tornando mais astuto.

24588

Buscando em luz e glória raro cais
Apenas vislumbrando escuridão
Meus versos neste instante sofrerão
Enquanto noutro tanto vós gozais

A voz se refletindo nos boçais
Deforma-se e deveras negação
Aonde poderia imensidão
Vazio noutro tanto se informais.

As fendas são sobejas e sei que vãs
As hordas destroçaram as manhãs
E pútridos caminhos, não permito

Ao velho e destroçado sentimento
Exposto sem limites, já me atento
Ouvindo o mesmo não, prossigo aflito.

24587

Voando em liberdade se deslocam
As aves rapineiras, podres ritos,
E deles os meus cantos mais aflitos
Nas sendas mais escrotas já se alocam,

E quando os burburinhos torpes tocam
Meus versos se moldando em vários mitos,
Transcrevem tais momentos, são malditos
E em rios poluídos desembocam.

Mortalhas que ora visto não impedem
Que enquanto as ilusões hostes depredem
Os vergalhões imergem do vazio,

Espalho odor que fétido se entranha
Alçando deste vale uma montanha,
Que tresloucado, insano; desafio.

24586

Atravessam os mares, vão além.
Meus versos embutidos neste sonho
E quando em ambições me decomponho
Olhando para os lados, vê ninguém.
Perdendo assim o tempo, aonde o trem
Descarrilado vejo e não proponho
Aquém deste fantasma em si medonho,
Velhaca sorte o mundo já contém.

Aonde se pensara em abundância
Esgoto-me em diversa discrepância
Opondo-me deveras mato a luz,
E servindo ao que julgara belo e nobre
Verdade em falsos tons a vida encobre
Onde quisera brilho, bebo o pus.

24585

Beijando a tua boca, poesia
Já não me caberia alguma escolha,
Por mais que a solidão vaga recolha
O tempo sem demora inda recria

O quanto quis demais e se esvazia
Redomas do futuro, etérea bolha
Uma esperança aos poucos se desfolha
Deixando no lugar a fantasia.

Soberbas heresias não dão crédito
Hermético caminho num tosco édito
Somenos importância tem o verso

No torpe imediatismo o que se vê
É a vida entronizada num por que
Aonde e sem saída eu me disperso.

24584

Encontram nos teus braços bens profanos
E deles já se espalha engodo e dor,
Orgásticos caminhos tão mundanos
Transcendem ao jardim, sonegam flor,
E deles se adivinha com pavor
Os pálidos e sórdidos enganos
E a cada novo passo, o decompor
Causando tão somente custos, danos.
Ecléticos prazeres, noite em gala,
E quando a poesia já se cala
Deixando tão somente se antever
A morte de um romântico luar,
A vida se transforma em lupanar
Reinando sobre nós fúria e prazer.

24583

Por tantas vezes vejo o que querias
Deixado sem destino, em luz sombria
Evanescendo assim a poesia
Deitada nos vazios que ora crias,
E quando imaginara alegorias
Restando a solidão onde se via
Estrela que jamais reluz e guia
Matando em nascedouro as fantasias,
Descreves com denodo esta agonia
Da qual e pela qual assim te esquivas
Ardentes ilusões em águas vivas
Aonde mergulhara tosca enguia
Turvando uma emoção, alma plebéia
Atocaia fera, uma moréia.

24582

O vento em fantasia sempre vem
Trazendo abençoadas emoções
E nelas o carinho em que compões
Um mundo mais audaz e sem desdém,

O tempo diz do tempo que contém
Ufana caminhada e em tais verões
Por mais que ainda restem aversões
Versões diversas tramas muito bem,

E tanto que se quis e não podia
Uma alma sem descanso em agonia
Transcende à própria vida e necessita

Do todo em que proclama-se a partilha
E quando em solidão trevas palmilha
Caminho se transforma em pó e brita.

24581

Trazendo em cada verso esta alegria
Escuto a voz do vento nos tocando
E dela a fantasia nos diz quando
A sorte claramente se desfia
E quando a noite chega e o tempo esfria
Um mundo mais suave, ameno e brando
A cada nova luz sinto vibrando
Tomando com prazer o dia a dia,

Aonde houvera outrora sombra e dor
Agora neste encanto a se propor
Revejo os meus conceitos e permito
À rara claridade, este nuance
No qual e pelo qual eu me esperance
Tornando o meu viver bem mais bonito.

24580

Já mostra a liberdade em pensamento
O verso que se faz em parceria
Por mais que velha dor já se procria
Uma esperança dita algum alento
E nele se disfarça o sofrimento
E tendo em minhas mãos o que eu queria
Embalde se transtorna a fantasia
E um novo amanhecer ainda invento.
Vestido de bufão ou de palhaço
O meu caminho em vão ainda traço
Mudando vez em quando de cenário
O tempo sendo às vezes aliado
Quando revolvo as cinzas do passado
Encontro nele apenas o adversário.

24579

Beijando a tua boca, o manso vento
Roçando os teus cabelos, maga luz,
E dela toda a força se deduz
Dizendo na borrasca, deste alento;

Sem ter amor, deveras me arrebento
E morro tão pesada é minha cruz,
Vagando sem sentido, já me opus
Ao tanto que em tão pouco, diz tormento
Sereno-me no fato de saber
Que em ti além do amor, bebo o prazer
Imenso de ser teu enquanto és minha,
E o gozo insuperável se aproxima
Transmuda, amenizando assim o clima
Enquanto a plenitude se avizinha.

24578

Tua nudez deitada em glórias feita
Transborda sensual e rara luz,
E ao fogaréu do gozo me conduz
Enquanto a fantasia se deleita,
Assim a minha sorte sendo aceita
Esqueço do passado, dura cruz
E vejo num delírio, corpos nus
O amor que por si só é crença e seita.

Receitas para ter felicidade
Deixando que este fogo em ti se agrade
Matando o que degrade este queixume,

No quão maravilhoso se perfume
A vida sem terror, temor ou grade,
Trazendo a cada dia, um raro lume.

24577

Dois corpos que procuram por prazer
Deveras dividir: multiplicar
E tendo esta delícia em grã luar
A fúria delicada a se prever
E passo neste tanto então a crer
Na força que irradia quem amar
E dela se moldando este lugar
Altar feito na glória do querer.
Astuciosamente a vida trama
Além do que se fora simples cama,
A divindade expressa num desejo,
Aonde a eternidade é bem explícita
E toda forma agora sendo lícita
Traduz na madrugada o que desejo.

24576

Na noite em fantasia tendo a sorte
De ter aqui comigo quem desejo
Bem mais do que deveras um lampejo
Amor trazendo o quanto nos comporte
E sendo nosso guia, traz no norte
O quanto necessário inda almejo
E mesmo em noite escura me azulejo
E bebo esta alegria que conforte
E possa permitir que se desvende
Um mundo bem melhor; assim acende
Em fria madrugada este farol
Guiando o navegante em trevas tantas
E quanto mais audaz, tu mais me encantas
Promessa de outro dia, imenso sol.

24575

Vivendo esta alegria de querer
E ter possivelmente o amor sincero
Dizendo na verdade o que inda espero
E tenho obrigação de nisto crer.
Vencendo os meus temores posso ver
Além do que deveras degenero
Mudando a minha história, gozo eu gero
E dele reproduzo este poder
Que possa conduzir à mansidão
Meus olhos outros lumes viverão
E quando em paz notar o que se passa,
Uma alma sem disfarces nem promessa
A cada novo dia recomeça
Matando este bolor, ardume e traça.

24574

Colhendo em tua boca carmesim
Divina e tão perfeita sobremesa.
Sentindo este rubor, a framboesa
Plantada há muito tempo em meu jardim,
E sei que finalmente vejo em mim
O brilho que traduza esta leveza
Da qual e pela qual com tal destreza
A vida se apascenta, até que enfim.
Depois dos maremotos, loucos sismos,
Os dias em terríveis pessimismos
Deixando no ostracismo uma esperança
A voz se torna agora bem mais meiga
Por mais que uma ilusão se mostre leiga
O passo rumo à glória e à paz avança.

24573

Loucuras e desejos? Quero ter
Além deste momento, eterno sonho
E nele tudo o quanto inda componho
Demonstra quão preciso tal prazer
E sendo sempre assim, luz e poder,
Jamais se aflorará dia medonho
Tampouco outro caminho mais tristonho
Deveras só belezas; posso ver.
Adentro os teus rincões e neles sinto
O cheiro delicado, o doce aroma,
Ao qual minha alegria ora se assoma
Deixando o sofrimento em vão, extinto,
Fulgura radiosa maravilha
Na qual minha esperança o sol rebrilha.

24572

Sentir em tua pele este arrepio
Sabendo do diverso e bom prazer
Tomando sem limites nele crer
Às tramas deste encanto enfim me alio.
E o quadro em mansidão; eu propicio
Mundana maravilha diz poder,
E quanto se pudesse reverter
Matando o meu passado mais sombrio.
Vertendo assim a luz onde se emana
O fogo da emoção que, soberana
Não deixa qualquer dúvida e se alia
A um claro alvorecer sem véu, neblina
Paisagem delicada que fascina
Esgota em seu calor, a noite fria.

24571

Suave sensação de amor me invade
E deixa meu sorriso mais tranqüilo
Nas sendas da ilusão se já desfilo,
Encontro-me nos olhos da saudade
E dela com certeza a liberdade
Que tanto desejara; forma e estilo,
Aonde com prazer enfim me asilo
Por mais que a realidade se degrade;
Sem ter o despotismo da paixão,
Os dias em prazer encontrarão
O todo que decerto imaginara
Após a noite amarga e tão sombria
O amor se renovando em paz recria
A vida transformada, agora clara.

24570

Negando à noite imenso e duro frio
Encontro-te qual fora um porto manso,
E quando nos teus braços me esperanço
O Fado neste instante desafio,
E sei que a cada tempo me recrio
E dele a luz sublime quando alcanço
Um novo amanhecer; aos olhos lanço
Deixando morrer tédio amaro fio
Tecendo em seu lugar um belo sol
Que toma a minha vida qual farol
Iluminando a senda em que caminho
Decerto se percebe esta alegria
Que a cada novo verso mostraria
O bem de não ser mais ledo e sozinho.

24569

Amor no qual- querida eu sempre penso
E nele me expressando em verso e luz,
Também ao cadafalso me conduz
Moldando outro momento bem mais tenso,
Nublada noite aonde assim me adenso
E vejo o meu passado em contraluz
O tanto que vivera reproduz
Cenários onde enfim, não me convenço
E sigo em lenços brancos, paz e guerra
O tempo do sonhar a vida encerra
E deixa em seu lugar, a solidão.
Vencer os meus terríveis dissabores
Deveras caminhar por onde fores
Sabendo dos fantasmas que virão.

24568

A cada novo sonho em desvario
Encontro esta alegria à qual me entrego
E dela renovando-me procrio
Momento de emoção onde navego

Depois de ter perdido num desvio
O quanto imaginei, porquanto cego
Agora finalmente a voz emprego
No canto emocionado em desafio.

Altivo céu permite que se veja
O amor que se procura; alma sobeja,
E assim em minhas mãos posso contê-la

Suprema fantasia maviosa,
Do tanto que se busca enquanto goza
Prazer de ter comigo, a rara estrela.

24567

Do amor que tanto quero eu me convenço
E não deixo jamais de acreditar
Que possa ter nos olhos, céu e mar
E deles o carinho mais intenso

No quanto de prazer me recompenso
E tudo o que queria assim buscar
Permite-me deveras entregar
O amor que tanto sei, soberbo e imenso.

Floresce nos meus olhos a alegria
De renovar o quanto poderia
Viver tão ternamente o que se quis,

Assim eu poderia finalmente
Saber desta ventura, tendo em mente
A glória de poder ser tão feliz.

24566

Do quanto que eu desejo em cada riso
Que possa permitir ainda o brilho
Sem ter na caminhada um empecilho
No passo com certeza mais preciso,
E tudo o que em verdade mais preciso
É ter um porto manso, um andarilho
Vagando pelo espaço, louco eu trilho
Perdendo o que me resta de juízo.

Não posso permitir outro caminho,
Tampouco seguirei sempre sozinho
E assim já me avizinho do futuro,
Que embora seja mero companheiro
É nele e nos seus sonhos que me inteiro
Trazendo esta ilusão em que perduro.

24565

Certeza de um prazer delicioso
Encontro em tua pele delicada,
E quando a gente avança a madrugada
Num tenro Paraíso feito em gozo,
O mundo se mostrando auspicioso
Permite que se veja após o nada
A glória do viver escancarada
Trazendo este momento prazeroso,
Arfantes caminhares e querências
Aos poucos entre nós, lençóis, demências
E ritos feitos gritos e gemidos,
Sensíveis delirantes tais entregas
E nelas sem pudores já navegas,
Problemas e terrores esquecidos.

24564

À noite a solidão, trama o vazio
E dele vejo ao fim desesperança
Enquanto a dor adentra e assim avança
A vida noutro canto, eu já desfio
E bebo deste eterno desafio
Aonde se pudesse ser criança
E ter em minhas mãos, esta aliança
Eterna com delírio feito estio.

Nas ternas emoções lanternas, luzes,
E quando ao mais etéreo me conduzes
Percebo este prazer imenso e vário,

Mas logo a realidade se aproxima,
Do alto da cordilheira, lá de cima
Reflexo do que sou; tão solitário.

24563

Se é merencória, amada, a nossa vida
Talvez exista ainda alguma chance
Que mostre, pelo menos um nuance
Da sorte tantas vezes esquecida
E possa crer que embora nos agrida
A madrugada em tédios ora avance
E deixe sem sequer qualquer relance
Até que aurora venha, ressurgida.

O quanto do desejo se transforma
E mesmo quando toma escusa forma
Permite que se creia no futuro,
E sendo assim, um velho timoneiro
Nas ondas deste encanto já me esgueiro
Mergulho neste céu que enfim procuro.

24562

O amor ao se espalhar em tal nobreza
Não deixa qualquer rastro do vazio
Que em versos, derrotado, já desfio
Por mais que tenha em mim esta certeza
De um dia em que o terror, velha tristeza
Perdendo o lume apague este pavio,
E o tempo que se mostra duro e frio
Transforme-se em suave correnteza
Na qual navegador encontre a paz
Mesmo sendo deveras tão mordaz
Mortalha do que foi já não servindo
Esgota-se em si mesma, amargo luto,
E tendo a mão mais firme não reluto
E busco em solidão, um sonho infindo.

24561

Que tudo se reverta em plena glória
E possa renovar uma esperança
Vazio caminhar; e o sonho lança
Realidade em cor opaca e inglória.
Vagando sem destino, merencória
A lua sobre nós, pálida avança
Não tendo nos meus olhos a lembrança
De um dia sem estrela que decore-a

Deixando-a solitária e tão dispersa,
Encanto sobre a luz o canto versa,
Mas nada me redime e me permite
Pensar num dia manso em que se possa
Viver esta alegria, minha e nossa,
De um infinito sonho, sem limite.

24560

Levados pela forte correnteza
Os sonhos se transformam; pesadelos,
E quando finalmente posso vê-los
Ao fim de certo tempo sem leveza

Aonde imaginara uma beleza,
E a maciez em ébano, os cabelos
De quem desejo tanto percebê-los,
Apenas um desvio com destreza

E o tempo ludibria o sonhador,
E quando me aproximo, sem pudor
Esgueira-se noturna fantasia

E tão somente a turva noite em claro,
E quanto mais audaz, o amor declaro
O teu olhar pr’outrem já se desvia.

24559

Deixemos que o amor mude esta história
E mostre a direção da caminhada
Aonde no passado havia o nada
Um resto feito escombro na memória
E trago nos meus olhos tal escória
Sorvendo a noite plena, iluminada,
Nas mãos desta mulher, que é diva e fada
A solidão não tendo quem escore-a;

Escorre pelas grotas, frias furnas
E quando nos meus braços te entrelaças
Percebo renascerem fartas graças
Desgraças esquecidas e soturnas
Do encanto em que se deu quem tanto amou,
Um tempo mais feliz o amor criou.

24558

Fazendo deste canto qual um hino
Que possa permitir o alvorecer
E nele retornar, quem sabe, a ter
Nas mãos um novo tempo diamantino.
Por mais que a solidão se encontre a pino
Percebo nos teus olhos o poder
E dele extasiado passo a crer
Possível cada sonho que domino.
Naufrágios entre fúrias e tufões,
O quanto em fantasia decompões
Os ritos que pensara eternidade.
No fim do canto eu tento disfarçar
A ausência do que outrora quis luar
E agora escuridão feroz invade.

24557

Rendendo uma homenagem ao amor,
Trazendo nos meus versos este alento
Deixando no passado o sofrimento
Momento em que a verdade a se propor
Mostrando a realidade ao sonhador,
Por mais que outro caminho, acaso; eu tento
A glória se perdendo eu reinvento
E teimo num canteiro imerso em flor.
Assim talvez quem saiba, decidido
Entregue sem defasas a Cupido
Eu possa mergulhar nos braços teus
Sabendo distinguir dor e ilusão,
Estrelas luzidias guiarão
Matando sem defesas este adeus.

24556

Futuro mais brilhante descortino
Aonde se fizera em negação
Por mais que ainda tente a solução
Do gozo em perfeição já me declino

E busco noutro tanto senso e sino
Voltando novamente ao meu porão
E dele os meus caminhos seguirão
Até que encontre enfim o meu destino.

Sangrantes ilusões e fartos riscos,
Os dias se passando mais ariscos
A cada passo vejo um novo abismo,

E mesmo inconseqüente ainda cismo
Tentando apaziguar a sorte/fera
Que a todo instante emerge e vocifera.

24555

No peito que se faz tão sonhador
O canto da esperança não sacia
Viesse pelo menos a alegria,
Porém após a festa resta a dor
E neste ardor imenso, em tal calor
A solidão deveras tudo esfria
E apenas vislumbrando a poesia
Refaço a nossa história e busco o Amor.
Quem dera se pudesse, ó Deus, quem dera
Ainda ter nos olhos, primavera
Enquanto apenas vejo este vazio
Deveras sem ter porto, ancoradouro
O barco naufragando sem tesouro,
Um cenário em terror eu propicio.

24554

Bebendo deste amor, eu me alucino
E inebriado busco algum aporte
Ou mesmo um tênue sonho que comporte
As teias mais audazes do destino.
Viver esta emoção em desatino,
Tomando com certeza toda a sorte,
Sem ter esta tristeza que inda aborte
O meu sonho, uma espécie de menino

Que salta sobre as árvores da vida
E mesmo quando já não tem guarida
Mergulha sem saber se é pedra ou rio
Queria ter certeza deste passo
E quanto mais me esforço, menos traço,
Porém intemerato, eu desafio.

554

Diante deste verso embriagador
Que tanto desejara em forma e rima
O tempo ao qual meu sonho se destina
Não tendo mais sequer o que propor
Vagando pelo espaço, traça a dor
E dela não se tendo uma auto-estima
Somente a solidão que ainda oprima
O peito de um eterno sonhador.
Assim eu assinando o fim da história
Por mais uma alvorada inda decore-a
A sorte não se faz ora presente,
E tudo que deveras acredito
Não passa ou nem passou sequer de um mito
Por mais que a realidade isto lamente.

24553

A noite solidária vem e tece
Durante algum momento uma esperança
Na qual se percebendo a temperança
Futuro se imagina e o sonho cresce;
Mas logo surge o dia e se esvaece
Não resta nem a sombra na lembrança
E quando um novo tempo a gente trança
Vazio coração, não obedece

Egresso do jamais e do talvez
O sonho que a verdade já desfez
Além do que tu crês; nada traria,
E o quanto do prazer que se esperava,
Na fúria imaginaria de uma lava,
Apenas um segundo de utopia.